tag:blogger.com,1999:blog-55183525275790787722024-02-18T23:28:46.342-08:00Parentalidade com Apego Um blog dedicado às questões da Parentalidade com Apego, uma forma de educar que valoriza e dá prioridade ao vínculo especial que se estabelece entre pais e filhos. Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.comBlogger96125tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-66216549410272990962021-08-31T07:49:00.004-07:002021-08-31T07:52:46.000-07:00Deixem os miúdos em paz <div style="text-align: justify;"><div style="text-align: justify;">Os adolescentes têm vindo a ser sacrificados desde que esta crise começou. Uma boa</div><div style="text-align: justify;">parte dos seus direitos tem vindo a ser retirada e comportamentos naturais e essenciais</div><div style="text-align: justify;">para esta idade têm vindo a ser criticados e até criminalizados. Têm sido proibidos de ir</div><div style="text-align: justify;">à escola, de sair à noite, de estar com os amigos, de se aproximar uns dos outros, de</div><div style="text-align: justify;">comunicar livremente sem precisarem de ter uma boa parte da cara tapada.</div><div style="text-align: justify;">Agora, depois de um ano e meio de sacrifícios, de lhes termos retirado os seus direitos e</div><div style="text-align: justify;">de os impedirmos de fazer coisas importantes para o seu bom desenvolvimento, chega a</div><div style="text-align: justify;">última chantagem: a de que têm que levar uma vacina, de que não precisam e cujos</div><div style="text-align: justify;">riscos são muito superiores aos eventuais benefícios, para que possam ser-lhes</div><div style="text-align: justify;">devolvidos os direitos que lhes foram retirados. Muitos adolescentes dizem que querem</div><div style="text-align: justify;">levar a vacina para poderem voltar à sua vida normal. Muitos dizem que só querem ser</div><div style="text-align: justify;">vacinados para poderem continuar a viver. Como se a vacina lhes trouxesse a</div><div style="text-align: justify;">possibilidade de regresso à vida que conheciam antes de terem sido fechados em casa e</div><div style="text-align: justify;">acusados de estarem a contribuir para matar os seus avós. É muito natural que, perante</div><div style="text-align: justify;">essa possibilidade de voltarem a ter tudo o que perderam, os adolescentes sintam</div><div style="text-align: justify;">vontade de ceder a esta chantagem que pede aos mais novos que se sacrifiquem pelos</div><div style="text-align: justify;">mais velhos.</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA2joUEhYIhaYWjoi5iq8IiGKwFS6j7D_BCwdwg3NyDI8nWiv9rUhnhZ6JpKLkRr-UoNkfQqoxSlB3bV51O5vEEkTOiP9QfY84fkmRXPxl6nwmrzNNNXE_0KJu-qjbQifvcd-1FAoUDXN-/s4160/IMG_20210117_151927.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4160" data-original-width="3120" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA2joUEhYIhaYWjoi5iq8IiGKwFS6j7D_BCwdwg3NyDI8nWiv9rUhnhZ6JpKLkRr-UoNkfQqoxSlB3bV51O5vEEkTOiP9QfY84fkmRXPxl6nwmrzNNNXE_0KJu-qjbQifvcd-1FAoUDXN-/s320/IMG_20210117_151927.jpg" width="240" /></a></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>Uma das características da adolescência é a subvalorização dos riscos</b>. Faz parte do seu</div><div style="text-align: left;">desenvolvimento que tenham alguma tendência para desvalorizar os riscos, porque a</div><div style="text-align: left;">adolescência é uma altura de descobrir o mundo, de desbravar caminho, de deixar o</div><div style="text-align: left;">conforto e a segurança da casa e da família e isso implica sempre correr alguns riscos.</div><div style="text-align: left;">Por isso vemos tantos adolescentes a fazer coisas que a nós nunca nos passariam pela</div><div style="text-align: left;">cabeça. Mas, também por isso mesmo, é natural que desvalorizem os riscos da vacina,</div><div style="text-align: left;">que os dados indicam claramente que, para todos os que estão abaixo dos 30 anos, são</div><div style="text-align: left;">muito superiores aos da doença.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Mas não tenhamos ilusões: a vida nunca mais vai voltar ao normal se continuarmos a</div><div style="text-align: left;">aceitar estas decisões do estado totalitário que está a ser criado. <b>Muitas pessoas dizem</b></div><div style="text-align: left;"><b>que é egoísta falar em liberdade e em escolhas individuais nesta altura. Porque temos de</b></div><div style="text-align: left;"><b>pensar no bem comum. Mas essas pessoas esquecem que a liberdade é o maior bem</b></div><div style="text-align: left;"><b>comum que precisamos de proteger. A liberdade protege-nos a todos. Sem liberdade que</b></div><div style="text-align: left;"><b>garantia temos de que não seremos presos um dia apenas por fazermos algo que,</b></div><div style="text-align: left;"><b>entretanto, foi definido como sendo contra o bem comum? Todas as ditaduras começam</b></div><div style="text-align: left;"><b>para alegadamente salvaguardar o bem comum. Estamos perante um totalitarismo</b></div><div style="text-align: left;"><b>sanitário que, para algumas pessoas parece até aceitável, mas quem é que nos garante</b></div><div style="text-align: left;"><b>que daqui por uns tempos não surjam outras razões para que este totalitarismo se</b></div><div style="text-align: left;"><b>mantenha?</b></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Têm ecoado por estes dias na minha memória as palavras de uma pessoa que levou a</div><div style="text-align: left;">vacina contrariada, por pressão dos empregadores. Essa pessoa dizia-me que nunca mais</div><div style="text-align: left;">se sentiu a mesma, que se sente diferente para pior, que tem tido mais dores de cabeça e</div><div style="text-align: left;">um humor mais depressivo. E questionava-se se seriam efeitos secundários da vacina.</div><div style="text-align: left;">Eu não tenho como saber se podem ser efeitos secundários dos produtos que compõem</div><div style="text-align: left;">a vacina ou não, mas posso afirmar que são com certeza efeitos de alguém que se sentiu</div><div style="text-align: left;">forçado e coagido a abdicar dos direitos sobre o seu próprio corpo. E não a vida não</div><div style="text-align: left;">volta ao normal depois disso porque quando deixamos de nos sentir livres de tomar decisões acerca do nosso próprio corpo podemos dizer que estamos a ser vítimas de uma forma de abuso e esse abuso deixa marcas, claro. <b>Jantar fora e ir à discoteca não são o mais</b></div><div style="text-align: left;"><b>importante para uma vida normal: o que um adolescente precisa para se sentir “normal”</b></div><div style="text-align: left;"><b>é de saber que as suas decisões são respeitadas, acolhidas e que os adultos não querem</b></div><div style="text-align: left;"><b>que assumam responsabilidades que ainda não são suas.</b></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Um adolescente saudável sente-se imortal, tem uma tendência natural para pensar que</div><div style="text-align: left;">os perigos não existem ou que nunca lhe tocarão a si. As pessoas que têm tentado</div><div style="text-align: left;">influenciar o nosso comportamento durante esta crise sanitária sabem isso muito bem.</div><div style="text-align: left;"><b>Um adolescente saudável não tem medo de morrer e muito menos de ficar doente. Por</b></div><div style="text-align: left;"><b>isso eles têm sido levados a acreditar que podem pôr em perigo os outros.</b> Sei de alguns</div><div style="text-align: left;">professores que chamavam criminosos aos alunos que se juntavam à porta das escolas,</div><div style="text-align: left;">fazendo apenas aquilo que o seu instinto lhes pede: conviver e fazer amigos. <b>Os nossos</b></div><div style="text-align: left;"><b>adolescentes e as nossas crianças têm sido vergonhosamente coagidos a sentirem-se</b></div><div style="text-align: left;"><b>responsáveis pela vida dos mais velhos da sua família e não só. </b>Apesar de tudo,</div><div style="text-align: left;">temos alguma tendência para proteger mais as crianças e exigir dos adolescentes que se</div><div style="text-align: left;">portem quase como adultos. Só que os adolescentes ainda não são adultos. A</div><div style="text-align: left;">adolescência é um período sensível para o desenvolvimento de muitas aptidões. Isto</div><div style="text-align: left;">quer dizer que os adolescentes estão programados para fazer algumas aprendizagens</div><div style="text-align: left;">que, quando não acontecem nesta altura, será muito mais difícil fazer com que</div><div style="text-align: left;">aconteçam mais tarde.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A adolescência e os primeiros anos de vida são as fases em que o cérebro está em maior</div><div style="text-align: left;">desenvolvimento. Nestas fases são criadas e perdidas milhares de ligações neuronais em</div><div style="text-align: left;">função de todas as experiências vividas: as mais frequentes deixam estruturas neuronais</div><div style="text-align: left;">que podem ficar para o resto da vida e aquelas que nunca são vividas fazem com que</div><div style="text-align: left;">determinadas estruturas se percam. Esta é uma altura em que o cérebro está a ser</div><div style="text-align: left;">moldado e tudo o que é vivido tem um grande impacto para a estrutura que está a ser</div><div style="text-align: left;">criada. <b>A adolescência é um período sensível para o desenvolvimento de muitas</b></div><div style="text-align: left;"><b>capacidades: é uma janela de oportunidade importante que não deve ser desperdiçada</b></div><div style="text-align: left;"><b>porque será muito mais difícil desenvolvê-las mais tarde. Além disso, o caminho para a</b></div><div style="text-align: left;"><b>complexificação que está a acontecer nesta fase, implica sempre uma certa fragilidade o</b></div><div style="text-align: left;"><b>que significa que, nesta altura, há mais potencial para que aconteçam danos</b>.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">A adolescência é uma ponte entre a infância e a idade adulta. É por isso que por vezes</div><div style="text-align: left;">não sabemos lidar com os adolescentes: porque num determinado momento se portam</div><div style="text-align: left;">como autênticas crianças e no minuto a seguir podem parecer adultos. Apesar dos</div><div style="text-align: left;">adolescentes terem já algumas capacidades que as crianças não têm, isto não quer dizer</div><div style="text-align: left;">que estejam completamente prontos para assumir determinadas responsabilidades, como</div><div style="text-align: left;">todos bem sabemos. Por isso os adolescentes ainda precisam de ter os adultos como</div><div style="text-align: center;"><div style="text-align: left;">referências.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgTxgthc7OsXb7YCQgwOKtIC52_1ujaLsJ_SfHO7rY5Eo3BaaQEn8JTPYRdniDrRZwK3K3kQeNejv9gcNXwHCsHGObm6_gVBvhxiGwhbJDeeZALVN3xq-WvoYCKkRznl5XbV9IVUPO8lLu/s4160/IMG_20200811_171726.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4160" data-original-width="3120" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgTxgthc7OsXb7YCQgwOKtIC52_1ujaLsJ_SfHO7rY5Eo3BaaQEn8JTPYRdniDrRZwK3K3kQeNejv9gcNXwHCsHGObm6_gVBvhxiGwhbJDeeZALVN3xq-WvoYCKkRznl5XbV9IVUPO8lLu/s320/IMG_20200811_171726.jpg" width="240" /></a></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div></div></div><div style="text-align: left;">Ouço com espanto algumas pessoas defenderem que precisamos de vacinar os</div><div style="text-align: left;">adolescentes como forma de preservar a sua saúde mental. A saúde mental dos</div><div style="text-align: left;">adolescentes nunca foi muito valorizada durante este ano e meio por isso é caso para</div><div style="text-align: left;">dizer que mais vale tarde que nunca. A prova disto é que aumentaram brutalmente os</div><div style="text-align: left;">casos de automutilação, as crises de ansiedade, as depressões, as dependências de ecrãs</div><div style="text-align: left;">e as tentativas de suicídio sobre as quais muitos pediatras que afirmam que nunca viram</div><div style="text-align: left;">chegar tantos casos aos hospitais.</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><b>Acontece que a saúde mental não se defende fazendo-nos crer que precisamos de</b></div><div style="text-align: left;"><b>abdicar dos direitos sobre o nosso corpo e conformar-nos a regras sem sentido apenas</b></div><div style="text-align: left;"><b>para podermos fazer aquilo que os outros fazem. Muito menos na adolescência</b>. A saúde</div><div style="text-align: left;">mental defende-se ensinando os jovens a confiar em si mesmos, a não terem que fazer</div><div style="text-align: left;">aquilo que os outros fazem só porque os outros fazem, a não terem medo de pensar pela</div><div style="text-align: left;">sua própria cabeça e a saberem respeitar opiniões diferentes. E a saberem que os adultos</div><div style="text-align: left;">os aceitam, respeitam e protegem nessa sua diferença. A saúde mental não se defende</div><div style="text-align: left;">ensinando os jovens a serem conformistas. A saúde mental não se defende ensinando</div><div style="text-align: left;">que podemos abdicar de escolhas fundamentais sobre o nosso corpo apenas para poder</div><div style="text-align: left;">sair à noite ou jantar fora.<b> Se estamos realmente preocupados com a saúde mental de</b></div><div style="text-align: left;"><b>crianças e jovens vamos acabar com as regras absurdas que vigoraram este ano nas</b></div><div style="text-align: left;"><b>escolas e com a criminalização daquilo que são comportamentos naturais e importantes</b></div><div style="text-align: left;"><b>para os jovens. Vamos acabar com a culpabilização e estigmatização de quem pensa</b></div><div style="text-align: left;"><b>diferente. E vamos dar-lhes o direito de escolher aquilo que querem injetar nos seus</b></div><div style="text-align: left;"><b>próprios corpos sem fazer com que se sintam responsáveis por proteger as vidas dos</b></div><div style="text-align: left;"><b>mais velhos.</b> Até porque com os dados que temos sobre o contágio entre pessoas</div><div style="text-align: left;">vacinadas tudo indica que estas injeções nem sequer servem para isso.</div><div style="text-align: left;">Quando a esmagadora maioria dos pediatras vem a público afirmar que a vacinação dos</div><div style="text-align: left;">jovens tem mais riscos que benefícios e as entidades oficiais decidem que, mesmo</div><div style="text-align: left;">assim, ela irá acontecer não podemos ter dúvidas de que estas medidas já não têm nada</div><div style="text-align: left;">que ver com saúde. E muito menos com o bem comum.</div></div>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-42360164550154693672021-07-23T03:54:00.003-07:002021-07-23T03:58:57.326-07:00Artigos publicados no observador e no publico<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Efeitos das máscaras nas crianças - <a href="https://www.publico.pt/2021/03/02/impar/noticia/efeitos-mascaras-criancas-1952562" target="_blank">https://www.publico.pt/2021/03/02/impar/noticia/efeitos-mascaras-criancas-1952562</a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div> Já podemos libertar as crianças? - <a href="https://observador.pt/opiniao/ja-podemos-libertar-as-criancas/" target="_blank">https://observador.pt/opiniao/ja-podemos-libertar-as-criancas/</a><div><br /><p></p><p>Efeitos das medidas sanitárias nas escolas - <a href="https://observador.pt/opiniao/efeitos-das-medidas-sanitarias-nas-escolas/" target="_blank">https://observador.pt/opiniao/efeitos-das-medidas-sanitarias-nas-escolas/</a></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp8Sx9sAkI7tJGGJ33loU-kdkA5HUiqqD36cQwIJSbdUDHH7g6IcRKorCU1FNfRZyGyXNYvBT2uzBamfuz9LPe-UQUIfP-RVaqSYJGtUU7pf-ufKzKd_1XAS2d26i7WMhwUz0QfbBPYpsI/s2048/Screenshot_20210723_115501_com.android.chrome.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp8Sx9sAkI7tJGGJ33loU-kdkA5HUiqqD36cQwIJSbdUDHH7g6IcRKorCU1FNfRZyGyXNYvBT2uzBamfuz9LPe-UQUIfP-RVaqSYJGtUU7pf-ufKzKd_1XAS2d26i7WMhwUz0QfbBPYpsI/s320/Screenshot_20210723_115501_com.android.chrome.jpg" width="320" /></a></div><br /><p><br /></p></div>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-16704263572844694142021-05-11T02:28:00.009-07:002021-05-11T02:30:48.534-07:00Já podemos libertar as crianças? <p style="text-align: left;"></p><div style="text-align: center;"><span style="text-align: justify;">O meu filho mais novo tinha três
e meio quando esta crise começou. Dei comigo a pensar que qualquer dia ele já
não se lembrará de alguma vez ter andado de transportes públicos sem que todos
estivessem de máscara, já não se vai lembrar das velhotas simpáticas que
falavam tantas vezes com ele no autocarro e com quem sempre gostava de falar
quando era bebé. Podemos viver com isso, claro, apesar de ter pena de perder
este aspecto característico do que era ser português. Um dia uma mãe espanhola
disse-me que para os portugueses parecia que as crianças eram propriedade
pública, com tudo o que isso tem bom e de mau, claro. Neste momento isso
perdeu-se, porque temos cada vez mais medo de falar com as outras pessoas, estamos
cada vez mais isolados nesta sensação colectiva de que todos podemos pôr todos
em perigo. Além de que as máscaras dificultam muito as poucas tentativas de
comunicar com alguém que não conhecemos nos transportes ou na rua. Mas, se
podemos adaptar-nos a isto, ainda que não sem alguma tristeza, o que dizer de
todas as crianças que dentro em breve já não se lembrarão de alguma vez terem
abraçado os avós? De todas as crianças de um ano que nunca estiveram noutro
colo para além do dos pais? De todas as crianças que nunca conheceram uma
escola sem máscaras e sem regras rígidas? De todas as crianças que dentro em
breve já não vão saber como tocar, como abraçar, como beijar os amigos de tanto
terem interiorizado que isso era perigoso? De todos os adolescentes que já não
saberão como mostrar a cara porque se habituaram a esconder o rosto atrás da máscara
usada o dia inteiro nas escolas? De todos os adolescentes que deixaram de
encontrar um propósito para a vida porque de repente não se conseguem sentir
mais do que meras armas biológicas que podem pôr em perigo todos aqueles que
amam pelo simples facto de seguirem o seu impulso de quererem aproximar-se dos
amigos? Será que também podemos adaptar-nos a isto? Será que temos sequer o
direito de o fazer? </span></div><span style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"> </div></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAtT1E7r71pWOgStjxTnJIWJss5xkl_L55lx78mrMzdfOkq-oq-LNohdSeao9qLgG9yTIZZW6h21q0PBLhcYfv7xte9Z9kYXSqE-Kpl-o1xqqiksqxm16-4DQ-f2DXbGSXPTHCwl5bMNF4/s4160/IMG_20210117_151927.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4160" data-original-width="3120" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAtT1E7r71pWOgStjxTnJIWJss5xkl_L55lx78mrMzdfOkq-oq-LNohdSeao9qLgG9yTIZZW6h21q0PBLhcYfv7xte9Z9kYXSqE-Kpl-o1xqqiksqxm16-4DQ-f2DXbGSXPTHCwl5bMNF4/w240-h320/IMG_20210117_151927.jpg" width="240" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>O tempo das crianças e dos adolescentes
é diferente do tempo dos adultos</b>. Vi em tempos um especialista em
desenvolvimento afirmar que um ano na vida de uma criança podia ser equiparado
a dez anos na vida de um adulto. Não sei se podemos ver as coisas deste modo
tão linear mas a verdade é que tudo o que acontece na infância e na
adolescência tem muito mais peso porque o cérebro está em transformação, porque
está programado para aprender aquilo que pode esperar do mundo, dos outros e
para aprender como deve lidar com isso. As crianças adaptam-se, ouvimos
constantemente e é verdade. <b>Justamente por serem fases de grande aprendizagem e
transformação a infância e a adolescência também são fases de grande adaptação.
Mas essa adaptação tem um preço. Um preço que está a ser pago agora e que continuará
a ser pago no futuro. Um adulto voltará mais facilmente ao comportamento que
tinha antes de tudo isto ter começado porque tem essas memórias, esses registos
de como era viver de outra formas mas as nossas crianças e os nossos
adolescentes estão a perdê-las, as crianças mais pequeninas nunca chegaram a
tê-las. </b>Queremos mesmo que as nossas crianças e jovens cresçam a acreditar que
é perigoso abraçar? Que é perigoso beijar? Que uma cara destapada é uma arma
biológica em potência? Com a vacinação dos idosos quase concluída, no Reino
Unido, já se fala de abandonar as máscaras em todas as escolas a partir do meio
de Maio. Cá até já vacinámos os professores, para além dos idosos, porque é que
ainda não começámos a pensar em libertar as nossas crianças e jovens? Fomos dos
países que mantiveram mais tempo as escolas fechadas e que forçaram as máscaras
nas idades mais precoces. Os parques infantis em muitos sítios ainda continuam
fechados. É verdade que os nossos parques, na sua maioria, são pobres e pouco desafiadores
por isso nem sequer são o melhor lugar para as crianças brincarem, sobretudo as
mais crescidas. Mas mantê-los fechados transmite uma ideia de medo, de
insegurança que ainda persiste na cabeça de muitos pais. As nossas crianças já
vivem muitas vezes uma vida de sobreprotecção, já não podem brincar na rua e
passam o dia a ir de uma actividade para a outra sem o tempo necessário para a
brincadeira livre que é tão essencial para o seu desenvolvimento e que se torna
ainda mais importante nos momentos de tensão. A brincadeira livre ajuda a gerir
a tensão e até a calibrar o sistema de alarme das crianças que é justamente o
que lhes permite manter a resiliência necessária para lidar com a adversidade. Quando
têm alguma possibilidade de arriscar, quando podem brincar livremente às lutas
e às escondidas, quando lhes é permitido estarem livres num espaço aberto em
que podem aprender a conhecer o corpo e o que as rodeia, as crianças estão a
testar e a usar de forma controlada o seu sistema de alarme, é através destas
experiências que ele se vai tornando mais eficaz a lidar com os perigos e que
se torna mais capaz de enfrentar situações difíceis.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;">Culturalmente temos uma enorme
aversão ao risco, que limita as crianças e que, neste momento está a impedi-las
de viver e de se desenvolverem. <b>Durante muito tempo dissemos que as crianças não
podiam brincar livremente e os jovens não podiam conviver porque poderiam pôr
em risco os avós. Agora que os avós estão praticamente todos vacinados qual é a
desculpa para os mantermos ainda cativos deste medo que não nos larga?</b></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIAIYykhVE_VEWQmDteOCTHgYf14vZXunlJmwX0C02tv0sDu5aWGMeAJayIBei3ElrvJnWqqHv48oGrYA7L0iKmSxYnqWpqtUMHcpW10_-EP5hTea8RNtGJZrM9tYboTYuoRbDenH_sVs/s3264/IMG_20180418_180610.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3264" data-original-width="2448" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIAIYykhVE_VEWQmDteOCTHgYf14vZXunlJmwX0C02tv0sDu5aWGMeAJayIBei3ElrvJnWqqHv48oGrYA7L0iKmSxYnqWpqtUMHcpW10_-EP5hTea8RNtGJZrM9tYboTYuoRbDenH_sVs/w150-h200/IMG_20180418_180610.jpg" width="150" /></a></div></blockquote></blockquote><br /><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="text-align: justify;"><b>As crianças precisam de brincar e
os adolescentes precisam de conviver. Uma das tarefas essenciais da
adolescência é o afastamento da família: os adolescentes precisam de descobrir o
seu lugar no mundo e não podem fazê-lo se os impedirmos de sair, de conviver,
de estar com os amigos. E não, isso não se faz através de um ecrã. </b>O aumento do
uso de ecrãs durante a adolescência está fortemente correlacionado com o
aumento das tentativas de suicídio. Estamos programados para estar com as
pessoas ao vivo e nada pode substituir isso, precisamos de toque. E os
adolescentes precisam de descobrir o corpo e os outros através desse toque
também.</span></div></blockquote>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Durante toda esta crise muitas
pessoas afirmaram que precisávamos de usar as tecnologias para manter e
fortalecer as ligações. Mas esta é uma visão superficial das coisas. Primeiro
porque consoante a idade temos necessidades muito diferentes a este nível</b>. Um
bebé precisa muito mais de toque e da presença física do que uma criança mais velha.
