sexta-feira, 28 de junho de 2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Babywearing II - Questões práticas

Quando pensamos nas coisas que precisamos de comprar para um bebé que vai nascer uma das primeiras coisas de que nos lembramos é o carrinho e, por vezes, parece-nos que seria impensável não ter um objecto que parece tão útil e essencial como este. Mas, a verdade é que, este objecto não é de todo imprescindível e, na verdade, pode fazer mais mal do que bem se o usarmos demasiado (ver artigo http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/search/label/Babywearing%20-%20use%20o%20seu%20beb%C3%A9). Existem formas bem mais agradáveis e saudáveis (tanto para os pais como para os filhos) de transportar o seu bebé. Antes do meu filho nascer nem me questionava acerca da inevitabilidade de arranjar um carrinho qualquer para o transportar já que é algo que, na nossa sociedade, está sempre tão associado aos bebés. Felizmente acabámos por nunca o fazer e, hoje com quase dois anos de babywearing, estamos felizes por termos poupado o dinheiro e o espaço que este iria ocupar mas, acima de tudo, estamos felizes pela descoberta do babywearing que facilitou tanto a nossa vida em todos os níveis.
No nosso caso experimentámos vários tipos de porta-bebés à medida que o nosso filho foi crescendo e que nós os fomos descobrindo, por isso resolvi deixar aqui a nossa opinião acerca de todos aqueles que já experimentámos. 

Sling de argolas – este foi o primeiro porta-bebé que usámos.

Vantagens: È muito prático de por e tirar e, porque tem argolas, adapta-se bem a qualquer pessoa - mesmo que as estaturas sejam muito diferentes - ao contrário do que acontece com os slings que não têm argolas que precisam de ser comprados em função do tamanho da pessoa que o irá usar. Tem uma espécie de aba, em tecido que também pode ser muito útil para proteger bebés pequenos do sol, ou do vento e, também pode ser usada para dar de mamar de uma forma mais discreta. É muito fácil de transportar quando não está a ser usado, quer se mantenha pendurado no ombro ou dentro de uma mala. Pode ser também muito útil quando o bebé começa a querer andar porque é muito fácil deixá-lo andar no chão um pouco e voltar a colocá-lo no sling novamente.
Em relação aos slings sem argolas julgo que também se torna mais confortável, não só por ser ajustável, mas também porque é possível espalhar o tecido no ombro em que o sling se apoia, de forma a distribuir bem o peso.
Desvantagens: com bebés mais pesados ou pessoas com a coluna mais frágil, pode não ser muito confortável para usos prolongados porque o peso fica mais concentrado num dos lados do tronco. 

Pano porta-bebé – Quando o meu filho começou a ficar um pouco mais pesado, preferimos começar a usar mais o pano porque permite uma melhor distribuição do peso.

Vantagens: Permite distribuir bem o peso pelo corpo de quem usa, o que significa que não prejudica a coluna vertebral e se torna mais confortável de usar por longos períodos do que o sling. Na verdade, se for bem colocado, até há quem diga que acaba por fortalecer os músculos das costas. No meu caso – que tenho uma hérnia discal e não me dou muito bem com pesos – nunca senti que me prejudicasse  a coluna ou que me fizesse dores de costas e sempre andei muito tempo a pé, diariamente, com o meu filho no pano. No inverno pode ser muito útil para proteger o bebé do vento e do frio, já que é possível tapar a cabeçinha com o pano mas manter o rosto destapado, de forma a que o bebé possa ver a rua. É fácil de transportar quando não está a ser usado, apesar de ser um pouco volumoso.
Desvantagens: pode demorar um pouco a por e a tirar, sobretudo quando ainda não se tem muita prática. Como o pano dá algumas voltas, no Verão, com o calor, pode tornar-se um pouco quente. 

Podeagi – é uma espécie de compromisso entre o pano e o sling no sentido em que é quase tão prático de por e tirar como o sling mas distribui tão bem o peso como o pano.
Vantagens: é mais prático de colocar do que o pano. Permite uma boa distribuição do peso, por isso torna-se confortável mesmo com uso prolongado e bebés pesados. Quando começam a andar mas ainda se cansam facilmente é mais prático de usar do que o pano, porque se põe e tira mais facilmente. Também é menos volumoso que o pano, para se transportar quando não está a ser usado. Como dá menos voltas que o pano também se torna mais fresco, sobretudo na zona das costas. 
Desvantagens: não se consegue apoiar tão bem a cabeça do bebé quando adormece como com o pano o que pode não ser tão confortável quando a criança adormece ou no caso de um bebé muito pequeno. No entanto, fizemos muitas caminhadas com o meu filho a dormir confortavelmente instalado no podeagi. 