Mas uma criança ainda precisa mais da presença física do que um adulto. Por
isso para as crianças os ecrãs simplesmente não servem de substituto,
principalmente para as mais pequenas. Mas, mesmo os adolescentes, ainda têm
mais necessidade dessa presença do que um adulto. E mesmo para um adulto, essa
necessidade, varia com as circunstâncias e também com o seu grau de maturidade
emocional, porque nem todos os adultos têm a mesma maturidade. Mesmo um adulto
maduro, nos momentos difíceis e de crise pode precisar do toque para se sentir
seguro com alguém. Além disso as relações não podem manter-se eternamente à
distância, por muito que usemos a tecnologia para comunicar, chega sempre a uma
altura em que nada substitui o toque e o corpo da outra pessoa à nossa frente. E
negar isto é negar tudo aquilo que nos torna humanos.</p><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZyysvpdO201xTvpmsGLFTZT1YYitA3fBpWEuD3GdN0R8Hw3nDrp6bic5b2tCIafdyYWGkPkNIPhOO0yqzm6cV8jOvacfYGQf4nn1FOdCXIyT9WeErzJNcDl1rhyau6KLzgpRd1hxgtrdu/s4160/IMG_20201003_094723.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4160" data-original-width="3120" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZyysvpdO201xTvpmsGLFTZT1YYitA3fBpWEuD3GdN0R8Hw3nDrp6bic5b2tCIafdyYWGkPkNIPhOO0yqzm6cV8jOvacfYGQf4nn1FOdCXIyT9WeErzJNcDl1rhyau6KLzgpRd1hxgtrdu/w150-h200/IMG_20201003_094723.jpg" width="150" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><b><div style="text-align: center;"><b>Depois também é fundamental
reconhecer que não precisamos só das relações profundas. Também precisamos
daquelas mais superficiais que fazem parte do nosso dia-a-dia quando tudo
funciona normalmente e podemos sair de casa para trabalhar, levar os filhos à
escola, ir ao café, etc. Precisamos mesmo daquelas pessoas a quem só dizemos
bom dia, boa tarde e com quem nunca faríamos uma videochamada. </b>Precisamos
destas relações para nos sentirmos parte do grupo, parte da tribo. Estas são
fundamentais para o nosso bem-estar porque, enquanto humanos, evoluímos em
comunidades e temos que nos sentir parte delas.</div></b><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;">As pessoas mais extrovertidas
precisarão destas interacções em maiores quantidades, mas isso não quer dizer
que não façam falta às introvertidas. Vejo muitos adultos em teletrabalho que,
no início, até abraçaram com prazer a ideia de trabalhar a partir de casa e,
neste momento, estão completamente deprimidos por falta desses contactos, desse
sentimento de pertença e dos pequenos intervalos e conversas que podiam ir
tendo com os colegas de trabalho, por muito superficiais que fossem.</p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b>Então pergunto, quando podemos
libertar as crianças, os jovens e já agora também os seus pais deste medo que
nos domina há tanto tempo?</b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;">Enquanto se mantiverem as
máscaras na rua e em todos os sítios que frequentamos, irá manter-se o medo. E enquanto não
nos livrarmos dele, as crianças e os jovens irão continuar a ser impedidos de
viver em condições realmente propícias ao seu bom desenvolvimento. O uso
constante de máscaras por parte dos professores e educadores dos mais pequenos
limita a possibilidade das crianças se sentirem verdadeiramente seguras com os
adultos com quem estão uma boa parte do dia. Já há peritos que identificaram
atrasos no desenvolvimento da linguagem das crianças que passam o dia <span style="text-align: justify;">inteiro sem ver a boca dos
adultos que as rodeiam, algo que é essencial para esta </span><span style="text-align: justify;">aprendizagem. Neste momento temos
crianças que nunca viram a cara completa dos seus professores sem ser através
de um ecrã. Professores que nunca viram a cara dos seus alunos ao vivo. Existem
muitos bebés de um ano que mal estiveram com outros adultos além da mãe e do
pai e que nunca foram ao colo dos avós. Temos adolescentes proibidos de ver a
cara dos colegas o dia inteiro e crianças de dez anos que passam os intervalos
na sala a olhar para o telemóvel. Temos professores que não deixam as crianças
usarem o seu giz, têm que levar um de casa se quiserem ir ao quadro, mesmo
quando já se sabe que a transmissão através das superfícies é muito pouco
provável. Temos miúdos a desinfectar as mãos várias vezes por dia com alcoól
gel que tem um efeito destruidor para as bactérias da pele. Temos professores
que chamam criminosos aos alunos que fazem apenas aquilo que o seu instinto
manda e que é fundamental para o seu desenvolvimento: conviver com os amigos.
Temos polícias que perseguem jovens que se juntam à noite. E temos cada vez
mais pessoas vacinadas e imunes por terem tido o vírus. De que é que precisamos
mais para libertarmos as crianças? E já agora os adolescentes e adultos também.</span></p><span style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">O risco zero é uma ilusão, não
existe neste vírus e nunca existirá em nenhum outro. Saiu recentemente uma
meta-análise (uma revisão de vários estudos, neste caso foram 44 <a href="https://www.mdpi.com/1660-4601/18/8/4344?fbclid=IwAR35_ccjW_zq6LOpwwQf3g8yirjz1DjIdUfGlLxf-31o7vsyjGgupSj03hg">e podem ler-se aqui</a>) que conclui que as máscaras não
só têm uma eficácia muito limitada na protecção contra vírus como têm também
vários efeitos negativos para a saúde e consequências psicológicas bastante
negativas que advêm do seu uso prolongado. É altura de ouvirmos realmente a ciência,
que se faz com espaço para o contraditório. É altura de abandonarmos os modelos
e de olharmos para a vida real e para tudo aquilo que já se sabe sobre o vírus
e sobre as políticas que temos usado para o combater. É que a desculpa da
novidade e do não saber está a tornar-se cada vez mais velha.<br /></div></span><p></p>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-80548790104622288412021-05-10T08:08:00.001-07:002021-05-10T08:08:26.404-07:00Artigo de opinião no site do Público<p> Artigo de opinião no site do público: </p><p><a href="-2k%ip];Uxs;" target="_blank">Efeitos do uso de máscara nas crianças </a></p><p><br /></p><p><br /></p>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-58569346775476214782020-12-16T09:05:00.003-08:002020-12-16T09:05:57.886-08:00Direitos das crianças, conformismo e emoções <div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span style="text-align: justify;">Nos últimos meses cada vez mais pessoas têm falado sobre as medidas rígidas a que estamos a sujeitar as crianças e sobre o impacto que estas poderão ter no seu desenvolvimento. Eu própria assinei com vários colegas um artigo no público sobre este tema (que pode ser lido </span><a href="https://www.publico.pt/2020/07/29/impar/opiniao/medidas-novo-ano-lectivo-impacto-saude-mental-criancas-1926057" style="text-align: justify;">aqui</a><span style="text-align: justify;">), participei em algumas entrevistas e reportagens (que podem ser lidas </span><a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/2020/11/partilho-aqui-algumas-entrevistas-e.html" style="text-align: justify;" target="_blank">aqui</a><span style="text-align: justify;">) e colaborei com o grupo </span><a href="https://assimnaoeescola2021.blogspot.com/" style="text-align: justify;" target="_blank">Assim não é escola</a><span style="text-align: justify;"> em que foi criada uma petição que já recolheu mais de 7000 assinaturas e que está à espera de ser discutida na assembleia da república. Pode ser assinada </span><a href="https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT102644" style="text-align: justify;" target="_blank">aqui</a><span style="text-align: justify;">. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX3XOyodcWiz-pkXip4ftVCDnV_QkIWUCNdheys0w4XD7K_rIUxztS1gFION06ewYyquLw6KKo0ijSGhm7axnYoxmGx1GxesCdcflrH4SBXPaeqV6GuPL4L2X8tczFhm4Rp3lQIQ8eAWhx/s2048/Screenshot_20200819_181446_com.android.chrome.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1280" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX3XOyodcWiz-pkXip4ftVCDnV_QkIWUCNdheys0w4XD7K_rIUxztS1gFION06ewYyquLw6KKo0ijSGhm7axnYoxmGx1GxesCdcflrH4SBXPaeqV6GuPL4L2X8tczFhm4Rp3lQIQ8eAWhx/w200-h320/Screenshot_20200819_181446_com.android.chrome.jpg" width="200" /></a> </div></div><div style="text-align: justify;">O artigo do público serviu também para uma carta aberta à Ordem dos Psicólogos que foi assinada por quase 200 colegas em três dias. A Ordem dos psicólogos também escreveu uma carta aberta à DGS recomendando que essas medidas fossem revistas. <br /></div><div style="text-align: justify;">Recentemente saiu também um artigo no público em que os vários pediatras também defendem que as crianças não podem continuar a ser sujeitas a estas medidas. (pode ser lido <a href="https://www.publico.pt/2020/11/26/sociedade/noticia/covid19-criancas-nao-podem-continuar-sujeitas-medidas-radicais-defendem-pediatras-1940697" target="_blank">aqui</a>) Hoje mesmo participei numa conferência da CPCJ de Odivelas em que os especialistas presentes também alertaram para o impacto negativo destas medidas e que pode ser visto <a href="https://fb.watch/2oDWsf4qxN/" target="_blank">aqui</a>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Também falei com alguns deputados, professores, diretores de escola e muitos pais, sendo que, mesmo que nem todos concordem com a forma como devemos lidar com esta pandemia é muito claro que todos reconhecem que as regras rígidas que existem nas escolas neste momento, com tudo o que sabe hoje sobre a forma como esta doença afeta as crianças - não são nem necessárias nem desejáveis e podem vir a ter consequências muito nefastas. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Então é importante que façamos uma reflexão sobre porque é que isto continua a acontecer. E quando penso nisso não posso deixar de me lembrar de uma experiência muito importante feita nos anos 60 e 70 por Stanley Migram. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Este investigador pediu a várias pessoas de diferentes idades e estratos sociais que participassem numa experiência que lhes dizia ter como objectivo estudar a forma como as pessoas aprendiam. Esses participantes ficavam numa sala de onde podiam ver uma outra pessoa, através de um vidro, a quem eram feitas perguntas. Cada vez que essa pessoa errava uma pergunta os analisadores diziam aos voluntários para carregarem num botão que lhes permitia dar um choque eléctrico a essa pessoa. Os voluntários não sabiam que a outra pessoa também fazia parte do estudo e que apenas fingia que estava a receber um choque. Era dito aos voluntários que deviam aumentar a intensidade dos choques com cada erro que a pessoa fazia e, a certa altura, a pessoa do outro lado do vidro começa mesmo a gritar e contorcer-se com dores. <b>Mesmo assim, cerca de 65% das pessoas, quando a ordem era dada pelo examinador, era capaz de dar choques eléctricos de 450 volts, uma descarga que seria suficiente para causar a morte da outra pessoa</b>. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhafGwYAuDVroa_qcOBjKRZWJtp4L3aUUfqxtZzQm-gYKcpho5kk05mpgVI_xgtlnooBlqpD3tbC6vECu1wDbxj30xcannkXUoc4D1_tDlNX9W9G8rkxvT4kntVoRLJrxJ6kB1iJwiy9jYl/s4160/IMG_20201122_140031.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4160" data-original-width="3120" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhafGwYAuDVroa_qcOBjKRZWJtp4L3aUUfqxtZzQm-gYKcpho5kk05mpgVI_xgtlnooBlqpD3tbC6vECu1wDbxj30xcannkXUoc4D1_tDlNX9W9G8rkxvT4kntVoRLJrxJ6kB1iJwiy9jYl/s320/IMG_20201122_140031.jpg" /></a></div><b>Este estudo teve muito impacto pela conclusão chocante de que a maioria das pessoas não se inibia de causar dor, sofrimento e até potencialmente a morte de outro ser humano, desde que a responsabilidade não fosse sua.</b> Porque, no final do estudo, quando se falava com essas pessoas, o que elas respondiam era que estavam apenas a cumprir ordens e que o faziam porque lhes tinham pedido, queriam desempenhar bem a sua função, achavam que seria importante para o estudo ou porque confiavam na pessoa que lhes estava a dar a ordem. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Isto foi usado, inclusivamente, para ajudar a explicar a forma como os nazis levaram a cabo o holocausto com a ajuda, colaboração e passividade de tantas pessoas que estavam também apenas a cumprir ordens. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Então quando sujeitamos as nossas crianças e jovens a regras que podem ter um efeito muito negativo para o seu desenvolvimento também nos sentimos capazes de o fazer porque estamos apenas a cumprir ordens? </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><b>Desconhecimento sobre as necessidades das crianças </b></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><div><div>Acredito que uma boa parte disto também se relaciona com o facto de não reconhecermos as necessidades reais das crianças. Antes de tudo isto, na verdade, elas já não eram muito valorizadas. <b>Por vezes penso que vivemos numa sociedade um pouco esquizofrénica no sentido em que, por um lado, se valoriza excessivamente uma autonomia forçada mesmo em etapas do desenvolvimento em ela não faz sentido - forçamos as crianças a dormir sozinhas, a irem para a escola, a deixar de mamar ou deixar a chucha mesmo que elas ainda não estejam preparadas para isso - mas depois não as deixamos ser autónomas naquilo em que mais precisam de o ser: na liberdade de brincar, de se movimentarem no espaço, de correrem riscos adequados à sua idade, de usufruírem livremente dos espaços públicos sem necessidade da presença constante dos adultos, de terem oportunidade de conhecer o seu corpo, os seus limites e os dos outros. </b>Isto é feito, sobretudo, através da brincadeira livre, algo que é fundamental e que, infelizmente, antes mesmo da pandemia já parecia estar em risco de extinção. </div><div><br /></div><div>A verdadeira autonomia só acontece se existir um espaço de liberdade para as crianças. Essa liberdade, claro, só faz sentido quando existe uma base segura a que as crianças sabem que podem voltar. Os primeiros anos de vida precisam de ser dedicados à construção dessa base segura mas, essa base segura, só é realmente segura se também der liberdade de forma adequada à criança. </div><div><br /></div><div>Todas as crias, na natureza, passam os seus primeiros anos de vida a brincar. Através da brincadeira elas aprendem a desenvolver habilidades, aptidões, aprendem a conhecer o seu corpo, os seus limites, aprendem a saber de que é que são capazes e aprendem a lidar com os outros, a relacionar-se. A brincadeira também é fundamental para o desenvolvimento da motivação, da capacidade de aprendizagem. As crianças quando brincam livremente exercitam a sua curiosidade natural e é esta que deve estar na base de todos os processos de aprendizagem.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf1u-thr2wCJwL_nGRtlkXl_zCmODLmxrmh2B82uAtjEW-dOmHCBMl_y1P75x7SW_4EAgKwZz0GzmMl9W3rxgQtoyOuI64Gq4Ww8JKI2HLcGhFXgKq7niA9uv6aekIiEulYvF025OlwOUA/s640/20140401-003_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhf1u-thr2wCJwL_nGRtlkXl_zCmODLmxrmh2B82uAtjEW-dOmHCBMl_y1P75x7SW_4EAgKwZz0GzmMl9W3rxgQtoyOuI64Gq4Ww8JKI2HLcGhFXgKq7niA9uv6aekIiEulYvF025OlwOUA/s320/20140401-003_.jpg" /></a></div><b>Também aprendem a descobrir o corpo e descobrir o corpo é o caminho para descobrir as emoções. Descobrir as emoções é aprender a lidar com elas e com o mundo. </b>Muitos adultos têm medo das suas próprias emoções porque têm medo das sensações que elas provocam no corpo. Então, descobrir o corpo através da brincadeira, também ajuda a criança a familiarizar-se com o que sente e por isso torna mais fácil o seu contacto com as emoções. Até porque, na brincadeira, as emoções podem ser sentidas de uma forma segura, de uma forma menos ameaçadora, durante a brincadeira as crianças podem experimentar o medo, a raiva, a frustração, a tristeza e todas as emoções mais difíceis de uma forma um pouco mais leve, menos intensa e por isso mais segura. Essa aprendizagem é importante e fundamental para o seu bom desenvolvimento. Fala-se muito em educação emocional mas educar para as emoções não passa necessariamente por construir programas em que se fala sobre elas nas escolas. Passa por criar espaço e tempo para que as crianças as possam sentir num contexto de segurança. Primeiro é fundamental que as crianças se sintam seguras nas suas ligações e depois que lhes seja dada essa liberdade de explorar através da brincadeira. E nenhum programa de educação emocional fará sentido se existirem estas duas lacunas. Porque não é a falar de emoções que se aprende a lidar com elas mas é vivendo-as, sobretudo na infância. </div><div><br />Provavelmente faltou aos adultos que se limitam a cumprir ordens sem as questionar um espaço para entrarem realmente em contacto com as suas emoções, para aprenderem a ser capazes de as reconhecer, acolher e valorizar. A brincadeira livre é o primeiro lugar onde isso pode acontecer mas depois é essencial que também haja uma relação segura com um adulto disponível onde elas poderão ser faladas, abordadas e mais facilmente estruturadas. </div><div><br /></div><div><b>A brincadeira livre também ajuda a calibrar o sistema de alarme. Brincar às lutas ou correr riscos faz com que o sistema de alarme seja activado.</b> E o sistema de alarme precisa de ser activado, desta forma moderada que só é possível em condições de segurança, para que possa funcionar mais eficazmente. Na verdade o nosso sistema de alarme é relativamente frágil e fica facilmente desregulado se for usado excessivamente em situações demasiado intensas ou demasiado constantes, naquilo a que se chama o stress tóxico ou crónico mas também fica desregulado mais facilmente se nunca for exercitado. E a brincadeira é o momento ideal para este ser exercitado e, de certo modo, como que tonificado.</div><div><br /></div><div>A brincadeira é também a forma por excelência das crianças libertarem a tensão acumulada, como já disse aqui várias vezes. <b>Brincar é uma forma de libertar vapor, de deixar fluir as emoções para que elas não comecem a ficar acumuladas e não se tornem tóxicas. </b>Na verdade os adultos precisam desse espaço de brincadeira também, embora a forma de brincar possa ser diferente. A brincadeira ajuda a manter-nos no presente e isso também tem um importante efeito tranquilizador e anti-depressivo. </div><div><br /></div><div>Então as crianças precisam mais do que nunca de ter tempo e espaço para brincar e temos a responsabilidade de lhes providenciar isso. <b>E de cada vez que impedimos uma criança de brincar livremente, mesmo que possamos pensar que isto é apenas temporário, aquilo que estamos a fazer é a possibilitar que se instale um padrão em que deixamos de reconhecer essa necessidade e em que a própria criança também já não as reconhece. P</b>orque, apesar da brincadeira ser algo natural e instintivo, a verdade é que também depende do hábito e precisa de certas condições para acontecer (com um sentimento de segurança e ausência de ecrãs durante uma boa parte do dia, por exemplo) Quando essas condições não existem ou quando privamos a criança de brincar é relativamente fácil que esse hábito se perca como infelizmente já se perdeu em demasiados casos. E quando o hábito se perde, fica perdida também uma boa parte daquilo que permite amadurecer realmente. Por isso cada dia que privamos uma criança de brincar livremente, ao ar livre de preferência, é um dia em que contribuímos para que se perca esse hábito tão fundamental para o seu desenvolvimento e um dia em que não estamos a contribuir para o seu amadurecimento. E sabemos que a infância e adolescência são períodos sensíveis para o desenvolvimento de muitas capacidades: uma janela de oportunidade para desenvolver competências que, quando não acontecem nesta altura, será muito mais difícil que venham a acontecer. </div><div><br /></div><div>A necessidade de brincar livremente, ao ar livre, durante uma boa parte do seu dia sempre foi bastante negligenciada e desvalorizada. Daí até se encurtarem os intervalos, ou se criarem regras limitadoras da brincadeira livre ou a fecharem os parques infantis talvez não vá uma distância tão grande. </div><div><br /></div><div><br /></div><div><b>As experiências do conformismo de Asch</b> </div><div><br /></div><div><br /></div><div><b>Outras experiências famosas que se relacionam com a anterior e que também são muito relevantes para o momento social que estamos a viver são as experiências do conformismo de Asch que foram feitas já nos anos 50</b>. Nestas experiências havia um grupo de pessoas numa sala e era pedido a essas pessoas que avaliassem o tamanho de algumas linhas apresentadas num ecrã. Nesse grupo havia apenas um voluntário que pensava que todos os outros também eram e a certa altura todos os outros começavam a dar uma resposta claramente errada. A grande maioria das pessoas, durante um bocadinho ainda tentava dar a resposta certa mas, ao fim de algum tempo cedia à pressão do grupo e acabava também por dar a resposta errada, ainda que este erro fosse óbvio. E esta pressão era tão forte que, em muitos casos, as pessoas chegavam mesmo a convencer-se que a resposta do grupo era realmente certa, porque não eram capazes de aceitar que tivessem escolhido uma resposta errada apenas por causa dessa pressão grupal. </div><div>Só quando aparecia um aliado a dar também a resposta certa é que uma boa parte das pessoas já passava a ter capacidade de manter a sua resposta também. </div><div><br /></div><div><b>Esta experiência mostra bem como a pertença ao grupo e a aceitação são tão importantes para nós que podem até mudar as nossas crenças e a nossa perceção das coisas.</b> </div><div>E acredito que é também algo deste género que está a acontecer quando queremos convencer-nos que o que estamos a fazer está certo, ou que não poderia ser de outra forma, mesmo quando temos tantos especialistas a dizer que é errado. Então aqui também é importante que sejamos capazes de nos conectar com as nossas necessidades, de saber que está certo, é natural e até desejável que queiramos ser aceites e pertencer ao grupo mas o preço a pagar por isso não pode ser o de deixarmos de ouvir a nossa verdade. <b>E, se nos ligarmos à nossa verdade, neste caso, não precisamos de muitos estudos nem investigações para sabermos que o que estamos a fazer às nossas crianças e jovens é profundamente errado</b>. É errado privar uma criança da sua liberdade ou condicionar com regras rígidas o seu desenvolvimento, é errado fazer uma criança sentir que pode pôr em perigo os pais ou avós. Conheço o caso de uma criança que esteve fechada no quarto durante quatro semanas - duas em isolamento profilático no final do qual foi pedido que fizesse um teste que veio positivo e por isso ficou mais duas semanas em casa - e esteve uma boa parte dessas duas semanas fechada no seu quarto, com as refeições entregues num tabuleiro: os pais batiam à porta, pousavam o tabuleiro no chão e ela tinha que esperar que se afastassem para ir buscar a comida que depois voltava a deixar no chão, à porta do quarto sendo que o tabuleiro era imediatamente desinfetado antes de ser recolhido. </div></div><div><br /></div><div>Não precisamos de estudos nem de investigações para sentir que isto é profundamente errado. Basta que sejamos capazes de ouvir a nossa verdade, basta que sejamos capazes de reconhecer as necessidades das crianças, para sabermos que estamos a causar-lhes sofrimento, basta que sejamos capazes de ter alguma empatia para perceber que não temos o direito de fazer com que as nossas crianças e jovens se sintam como portadores ambulantes de um vírus mortífero para a sua família, basta que sejamos capazes de entrar um pouco em contacto com as nossas emoções para perceber que tudo isto está a ter resultados muito mais desastrosos do que o vírus de que tanto nos queremos proteger. </div><div><br /></div><div><br /></div><div><b>O cérebro esquerdo e o cérebro direito</b></div><div><b><br /></b></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://static.fnac-static.com/multimedia/Images/PT/NR/b7/f9/12/1243575/1540-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="340" data-original-width="340" height="200" src="https://static.fnac-static.com/multimedia/Images/PT/NR/b7/f9/12/1243575/1540-1.jpg" width="200" /></a></div>Ian McGilchrist é um psiquiatra que escreveu um livro que também acredito que ajuda a compreender uma boa parte do que se tem passado. Neste livro ele defende a tese de que vivemos numa sociedade em que se valorizam demasiado as capacidades do hemisfério esquerdo: a racionalidade, a linguagem, a objetividade e a análise dos detalhes, por exemplo. Isto acontece em detrimento das capacidades do nosso hemisfério direito, mais relacionado com a consciência corporal, com as emoções e com um visão mais global ou holística das questões. <b>Neste momento somos confrontados com uma situação angustiante de um vírus que provoca sofrimento e o nosso hemisfério esquerdo imediatamente tomou conta da situação e tentou resolver tudo criando regras e mais regras e analisando tudo ao pormenor mas esquecendo-se da visão global das coisas e do impacto que estas regras têm na nossas emoções. </b></div><div><b><br /></b></div><div>Não podemos resolver a morte com regras, não podemos travar um vírus desta natureza com regras. Muito menos quando essas regras nos pedem para deixar de parte todo o nosso instinto, as nossas emoções, para negar a nossa natureza gregária e a necessidade que temos de estar juntos, de nos tocar e aproximar, de nos sentirmos seguros na companhia uns dos outros. </div><div><b><br /></b></div><div><b>Então, talvez seja altura de reconhecermos que não podemos resolver este problema através da lógica e da racionalidade porque estas só nos têm trazido novos problemas. Talvez seja altura de começarmos a dar mais espaço ao nosso hemisfério direito, de entrarmos mais em contacto com as emoções e de sermos capazes de olhar mais para o global. Porque se não o fizermos corremos o risco de continuar a olhar apenas para os detalhes e a ignorar toda a destruição global que estamos a causar à nossa volta.</b> </div><div>É altura de pararmos de pensar só em nós próprios, sim, mas também é altura de sermos capazes de assumir a fragilidade que existe no facto de sermos humanos e de precisarmos uns dos outros. E de aceitarmos que o nosso cérebro esquerdo não tem nenhuma solução válida para este problema. Só com o equilíbrio dos dois hemisférios é que poderemos encontrar forma de lidar com isto sem continuar a causar ainda mais destruição.</div><div><br /></div><div>Ontem na conferência o Professor Carlos Neto, cujo trabalho admiro, afirmou que os nossos políticos não brincaram o suficiente e por isso são tão totós. Se calhar muitos de nós não brincaram o suficiente, por isso não tiveram oportunidade de desenvolver muito o seu hemisfério direito. Então, se queremos realmente um mundo melhor vamos dar espaço às nossas crianças para brincar, vamos dar-lhes tempo e espaço para entrarem em contacto com o corpo e com as emoções e talvez assim não voltemos a encontrar-nos neste buraco global em que estamos agora metidos. </div><div><br /></div><div><br style="background-color: white; color: #222222; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small; text-align: start;" /></div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-42437623686072748542020-11-10T10:26:00.002-08:002020-11-24T02:27:49.258-08:00Entrevistas e reportagens sobre a pandemia <div>Partilho aqui algumas entrevistas e reportagens em que participei sobre a situação atual e a importância de protegermos a saúde mental das crianças e jovens. </div><div><br /></div>Entrevistas à revista sábado: <div><br /></div><div><a href="https://www.sabado.pt/vida/detalhe/a-mascara-pode-deixar-um-bebe-tenso-e-assustado">https://www.sabado.pt/vida/detalhe/a-mascara-pode-deixar-um-bebe-tenso-e-assustado</a><br /></div><div><br /></div><div><a href="https://www.sabado.pt/vida/detalhe/covid-19-a-saude-mental-das-criancas-esta-em-risco">https://www.sabado.pt/vida/detalhe/covid-19-a-saude-mental-das-criancas-esta-em-risco</a><br /></div><div><br /></div><div>Reportagem da Catarina Neves, SIC </div><div><br /></div><div><a href="https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2020-09-08-Psicologos-contra-novas-regras-nas-escolas.-Dizem-que-podera-haver-nova-pandemia-na-saude-mental-1">https://sicnoticias.pt/especiais/coronavirus/2020-09-08-Psicologos-contra-novas-regras-nas-escolas.-Dizem-que-podera-haver-nova-pandemia-na-saude-mental-1</a><br /></div><div><br /></div><div>Reportagem da RTP sobre o movimento Assim não é escola </div><div><br /></div><div><a href="https://www.rtp.pt/noticias/pais/movimento-assim-nao-e-escola-contra-orientacao-da-dgs-para-os-alunos_v1260307">https://www.rtp.pt/noticias/pais/movimento-assim-nao-e-escola-contra-orientacao-da-dgs-para-os-alunos_v1260307</a><br /></div><div><br /></div><div>Entrevista da PCCA, por Paulo Costa </div><div><br /></div><div><a href="https://www.youtube.com/watch?v=1ewxvB9B3eE&t=775s">https://www.youtube.com/watch?v=1ewxvB9B3eE&t=775s</a><br /></div>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-62072136796260424412020-08-19T10:14:00.002-07:002020-08-19T10:16:43.123-07:00O impacto das novas medidas da DGS na saúde mental das crianças <p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7EMAwHIAZ41xLe7LbRodutuz5hBYu2-ZDQa6IjZjwBpIqWjluA3lVhDLTC50r8bpsuQ1nnJy7_EYZGUfBhvCTdHWAaMLYUFbWVnScrDn4lO48ufRLnRiucUGJEr76a_Rmoygsju3HILT7/s2048/Screenshot_20200819_181446_com.android.chrome.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2048" data-original-width="1280" height="513" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7EMAwHIAZ41xLe7LbRodutuz5hBYu2-ZDQa6IjZjwBpIqWjluA3lVhDLTC50r8bpsuQ1nnJy7_EYZGUfBhvCTdHWAaMLYUFbWVnScrDn4lO48ufRLnRiucUGJEr76a_Rmoygsju3HILT7/w320-h513/Screenshot_20200819_181446_com.android.chrome.jpg" width="320" /></a></div><p><a href="https://www.publico.pt/2020/07/29/impar/opiniao/medidas-novo-ano-lectivo-impacto-saude-mental-criancas-1926057">O impacto das novas medidas da DGS para o próximo ano lectivo na saúde mental das crianças </a> - artigo publicado no jornal Público </p><p><a href="https://ominho.pt/psicologos-contestam-medidas-para-ano-letivo-e-alertam-para-o-impacto-na-saude-mental-das-criancas-opiniao/">Artigo de opinião publicado no jornal o Minho</a> sobre o impacto das medidas da DGS para o novo ano escolar e a saúde mental das crianças.</p><p><br /></p>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-75343539678891136222020-07-17T04:00:00.000-07:002020-07-17T04:00:17.184-07:00Direitos das crianças em tempos de pandemia <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As crianças têm sido a camada da
população mais sacrificada com esta pandemia. Não por causa do vírus que já se
sabe que é maioritariamente irrelevante neste grupo etário mas por causa das
medidas sanitárias que têm sido tomadas, sem grande consideração pelo seu
bem-estar. <br />
Mesmo depois de já todos termos voltado ao trabalho há algum tempo, as crianças
do primeiro ciclo continuaram sem escola presencial que terá, no total, uma
interrupção de mais de seis meses e os parques infantis continuam fechados. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sabemos que passar tempo ao ar
livre é fundamental para a saúde física e mental de crianças e adultos e também
sabemos que, nas cidades hoje em dia é mais difícil para os pais passarem algum
tempo na rua com as crianças se não tiverem um parque infantil para elas
brincarem e conviverem com outras crianças, algo que também é fundamental para
o seu bom desenvolvimento. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2Y8gXNmiG_FTd_tlpwTYWQOrwEbmJ4eX74Tl98Wz-4kt5fqOHw0l3DQErR1Z-dmYs7HIpK1Mt5QuKlnMb2Q2zSNly8XI3C35PnrGzQnKzJgildZzN9HH70h4LsZ15H0pw6mrGeV09grdD/s1600/IMG_20190817_133750.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2Y8gXNmiG_FTd_tlpwTYWQOrwEbmJ4eX74Tl98Wz-4kt5fqOHw0l3DQErR1Z-dmYs7HIpK1Mt5QuKlnMb2Q2zSNly8XI3C35PnrGzQnKzJgildZzN9HH70h4LsZ15H0pw6mrGeV09grdD/s320/IMG_20190817_133750.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>É na brincadeira livre que as
crianças crescem, aprendem e se desenvolvem e esta brincadeira é ainda mais
fundamental em tempos de stress porque é também uma das poucas formas naturais
e adequadas que as crianças têm de se libertar do stress e tensão que este período inevitavelmente traz. </b>Se brincar é sempre importante para o desenvolvimento das crianças, neste momento podemos dizer que é mesmo urgente e fundamental para que esta situação não lhes cause muitos danos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma investigação sobre o impacto
da covid-19 em espanha concluiu precisamente que as crianças que não puderam
sair diariamente de casa foram as mais afectadas pela pandemia, ao nível da
saúde mental. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Por isso, mesmo sabendo que as crianças podem e devem brincar mesmo fora dos
parques infantis (que, infelizmente em portugal até são bastante pobres e um
pouco desajustados das suas necessidades reais) consideramos que o facto dos
parques continuarem fechados transmite aos pais, crianças e à população em
geral a ideia de que ainda é perigoso brincar fora de casa, mesmo quando já sabemos que ao ar livre a probabilidade de haver contágio é sempre mais reduzida. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As crianças foram sacrificadas
também com a escola on-line tendo passado largas horas em frente ao ecrã quando
todos os especialistas são unânimes a afirmar que isto é não é nada bom para o seu
desenvolvimento, com prejuízos diversos ao nível da saúde mental e física: como
obesidade, défice de atenção, hiperactividade e
dificuldade de controlo dos impulsos entre os mais comuns. Sendo que estes estão também associados a uma
série de problemas de comportamento e de relacionamento com os pares e com os adultos. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E mesmo quando já existem tantos estudos que
demonstram que ler em papel ou em formato digital tem efeitos muito diferentes:
assimilamos pior o conteúdo quando lemos em formato digital, além de que a
leitura digital nos traz uma visão muito mais superficial porque se torna muito
mais difícil manter o foco, uma vez que a nossa atenção compete constantemente
com outros estímulos. Também sabemos que esta incapacidade de manter o foco -
que os ecrãs provocam e alimentam - está associada a sentimentos de agitação,
ansiedade e depressão, para além de dificultar muito a aprendizagem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Depois de tudo isto, em Setembro,
as crianças poderão finalmente voltar à escola mas com novas regras impostas o
que irá trazer outras dificuldades e consequências que já se fazem sentir para
algumas e em que precisamos também de pensar. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Não podemos adoptar medidas sem
pensar bem em todas as consequências e no custo que estas terão. </b>Se algumas
medidas terão um custo insignificante, existem muitas que podem ter um custo
demasiado elevado para os benefícios que acarretam. Porque uma criança não é adulto em miniatura e tem necessidades muito específicas e bem diferentes que precisam de ser levadas em conta. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s1600/foto+tome.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="638" data-original-width="478" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s320/foto+tome.jpg" width="239" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Uma dessas medidas que já se faz
sentir na vida de muitas crianças em creches e jardins-de-infância é a
proibição da entrada dos pais. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Permitir a entrada dos pais na
escola, quando vão deixar ou buscar os filhos não é um mero capricho. Como já expliquei <a href="https://www.youtube.com/watch?v=-bgZMfMR3JM&t=139s">aqui</a>. Uma
criança que entra num lugar novo fica sempre num certo estado de alerta,
principalmente quando essa entrada implica a separação das suas figuras de
apego, as suas referências. A única forma de desactivar esse estado de alerta é justamente através do contacto com as figuras de apego que geralmente são os pai. E enquanto ele não for
desactivado, a criança simplesmente não está disponível para estabelecer novas
relações seguras que, por sua vez, são essenciais para que o seu dia na escola
seja vivido da melhor forma e até para que consiga aprender realmente. Isto é
muito importante em todo o processo de adaptação dos mais novos, que pode durar
dias, semanas ou até meses e que acontece sempre outra vez depois de um período
de afastamento. Mas também dos mais velhos depois de tudo o que aconteceu este
ano, com um período de afastamento tão prolongado e carregado de tensão por
vários motivos. <b>Permitir a entrada dos pais na escola é fundamental para que
esta não se torne um mundo completamente estranho e separado da família em que
a criança nunca se sentirá realmente segura.</b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>É muito importante que os pais
possam ver diariamente os professores e educadores e que sejam eles a
entregar-lhes a criança porque é isso que lhes permite fazer a ponte.</b> O instinto
da criança diz-lhes que não devem ficar com estranhos, que devem procurar
sempre as pessoas com quem se sentem seguras. Então para que os professores
deixem de ser estranhos para elas é preciso que os pais façam essa ponte que
lhes mostrar que podem construir uma ligação com aquela pessoa e isso faz-se de
forma simples, falando com a pessoa, mostrando que ela é de confiança e que já
temos uma relação com ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As máscaras usadas pelos adultos,
sobretudo nos mais novos, também não facilitam este processo. <b>Porque as
expressões faciais são uma parte fundamental da comunicação não verbal e
daquilo que nos faz ou não sentir segurança na presença da outra pessoa</b>.