Ergo-Baby – quando o meu filho ficou mais crescido e pesado, resolvemos experimentar um ergo-baby, que é o que usamos actualmente. Esta é uma marca de porta-bebés fisiológicos, o que significa que respeita a anatomia do bebé ( ao contrário daqueles porta-bebés rígidos em que o bebé fica pendurado pelas virilhas e com uma posição incorrecta para a coluna vertebral).
Vantagens: é mais prático de por do que o pano ou o podeagui e permite também uma boa distribuição do peso. Tem alças almofadadas que podem tornar um pouco mais confortável a pressão que faz o peso da criança nos ombros. É mais fácil de colocar às costas do que o pano ou podeagui. È muito prático com crianças que já andam porque podem subir e descer do porta-bebés à vontade com muita facilidade. Quando não está a ser usado também se torna muito prático deixá-lo preso à cintura, deixando-nos as mãos livres. Tem uma parte de tecido que se prende com molas e que permite apoiar a cabeça do bebé quando este adormece, tal como no pano. 
Desvantagens: o peso fica mais localizado nos ombros. Com o pano é possível espalhar o tecido pelos ombros e costas para que o peso fique mais distribuído, neste caso, como as alças são mais estreitas, não é possível fazê-lo. No entanto, como as alças são almofadadas e como o peso também se distribui pela cintura, não acho que se torne mais desconfortável. Não é tão fácil de por dentro de uma mala ou saco

como o pano ou podeagui. Nunca o experimentámos com um bebé pequenino mas parece-me, que neste caso, não seria tão confortável para o bebé como um pano, podeagui ou sling, porque – apesar de não ser rígido – não se molda tão bem ao seu corpo como os outros porta-bebés que são apenas uma faixa de tecido.

Tula Baby Carrier -

Recentemente, com o meu filho a crescer, cheguei à conclusão que o ergobaby já começava a tornar-se desconfortável para ambos. Por indicação de uma pessoa conhecida, descobri esta marca que faz porta-bebés específicos para crianças maiores e fiquei fã. Estes porta-bebés permitem um melhor apoio para as pernas de uma criança a partir dos 18 meses - porque têm uma largura maior de tecido além de um enchimento próprio na zona onde as pernas da criança se apoiam - o que o torna mais confortável para a criança e também permite aos pais uma melhor distribuição do peso, tornando-o muito mais confortável de usar.


Para saber mais sobre o Tula, pode ver o site: http://www.babytula.com/
Pode encontrar mais informações sobre o ergobaby também no site da marca: http://store.ergobaby.com/
Uma outra marca de porta-bebés que também são ergonómicos é a Manduka que, na verdade, tem uma largura até um pouco maior do que a do ergobaby o que pode permitir um transporte mais confortável, de uma criança maior. 

Para saber as várias formas de colocar o pano, sling ou podeagui, encontra informação bastante detalhada no site: http://www.psicolor.net

Uma pesquisa no YouTube com o tópico Babywearing também pode mostrar-lhe vários vídeos que ensinam como usar os vários tipos de pano.

            Bons passeios!




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Metta - Meditação da Bondade Amorosa com os nossos filhos