Stephen Porges usa o termo neurocepção para falar de um mecanismo inconsciente
que nos faz avaliar constantemente a segurança do ambiente externo e interno e
essa avaliação passa em grande parte pela comunicação não verbal. Essa
comunicação não é apenas facial, também passa pelos olhos, ao tom de voz e à
prosódia do discurso, coisas que a máscara ainda nos permite perceber mas que
podem ser insuficientes para uma criança pequena e que até dificultam um pouco
a comunicação mesmo nas mais velhas e nos adultos. <b>Sem ver totalmente a cara da
pessoa com quem nos relacionamos é bem mais difícil recolher essas pistas de
segurança e quando nem sequer conhecemos essa pessoa, como irá acontecer na
adaptação à escola de muitas crianças, então isto fica mesmo impossível. </b>Por isso mesmo nos países que recomendam o uso de máscara, em muitos já está a ser recomendado aos professores e educadores que retirem as máscaras sempre que puderem ficar a um metro e meio de distância das crianças, até porque a máscara também dificulta muitas vezes a compreensão daquilo que os professores dizem. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As crianças mais pequenas ainda
não têm um grande desenvolvimento do seu hemisfério esquerdo que começa apenas
aos dois anos de idade, o que quer dizer que estão ainda mais dependentes da
comunicação não verbal, que é interpretada pelo hemisfério direito, para se
relacionarem e<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>sentirem seguras. Mas,
mesmo nos mais velhos, começa hoje cada vez mais a saber-se que o hemisfério
direito tem um papel fundamental no sentimento de bem-estar, equilíbrio e
segurança que está, em grande parte associado à capacidade de estarmos em
contacto com as mensagens do nosso próprio corpo. Quando nos focamos apenas na comunicação
oral, algo que é forçado pelo uso continuo de máscaras, estamos a estimular o
uso do hemisfério esquerdo em detrimento do direito, algo que sabemos estar
bastante mais associado a sentimentos de agitação, ansiedade e até de
depressão. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>Sabendo que nas crianças,
sobretudo as mais pequenas, o hemisfério direito ainda tem um papel dominante,
então, deixá-las o dia inteiro, aos cuidados de um educador com máscara é
dificultar muito o seu sentimento de segurança. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
As nossas creches e jardins de
infância já têm demasiadas crianças para o número de adultos presente e isto já
dificulta a ligação e esse sentimento de segurança que a criança precisa de ter
com os adultos que cuidam de si. Quando juntamos a isto a grande dificuldade de
ler o rosto que as máscaras provocam estamos a criar uma dificuldade enorme da
criança se ligar ao adulto e, consequentemente, de se sentir segura com ele e
na escola. Se a criança não se sente ligada a um adulto que cuida dela, irá
passar todo o seu dia num estado de alerta que, poderá ter consequências muito
graves para o seu desenvolvimento, para o seu comportamento e até para as
capacidades cognitivas e de aprendizagem, bem como para a sua saúde.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma investigação bastante extensa que em que participaram cerca de 17000 sujeitos, sobre experiências adversas na infância mostra bem como o stress tóxico que estas
provocam está ligado a uma série de complicações de saúde na vida adulta: como
a obesidade, diabetes tipo II, desordens de ansiedade e depressão e até
problemas cardiovasculares, a principal causa de morte na sociedade ocidental.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se pensarmos que, apesar de terem
tido mais tempo com os pais, este tempo de confinamento e ausência de escola
pode ter sido vivido com muitas dificuldades em muitas casas em que os pais
ficaram sem emprego ou viram o seu modo de vida afectado, em casais em que as
dificuldades de relacionamento aumentaram pela convivência forçada, em
situações em que os pais tinham de trabalhar com crianças pequenas em casa sem
terem como prestar-lhes atenção ou tratar delas em condições. <b>Tudo isto a
juntar a uma crise económica e social sem precedentes diz-nos que, mais do que
nunca teremos crianças provavelmente muito ansiosas na escola, crianças com
várias dificuldades e problemas emocionais para gerir. O que quer dizer que,
para estas crianças, será ainda mais importante que a escola se torne um lugar
seguro. Para isso não podem existir regras demasiado rígidas que se sobreponham
ao seu bem-estar. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A diminuição dos intervalos e as medidas de distanciamento entre crianças também são nefastas e sem sentido. Quando sabemos que ao ar livre a
probabilidade de transmissão é muito menor e que a socialização com os pares é
um aspecto importantíssimo da escola, não faz qualquer sentido dificultar o convívio e a proximidade entre as crianças. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A desinfecção constante também
transmite uma mensagem continua de perigo e cria mais tensão do que os
benefícios que pode trazer que, na verdade, nem são muitos porque já se sabe
que os desinfectantes à base de álcool matam também as bactérias boas que são
essenciais para a nossa saúde e equilíbrio. E a sociedade de pediatria francesa, que aliás se tem mostrado também bastante preocupada com estas medidas, já emitiu um comunicado às escolas a afirmar que a lavagem mais frequente das mãos com água e sabão é suficiente como medida de segurança nas escolas. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwk9vPLTnFXGPQAfB-bxTe_imAEpFX-DO2zYnsn1EOxhKFV0Mh-Gd-Xip1PQMroZ-GVt6tOR1hNCyfEpPFYjOvsncPjswJAZGhPAxCXDcBrzemtueYNi1DM50lQlGL7zfD4aCrU9C9OLVV/s1600/20140401-003_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwk9vPLTnFXGPQAfB-bxTe_imAEpFX-DO2zYnsn1EOxhKFV0Mh-Gd-Xip1PQMroZ-GVt6tOR1hNCyfEpPFYjOvsncPjswJAZGhPAxCXDcBrzemtueYNi1DM50lQlGL7zfD4aCrU9C9OLVV/s320/20140401-003_.jpg" width="240" /></a><b>Não podemos deixar que as medidas
sanitárias se sobreponham à necessidade de preservar a saúde mental das nossas
crianças e jovens. Porque se o fizermos teremos com certeza em mãos uma outra
pandemia no campo da saúde mental com resultados bem dramáticos e duradouros. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b>A maior protecção que podemos dar
a uma criança, como mostram todos os estudos sobre vinculação, é dar-lhe a
possibilidade de construir uma relação segura com os adultos, isto é realmente
o mais importante e a melhor prevenção que poderá existir para a sua saúde
mental. Mas essa relação pode ficar ameaçada se os adultos na vida dessa
criança insistem em tratá-la como um ameaçador agente infeccioso.</b> Como um
pequeno transportador de vírus que pode ser responsável pela morte dos avós ou
de outras pessoas queridas e que por isso tem de ser travado e doutrinado para
se manter longe dos colegas, para se desinfectar bem, para usar máscara a partir
dos 10 anos, etc. Porque ao fazê-lo deixamos de ser nós os adultos como figuras
de protecção, quando passamos a responsabilidade de se manter segura - e mais
ainda de manter os outros seguros - para os ombros de uma criança estamos a
dar-lhe um peso que ela não tem como carregar. E esse peso terá um custo, um
custo que virá mais tarde sob a forma de dificuldades e até de patologias
várias, como demonstrou tão bem o tal estudo das ACEs (adverse childhood
experiences). E na verdade, Portugal, neste momento está entre os países do mundo que têm adoptado medidas mais rígidas com as crianças. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Então temos que deixar que as
crianças sejam crianças, não temos o direito de as pressionar com o nosso medo
e de as impedir de serem apenas crianças. Não temos o direito de as impedir de
brincar, de as prender em casa, de fechar parques infantis e escolas mas também
não temos o direito de as mandar para a escola com uma série de regras absurdas
e rígidas que só lhes colocam tensão e mais peso nos ombros e com uma série de
adultos de rosto tapado cujas expressões nem sequer conseguem desvendar
facilmente. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Se sentimos que precisamos de tomar medidas para travar esta pandemia e se precisamos de viver com elas durante bastante tempo para proteger alguns grupos de risco também precisamos de sentir que temos de proteger as crianças e que essa responsabilidade deve ser assumida única e exclusivamente pelos adultos, deixando que as crianças continuem a ser apenas crianças se queremos realmente dar-lhes oportunidade de se desenvolverem saudáveis. Porque um ou dois anos na vida de uma criança não valem o mesmo que na vida de um adulto e podem bem mais facilmente deixar marcas permanentes que teremos muita dificuldade em apagar mais tarde. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-28792960874687106582020-05-21T09:17:00.000-07:002020-05-21T09:37:19.009-07:00Saúde e relacionamentos <div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Aquilo que nos torna pessoas são as nossas relações. <b>Aquilo que nos define enquanto espécie é a grande necessidade que temos de estabelecer ligações desde o primeiro momento de vida e a forma como precisamos delas para nos desenvolvermos. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnK9-C8OTVrI5lmgy-WHvLbKqBhz8smD9diD6qlebQP8BxM3DLHKJsH4yDXAMWySO51sKhuNQgkEiL1fcm7zWAGL9MiUqlH0JQ_EWEi7LNw4k4FtpiFUYNAx6zVFPLvPxEUGrNc8shAlP4/s1600/foto1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnK9-C8OTVrI5lmgy-WHvLbKqBhz8smD9diD6qlebQP8BxM3DLHKJsH4yDXAMWySO51sKhuNQgkEiL1fcm7zWAGL9MiUqlH0JQ_EWEi7LNw4k4FtpiFUYNAx6zVFPLvPxEUGrNc8shAlP4/s320/foto1.jpg" width="240" /></a><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Estudos feitos com crianças que viveram em situações trágicas como os conhecidos orfanatos da Roménia mostraram bem como, sem a possibilidade de estabelecer ligações as crianças ficavam com problemas de desenvolvimento em todos os níveis: cognitivos, motores e emocionais e até uma estatura abaixo da média. E havia um grande número delas que, mesmo com alimento suficiente e boas condições materiais e de higiene nem sequer chegava a sobreviver. <i>Faillure to thrive </i>foi o nome dado pelos investigadores a esse fenómeno muito observado nessas instituições em que o organismo das crianças simplesmente não conseguia sobreviver ao stress de não ter alguém com quem pudesse construir uma ligação. No caso daquelas a quem era permitido contactar com outras crianças verificou-se que algumas chegaram a criar uma língua própria que só elas entendiam, preenchendo essa necessidade desesperada que tinham de se ligar alguém mesmo que fosse apenas outra criança. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br />A conhecida experiência da cara parada ou <i>Still face experiment</i> no seu nome original e todas as investigações tão importantes do seu autor, Ed. Tronick, também demonstram muito bem como é fundamental responder aos bebés e crianças para o seu bom desenvolvimento e como eles o esperam e dependem disso desde os seus primeiros dias. </span><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Estudos com macaquinhos sacrificados nos anos 50 também mostraram bem a importância do toque e a forma como ele é prioritário até em relação ao próprio alimento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Uma investigação da Sue Jonhson, terapeuta de casal, também mostra como o simples facto de termos uma pessoa que amamos a segurar-nos a mão durante um procedimento doloroso diminui bastante o stress e até a própria sensação de dor. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ainda há dias comecei a ler um livro de um médico que na sua introdução diz que <b>a solidão é uma causa de morte tão grande como a obesidade e os diabetes.</b> E sabe-se que o sentimento de solidão aumenta em cerca de cinquenta por cento a probabilidade de se sofrer um ataque cardíaco, dando um significado mais literal à expressão de coração partido. Sabe-se também que depois de um episódio de enfarte um dos aspectos mais determinantes para a sobrevivência é a qualidade dos relacionamentos da pessoa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Também já foi demonstrado que o sentimento de rejeição activa no cérebro exactamente as mesmas zonas que a dor física,</b> mostrando como este sentimento tem também um papel importante na nossa sobrevivência. Porque evoluímos enquanto espécie com base nessa mesma dependência. Foi o facto de sermos capazes de colaborar que nos permitiu dividir o cuidado com as crias, construir abrigos melhores, armazenar alimentos e tudo o resto que teve um papel fundamental para a nossa sobrevivência. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Descrevo isto tudo apenas para que nos lembremos daquilo que nos torna pessoas e nos faz crescer e viver bem e com saúde: os relacionamentos. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Então não podemos esquecer-nos disto nos momentos de crise como o que estamos a viver. É verdade que podemos manter boas relações com algum distanciamento das pessoas que não estão no nosso círculo mais íntimo, também é verdade que podemos usar os ecrãs de vez em quando para as alimentar e também é verdade que, enquanto adultos ou crianças mais crescidas conseguimos criar boas ligações mesmo com uma parte do rosto tapada pelas máscaras porque já conseguimos relacionar-nos mais com base nas palavras e outro tipo de gestos. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Mas precisamos de nos lembrar que não podemos alimentar ligações apenas e sempre com ecrãs pelo meio, muito menos nas crianças. O ensino à distância não faz sentido para uma criança e faz muito pouco para um jovem. </b>As crianças aprendem quando conseguem sentir-se ligadas aos adultos que ensinam e é muito mais difícil fazer isso através de um ecrã, além de que nem sequer é positivo para o seu desenvolvimento cerebral o uso excessivo de ecrãs, como já expliquei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/2020/04/aprender-brincar.html">aqui</a>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas, mesmo para os adultos a presença física de alguém é insubstituível. Quando estamos com alguém ao pé de nós, a conversar de forma mais íntima e presente, há uma sincronização dos ritmos e um mundo de micro-expressões faciais, que são muito mais difíceis de interpretar num ecrã e que dão ás duas pessoas um sentimento de segurança que , por sua vez, activa o seu circuito social, responsável pelo estado de equilíbrio e sensação de bem-estar e saúde. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E quando falamos de crianças também é verdade que é possível estabelecer uma ligação com elas mesmo com máscara posta - com crianças mais crescidas não tanto com bebés - mas é muito mais difícil porque ainda não estão tão treinadas a ler as nossas expressões e os seus circuitos sociais são menos desenvolvidos. E se isto até pode funcionar com uma criança calma, equilibrada e com um adulto com quem já exista uma boa ligação, fica tudo muito mais difícil quando a criança está tensa o que acontece muito facilmente quando estão sem os pais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E esperar que uma criança fique tranquila sem contacto físico, sem toque, é simplesmente não perceber mesmo nada das suas necessidades, sobretudo para as mais pequenas mas também, ainda que em menor escala, para as mais velhas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ao mesmo tempo também temos pessoas nos hospitais a serem submetidas a cirurgias difíceis e arriscadas e que estão completamente sozinhas. Compreendo que a entrada cada pessoa nova no hospital se torna um novo possível foco de infecção. Mas também sei que essa entrada poderá ter um papel fundamental na recuperação de doenças difíceis e de situações potencialmente traumáticas. <b>Sei que também é arriscado deixarmos sozinhas pessoas que estão a ser tratadas por problemas de saúde graves e assustadores, porque esse sentimento de solidão irá activar no seu organismo uma carga de stress tóxico que poderá eventualmente ser tão letal como o vírus do qual estão a ser protegidas. </b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Também me custa muito saber de recém-nascidos que estiveram separados quinze dias das suas mães: para serem protegidos de um vírus arriscam-se a uma vida inteira de traumas causados por essa separação que se sabe que pode ter efeitos destruidores no seu sistema de resposta ao stress, na amamentação e na criação de um vínculo do qual depende toda a organização e estrutura mental da criança. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Todas estas medidas têm algo em comum: uma visão redutora e limitada do que é a saúde e o não reconhecimento da importância da saúde mental que é construída, em boa parte, através das ligações que criamos. </span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por isso gostava de ver estas questões importantes a entrarem também nas equações. <b>Quando tentamos proteger-nos do vírus gostava que o fizéssemos com a noção de que é também importante para a nossa saúde proteger as relações e libertar-nos do medo que nos faz, neste momento, ver cada um dos outros como um potencial perigo para a nossa saúde. </b>Nunca ouvi dizer tantas vezes que estamos todos juntos mas, a verdade, é que nunca estivemos tão separados. Separados pelo medo que os outros nos infectem, separados pelo medo que os outros não levem isto suficientemente a sério ou separados pelo medo que o levem demasiado a sério. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Então precisamos de nos juntar naquilo que nos torna mais humanos: o reconhecimento de que todos precisamos uns dos outros para sobreviver, para estar bem e para ser felizes. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E precisamos que isto comece a pesar tanto nas decisões como as estatísticas que mostram tão bem o lado racional da humanidade mas que falham redondamente naquilo que é mais importante: as emoções. Porque se este lado racional nos trouxe conquistas maravilhosas e fantásticas que melhoraram muito a nossa qualidade de vida a verdade é que também nos afastou daquilo que nos faz felizes: as emoções. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Um livro muito bom do psiquiatra Ian Mcgilchrist - the master and his emissary - </span><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">explica como o mundo ocidental<span style="color: #1c1e21;"> </span><span style="color: #1c1e21;">valoriza excessivamente as funções do hemisfério esquerdo. E nunca como agora isso foi tão claro para mim. Quando achamos que não há problema em pedir a adultos e crianças que se distanciem e usem máscaras estamos a valorizar demasiado a racionalidade e a deixar completamente de lado todas as funções do hemisfério direito, que é justamente o que analisa a comunicação não verbal e está mais ligado às emoções. Acon</span><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">tece que esta valorização excessiva do hemisfério esquerdo, com todos os benefícios importantes que nos trouxe, como o conhecimento científico, também tem uma responsabilidade importante no crescente mal estar, ansiedade e depressão que se vêem hoje em dia. É através do hemisfério direito que nos ligamos ao corpo e às emoções. E é só através do contacto com estas que podemos ser felizes e ter vidas preenchidas.</span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"></span><br />
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: #cfe2f3; color: #1c1e21; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O hemisfério esquerdo permite-nos fazer coisas muito importantes, como dar nomes ao que sentimos e perceber porque acontece. Mas sem o direito ficamos vazios, reduzidos apenas ao intelecto podemos conquistar muitas coisas mas sem amor a vida não faz sentido.</span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span style="background-color: #cfe2f3; color: #1c1e21; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;">
<span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"></span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b style="background-color: #cfe2f3;">Precisamos de encontrar um equilíbrio que nos permita perceber que se queremos viver bem, não apenas sobreviver, controlar o vírus não pode ser a nossa única preocupação.</b></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><b><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></b></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Precisamos de ter noção que uma boa parte da comunicação acontece de forma não verbal. E quando alguém usa máscara e se distancia aquilo que o nosso organismo lê é um sinal de perigo.</span></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não sou contra o uso da máscara em situações específicas, como transportes públicos por exemplo. Mas precisamos de não as normalizar demasiado sob pena de anularmos e desvalorizarmos completamente o nosso hemisfério direito, anulando também tudo o que nos torna humanos e nos permite ser felizes.</span></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;">
</span></span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;">E se isto é válido para os adultos, é ainda mais importante para as crianças em que o cérebro ainda está a organizar-se de formas que se irão tornar permanentes</span><span class="text_exposed_show" style="display: inline;">.</span></span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span></span></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: #cfe2f3; display: inline; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E sobretudo não podemos distancia-nos um dos outros e continuar a encarar todos como potenciais transmissores de vírus perigosos sob pena de vermos gravemente afectada a nossa saúde mental. </span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span></span></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="background-color: #cfe2f3; display: inline; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não acredito que esta crise nos traga muitas coisas boas, porque durante uma crise tudo o que queremos é sobreviver. <b>Mas gostava muito que, no futuro, começássemos a ser mais capazes de valorizar as emoções e as relações como o património mais importante da humanidade e aquele que precisa mais de ser protegido e valorizado e que percebêssemos que não se pode falar de saúde física sem pensar na mental e sem pensar nas emoções e nas relações porque elas fazem parte de um todo inseparável que não pode ser analisado separadamente. Mesmo que seja impossível pô-las no microscópio como já fazemos com os vírus. </b></span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span style="background-color: #cfe2f3; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;"><span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br /></span></span></span></div>
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><span class="text_exposed_show" style="color: #1c1e21; display: inline;">
</span></span>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-6141284165121994362020-04-09T11:37:00.004-07:002020-05-27T01:07:10.163-07:00Aprender a brincar Neste momento as escolas estão-se a preparar para um terceiro período virtual mas, infelizmente, não acredito que esta seja a melhor opção.<br />
<div style="text-align: justify;">
Já têm sido muito faladas as dificuldades que isto apresenta às famílias com a gestão do teletrabalho, ou em famílias com vários filhos e poucos computadores ou a desigualdade também provocada pela inexistência de computadores em tantas casas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, para além de tudo isto que são questões importantes, também existem outras que têm sido menos debatidas mas que considero igualmente importantes.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s1600/mindfulness+para+pais+largar.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="850" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s200/mindfulness+para+pais+largar.png" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Não acredito que o estudo através de um ecrã seja a melhor forma de aprender, sobretudo para os mais novos em que o cérebro ainda está em formação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sabemos já há algum tempo que o conteúdo de tudo o que vamos aprendendo muda a estrutura do nosso cérebro, construindo novas sinapses e redes neuronais em função das aprendizagens feitas. Mas, o que estamos mais recentemente a aprender é que a forma como aprendemos também molda o nosso cérebro tanto ou até mais do que conteúdo.</b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já existem vários estudos que demonstram que ler o mesmo texto num ecrã ou no papel não tem o mesmo resultado. <b>Em experiências feitas para avaliar isto verificou-se que as pessoas que liam no papel tinham mais facilidade em assimilar os conteúdos e perceber aquilo que estavam a ler do que aquelas que liam num ecrã. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sempre que lemos alguma coisa num ecrã, com ligação à internet a nossa mente precisa de fazer avaliações constantes, sobre toda a restante informação que não pára de chegar e que pode não ter nada a ver com o conteúdo do texto</b>. Mas mesmo que a informação seja relevante para o conteúdo - como acontece quando os textos têm mais links, por exemplo - a nossa capacidade de assimilação e concentração torna-se ainda mais reduzida. Isto acontece porque a nossa mente precisa de avaliar, primeiro se aquela informação é ou não relevante e depois se devemos ou não abrir o link. Isto pode parecer pouco mas a verdade é que para o fazermos precisamos de abrir outras partes da nossa atenção que quebram a concentração necessária e fundamental para assimilar um texto e pensar sobre ele de forma mais aprofundada. <b>Por isso alguns estudos também demonstram que quanto mais rico, do ponto de vista digital, for o texto ou a informação transmitida menor será a nossa capacidade de a assimilar, ao contrário daquilo que tantas vezes temos tendência para pensar.</b> Há uma tendência natural para pensarmos que um vídeo no youtube por exemplo é uma boa forma de fazer as crianças aprenderem algo sobre determinado tema. É verdade que um vídeo capta mais facilmente a atenção do que um texto, e um vídeo mais rico com mais música, cor e movimento chama mais a atenção do que outro mais pobre. Acontece que chamar a atenção não é exactamente o mesmo que aprender. E a forma com os ecrãs captam a nossa atenção deixa-nos num estado de semi-passividade que, na verdade, é contrário aquilo que é preciso para sermos capazes de aprender a pensar e não apenas meros receptores de conteúdos. Quando vemos um vídeo a nossa mente fica ocupada a avaliar todas as outras informações que não param de chegar e sobra menos espaço para se focar verdadeiramente naquele tema. Por isso hoje em dia temos é fácil termos acesso a muita informação mas esta acaba por ser superficial na maior parte das vezes.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando estamos a ler um livro, essas distracções não existem e por isso a nossa mente fica livre para se focar verdadeiramente no tema que está a ser tratado e acaba por ser capaz de memorizar e assimilar a informação de forma mais completa, ao mesmo tempo que temos mais capacidade para reflectir de forma mais profunda sobre aquele tema.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, talvez até mais importante do que isto, é o que acontece quando estamos a ler no papel: a nossa mente está a aprender a manter o foco e isto também está associado a uma maior capacidade de gerir a nossa atenção o que, por sua vez, está associado a um maior bem-estar e satisfação.</b> Quando estamos online existem constantemente distracções, a nossa capacidade de foco fica muito mais limitada, saltitamos constantemente de uma informação para outra e isto faz com que o cérebro perca a sua capacidade de se manter focado o que, por sua vez, está associado a muitos problemas de ansiedade e a um sentimento de agitação e mal estar constante.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dos grandes benefícios da meditação é justamente treinar essa capacidade de manter o foco e é esta capacidade que é responsável por uma boa parte dos sentimentos de bem-estar e tranquilidade que a meditação pode trazer. E isto é precisamente o oposto daquilo que acontece sempre que estamos online, em que, mesmo que estejamos a ler um texto ou a tentar aprender alguma coisa, a nossa mente tem de fazer essas avaliações permanentes que reduzem um pouco a sua capacidade de manter o foco. E quanto mais tempo passarmos a fazê-lo mais difícil se torna manter esse foco, mesmo quando já não estamos online.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se isto é verdade para adultos, será ainda mais importante pensar nos efeitos que isto poderá ter nas crianças que estão ainda em fase de aprendizagem e formação e em que todas as experiências têm um um impacto ainda maior na formação do seu cérebro. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso não acredito que manter a aprendizagem através da internet seja o mais acertado para as nossas crianças neste momento.<br />
Até porque quando falamos de crianças precisamos de saber que elas não aprendem unicamente com processos de reflexão, a ler ou a estudar. As crianças precisam de aprender a brincar, a mexer, a experienciar e isto tudo é muito mais difícil de fazer através de um ecrã. Além de que existe uma componente fundamental na aprendizagem que os ecrãs também não facilitam: a relação. As crianças aprendem sobretudo em relação. As crianças aprendem melhor quando gostam dos professores e quando os professores gostam delas e é mais difícil transmitir isso através de um ecrã.<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a>Quando lemos um livro, porque a nossa mente fica mais focada e silenciada, também conseguimos criar uma proximidade emocional com o conteúdo mais facilmente do que num ecrã. E isto também é essencial na aprendizagem. <b>Aprendemos melhor aquilo que nos toca do ponto de vista emocional. Memorizamos melhor as coisas que nos emocionam</b>. As emoções transformam o cérebro e ajudam a desenvolvê-lo. As crianças aprendem essencialmente em relação. Estudos com crianças pequenas constataram que quando o mesmo conteúdo era transmitido pela mesma pessoa ao vivo ou através de um ecrã os resultados eram bastante diferentes: as crianças aprendiam muito melhor ao vivo. Da mesma forma também sabemos que as crianças pequenas que passam muito tempo a ver televisão têm mais dificuldades de linguagem, mesmo que até vejam programas educativos.<br />
<br />
Por tudo isto, não acredito que a escola seja uma prioridade neste momento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b><u>Brincar é o mais importante </u></b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O mais importante nesta altura é darmos aos nossos filhos um sentimento de segurança, através da relação que temos com eles. </b>Se sentimos que fazer alguns exercícios escolares com eles nos ajuda a manter essa relação e é positivo para ambos, óptimo, podemos fazê-lo claro mas se, pelo contrário, como tantas vezes acontece, isso só servir para criar tensão e conflitos, então a aprendizagem formal da escola pode mesmo ficar para segundo plano. Até porque é muito difícil aprender quando estamos com medo ou ansiosos.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Acredito que, neste momento, a nossas prioridades precisam de ser apenas duas: preservar a relação que temos com as nossas crianças e deixá-las brincar. </b><br />
<br />
<b>Porque é que a brincadeira livre é tão importante neste momento?</b> <b>Porque é através dela que as crianças podem processar muito daquilo que estão a sentir e a viver</b>. <b>Através da brincadeira as crianças encontram formas criativas e importantes de libertar a tensão e de descarregar os medos que possam estar a sentir. E encontram formas de integrar e processar tudo o que estão a viver. Por isso, neste momento, mais do que nunca precisamos é de criar espaço e dar-lhes tempo para brincar</b>. Para brincarem livremente, sem interferências e sem julgamentos da nossa parte. <b>Isto é válido tanto para os mais pequenos como para os mais novos e até para adolescentes e adultos</b>. Com estes últimos as brincadeiras serão diferentes, mas é importante também que encontrem espaços de liberdade que lhes permitam entrar em contacto e assimilar tudo o que estão a sentir. Isto pode acontecer quando ouvimos música que nos ajuda a chorar e a libertar a tristeza, por exemplo, ou quando pintamos ou desenhamos para quem gosta de o fazer, ou quando dançamos ou qualquer outra coisa que nos faça sentir que somos capazes de trazer o foco para o presente, de entrar em contacto com as nossas emoções e de libertar o que estamos a sentir. E para as crianças a forma principal de fazer isto é brincar.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por isso, neste momento, mais do que qualquer outra coisa é de brincar que precisam os nossos filhos. E criar as condições para a brincadeira aconteça tem de ser a nossa prioridade.</b><br />
<br />
<br />
<b><u>Condições para brincar </u></b><br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwk9vPLTnFXGPQAfB-bxTe_imAEpFX-DO2zYnsn1EOxhKFV0Mh-Gd-Xip1PQMroZ-GVt6tOR1hNCyfEpPFYjOvsncPjswJAZGhPAxCXDcBrzemtueYNi1DM50lQlGL7zfD4aCrU9C9OLVV/s1600/20140401-003_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwk9vPLTnFXGPQAfB-bxTe_imAEpFX-DO2zYnsn1EOxhKFV0Mh-Gd-Xip1PQMroZ-GVt6tOR1hNCyfEpPFYjOvsncPjswJAZGhPAxCXDcBrzemtueYNi1DM50lQlGL7zfD4aCrU9C9OLVV/s320/20140401-003_.jpg" width="240" /></a><b>É impossível obrigar alguém a brincar mas podemos criar condições para que a brincadeira surja espontaneamente e existem algumas condições essenciais para isso:</b> primeiro as necessidades têm de estar satisfeitas e a necessidade mais importante é a da nossa presença, de se sentirem ligados a nós, depois precisam também de se sentir seguras porque é impossível brincar quando estamos em estado de alerta e depois é preciso que haja diariamente bastante tempo livre de ecrãs.<br />
<br />
Neste momento é provável que seja mais difícil esses momentos de brincadeira acontecerem de forma espontânea porque as crianças podem estar mais alarmadas e inseguras, por isso temos de os preservar ainda mais. Para isso neste momento não acho que devamos estar preocupados com estudos e com escolas, porque essa preocupação traz mais uma carga de tensão que se irá juntar a todas aquelas com que já temos de lidar neste momento.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Além disso uma criança segura e com tempo para brincar, também é uma criança que tem uma disponibilidade natural para aprender de forma mais livre.</b> E as crianças aprendem a brincar também. Uma criança mais tranquila e mais segura, com tempo e espaço para brincar, também é uma criança que mantém a sua curiosidade natural que é um ingrediente essencial para que a verdadeira aprendizagem aconteça. E também é uma criança mais capaz de se sentar a ler um livro, por exemplo que, neste momento, me parece uma aprendizagem mais útil e positiva do que a dos conteúdos formais da escola.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acho que pode ser útil manter o contacto com as escolas, que podem ir sugerindo alguns exercícios pontualmente mas, sobretudo, para manter a relação entre as crianças e com os professores. <b>As crianças aprendem sobretudo em relação e são estas relações que, neste momento, mais do que tudo importa preservar. Muito mais do que fazer trabalhos de matemática ou português ou estudo do meio. </b>São elas que alimentam de verdade o cérebro. Tudo o resto é secundário e pode ficar para segundo plano neste momento. Até porque se formos capazes de alimentar bem as nossas crianças, neste momento, com a relação que temos com elas e esses momentos fundamentais de brincadeira livre ao longo do dia, de certeza que mais facilmente elas conseguirão aprender todo o conteúdo académico que ficou para trás quando for necessário fazê-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-35648606707950287122020-04-02T08:00:00.000-07:002020-04-02T08:05:14.558-07:00Paradoxos do isolamento<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s200/lidarzanga.png" width="150" /></a><b>Aquilo que está a ser pedido à maioria de nós neste momento deixa-nos numa espécie de paradoxo fisiológico: por um lado é-nos incutido um sentimento de medo</b> - que aliás a comunicação social tem feito um bom trabalho de manter com a sua contagem diária de mortos e infectados - medo de ficar doente, de ver os nossos entes queridos doentes ou de causar doença nos outros mas medo também da cura com toda a desestruturação que ela está a provocar nas nossas vidas;<b> por outro lado é-nos pedido que não façamos nada com esse medo e que nos limitemos a ficar em casa, o mais quietos possível.</b> <b>Isto deixa-nos um pouco sem saída do ponto de vista fisiológico</b> porque, sempre que o nosso sistema de alarme é activado, o que acontece quando sentimos medo ou quando existe esta sensação de que há uma ameaça presente de forma constante temos duas hipóteses: ou activamos a resposta de luta-ou-fuga, através do nosso sistema nervoso simpático ou activamos a resposta de congelamento, comandada pelo nervo vago dorsal. Acontece que, a primeira resposta, a mais adaptativa e natural para lidar com as ameaças, aquela que partilhamos com todos os mamíferos é a de luta ou fuga. Mas, n<b>este momento, não podemos lutar nem fugir por isso se este é o nosso mecanismo de resposta principal é bem provável que nos sintamos muito frustrados, zangados, revoltados e com um certo sentimento de desorientação ou de agitação permanente porque não temos como fazer aquilo que o nosso organismo nos está a pedir. </b><br />
<b><br /></b>
Mas quando a resposta de luta ou fuga se mantém activa demasiado tempo sem que isso produza nenhum resultado, há uma probabilidade de que passemos a activar a resposta de congelamento. Isto acontece sobretudo quando na nossa história precisámos de recorrer muitas vezes a este mecanismo, que acaba por tornar-se o nosso primeiro meio de resposta. Este é o caso de pessoas com história de trauma profundo na infância. Esta resposta activa um mecanismo de defesa que temos em comum com os répteis que se limitam a fingir-se de mortos quando uma presa os ataca até que a ameaça desapareça. Mas nós não somos répteis por isso esta resposta tem um custo muito elevado para os seres humanos que não podem usar este mecanismo por muito tempo, já que o seu organismo precisa de manter níveis de oxigénio e temperatura mais constantes. Por isso este mecanismo só é activado em situações extremas e tem um custo muito grande para o nosso organismo. Uma das suas consequências, do ponto de vista psicológico, é um sentimento de impotência, daquilo a que se chama a desesperança aprendida: a sensação de que nada do que façamos importa ou faz diferença no mundo e isto vem associado a sentimentos de tristeza profunda ou de dissociação - que vem muitas vezes associada a uma sensação de vazio, ou de que não estamos bem aqui, no nosso corpo, uma incapacidade grande de estarmos presentes com a nossa experiência em cada momento, um sentimento de que precisamos de fugir e, se não o podemos fazer em corpo, tentamos fazê-lo em mente. É o que relatam muitas pessoas que sofreram maus tratos profundos quando dizem que o corpo estava ali mas a cabeça já não. Esta é uma defesa adaptativa na medida em que nos permite sobreviver, mas esta sobrevivência vem com um custo muito elevado: a perda do prazer na vida, o medo de lidar com as emoções, a necessidade de fecharmos certas partes de nós mesmos e a dificuldade de criarmos ligações seguras e significativas que nos preencham de verdade.<br />
<br />
A forma como usamos estes mecanismos de resposta não depende da nossa vontade, isto acontece de forma automática e inconsciente e a maioria das vezes nem nos damos conta de que estamos a activá-los.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Acontece que a forma principal de desactivarmos o nosso estado de alarme é através da co-regulação. A co-regulação é mesmo a estratégia principal de sobrevivência da nossa espécie. E, neste momento, também nos está a ser pedido que nos distanciemos dos outros. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas o nosso sistema nervoso está programado para se regular através dos relacionamentos. Precisamos de ver as outras pessoas, de olhar nos olhos delas e de as tocar também para nos sentirmos seguros</b>. É verdade que o mundo virtual de hoje facilita um pouco as ligações, mesmo nesta altura de isolamento, mas também é verdade que podemos cair facilmente no perigo de achar que elas substituem tudo e isso não é verdade. Mesmo numa videochamada falta-nos muita informação não verbal importante que influencia a forma como comunicamos e como nos sentimos. E a forma como lidamos com isso depende do nosso perfil.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s1600/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="455" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s320/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" width="218" /></a></div>
Existe um grupo de pessoas a que podemos chamar reactivas, alguns autores falam de pessoas sensíveis ou no caso das crianças, há quem fale das crianças orquídeas, que são pessoas em que de certa forma o sistema nervoso tem mais dificuldade em excluir os estímulos internos e externos. Estas pessoas processam constantemente um maior número de informações e geralmente de forma mais intensa. Então este grupo que se estima que será cerca de 20% da população, será provavelmente aquele que tem maior dificuldade com este tipo de comunicação. Isto porque, por um lado estão mais habituadas a receber e a processar uma série de informações subtis que faltam nas videochamadas e sentindo essa ausência fica-lhes mais difícil comunicar, por outro lado porque ao processarem mais estímulos do meio ambiente também lhes é mais difícil desligarem-se do sítio onde estão que terá estímulos muito diferentes daqueles que a outra pessoa experimenta o que pode contribuir para uma certa des-sincronia na conversa. Porque nas conversas importantes aquilo que acontece é que criamos uma certa sincronia entre as pessoas, uma sincronia do ponto de vista fisiológico que pode ser observada exteriormente nos gestos que é comum serem parecidos, nas expressões faciais em que uma pessoa espelha a emoção da outra ou na postura corporal que também adopta certas semelhanças quando essa sincronia acontece. <b>Claro que é possível conseguir também alguma sincronia com uma videochamada, menos com um telefonema porque nos falta informação importante quando não vemos o rosto de alguém, mas a verdade é que pode ser um pouco mais difícil. E a verdade também é que isto não tem o mesmo grau de facilidade ou dificuldade para todas as pessoas o que pode ter a ver com algumas características pessoais mas também com a nossa história.</b> Para uma pessoa que não está muito habituada a ser ouvida e acolhida de verdade e que, por isso mesmo, tem sempre uma atitude mais defensiva com os outros a comunicação online torna-se mais difícil porque há sempre um medo inconsciente de que o outro não seja verdadeiramente capaz de acolher a nossa dor e se esse medo também se manifesta mesmo na presença física das outras pessoas, é ainda mais provável que ele tome conta da nossa comunicação quando essa presença não existe. Porque quando já há alguma tendência para nos sentirmos sozinhos e incompreendidos, mesmo na presença dos outros, é natural que isto se intensifique quando nem sequer temos essa presença, como se o nosso corpo confirmasse que essa solidão é real.<br />
<br />
<b>Para pessoas com apego do tipo ambivalente, pessoas que na infância tiveram mães que nem sempre foram capazes de responder às suas necessidades esse medo de não se ser acolhido ou compreendido é uma constante, ainda que nem sempre tenham consciência disto.</b> Estas pessoas têm na sua história uma experiência de sentir que os outros não sabem ou não conseguem ou não querem dar resposta às suas necessidades, por isso quando falam com alguém, inconscientemente, também esperam que as outras pessoas não sejam capazes de preencher verdadeiramente as suas necessidades. E é ainda mais fácil que isto se manifeste quando essa comunicação se faz através de um ecrã. É também nestas pessoas que esta experiência de isolamento pode estar mais associada a estados de ansiedade e agitação que vêm do reviver dessas experiências de infância em que se sentiram em perigo por não verem as suas necessidades bem acolhidas ou preenchidas. Porque para uma criança não há ameaça maior do que sentir que os seus pais podem não ser capazes de as proteger ou de preencher as suas necessidades de afecto e de reconhecimento. Isto é tão assustador que acaba por ser mais fácil a criança interiorizar que é ela que tem o problema ou os defeitos que não permitem que os outros gostem de si e, por isso, neste caso a experiência de isolamento pode acentuar ainda mais isso, porque, por muito que de um ponto de vista racional se saiba que as outras pessoas não nos procuram porque não podem, de um ponto de vista mais inconsciente isto vem confirmar o medo de que elas simplesmente não queiram estar connosco ou que não se importem com as nossas necessidades e não queiram saber dos nossos medos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga7LhgPeeO_iRxKvivS9fC9Y4CGhMy_rxrTJIk3pi-0j52gByvJ87zYMh9XHI5tMW4QvVSlo5dMYDSMTGSPwQognpHsbv4rRKTkV9ST79rVrMq6wN2amBZvK_2T85Q9Daid5VcWwZencrO/s1600/capa+mindfulness+para+pais.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="392" data-original-width="291" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga7LhgPeeO_iRxKvivS9fC9Y4CGhMy_rxrTJIk3pi-0j52gByvJ87zYMh9XHI5tMW4QvVSlo5dMYDSMTGSPwQognpHsbv4rRKTkV9ST79rVrMq6wN2amBZvK_2T85Q9Daid5VcWwZencrO/s320/capa+mindfulness+para+pais.jpg" width="237" /></a></div>
<br />
<b>As pessoas caracterizadas por um apego do tipo evitante são pessoas que têm uma certa tendência para desvalorizar as emoções, porque na sua infância estas nunca foram bem acolhidas ou valorizadas.</b> Por isso nestes casos há muitas vezes uma tendência excessiva para racionalizar e, nestes casos, pode ser muito fácil cair na ilusão de que a comunicação virtual substitui perfeitamente a real porque é mais provável que nem haja consciência desse vazio que existe pela incapacidade de se entrar em contacto com as próprias emoções. <b>Nestas pessoas o isolamento poderá estar mais associado a um sentimento de incapacidade e de tristeza profunda como se confirmasse aquilo que elas, no fundo sempre souberam: que estão sozinhas porque ninguém gosta verdadeiramente delas, porque não são dignas de amor</b>. Nestes casos é mais provável que surja também o tal sentimento de desesperança aprendida, de que nada do que façamos importa.<br />
<br />
Por fim, para as pessoas do tipo desorganizado, pessoas que sofreram traumas profundos na infância, a comunicação online pode ser ainda mais desorientadora por causa dos paradoxos com que as confronta.<br />
<b>Então, na verdade as pessoas que podem usufruir melhor deste tipo de comunicação são justamente as que menos precisam, porque são pessoas mais seguras, com melhores experiências de acolhimento e reconhecimento que, por isso mesmo, também desenvolveram mais capacidades de auto-regulação. </b><br />
<br />
Ao escrever isto quero apenas chamar a atenção para o facto de que nos está a ser pedido algo realmente difícil e que é natural que isso tenha custos elevados. E uma das formas importantes de preservarmos a nossa saúde mental começa por sermos capazes de acolher aquilo que estamos a sentir, passa por sermos capazes de nomear as nossas emoções e também por sermos capazes de dar um significado aquilo que estamos a viver.<br />
<br />
<b>Acredito que, por um lado, seria mais fácil, menos confuso e desorientador se nos pedissem para agir e não apenas para ficar parados à espera que o perigo passe.</b> Se nos pedissem para agir de forma concreta, reforçando o apoio às vítimas com algum tipo de voluntariado, por exemplo, ou de outras formas que pudessem ajudar-nos a dar algum uso ao estado de alarme que estamos todos a sentir. Não posso ter a certeza de que isto seria o mais eficaz no combate ao vírus, nem sei exactamente em que moldes o poderíamos fazer mas sei que poderia ser mais fácil do ponto de vista emocional para muitas pessoas<br />
<br />
<b>Mas talvez o mais importante neste momento seja mesmo darmos voz ao sentimento de desorientação que é muito natural que várias pessoas estejam neste momento a sentir e perceber que ele tem uma razão fisiológica para existir. E saber que precisamos de o encarar e de libertar toda a tristeza que vem com todas as frustrações desta nova realidade em vez de tentarmos disfarçá-la ou ignorá-la com as mil e uma actividades tentadoras que chegam aos nossos e-mails e telemóveis todos os dias. Precisamos de fazer as pazes com essa tristeza e de saber que, neste momento, ela é mesmo o mais natural perante todas as perdas que estamos a vivenciar: de liberdade, de relacionamentos, de dinheiro e de saúde. Porque enquanto não encararmos e nomearmos esta tristeza também será muito mais difícil encontrar alguma coisa de positivo nisto tudo e dar um significado a tudo o que estamos a viver. </b><br />
<br />
E também é preciso que tenhamos consciência de que, se estas perdas se mantiverem por um tempo demasiado longo é muito provável que, a partir de certa altura, elas superem os ganhos que podemos obter com esta situação. Porque a saúde mental é uma parte inseparável da saúde física e ficarmos isolados durante demasiado tempo também pode matar-nos de muitas formas diferentes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-22058081902827875102020-03-19T12:22:00.001-07:002020-03-19T12:22:36.504-07:00Manter os filhos seguros em tempos de isolamento <div style="text-align: justify;">