Na tradição Budista há uma prática de meditação que se chama Metta Bhavana a que, em português, podemos chamar Meditação da Bondade Amorosa.
Bhavana, em pali – a língua em que foram registados os textos clássicos da tradição budista -  significa cultivar, desenvolver ou produzir. Metta costuma ser traduzido como bondade amorosa (lonving-kindness em inglês), benevolência, boa vontade ou amizade, é por vezes explicado como sendo uma forma de amor sem que exista apego. Podemos dizer que Metta é um sentimento de amor incondicional, ou seja, que não depende das circunstâncias para existir, muito semelhante ao amor dos pais pelos seus filhos. Esta prática consiste então em canalizar os sentimentos de Metta começando por dirigi-los para nós mesmos, depois para algumas pessoas com quem seja mais fácil fazê-lo e vamos prosseguindo para pessoas com quem já não será tão fácil despertar esses sentimentos até às pessoas com quem seria mais difícil sentirmos alguma boa vontade ou até áquelas por quem nunca nos passaria pela cabeça sentir nem sequer nada parecido.
Uma das vantagens desta prática é que nos faz entrar em contacto com sentimentos positivos que podem ter muitos benefícios para a nossa vida e até para a nossa saúde. Toda a gente sabe como é bom estarmos apaixonados e, quando tomamos consciência de que estamos apaixonados por alguém todo o mundo fica mais colorido, a vida mais agradável, tudo nos parece mais fácil, mais belo, mais divertido e  interessante. Isto acontece porque o estado de paixão desperta em nós sentimentos de metta, de boa-vontade. Quando estamos neste estado tornamos-nos mais felizes, mais tolerantes e passamos a apreciar muito mais a vida e tudo o que a preenche. Porque o corpo não está separado da mente, os bons sentimentos produzidos podem mesmo produzir efeitos sobre a nossa saúde como comprovou um estudo de Carson et e all, em 2005, com 43 pacientes que sofriam de dores lombares crónicas. Este estudo mostrou que um programa de oito semanas de treino da meditação da bondade-amorosa podia ser muito eficaz a reduzir a dor e os sentimentos de zanga nestas pessoas. O estudo concluiu que as pessoas que dedicavam mais tempo a esta prática tinham um nível de dor mais baixo no próprio dia e menos sentimentos de zanga no dia seguinte. Esta prática levou também a melhor ajustamento psicológico destes doentes de dor crónica. Robert Emmons, no seu livro Obrigado (2009), diz que as emoções positivas podem servir para corrigir os efeitos das emoções negativas porque têm a capacidade de restaurar o equilíbrio fisiológico e emocional que emoções como o stress e a ansiedade nos fazem perder. Este autor diz também que os estados emocionais positivos, como um estado de metta, podem de facto diminuir a experiência da dor, tal como este estudo mostra. Os estados desagradáveis, como o stress e ansiedade têm o efeito oposto e tornam-na mesmo mais intensa. Já há vários estudos que demonstram também que  o riso tem um efeito analgésico porque provoca a libertação de endorfinas, hormonas naturais que o nosso corpo produz em situações de prazer e que são da família dos opiáceos usados muitas vezes para diminuir ou controlar a dor.
Quem tem filhos e tenta fazer esta prática quase sempre percebe que estes são as pessoas com quem é mais fácil despertar estes tais sentimentos de metta. Principalmente quando os nossos filhos são pequenos é muito fácil tomarmos consciência destes sentimentos cada vez que olhamos para eles ou que eles, simplesmente, sorriem para nós. Mas, acontece que, por vezes, deixamos que a tarefa de educar se torne tão pesada que acabamos por nos esquecer que estes sentimentos estão presentes. E, quando isto acontece, cuidar dos nossos filhos pode facilmente tornar-se um peso, algo que nos cansa e desgasta. Muitas vezes vemos pais que acreditam que precisam de se afastar dos filhos para descansar. É claro que, enquanto pais, precisamos de encontrar um equílibrio entre cuidar de nós e fazer coisas que nos dão prazer e estar presentes para os nossos filhos. Acontece é que cada vez temos menos tempo para estas duas coisas no nosso dia-a-dia porque o trabalho ocupa a maior parte deste. Então, geram-se desequílibrios e, muitas vezes, para os corrigir, acreditamos que precisamos de nos afastar dos nossos filhos, precisamos de estar longe deles para descansar verdadeiramente. Mas, se é verdade que precisamos de encontrar algum tempo para estar só connosco nos nossos dias, também é verdade que o tempo que passamos com os nossos filhos pode ser um tempo de descanso, de relaxamento e até de crescimento pessoal e de muita satisfação. Se estivermos ligados a estes sentimentos de metta, brincar com os nossos filhos ou estarmos simplesmente presentes a partilhar alguns instantes com eles, sem outras distracções, pode ser um momento de profundo bem-estar. Se nos deixarmos entrar em contacto com esses sentimentos tão profundos podemos obter toda a satisfação que estes promovem, podemos deixar que eles nos transformem e podemos deixar que se tornem os nossos momentos de recarregar baterias, de saborear a vida, o presente, de encontrar tranquilidade, bem-estar e uma felicidade profunda que estes sentimentos de metta, ou de amor incondicional podem trazer consigo.