Estamos a viver tempos muito difíceis e desafiadores. Não adianta negar isto, nem romantizá-lo. Sim, é difícil ficar fechado em casa, com crianças ou sem elas. Sobretudo para quem já vivia em situações mais frágeis e para todos aqueles que, neste momento, têm a sua sobrevivência em risco, pela insegurança económica que esta crise também gerou.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fico frustrada quando vejo várias publicações nas redes sociais que falam da quarentena como se fosse só uma questão de aceitar, parar e aproveitar para passar tempo com os filhos e família que vive connosco. Sei que para muitas famílias isto terá um efeito muito perturbador e negativo e também sei que o medo, mesmo depois da situação aguda de doença passar, para muitas pessoas se irá manter por muito tempo, sob a forma de stress pós-traumático ou de qualquer outro tipo de perturbação da ansiedade.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas também sei que, neste momento, precisamos de ter esperança e de acreditar que tudo irá correr da melhor forma. </b><br />
<b>Acontece que, acredito que para correr da melhor forma a primeira coisa que precisamos de fazer é mesmo aceitar que isto tudo está muito longe de ser perfeito.</b> Só assim podemos sair disto com o mínimo de efeitos traumáticos em nós e nos nossos filhos.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s1600/capa+mindfulness+para+pais.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="392" data-original-width="291" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s320/capa+mindfulness+para+pais.jpg" width="237" /></a>Precisamos de aceitar que talvez a escola fique para trás, ou a música ou a ginástica. Que talvez eles vejam mais horas de televisão do que seria desejável, que talvez não tenhamos vontade de fazer todos os dias as refeições nutritivas e completas que desejávamos fazer e que, mesmo passando muito tempo juntos, talvez não tenhamos assim tanta vontade de brincar e de jogar como pensamos que deveríamos ter. Sobretudo nos primeiros dias, em que ainda estamos a adaptar-nos a esta nova realidade e a lidar com o nosso medo.<br />
<br />
<b>Quando estamos com medo não é fácil ter vontade de brincar ou de jogar, nem sequer de pensar em que é que haveremos de fazer para o jantar. Porque o medo activa as partes mais primitivas do nosso cérebro que fazem com que nos preocupemos apenas com a sobrevivência. Por isso é natural que sintamos que não muito espaço dentro de nós para mais nada. </b><br />
Então a primeira coisa a fazer é reconhecer esse medo. E o medo, neste momento, não tem necessariamente que vir da doença. O medo pode vir de não sabermos se continuaremos a ter emprego depois disto, se vamos conseguir pagar as contas no final do mês, de não saber como vamos conseguir trabalhar em casa e cuidar dos nossos filhos ao mesmo tempo, de não saber se somos capazes de estar tanto tempo fechados com eles, de não saber como irá ficar a nossa relação com o nosso companheiro ou companheira depois disto, de não saber como iremos cuidar de pais idosos ou familiares mais frágeis que dependam de nós ou simplesmente de vermos tanto medo à nossa volta.<br />
<br />
Quando ficamos em alerta desligamos o cortéx-pré-frontal a parte do cérebro que nos permite, pensar, analisar e avaliar as situações com alguma distância. <b>O medo liga as partes mais primitivas por isso também é muito mais fácil gritar e ficarmos zangados quando estamos com medo, porque o nosso organismo já está em estado de alerta e qualquer coisinha irá servir para acentuar ainda mais esse estado. </b>Quando estamos assim é muito fácil que gestos simples e neutros das pessoas que estão perto de nós nos pareçam ameaçadores ou hostis, porque ficamos programados para sobreviver e detectar ameaças e vemos tudo com esse filtro.<br />
<br />
E a verdade é que é muito difícil desligar o medo quando somos bombardeados constantemente com informações sobre a doença e sobre quantos morreram e quantos adoeceram. É muito difícil desligar o medo quando o vemos nos olhos de toda a gente e quando podemos senti-lo no ar em todas as curtas deslocações que fazemos. Mas precisamos de ser capazes de aceitar que é natural estar com medo, estamos a viver algo novo, diferente e a mudança só por si é sempre um foco de tensão. <b>Não faz mal ter medo, apesar de todas as publicações que também já li sobre o facto do medo baixar a nossa imunidade. </b>Na verdade isto não é bem assim, o nosso sistema de alarme é mais complexo do que isso e, sim a resposta de alarme altera o funcionamento do sistema imunitário mas isto faz-se sentir mais a longo prazo. <b>De qualquer maneira não faz mal estarmos com medo desde que saibamos acolhê-lo, aceitá-lo e saber que, neste momento, ele é uma resposta natural a tudo o que se está a passar. O que nos faz mal de verdade é negar e não aceitar as nossas emoções</b>. Quando reconhecemos o medo e o aceitamos, paradoxalmente, ele também diminui porque ao fazer isto activamos o tal cortex pré frontal que nos permite criar um distanciamento mínimo da situação que faz com deixemos de estar tão mergulhados nela.<br />
<b><br /></b>
<b>Também não faz mal mostrar aos nossos filhos que estamos com medo, desde que também saibamos mostrar que somos capazes de lidar com esse medo, que ele não nos controla e que continuamos a ser capazes de os acolher, de cuidar deles e de lhes dar segurança. </b> E sobretudo é importante ajudá-los também a perceber que podem ter medo, que isso não faz mal e é natural. Precisamos de ajudar as crianças a dar um nome ao que sentem mais do que perguntar-lhes o que estão a sentir, sobretudo às mais pequenas. Não adianta muito perguntar a uma criança de quatro ou cinco anos o que está a sentir porque ela não saberá dar-lhe um nome e só ficará ainda mais perdida.<br />
E, nisto do medo, também é importante saber que as crianças não são todas iguais: as mais sensíveis ou reactivas irão senti-lo mais e provavelmente mais cedo. Nas crianças o medo também as torna muito mais explosivas e reactivas e por isso pode dar origem a mais conflitos entre irmãos, por exemplo ou a comportamentos mais agressivos.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Uma das coisas que precisamos de fazer, talvez a mais importante é fazê-los sentir que, apesar de tudo, ainda estamos no controlo, por muito que não o sintamos.</b> Podemos sentir que perdermos o controlo das nossas vidas, das nossas rotinas, do nosso trabalho, das nossas finanças, etc, mas precisamos de sentir que ainda somos capazes de manter o controlo com os nossos filhos. Manter o controlo não quer dizer que nunca gritamos ou que sabemos sempre exactamente o que fazer ou que eles nos obedecem o tempo todo. <b>Manter o controlo neste caso significa que ainda somos capazes de os ajudar a lidar com o que sentem e ainda somos capazes de ser a sua base segura. </b><br />
<b><br /></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" width="320" /></a></div>
As crianças precisam de se sentir seguras e essa segurança não vem das notícias, não vem das estatísticas, nem da esperança de que haja uma vacina em breve. <b>A segurança das crianças vem de sentirem que os pais são capazes de as proteger. E é isso que temos de as fazer sentir. Não precisamos de mentir, nem de fingir. Só temos de nos lembrar que temos recursos em nós para as proteger de verdade. Esta doença, nesse aspecto, não é diferente de todos os outros perigos que os nossos filhos enfrentam diariamente: </b>não podemos impedi-los de cair e partir a cabeça, nem de apanhar outras doenças, nem sequer de se magoarem a sério um dia. Tudo o que podemos fazer é dar-lhes um colo seguro para chorar quando isto acontecer. E isto continuamos a poder fazer: podemos dar-lhes esse colo para chorarem com saudades dos amigos quando elas apertarem mais, com saudades das brincadeiras, da escola, das corridas, podemos dar-lhes esse colo quando se sentirem com medo de tudo o que está a acontecer. Na verdade as crianças têm uma probabilidade muito reduzida de ter complicações com esta doença, dizem-nos as estatísticas, mas o medo não quer saber de estatísticas porque o medo não é nada racional. E a melhor forma de lidar com o medo, neste caso, também passa pelas lágrimas. As lágrimas por tudo o que pensamos que poderá estar perdido da nossa vida anterior, as lágrimas por tudo aquilo de que sentimos saudades, as lágrimas por tudo aquilo de que estamos a abdicar. Quando choramos o nosso sistema de alerta acaba por se desligar, por isso é tão importante dar espaço para as crianças chorarem, dar-lhes um colo seguro e acolhedor para o fazerem. Porque as lágrimas desligam o nosso sistema nervoso simpático, permitem-nos adaptar à nova realidade e fazer a despedida daquela que já passou.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Dar segurança às crianças não passa obrigatoriamente por dar respostas.</b> <b>Têm circulado muitos vídeos sobre como explicar o corona às crianças mas o mais importante não é elas compreenderem exactamente o que está a acontecer, é confiarem nos pais.</b> O mais importante é sentir que terão sempre esse colo e que o nosso medo não nos impede de falar com elas, de ver o medo delas e de perceber como podemos ajudá-las a encontrar as suas lágrimas e a ficar mais tranquilas.<br />
<br />
Tenho visto também muitas publicações a falar da importância de manter uma rotina. Para algumas crianças e adultos isto pode ser importante realmente. E tenho visto muitas pessoas preocupadas com essa rotina. <b>Mas uma rotina não é algo que precisamos de criar desde o primeiro dia, podemos ir criando essa rotina aos poucos, sem stress e sem pressão e adaptando-nos a esta nova realidade. Essa rotina não tem que ser uma reprodução dos horários e tarefas daquilo que fazíamos antes disto acontecer. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sinceramente, não acho que a escola precise de ser uma prioridade nestes momentos. Se as crianças gostarem de estudar e isso as ajudar a passar o tempo, óptimo. Mas não precisamos de transformar isto numa prioridade. Temos de nos lembrar que não somos, nem precisamos de ser, professores dos nossos filhos. E se manter as actividades escolares for para nós mais uma fonte de pressão e de tensão e, sobretudo, se ela estiver a por em causa a nossa relação com os filhos por falta de paciência ou de disponibilidade para os ajudarmos, então, aqui é mesmo importante lembrar que ela não precisa de ser prioridade agora. <b>Esta é uma altura excepcional, por isso podemos vivê-la com muitas excepções também. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois também temos de nos lembrar que as actividades online podem ser uma boa ajuda neste momento mas não podem tornar-se o nosso único recurso. E não substituem as outras. <b>Estamos programados para estar com as pessoas, temos uma capacidade chamada neurocepção que nos faz avaliar constantemente o ambiente à nossa volta e também dentro de nós em busca de pistas de segurança. </b>Para isso, uma das coisas que fazemos inconscientemente, é avaliar toda a comunicação não verbal das outras pessoas: o tom de voz, o ritmo do discurso, as expressões, os gestos. Uma zona do corpo que envia muitos sinais são os olhos, sobretudo os músculos pequeninos à volta dos olhos, os chamados pés de galinha, que mostram se estamos realmente relaxados ou não e estamos a ouvir de verdade outra pessoa. Por exemplo, quando estamos a ouvir atentamente alguém há uma tendência universal para levantar um pouco as sobrancelhas, o que, por sua vez, faz com os músculos do ouvido médio se contraiam o que permite que sejamos capazes de extrair melhor a voz humana no meio de outros ruídos. <b>Quando olhamos para alguém que amamos as nossas pupilas dilatam-se e os bebés já reagem a esta dilatação nos olhos das mães. E tudo isto são coisas muito mais difíceis de fazer online, por isso uma video-chamada, apesar de ser melhor que o telefone simplesmente, não tem o mesmo efeito securizante que o contacto real. </b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a></b></div>
<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas discussões e mal entendidos entre casais, por exemplo, acontecem no carro, porquê? Porque nestes casos não conseguimos olhar nos olhos um do outro, o que nos põe muito mais facilmente num estado defensivo. Então isto mostra como é importante o contacto visual e como precisamos de contacto real, para nos regularmos. Claro que, quando somos adultos maduros, aprendemos a criar estratégias diferentes de auto-regulação que não dependem tanto dos outros. <b>Mas, a verdade, é que a nossa principal estratégia de sobrevivência enquanto espécie é mesmo a co-regulação e para isto o contacto e a presença física são fundamentais. </b>Por isso é natural que nos sintamos aflitos e em pânico num período de isolamento social. <b>Precisamos de reconhecer isso e fazer as pazes com esta realidade mais do que tentar negá-la criando a ilusão de que podemos usar as relações virtuais para substituir as reais.</b> Se vivemos numa relação conjugal é bom termos noção de que essa pessoa será a nossa principal figura de apego e é através dela que podemos muito mais facilmente co-regular as nossas emoções e é bom que os casais saibam e sintam que, neste momento, é perfeitamente natural que se sintam a precisar muito mais um do outro e que, também por isto, é natural que se sintam também muito mais reactivos e sensíveis a tudo o que a outra pessoa fizer ou disser.<br />
<br />
As crianças, sobretudo as mais pequenas ainda não tiveram tempo para desenvolver estratégias de auto-regulação. Por isso precisam mesmo de nós para o fazer, por isso também, é natural que, neste momento pareçam muito mais carentes e necessitadas da nossa atenção e presença e isso não tem nada de errado.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIAIYykhVE_VEWQmDteOCTHgYf14vZXunlJmwX0C02tv0sDu5aWGMeAJayIBei3ElrvJnWqqHv48oGrYA7L0iKmSxYnqWpqtUMHcpW10_-EP5hTea8RNtGJZrM9tYboTYuoRbDenH_sVs/s1600/IMG_20180418_180610.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPIAIYykhVE_VEWQmDteOCTHgYf14vZXunlJmwX0C02tv0sDu5aWGMeAJayIBei3ElrvJnWqqHv48oGrYA7L0iKmSxYnqWpqtUMHcpW10_-EP5hTea8RNtGJZrM9tYboTYuoRbDenH_sVs/s320/IMG_20180418_180610.jpg" width="240" /></a></div>
Então para passarmos por isto da melhor forma possível precisamos de saber que o isolamento não tem nada de natural para o ser humano e que não faz mal termos medo, ficarmos assustados e não sabermos como lidar com isto. Precisamos também de saber que não faz mal termos um pouco menos de paciência com os nossos filhos, desde que também sejamos capazes de lhes explicar e mostrar que estamos um pouco tensos mas que somos capazes de os proteger, cuidar e manter seguros. <b>As crianças não precisam de pais perfeitos mas precisam de acreditar que os seus o são. </b>E, para isso, neste caso, temos mesmo de saber que não há fórmulas nem segredos e precisamos apenas de fazer aquilo que sentimos que nos dá mais força para continuar a viver da melhor forma e a cuidar dos nossos filhos. <b>Precisamos também de saber que mais do brincar com amigos, estudar ou fazer conferências online, os nossos filhos precisam de nós e, enquanto estiverem connosco, uma boa parte do seu mundo está mesmo no sítio certo. Enquanto forem capazes de encontrar um caminho para o nosso colo e o brilho nos nossos olhos apenas porque entraram na sala também serão capazes de passar por tudo isto da forma mais serena e tranquila possível. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-35512462946953210842020-02-13T07:25:00.001-08:002020-02-13T07:25:36.161-08:00Adultos e crianças numa dança hierárquica <div style="text-align: justify;">
Sempre que falo em hierarquia entre pais e filhos há quem fique incomodado. Mas a hierarquia é algo natural nas relações e essencial entre pais e filhos. A hierarquia acontece naturalmente quando estamos na posição de cuidadores, só podemos cuidar daqueles que estão numa posição de dependentes. E, pela ordem natural das coisas, as crianças dependem dos adultos. Ficar na posição de cuidadores não significa que temos o direito de maltratar, despeitar ou abusar das crianças. Antes pelo contrário até, se estamos na posição de cuidadores sabemos que só podemos cuidar se soubermos respeitar as necessidades das crianças de quem cuidamos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2Y8gXNmiG_FTd_tlpwTYWQOrwEbmJ4eX74Tl98Wz-4kt5fqOHw0l3DQErR1Z-dmYs7HIpK1Mt5QuKlnMb2Q2zSNly8XI3C35PnrGzQnKzJgildZzN9HH70h4LsZ15H0pw6mrGeV09grdD/s1600/IMG_20190817_133750.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2Y8gXNmiG_FTd_tlpwTYWQOrwEbmJ4eX74Tl98Wz-4kt5fqOHw0l3DQErR1Z-dmYs7HIpK1Mt5QuKlnMb2Q2zSNly8XI3C35PnrGzQnKzJgildZzN9HH70h4LsZ15H0pw6mrGeV09grdD/s320/IMG_20190817_133750.jpg" width="240" /></a></div>
<br />
Mesmo nas relações de casal esta dança entre quem cuida e quem é cuidado tem de existir, a diferença é que, numa relação entre iguais, como é um casal, esta tem de ser mesmo uma dança equilibrada: se for sempre o mesmo a cuidar ou a receber esse cuidado a relação não funciona. <b>Mas numa dança não podem guiar os dois parceiros ao mesmo tempo, um tem de se deixar guiar enquanto o outro guia senão torna-se impossível dançar.</b><br />
<br />
Mas a grande diferença entre uma relação de casal e uma relação entre pais e filhos é que, numa relação de casal, os dois membros (idealmente) já terão amadurecido. Numa relação entre pais e filhos, existe um dos membros que ainda não amadureceu e por isso mesmo ainda não tem capacidade para cuidar do outro e precisa de ser cuidado para que possa desenvolver-se e amadurecer. Não apenas crescer, porque aumentar de idade não significa necessariamente que o amadurecimento aconteceu, este amadurecimento só acontece se encontrar as condições ideais para acontecer. Por isso existem tantas pessoas muito avançadas nos anos mas muito pouco desenvolvidas emocionalmente. <b>Assim como não podemos forçar uma planta a crescer também não podemos forçar uma criança a amadurecer, temos apenas de criar as condições necessárias para que isso se torne possível. E uma dela é que entre pais e filhos, não pode haver alternância. Temos mesmo de ficar na posição de cuidadores o tempo todo. E, se precisamos que alguém cuide de nós de vez em quando, como é natural que aconteça, esse alguém não podem mesmo ser os nossos filhos.</b><br />
<br />
Acontece que, todos temos em nós uma criança que ainda existe e que cresceu, muitas vezes, num ambiente que não era o ideal em que nem sempre foi cuidada da maneira que precisava e quando precisava. Então, quando isto aconteceu com demasiada frequência o que se passa é que passamos a ter dentro de nós uma criança ferida e, se ainda não tratámos dessas feridas elas continuam a existir e a tomar conta de nós sobretudo nos momentos mais difíceis, porque esta criança ficou refém destas necessidades que nunca chegaram a ser preenchidas em alguma altura do seu desenvolvimento e não foi capaz de amadurecer por completo. Claro que podemos fazer com que esse amadurecimento aconteça mais tarde, na vida adulta, através de relações que sirvam para, de certa forma, corrigir aquilo que nos faltou. Mas, se não encontrámos ainda uma forma de fazer essa correcção e de permitir que essa criança cresça a<b>quilo que vejo acontecer muitas vezes é que passamos a educar os nossos filhos a partir dessa criança ferida que existe dentro de nós e não a partir do adulto que até pode funcionar bem a maior parte do tempo mas que acaba por ficar em segundo plano nos momentos mais emotivos, que era justamente quando mais precisávamos que estivesse no controlo. </b><br />
<br />
Isto vê-se quando temos muita dificuldade em lidar com determinadas situações apenas porque queremos fazer diferente daquilo que os nossos pais fizeram connosco. Por exemplo, sabemos que faz mal à criança comer doces todos os dias mas acabamos por ter medo de lhe dizer que não porque tivemos pais muito autoritários que nunca nos deixavam fazer o que gostávamos.<br />
<br />
Sempre que dizemos que não queremos fazer isto ou aquilo com os nossos filhos apenas porque os nossos pais o faziam connosco e era muito doloroso isto significa que, muito provavelmente, esta é uma ferida que ainda não fechou. <b>E quando as nossas feridas não fecham elas podem tornar-se tão presentes que acabam por nos impedir de ver as coisas sem passar pelo seu filtro. Isto quer dizer que acabamos por educar a partir dessas feridas e não a partir das necessidades reais dos nossos filhos.</b><br />
<b><br /></b>
Na verdade, claro que não há nada de errado com o facto de não querermos repetir um erro que os nossos pais fizeram connosco. E claro que é saudável que queiramos corrigir esses erros que nos fizeram sofrer. <b>Acontece que, quando a nossa única motivação para não fazer algo com os nossos filhos é apenas o facto daquilo nos ter feito sofrer na infância isso pode ser sinal de que não estamos a educar a partir do nosso adulto mas a partir dessa criança ferida.</b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s1600/foto+tome.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="638" data-original-width="478" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s320/foto+tome.jpg" width="239" /></a></div>
Quando essa criança ferida nunca foi tratada ou cuidada, quando essas feridas ainda não sararam é difícil ficarmos realmente no papel de cuidadores dos nossos filhos porque existe uma parte demasiado grande de nós que ainda precisa de ser cuidada e que ainda pede muita atenção. E se não estivermos conscientes disto - e é tão mais difícil ter esta consciência quanto maiores forem as feridas - é muito fácil que as nossas necessidades se misturem com as deles e que não nos sintamos capazes de ficar nesse papel de cuidador e que não nos sintamos confortáveis com esta ideia de que precisa de existir uma superioridade hierárquica entre nós e os nossos filhos. Porque na verdade não é fácil ficar no papel do adulto quando essa criança ferida ainda precisa tanto de ver as suas necessidades preenchidas. E só podemos ficar no papel de cuidadores se estivermos no lugar do adulto.<br />
<br />
<b>Uma necessidade só desaparece depois de ser preenchida.</b> Se nunca nos sentimos seguros no papel de dependentes isso quer dizer que não tivemos oportunidade de crescer e amadurecer completamente, quer dizer que ainda existe uma parte de nós que precisa muito de ser cuidada como se fosse criança. E por vezes temos pais que esperam, inconscientemente, que os filhos cuidem dessas suas necessidades porque a sua criança nunca as viu satisfeitas.<br />
<br />
Nestes casos então precisamos de ter noção que essa criança ferida em nós precisa sim de ser cuidada, precisa de ser trazida para a luz, de ser vista, aceite e acolhida mas nunca pelos nossos filhos. <b>Os filhos em nós só podem ver o adulto e nunca a criança, muito menos ferida, para se sentirem seguros</b>. Podemos e devemos falar de sentimentos e emoções com os nossos filhos mas sempre a partir do adulto, não daquelas que nos fazem sentir frágeis e a precisar de cuidado. Os nossos filhos precisam de sentir que podem confiar em nós, que podem ser protegidos e seguros por nós e isso dificilmente acontecerá se mostramos demasiado a nossa criança ferida e se eles nos virem como demasiado vulneráveis. Isto acontece quando, por exemplo, dizemos várias vezes aos nossos filhos que o comportamento deles nos magoa. Muitas vezes pensamos que é melhor dizer a um filho que ficámos tristes porque ele nos bateu ou porque nos chamou chatos do que simplesmente ralhar ou reprimir esse comportamento. Nestes casos ralhar ou castigar não são adequados porque a criança está simplesmente a expressar algo que não sabe e não tem ainda capacidade de expressar de outro modo. Mas, a verdade, é que dizer que ficámos tristes ou magoados também não é muito positivo. Porque nos coloca numa posição de fragilidade e vulnerabilidade e faz com que a criança se sinta obrigada a cuidar dos nossos sentimentos. Então, nestes casos, podemos sim dizer que não gostamos que ela bata ou chame nomes, precisamos de acolher o sentimento que está por trás desse comportamento, mostrar que aceitamos a zanga ou a frustração que a levou a fazer isso mas que não gostamos que se porte assim e dar-lhe algumas alternativas mais aceitáveis, isto sobretudo nas crianças mais pequenas. Mas é diferente dizer simplesmente que não gostamos ou mostrar que nos sentimos vulneráveis ou fragilizados por aquele comportamento. E essa diferença pode ser enorme na forma como a criança vai processar a situação. Porque de facto uma criança não tem de se preocupar com os sentimentos dos pais. Isto pode parecer estranho, claro que queremos que eles nos queiram agradar e que a nossa opinião importe mas isso é muito diferente de lhes dar noção de que têm tanto poder sobre nós que conseguem deixar-nos tristes e frágeis. <b>Porque as crianças precisam de acreditar que os pais são uma espécie de super-heróis capazes de aceitar e acolher todas as suas emoções sem se irem abaixo por causa delas. </b><br />
<br />
Isto é ainda mais importante no caso das crianças mais sensíveis ou reactivas, que têm ainda mais tendência para se colocarem muito rapidamente nesse papel de cuidadores em que nunca queremos que estejam connosco.<br />
Porque isso lhes traz toda a ansiedade de estarem num papel que não é o seu e onde nunca poderão ser bem sucedidos. E toda a ansiedade de precisarem de se colocar num papel em que o seu instinto lhes diz que nunca deveriam estar.<br />
<br />
<b>Então, quando temos dificuldade em lidar com esta noção de hierarquia, pode significar que temos dificuldade em nos colocar no papel de adultos com os nossos filhos. Talvez porque tenhamos medo de os ferir ou magoar. Mas nada magoa mais do que sentirem que ninguém está no leme da relação, que ninguém conduz essa dança em que também é suposto eles dançarem.</b><br />
<br />
E estar no leme da relação significa que precisamos de antecipar as necessidades dos nossos filhos antes mesmo deles terem noção delas. Isto é válido sobretudo para coisas como o sono ou a comida, que têm um peso grande no dia-a-dia e um impacto na relação e nas emoções. Não podemos esperar que filhos pequenos nos digam que estão cansados quando precisam de ir dormir, não devemos dar-lhes o controlo das refeições todas e esperar que sejam eles a tomar a iniciativa sempre que têm fome. Porque isso os coloca no papel de cuidadores e não de dependentes onde é suposto estarem.<br />
<br />
<b>Também não ajuda muito quando lhes perguntamos constantemente porque choram, ou o que é que têm e quando mostramos que não percebemos nada do que se passa com eles, sobretudo com os mais pequenos</b>. Porque quando estamos no papel de cuidadores é suposto que tenhamos algum conhecimento sobre quem estamos a cuidar. É suposto também que os pais saibam mais que os filhos sobre as emoções e sobre o que se passa com eles. Temos de ser nós a ajudá-los a dar nome ao que sentem, porque para eles é tudo novo e não o vão descobrir sem a nossa ajuda.<br />
<br />
<b>Temos de encontrar o nosso adulto cuidador e, quando estamos no papel de adulto cuidador, somos nós que temos as respostas, não as procuramos nos outros, muito menos naqueles de quem estamos a cuidar.</b> E é importante que passemos para os nossos filhos essa imagem de que sabemos exactamente para onde vamos, mesmo que nem sempre tenhamos certezas disto.<br />
<br />
No papel de adulto cuidador também somos capazes de sentir que temos tudo aquilo de que aquela pessoa precisa. <b>Temos tudo o que os nossos filhos precisam para crescer felizes e seguros. Mas se ficamos no papel de criança ferida, é muito mais fácil sentir que não somos suficientes, que não somos capazes, que precisamos de ajuda</b>. E, se transmitimos isso aos nossos filhos eles vão sentir-se inseguros naturalmente e isso também fará com que tenham muito menos vontade de nos obedecer porque como é que podemos seguir alguém que parece não saber o caminho?<br />
<br />
E esta questão da obediência que tantas vezes é quase um vilão e algo que não devemos querer também é importante nesta dança entre cuidadores e dependentes. <b>Porque uma criança obedece naturalmente a alguém a quem confia e a quem se sente ligada</b>. Por isso a obediência também é uma medida da qualidade da nossa ligação com os filhos, sim. Claro que haverá crianças com mais tendência para desobedecer e fases da vida delas em que isso também estará mais presente e claro que é saudável que as crianças nos provoquem, desafiem e desobedeçam em certa medida. Mas, a verdade é que a obediência também tem a sua importância. Sim, é preciso que os nossos filhos pensem por eles, sim queremos adultos capazes de questionar e tomar posições mas, também queremos adultos que confiem e que se importem. <b>E obedecer aos pais também é sinal de que se importam com o que os pais pensam. E se se importam significa que a ligação ainda existe.</b><br />
<b><br /></b>
<b>Só deixamos de nos preocupar com o que os outros pensam quando já não estamos ligados a eles. </b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpLO65-GeDlIEPbKkpA_TNB4fQ_94QRif_FjF1EbOSla7UCDLJ-u2jhlibLcpLZJbTrgJuXkq5j4NI5P5IxAZGi-zQqSrZsCkPzmY2cnFKGklMC1tiKeurWGfy9auuklX2DK6MOJrKmxid/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpLO65-GeDlIEPbKkpA_TNB4fQ_94QRif_FjF1EbOSla7UCDLJ-u2jhlibLcpLZJbTrgJuXkq5j4NI5P5IxAZGi-zQqSrZsCkPzmY2cnFKGklMC1tiKeurWGfy9auuklX2DK6MOJrKmxid/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a></b></div>
<br />
A questão do locus de controlo externo, que acontece nas pessoas que precisam de uma aprovação constante dos outros e vivem em função desse reconhecimento não surge porque elogiámos demais os nossos filhos ou porque os fizemos obedecer em excesso. Isto é uma visão demasiado simplista. Essa busca permanente de reconhecimento acontece quando não tivemos o suficiente na nossa infância, quando não fomos protegidos, quando não nos sentimos seguros, acolhidos e aceites. Aí precisámos justamente de sair desse papel de dependentes e passar mais para o de cuidadores.<br />
<br />
<b>Todos os filhos querem agradar aos pais e isso é bom e natural. Sempre foi assim e é bom que continue a ser. Porque essa é também a receita para vivermos em sociedade e para construirmos relações seguras</b>. Claro que é essencial que eles sintam que não precisam de agradar para que continuemos a gostar deles. Mas sabermos que alguém nos ama incondicionalmente ainda nos dá mais vontade de agradar a essa pessoa, ao mesmo tempo que, naturalmente não nos impede de ser quem somos. Mas isto é justamente o que transmitimos muito mais facilmente quando estamos no papel de adultos.<br />
<br />
Porque é gostaríamos de estar casados com alguém que não gostasse de nos agradar? que se estivesse nas tintas para o que nos faz felizes?<br />
<br />
E, na verdade, as relações de casal não são assim tão diferentes das de pais e filhos. Hoje a ouvir um podcast em que se falava de relacionamentos surgiu a pergunta: porque é precisamos sempre de ter esse sentimento de posse em relação ao outro?<br />
<br />
E a resposta é que esse sentimento de posse surge justamente quando a nossa criança ferida sente que precisa da outra pessoa mas não sabe se pode confiar realmente nela. Entre dois adultos que sabem cuidar e ser cuidados esse sentimento de posso dá apenas lugar ao sentimento de que existe algo especial entre os dois que precisa de ser cuidado, protegido. E esse algo especial é uma relação de apego que é a forma natural de nos deixarmos cuidar e ser cuidados. Esse apego de que precisamos na infância para sobreviver e para nos desenvolvermos continua a ser essencial na idade adulta para podermos sentir-nos felizes e desenvolver relações seguras.<br />
<br />
<b>Então é importante perguntarmos-nos sempre se estamos a educar a partir do nosso adulto ou a partir da criança ferida. Porque os nossos filhos precisam mesmo do adulto, uma criança não é uma base segura para outra criança. </b>E só nesse papel de adulto é que podemos preencher todas as necessidades para que as crianças que eles são hoje possam realmente crescer e amadurecer e não apenas envelhecer.<br />
<br />
<br />
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-20892219666020994682020-01-07T10:13:00.002-08:002020-01-07T10:13:37.141-08:00Educar com limites, respeito e acolhimento <div style="text-align: justify;">
Uma das questões que gera mais polarizações no campo da educação talvez seja a questão dos limites. Existem aqueles que defendem que os limites são essenciais e que sem eles estaremos a condenar os nossos filhos a uma vida de incapacidade de lidar com a frustração e sem qualquer possibilidade de sucesso e os que, no lado oposto, defendem que as crianças não precisam de limites nenhuns mas apenas de respeito e de alguém que as compreenda.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Confesso que os discursos mais polarizados dos dois lados me despertam alguns anti-corpos apesar de, na sua essência, até concordar com estas duas posições e saber que não são incompatíveis como tantas vezes parecem.</b> Vou explicar porquê. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" width="320" /></a></div>
<b>O discurso de que as crianças precisam de limites e sem eles estaremos a criar pequenos ditadores e tiranos que nunca nos saberão respeitar nem tolerar qualquer tipo de frustração desperta em mim uma reacção de rejeição e acredito que terá o mesmo efeito em muitas outras pessoas. </b> Isto porque, mesmo que não seja o que se diz, é um discurso que parte de uma certa atitude de que as crianças têm tendências más que precisam de ser dominadas e controladas e que, caso não o façamos, corremos o risco de que elas nos controlem a nós. Eu não acredito que as crianças sejam seres malvados que precisam de ser domados, mas acredito que as crianças precisam de sentir que os pais estão no controlo e na verdade é isto que essas pessoas dizem. Mas quando dizemos isto apenas assim, desta forma, sinto que falta um certo elemento de acolhimento e de amor e aceitação pela natureza da criança e acredito que muitas pessoas rejeitem estas teorias apenas por sentirem também a falta desse calor e desse respeito que as crianças nos merecem. E isso faz despertar em nós a criança ferida, que se sentiu pouco acolhida na infância e que rejeita essa forma de educar porque sente que, de algum modo, foi ela a causadora do seu sofrimento.<br />
<br />
Mas claro que colocar limites, por vezes, é mesmo um acto de amor e de compreensão da natureza da criança que precisa de ser protegida e orientada. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Do lado oposto temos aquelas pessoas que dizem que ao colocar limites estamos a criar crianças submissas e permanentemente frustradas que não terão oportunidade de se descobrir a si mesmas, fruto dessa criação autoritária. </b>Confesso que, este lado, para mim é muitas vezes mais fácil de ouvir e aceitar, talvez porque não atinja tanto a minha criança interior.<b> Mas, a verdade é que, muitas vezes, também vem despido de algum conhecimento sobre o desenvolvimento infantil e as necessidades das crianças. </b>Neste lado concordo com a ideia de que as crianças não têm de ser moldadas às nossas vontades nem expectativas e que são merecedoras de respeito e dignidade. Mas, a verdade, é que respeitar uma criança é reconhecer que a sua natureza também lhes diz que elas precisam de ser guiadas, orientadas, protegidas. E como podemos ser protegidos por alguém que nunca assume o controlo? Como podemos deixar-nos guiar por alguém que parece não saber bem o caminho? <b>E como é que podemos sentir-nos seguros com alguém que não nos transmite uma imagem de segurança, que parece não confiar em si próprio e no papel fundamental que precisa de desempenhar? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Quando precisamos de um mapa, por estarmos em território desconhecido, não queremos um mapa que não nos dê certezas, ninguém se deixaria orientar por um GPS que estivesse sempre a fazer perguntas ou a mudar de caminho e de direcção ou que nos mostrasse o caminho cheio de incerteza na voz. Então as nossas crianças também não podem deixar-se orientar por nós se não soubermos bem para onde queremos ir, ou pelo menos, se não aparentarmos saber o melhor possível quando estamos perto delas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, se este discurso baseado no respeito e aceitação nem sempre é muito fundamentado nos modelos da psicologia do desenvolvimento, a verdade, é o que discurso mais autoritário também se baseia muitas vezes em modelos que não estão muito actualizados. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
As neurociências têm vindo a mostrar-nos cada vez melhor a importância e o impacto que têm os relacionamentos na nossa vida e sobretudo entre pais e filhos. <b>Então aquilo de que as crianças precisam em primeiro lugar é de relações seguras e a qualidade do relacionamento entre pais e filhos deve ser a nossa primeira preocupação e a base mais importante de todo o nosso trabalho. Sem ela não existem limites nem nada que possa fazer realmente a diferença. Acontece que a nossa capacidade de reconhecermos que precisa de existir uma hierarquia entre pais e filhos também contribui muito para a qualidade dessa relação. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gordon Neufeld, psicólogo canadiano que construiu um modelo muito completo do desenvolvimento infantil que me orienta sempre no meu trabalho, costuma dizer que a parentalidade é como uma dança. Então precisamos de saber dançar. E para dançar não adianta termos apenas um conhecimento teórico dos passos ou da música, pode ajudar temos algumas noções básicas, mas acima de tudo, precisamos de sentir a música. E isto não é racional. Nunca ouve tanta informação sobre parentalidade e, paradoxalmente, também nunca ouve tanta dificuldade em dançar como parece haver nos nossos dias. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nesta questão dos limites essa ideia da dança faz-me muito sentido.</b> Porque é realmente uma dança em que temos de ser capazes de sentir os nossos filhos e o nosso próprio instinto e de saber ir ajustando as duas coisas. Não precisamos que ninguém nos ensine a ser pai e mãe se formos capazes de simplesmente entrar nessa dança. Aí saberemos exactamente o que precisamos de impor e o que precisamos de respeitar. <b>Saberemos quando é tempo de respeitar, apoiar e acolher sem direcções e quando é fundamental orientar, guiar e até proibir. </b>Sim, porque às vezes parece que proibir é uma palavra proibida na educação hoje em dia, mas enquanto pais temos mesmo de proibir certas coisas aos nossos filhos por vezes, temos de os proibir de fumar e beber álcool em crianças, por exemplo ou de se atirarem para uma estrada com carros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vejo por vezes muita confusão na cabeça dos pais em relação a estas coisas porque se esquecem de como dançar. <b>Por exemplo, é claro que não devemos obrigar uma criança a comer, temos obrigação de escolher comidas saudáveis e de lhas apresentar e de proibir aquelas que não consideramos decentes mas não podemos obrigá-las a comer as quantidades que imaginamos serem as certas.</b> Porque os mecanismos de saciedade são algo muito instintivo e variam de pessoa para pessoa e também são algo que é relativamente fácil de avariar por isso é importante que criem uma relação saudável com a comida e que aprendam a ouvir o seu próprio corpo. Mas isto é muito diferente de esperarmos que sejam eles a dizer-nos que têm fome ou até a servirem-se sozinhos. Devemos ser nós a estipular os horários das refeições e a ter consciência de quando será mais ou menos adequado dar-lhes comida. <b>A comida está muito relacionada com este sentimento de sermos cuidados e uma criança que tem sempre de pedir comida e em que não há nenhuma regularidade nas refeições é uma criança que, facilmente, se sente perdida ou descuidada.</b> Quando antecipamos as necessidades dos nossos filhos, sabendo que é muito provável que eles tenham fome a determinada hora e lhes damos comida a essa hora, eles sentem-se cuidados, vistos, acolhidos, seguros e compreendidos. Não há nada mais reconfortante do que sentirmos que alguém nos conhece e cuida de nós, preenchendo as nossas necessidades sem termos que lhes pedir.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então esta é uma dança em que precisamos de manter o equilíbrio e saber quando é que não tem mal nenhum darmos uma bolacha a uma criança que a pediu fora de horas e quando é que precisamos de ser nós a manter o controlo das refeições. E também saber que as crianças não são iguais e que aquilo que não fazia muito mal com um filho pode causar alguns estragos com outro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outra questão em que vejo muitas vezes alguma confusão é no dormir. Temos as pessoas que dizem que as crianças precisam de dormir sozinhas desde cedo no seu quarto e em horas fixas e as que dizem que podem dormir com os pais e não precisam de horários porque eles sabem quando têm sono.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s1600/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="455" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s320/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" width="218" /></a><b>Sou apologista de que não devemos forçar as crianças a dormir sozinhas, acho importante que durmam com os pais, pelo menos no primeiro ano de vida e reconheço benefícios em continuarem a fazê-lo durante os primeiros anos, até se sentirem prontas para dormir sozinhas.</b> Já falei muito disto no meu livro, Amar não Basta, e também <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Dormir%20como%20um%20beb%C3%A9">aqui</a> e <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Fantasmas%20nas%20nossas%20camas%20-%20Pais%20que%20dormem%20com%20os%20filhos">aqui</a> mas acredito que, se os nossos filhos precisam desse contacto para se sentirem seguros não ganhamos nada em tentar afastá-los à força antes de estarem preparados para isso. Isto não quer dizer que esperamos que eles nos digam que estão prontos para passar a dormir sozinhos mas sim, que enquanto pais, conhecemos os nossos filhos bem o suficiente para saber quando é altura de os incentivar a dar esse passo ou quando devemos ainda esperar mais um pouco até que estejam prontos para ele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b>E isto é muito diferente de dizer que não precisam de horários ou de serem forçados a ir para a cama mesmo que não o queiram. Primeiro acredito que precisam de horários, sim.</b> E muitos problemas de adultos que sofrem de insónias podem ter começado justamente com a falta de horários na infância. <b>Porque o corpo humano está programado para dormir a determinadas horas</b>. Mesmo para quem tem trabalhos nocturnos, por exemplo, sabemos que dormir de dia não é o mesmo que dormir à noite. E uma das razões pelas quais é tão desgastante trabalhar por turnos é justamente pela falta de um horário para dormir. O nosso corpo está programado para começar a segregar níveis mais baixos de cortisol ao final do dia e esses níveis começam a ser naturalmente mais altos pela manhã. Claro que poderá haver alguma variabilidade individual, não precisamos todos de estar na cama às nove em ponto, mas existem algumas limitações e mínimos que precisamos de cumprir. <b>E o sono precisa de obedecer a alguns ritmos para funcionar o melhor possível.</b> Os bebés ainda não têm um ritmo circadiano bem definido, e a sua produção de cortisol só começa a seguir estes ritmos por volta dos 9 meses de idade, por isso podem estar a dormir profundamente às três da tarde e completamente prontos para a brincadeira às quatro da manhã, para infelicidade dos pais, mas esta é mais uma razão, para mantermos a regularidade de horários, para os ajudarmos a criar esses ritmos de forma saudável.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas quando estes ritmos já existem, uma criança que se deite às onze da noite tem muitas probabilidades de dormir pior do que quando se deita às nove.</b> Este dormir pior pode significar apenas um sono mais agitado e menos reparador ou um sono com mais despertares ao longo da noite. Por isso quando deixamos que crianças pequenas se deitem tarde, muitas vezes, elas acordam ainda mais cedo que o normal. Porque estas alterações provocam mudanças na sua produção de cortisol, uma hormona que também se altera em função dos nossos níveis de stress, o que por sua vez provoca mudanças no sono e pode impedi-las de descansar tudo o que precisam.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaH5afkFjlqdiP6Xsi5OZErIbUhb8kTBrfMBIWpy85lgsNhCOVARXeUEa-omQbJcpFy92S11jT8hf1KtDYGvKEKPQql31mOPUlBA-hA8ZfO7Qxv1Odnkdj5L7ZJah1s5keI9v_sy_JyxD8/s1600/001.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaH5afkFjlqdiP6Xsi5OZErIbUhb8kTBrfMBIWpy85lgsNhCOVARXeUEa-omQbJcpFy92S11jT8hf1KtDYGvKEKPQql31mOPUlBA-hA8ZfO7Qxv1Odnkdj5L7ZJah1s5keI9v_sy_JyxD8/s200/001.JPG" width="200" /></a><b>Se uma criança não vai dormir na hora em que deveria, quando aparecem os primeiros sinais de sono, o que acontece é que os seus níveis de cortisol vão começar a subir por isso ela terá mais dificuldade em adormecer e provavelmente resistirá à ideia de ir para a cama. Os níveis de cortisol mais elevados fazem com que eles pareçam mais excitados e energéticos porque estão a entrar em estado de alerta e isso também os impede de saberem aquilo de que precisam, porque com a agitação do cortisol a subir (e há crianças mais reactivas e outras menos a este estímulo) o organismo começa a entrar em estado de alerta e quando estamos assim dormir é muito mais difícil, porque o corpo nos diz que devemos estar acordados para nos proteger do perigos.</b> E isto acontece a um nível inconsciente e de forma que eles simplesmente ainda não têm capacidade para perceber que, na realidade não há perigo nenhum, e só precisam de descansar. É aqui que acontece uma boa parte das lutas contra o sono. Mas, se cedermos e os deixamos simplesmente ficar acordados até que caiam para o lado de cansaço, só estamos a aumentar os níveis de stress no seu organismo que, provavelmente, os irão impedir de ter uma noite realmente boa de sono. Isto pode ter várias consequências, que muitas vezes são visíveis ao nível comportamental e terá com certeza efeitos na vida adulta. Isto com crianças mais reactivas torna-se ainda mais intenso. Por isso nesta dança somos mesmo nós que temos de assumir o controlo e não ter medo de tomar decisões. E, aqui, como em tantas outras coisas, a rotina e as regras ajudam. E ajuda também muito que eles confiem <br />
em nós e que estejam habituados a ser orientados.<br />
<br />
<b>Então realmente estes dois lados que parecem opostos têm alguma verdade: as crianças precisam de ser orientadas e precisam de sentir que os pais estão no controlo e sabem o caminho a seguir. Mas também precisam de se sentir respeitadas e acolhidas. </b><br />
<br />
Para isso precisamos de não ter medo e de ser capazes de assumir o papel de quem está no controlo, da mesma maneira que também precisamos de saber respeitar a ligação fundamental que temos com os nossos filhos e de os acolher. Precisamos de olhar para os nossos filhos e vê-los como realmente são e saber de que precisam e também de sermos capazes de transmitir que os vemos, que os compreendemos e conhecemos e que sabemos cuidar deles. <b>Quando temos medo de nos impor e de tomar decisões não estamos a fazê-lo por respeito aos nossos filhos mas estamos a agir em função da nossa criança ferida, aquela que não foi acolhida na infância como precisava de ter sido e que tem muito medo de ferir também os seus filhos. </b>Então precisamos também de acolher essa criança e de lhe mostrar que é possível orientar, educar e respeitar e acolher ao mesmo tempo. <b>Precisamos de a fazer acreditar que temos tudo aquilo de que os nossos filhos precisam para serem felizes e se sentirem seguros quando somos capazes de dançar a partir da música do amor e da confiança e não da música do medo e das feridas da nossa infância. </b><br />
<b><br /></b>
Precisamos de encontrar uma forma de sarar essas feridas para que sejamos capazes de olhar para os nossos filhos a partir do adulto que somos hoje. E para que não tenhamos medo de assumir esse papel de adulto que guia e que se sente capaz de amar, respeitar e dar segurança ao mesmo tempo. Porque as duas coisas não só não são incompatíveis como precisam mesmo de andar juntas se queremos ter dar aos nossos filhos a possibilidade de crescerem felizes e tranquilos.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-43063076275297579512019-12-16T08:45:00.000-08:002019-12-16T08:45:02.881-08:00Birras filmadas e como podemos ajudar os nossos filhos a lidar com as emoções<div style="text-align: justify;">