Quando estamos apaixonados nunca nos passa pela cabeça que, para descansar, precisamos de estar longe da pessoa por quem nos apaixonámos, antes pelo contrário: quando nos apaixonamos queremos partilhar tudo, fazer tudo com aquela pessoa especial. Então porque é que vemos tantos pais que acreditam que precisam de estar longe dos filhos para descansar ou para encontrarem alguma fonte de prazer nas suas vidas?
Muitas vezes na nossa sociedade cultiva-se esta ideia de que os pais precisam de estar longe dos filhos e de fazer coisas sem eles para se sentirem bem. É verdade que é muito importante que os pais se sintam bem para que possam cuidar verdadeiramente dos filhos e, também é verdade, que os pais não podem viver exclusivamente em função dos filhos. Mas acredito que existe também alguma confusão quando pensamos que precisamos de passar muito tempo longe dos filhos para o fazermos. Para encontrarmos  espaço para cuidar de nós enquanto adultos e seres humanos que têm um projecto de vida independentemente dos filhos não precisamos de passar assim tanto tempo longe deles. Precisamos sim de encontrar um espaço na nossa vida para cuidar de nós todos os dias, para nos nutrimos mas, precisamos também urgentemente de encontrar tempo e espaço para estar com os nossos filhos. Estar de verdade e estar em quantidade, não apenas com qualidade. Na verdade, quanto mais tempo passarmos longe dos nossos filhos, mais distante se torna o relacionamento e maiores serão as probabilidades de que este nos traga problemas e dissabores. Então se cultivarmos uma relação de proximidade com os nossos filhos é muito mais fácil que esta relação se torne uma fonte de prazer e de verdadeiro bem-estar.
Se aprendermos a focar-nos nos nossos sentimentos de metta quanto estamos com os nossos filhos podemos tornar estes momentos quase numa espécie de meditação e percebemos rapidamente que não precisamos de nos afastar deles para descansar. E uma das grandes vantagens de percebermos isto é que os nossos filhos também ganham muito com essa nova consciência: ganham a nossa presença verdadeira, ganham a consciência que é possível estar presente, saborear a vida e o momento, aprendem que não precisam de estar sempre a correr e, mais importante do que tudo o resto, aprendem que são importantes, que são especiais para nós, aprendem que podem também ser uma fonte de felicidade e bem-estar para os pais e esta será com certeza uma das aprendizagens mais valiosas que poderão fazer na vida.
E esta aprendizagem contribui também para que educar se torne uma tarefa muito mais fácil, muito menos cansativa. Com a presença genuína dos pais a criança torna-se muito mais receptiva, muito mais fácil de educar, de ensinar e isto também faz com que a tarefa dos pais, de impor limites e dar exemplos deixe de ser apenas uma luta de vontades para se tornar em algo mais harmonioso em que existe uma sintonia e uma verdadeira escuta daquilo que precisa de ser feito ou ensinado na relação.
            E, tal como nos adultos é possível demonstrar que a prática de Metta Bhavana pode ter muitos benefícios para a saúde, também as crianças podem colher vários benefícios do facto dos pais passarem a olhar para elas quase como pequenos guias espirituais.
Gabor Mate, um médico canadiano, explica que quando as crianças se sentem mais seguras e amadas pelos pais produzem naturalmente mais endorfinas que estão associadas aos sentimentos de bem-estar, de tranquilidade e de segurança. Isto significa que, entre outras coisas, estas crianças terão, por exemplo, uma maior resistência à dor. Este médico dá o exemplo daquelas crianças que choram muito sempre que se magoam um pouco, ou que se assustam facilmente, explicando que isto acontece porque, provavelmente, estas crianças terão uma quantidade menor de endorfinas na sua corrente sanguínea o que as torna menos tolerantes à dor ou ao desconforto. Isto quer dizer que, uma criança segura e confiante do amor dos pais também será, provavelmente, uma criança que chora menos o que, por sua vez, também contribui para que se torne mais fácil cuidar dessa criança, principalmente quando pensamos em bebés ou em crianças pequenas.
A prática de Metta Bhavana também faz com que nós próprios passemos a ser mais capazes de produzir endorfinas que nos podem trazer uma sensação de conforto, de tranquilidade e de bem-estar, melhorando a nossa saúde e a nossa satisfação com a vida.
Para fazermos esta prática de uma forma ortodoxa precisamos de estar sozinhos e concentrados nos sentimentos que vão surgindo com a repetição de algumas frases que traduzem essa boa vontade. Mas, para a fazermos de uma forma informal, basta que olhemos para os nossos filhos e tomemos consciência dos sentimentos que despertam em nós. Pode ser mais fácil fazer isto com filhos bebés, ou crianças pequenas mas, seja qual for a idade dos nossos filhos, esses sentimentos estarão com certeza presentes. E, seja qual for a idade dos nossos filhos eles merecem que sejamos capazes de entrar em contacto com esses sentimentos e de ficarmos simplesmente presentes perante essa dádiva de vida e de amor que cada filho representa para nós.