Tem circulado nas redes sociais por estes dias um vídeo de um pai que filmou a filha a ter um episódio de grande descontrolo que, ao que parece, durou cerca de 45 minutos. O vídeo é bem mais curto que isso, mas confesso que não o consegui ver da primeira vez, porque me fez muita impressão. Mas, entretanto, resolvi vê-lo agora até ao final porque senti que era importante falar sobre isto. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro, uma das questões que não pode ser ignorada é o facto desta criança ter sido filmada num momento de grande fragilidade e de ter sido exposta desta forma, que foi uma das coisas que me incomodou. Além disso num momento destes os nossos filhos precisam de apoio e da nossa presença e disponibilidade total e não me parece que esse apoio possa considerar-se total quando existe uma câmara a filmar e a preocupação com todos os que irão ver depois essa filmagem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, depois de ver tantas pessoas a partilhar este vídeo e de perceber que muitas até apoiavam e louvavam a atitude do pai, fiquei ainda mais incomodada e foi por isso que decidi escrever este texto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No vídeo vemos uma criança muito aflita, com grande dificuldade de integrar e regular as suas emoções, como é perfeitamente normal e natural nesta idade. O que já não me parece tão natural assim é a duração deste episódio e o comportamento tão passivo do pai. Na verdade aquilo que vi no vídeo, para além de uma criança em sofrimento, foi também um pai perdido. Sem querer julgar o pai e a forma como educa a filha, sem fazer ideia daquilo que poderá ter levado aquela situação e sem duvidar das suas boas intenções ao tentar estar presente e dar algum espaço à filha para expressar o que estava a sentir, a verdade, é que me pareceu que ele não fazia ideia daquilo que deveria fazer para acalmar a criança. E<b> isso é grave porquê?</b> Porque passa para a criança uma sensação de medo e de insegurança acerca dos seus próprios sentimentos - que são tão intensos que nem os adultos sabem lidar com eles - e acerca da sua relação com o pai - que é tão frágil que ele nem sabe o que pode fazer para a acalmar. E se isso se repetir muitas vezes irá facilmente criar na criança um sentimento mais ou menos permanente de ansiedade e insegurança. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>As crianças não lêem as nossas intenções mas sentem as nossas emoções e observam o nosso comportamento, sem fazerem ideia das razões que estão por trás dele. </b>E, o comportamento do pai, neste caso o que mostrou à filha, foi que não podia fazer nada que a ajudasse a regular as suas emoções e a sair daquele estado. A certa altura a criança aproxima-se dele e agarra-se ao pescoço do pai. O contacto físico é uma forma de ajudar a acalmar uma criança mas, neste caso, nem isso parece ter resultado muito porque foi a criança que precisou de o procurar. <b>É verdade que quando as crianças estão assim nem sempre querem que as abracemos ou peguemos ao colo e, por vezes, temos de lhes dar algum espaço, sim. Mas isso é diferente de esperar que sejam elas a procurar-nos. Porque isso passa uma mensagem de que não sabemos ler as suas emoções, não as conhecemos assim tão bem e não sabemos como ajudá-las. E pior ainda, passa uma mensagem, de que são elas que têm de nos procurar, mesmo nos momentos mais difíceis. São elas que têm de estar no controlo da situação. E isso impede-as de descansar e relaxar. </b>Como é que podemos relaxar e descansar de verdade nos braços de alguém quando sentimos que somos nós que temos sempre de pedir ajuda e de procurar essa pessoa? Quando a pessoa mostra que não nos conhece, que não sabe o que fazer, como lidar connosco? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto pais e mães somos nós que temos sempre de assumir a responsabilidade da relação e isso implica também que sejamos nós, sobretudo nos momentos mais difíceis, a assumir o controlo. Para isso temos de estar atentos e perceber quando é que já podemos aproximar-nos e dar um abraço ou um colo, não apenas ficar à espera que a criança o procure. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Temos a obrigação de ajudar os nossos filhos a lidar e a regular as suas emoções. E, se isso demora 45 minutos a acontecer então também temos a obrigação de nos questionar sobre o que poderá estar a correr mal e talvez pedir ajuda. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É verdade que é importante que as crianças chorem e é verdade que é natural que se descontrolem de vez em quando. E também é verdade que precisamos de aceitar e acolher as suas emoções. Mas, nada disto implica ficarmos quietos à espera que tudo passe. <b>Aceitar e acolher emoções não tem nada a ver com passividade. </b>Não significa que não podemos fazer nada para as modificar e, sobretudo, não significa que, enquanto pais, não temos obrigação de ajudar os nossos filhos a sair desses estados intensos que eles simplesmente não têm capacidade para regular sozinhos. E ficar ao lado de um filho que está nesse estado sem fazer nada não ajuda porque uma criança não tem capacidade para perceber que estamos ali por ela se não lho mostramos claramente com gestos, palavras e atitudes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, mesmo como adultos, nessas situações precisamos que sejam os outros a assumir o controlo e mostrar que são capazes e estão dispostos a ajudar-nos. Nessas alturas não chegam as palavras bem intencionadas, precisamos mesmo de acções, de gestos que mostrem que os outros sabem lidar connosco e que estão dispostos a fazer o que for preciso para nos ajudar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque nestas alturas são as partes mais primitivas do cérebro que estão no comando, estamos em pleno modo de alerta e, nesse modo de alerta não respondemos às coisas mais subtis, precisamos mesmo de gestos e atitudes concretas e bem visíveis para que tenham algum efeito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Aquilo que uma criança precisa numa situação destas, acima de qualquer outra coisa, é de sentir que o adulto assumiu o controlo e sabe o que fazer.</b> E<b> quando não sabemos então precisamos de fingir porque não é possível acalmar uma criança se não nos sentirmos no controlo da situação.</b> E foi isso que me pareceu faltar muito neste vídeo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><u>Então o que fazer nestas situações? </u></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro acolher os sentimentos e emoções dos nossos filhos significa que somos capazes de nos colocar no lugar deles, de perceber minimamente o que os fez ficar assim. E depois temos de ser capazes de lhes transmitir isso sem uma atitude de julgamento, sem lhes transmitir que aquela emoção é errada. Isto faz-se dizendo que compreendemos que eles se sintam zangados, frustrados, tristes ou que acharmos mais adequado. Mas precisamos de fazer isso com empatia e para isso também não será natural que estejamos completamente calmos e tranquilos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>É verdade que ajuda muito a controlar o episódio se os pais mantiverem o seu auto-controlo. Mas manter o auto-controlo não é ficar totalmente passivo. Precisamos de entrar em contacto com a emoção da criança, para sermos capazes de lhe mostrar que não faz mal sentir aquilo e que aquela emoção pode ser transformada e integrada. Para isso precisamos de não ter medo de a sentir. Só assim podemos ser verdadeiramente empáticos. Há uma diferença entre sentir a emoção e deixarmos-nos arrastar por ela. </b>A criança é arrastada por ela porque ainda não desenvolveu o seu cortéx-pré-frontal que nos permite reflectir sobre o que estamos a sentir. Por isso ainda ficam completamente à mercê das emoções nestas alturas e por isso é que nós temos obrigação de as ajudar a controlarem-nas. Nós, idealmente, já o teremos desenvolvido e por isso podemos mostrar aos nossos filhos que é possível sentir medo, raiva, tristeza, frustração, etc. e não perder o controlo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando falamos aos nossos filhos sobre o que estão a sentir também ajudamos a desligar as partes mais primitivas do cérebro e a ligar as mais racionais o que também irá contribuir para a sua auto-regulação e para o desenvolvimento do tal cortéx-pré-frontal. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s1600/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="455" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s320/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" width="218" /></a>Então não precisamos de nos manter completamente calmos quando os nossos filhos estão a perder a cabeça e, na verdade, isso nem sequer é realmente adequado. Porque as nossas emoções também têm que espelhar as deles, um pouco, de preferência com o auto-controlo que eles ainda não têm. Claro que não adianta nada se perdermos a cabeça também, mas é preciso encontrar o equilíbrio entre sentir aquilo que eles sentem (num grau um pouco menor, é claro) mas manter o auto-controlo necessário para perceber e explicar a situação aos nossos filhos e mostrar-lhes como se pode fazer esse caminho para regular e integrar as emoções. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E precisamos de lhes mostrar que é seguro expressarem essas emoções connosco mas essa segurança só pode existir se nós também sentirmos que conseguimos lidar com a situação, que não precisamos de nos retirar para um lugar de passividade total nem precisamos de reprimir completamente aquela emoção ou a sua manifestação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Falo também disto com mais pormenor na última parte do meu livro Amar não Basta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-13414526210546026422019-11-20T07:45:00.003-08:002019-11-20T07:45:55.394-08:00Autoridade, amor e autonomia <div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s200/lidarzanga.png" width="150" /></a>Ultimamente tenho tido mais contacto com algumas crianças que, apesar das suas diferenças têm uma coisa em comum: a ansiedade provocada por uma educação em que não existe autoridade o que faz com que elas acabem por ficar numa posição de liderança em que uma das consequências é essa ansiedade que vem da incapacidade de relaxarem que só acontece quando sentem que existe, pelo menos, um adulto que é capaz de cuidar das suas necessidades. Porque os instintos da criança lhe dizem que deve procurar nos adultos uma figura de protecção e de orientação se, por algum motivo, ela não consegue encontrar isto nos pais e em nenhuma outra pessoa, essa criança ficará numa posição muito difícil, num estado de alerta constante porque sente que precisa de se proteger a si mesma. <b>Muitas vezes aquilo a que chamamos crianças mandonas e mimadas, que não conseguem lidar com a frustração ou que não são capazes de cumprir ordens nem obedecer e que, mesmo com os amigos, procuram sempre mandar, são crianças que vivem numa ansiedade profunda, porque sentem que precisam de cuidar de si mesmas e isto não está de acordo com o que o instinto lhes pede.</b> E isto acontece quando há uma ausência total de autoridade por parte dos adultos que cuidam delas. (Já falei disto <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/liberdade%20e%20consci%C3%AAncia">aqui</a>.) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa ausência pode acontecer por vários motivos diferentes. Vou aqui falar resumidamente de alguns. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
1. <b>Quando os pais tiveram uma educação autoritária e querem fazer melhor </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes acontece que os pais destas crianças tiveram eles próprios pais muito autoritários e sempre cresceram com a consciência de que não queriam fazer o mesmo aos filhos.<br />
<b>Mas é importante percebermos que uma educação autoritária pode deixar tantas feridas como uma educação em que não existe autoridade nenhuma.</b> </div>
<div style="text-align: justify;">
Naquilo a que chamamos uma educação autoritária, que era um modelo comum há pouco tempo atrás, o que acontece é que a criança não é realmente vista, acolhida ou protegida. Porque os pais estão demasiado preocupados em impor a sua vontade para serem capazes de acolher os sentimentos da criança, é fácil ela crescer com um sentimento de solidão e tristeza. E, quando o adulto associa esses sentimentos negativos a essa atitude autoritária é natural que não a queira repetir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas é preciso tomarmos consciência que neste caso, a parte que está a tomar esta decisão ou a adoptar esta atitude, é a nossa parte ferida. É a parte da criança que ainda está zangada com os pais porque não foram capazes de a acolher e que por isso jurou ser diferente. Então isto quer dizer que estamos a tomar essa atitude mais por nós, do que propriamente pelos nossos filhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este tipo de educação também pode ter deixado gravado na nossa memória implícita que tomar uma atitude forte é algo mau, quando os nossos pais nunca foram capazes de fazê-lo com respeito e com afecto. <b>Quando sentimos na pele os danos e as feridas de não sermos acolhidos, compreendidos e aceites por pais muito autoritários, fica gravado na nossa memória implícita que a autoridade é algo negativo e que prejudica as relações, porque é só assim que a conhecemos. </b>Mas o problema, nestes casos, não estava na autoridade em si e sim na forma como ela foi exercida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Então é preciso desmontar isto e perceber que podemos exercer autoridade sem sermos autoritários e que é possível encontrar esse equilíbrio que nos permite impor a nossa vontade quando é preciso fazê-lo mas, ao mesmo tempo, respeitar, aceitar e acolher os nossos filhos. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
É preciso que tenhamos a coragem de entrar novamente em contacto com essa criança ferida que ainda vive em algum lugar dentro de nós e explicar-lhe que agora está tudo bem, que podemos exercer a nossa autoridade a partir de um lugar de amor. Quando somos autoritários, geralmente, estamos a fazê-lo a partir do medo, do medo de não sermos respeitados, obedecidos, do medo de não sermos suficientemente capazes e competentes. <b>Então é preciso distinguir entre a autoridade que vem do amor e de saber que temos um lugar importante na vida dos nossos filhos e o autoritarismo que vem do medo de perdermos esse lugar importante. </b>E perceber que a verdadeira autoridade só pode ser exercida através do amor e que é possível exercê-la com todo o respeito e carinho pelos nossos filhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Na verdade, exercer esta autoridade na vida dos nossos filhos significa justamente respeitar e compreender a sua natureza. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No meu livro contei um episódio, que aconteceu quando um dos meus filhos tinha seis anos, que ilustra bem a forma como os nossos filhos sabem que é suposto serem guiados e orientados por nós, quando estão ligados ao seu instinto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s1600/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="666" data-original-width="455" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhJ5gmIEbsMbPH-trNdeGnB5vqpW4Qd9gMsTFl-X_NX6YuHdkqFrD-hPxDEh2Iifq9hSk0i4tojCobFokinhdi_zqLSul4_h5JC1EBohS92JoS-kwWAVNuQPh91DA5_2AKeUHWWesXUZPda/s320/k_amar_nao_basta+%25281%2529.jpg" width="218" /></a>"Passou-se um dia, à hora de jantar, alguns dias depois dele ter estado a tomar antibiótico por causa de uma infecção num dente. As primeiras tomas foram bastante difíceis, porque ele não gostava do sabor e era preciso que insistíssemos muito e repetíssemos que aquilo era importante e tinha mesmo de beber até ao fim. Alguns dias depois disto....teve alguns problemas de intestinos e, por isso, a médica recomendou que lhe déssemos um probiótico. Então, nesse dia ao jantar, já tinha juntado a água ao probiótico e estava pedir-lhe que o bebesse, coisa que ele não queria fazer. Nesta altura esses problemas já estavam resolvidos e era apenas uma questão de reforçar um pouco mais a flora intestinal, mas não era realmente imprescindível. Como estávamos já os dois cansados, eu acabei por lhe dizer que se não o queria tomar, não tomava e pronto, com um ar entre o frustrado, o impaciente e o aborrecido. Mas, perante esta minha atitude, ele fez uma cara triste e disse com uma voz sumida e lágrimas nos olhos: mas assim não estás a fazer o que é melhor para mim." in Amar não Basta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
2. <b>Quando os pais estão demasiado feridos</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes acontece que os pais estão tão feridos pela sua própria infância que não têm simplesmente capacidade de por as necessidades dos filhos à frente das suas. <b>Quando vivemos uma infância com faltas demasiado grandes e constantes fica uma espécie de buraco negro dentro de nós que nos impede de focar nas necessidades dos outros porque as nossas são tão grandes que aparecem sempre primeiro. </b>Nos casos mais extremos temos os psicopatas que são verdadeiramente incapazes de considerar as necessidades das outras pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas podemos ter também aqui as personalidades narcisistas, em maior ou menor grau, em que também existe uma certa dificuldade para se focarem nas necessidades das outras pessoas. Uma mãe ou pai narcisista age, a maior parte do tempo, em função das suas próprias necessidades e não das dos filhos. E isto gera insegurança na criança que não se sente realmente acolhida e protegida e faz com que ela sinta que precisa de cuidar de si mesma. E muitas vezes também dos pais. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas, em casos menos graves, também pode acontecer que, simplesmente ainda não fomos capazes de sarar as nossas feridas e acabamos por ficar demasiado presos a elas. <b>Quando uma mãe ou pai estão demasiado preocupados, ansiosos ou deprimidos, torna-se muito mais difícil focarem a sua atenção na criança porque os seus próprios problemas acabam por ocupar demasiado a sua atenção.</b> Isto também transmite à criança que não é seguro confiar naquela pessoa e que tem de cuidar de si mesma e por isso acaba por ter necessidade de ficar no lugar do controlo, com toda a ansiedade que isso lhe traz. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Isto também pode acontecer quando os pais estão demasiado inseguros e com medo de assumirem o seu papel de liderança. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nestes casos por vezes o que acontece é que passam os filhos a sentir que precisam de cuidar dos pais porque os vêem como sendo demasiado frágeis. Porque o instinto das crianças lhes diz que precisam de assegurar essa ligação importante, elas acabam, inconscientemente, por assumir esse cuidado com os pais, o que muitas vezes se torna um peso que carregam toda a vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Muitas vezes acabamos por estimular isto inconscientemente quando dizemos constantemente aos filhos que precisam de nos ajudar. Lembro-me de uma vez ter ouvido uma professora dizer a duas crianças gémeas que se estavam a portar mal que precisavam de ajudar a mãe porque ela estava doente e não era capaz de cuidar deles assim. Esta mãe estava com alguns problemas de saúde e a professora estava a querer ajudá-la ao ver os rapazes a fazerem uma série de disparates que a mãe não estava a conseguir controlar. Isto foi há muitos anos, antes ainda de eu ser mãe, mas não me esqueci porque senti que, apesar de a intenção ser a melhor, aquela professora ainda complicou mais as coisas àquela mãe. Porque a última coisa que qualquer criança precisa de sentir é que os pais não estão capazes de tomar conta de si. Claro que não tem mal nenhum dizer-lhes que estamos doentes uma ou outra vez, quando existe uma boa relação e a criança sabe que aquilo passa. O problema neste caso é que a doença daquela mãe era crónica e, se as crianças já estavam agitadas e ansiosas, ainda ficaram mais ao ouvir dizer que a mãe não era capaz de cuidar delas. É muito bom sermos honestos com os nossos filhos mas há casos em que a insegurança ou a nossa fragilidade precisa de ser escondida para sermos capazes de cuidar das necessidades deles. <b>Queremos que os nossos filhos colaborem connosco mas não que nos ajudem, porque pedir ajuda coloca-nos num papel frágil e dependente quando deveríamos transmitir o contrário. </b><br />
<b><br /></b>
Também pode acontecer quando lhes transmitimos demasiadas vezes que não sabemos o que fazer com eles ou quando desabafamos sobre a forma como nos sentimos tristes ou perdidos por causa deles. Claro que é importante que os nossos filhos nos vejam tristes quando estamos tristes ou zangados e que tomem contacto com uma forma autêntica de expressar os sentimentos, mas isto é diferente de lhes dizer que eles nos deixaram tristes ou desorientados com o seu comportamento. Porque quando isto acontece coloca-nos a nós numa posição de fragilidade ao mesmo tempo que lhes dá uma sensação de responsabilidade e de peso que eles não estão preparados para carregar porque ainda não tem capacidade para assumir essa responsabilidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3GaI0j2VTbcErVMg50Jk77hOIpbALjVBTuzGDAfhZ_XSLYLirD2hhGdIevWdgFoOSUajRDe5SzO5pQXgQeCPfgU4ilLvDPxKURGEA2li66KTXapneQOyuxm6iTJPKuuYv1bIq2lnKO3GX/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" width="320" /></a></div>
<b>Também acontece quando temos medo de lhes dizer que não apenas porque não sabemos se vamos ser capazes de lidar com as reacções.</b> Muitos pais, principalmente em público, têm medo de lidar com o choro dos filhos e preferem ceder em algumas situações apenas para não terem de o enfrentar. <b>Mas é preciso aprendermos a lidar com as lágrimas dos nossos filhos e é preciso também que eles saibam que não temos medo da sua zanga, da sua frustração e da sua tristeza, para que eles próprios não tenham medo do que sentem e para que nos encarem como um porto seguro</b>. Se temos medo das demonstrações mais intensas dos nossos filhos estamos a transmitir-lhes a mensagem de que esses sentimentos são perigosos mas também de que não somos capazes de os acolher. E isso gera insegurança, por isso <b>é preciso convidar as lágrimas também de vez em quando e mostrar-lhes que é seguro chorar e também é seguro zangarem-se connosco quando não fazemos o que querem porque continuamos a amá-los e a aceitá-los mesmo com esses sentimentos demonstrados. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
3. <b>Quando a autonomia se torna num objectivo em si mesma</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes acontece pensarmos que é preciso dar espaço a uma criança para tomar as suas próprias decisões e deixá-la fazer sozinha tudo o que consegue para estimular a sua autonomia. Há alguns modelos educativos que se baseiam um pouco nesta premissa de que não devemos fazer pelos nossos filhos nada que eles já consigam fazer sozinhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Mas a verdade é que isto pode provocar alguns estragos. <b>Acredito que devemos ouvir as crianças e tentar conhecer os seus gostos e as suas motivações e que é muito importante saber escutá-las mas não acredito que as devemos deixar tomar todas as decisões e nem sequer acredito que as devamos deixar tomar as decisões mais importantes. </b>Isto quer dizer, que devemos sempre ouvir a criança nas decisões importantes e saber o que ela sente, mas não devemos deixar essas decisões nas suas mãos. E, em tudo aquilo que envolve a relação, a iniciativa tem de partir de nós mesmo. Por exemplo, não acredito que devemos esperar até que uma criança nos diga que tem fome para lhe dar comida, nem sequer devemos dar liberdade a uma criança pequena para ir à cozinha servir-se sempre que tem vontade. Fazer isto de vez em quando até pode não ter grandes implicações mas, por norma, é bom que a criança sinta que somos capazes de a alimentar, que somos capazes de conhecer as suas necessidades e de as adivinhar mesmo antes dela as expressar. A comida tem um valor muito simbólico e muito emocional ao mesmo tempo. Alimentar os nossos filhos não passa apenas pelo valor nutritivo mas também pelo gesto simbólico mas com bastante peso de mostrar que somos capazes de cuidar dele e que estamos disponíveis e atentos para o fazer e também que os conhecemos e sabemos do que precisam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A verdadeira autonomia acontece espontaneamente. Não podemos impedir uma criança de crescer mais do que impedimos uma semente de se tornar árvore, quando encontra as condições ideias para fazê-lo. Então se criarmos essas condições a criança terá o desejo de se tornar autónoma espontaneamente e não precisamos de fazer nada para o estimular, tal como não fazemos nada para uma árvore crescer a não ser regá-la e ter a certeza de que tem tudo o que precisa. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
E uma das condições essenciais para o crescimento saudável dos nossos filhos é sentirem que somos capazes de os proteger, cuidar e orientar. Só assim eles podem verdadeiramente relaxar. Enquanto isto não acontecer terão de estar sempre em alerta e tensão e a carregar um peso muito maior do que aquele que deveriam enfrentar e é daqui que vêm muitos problemas de ansiedade e de comportamento que nem sempre sabemos resolver. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Muitas vezes os pais ou até educadores deixam as crianças entregues a si mesmas a tomar várias decisões diárias, desde a roupa que vestem até outro tipo de coisas e depois queixam-se que elas não conseguem seguir orientações e nunca querem cumprir ordens. <b>Quando deixamos a criança demasiado entregue a si mesma é natural que ela crie muitas resistências a seguir as nossas orientações porque está num papel de liderança.</b> E, se muitas vezes isto é confundido com autonomia, a verdade é geralmente nestas situações depois aparecem alguns problemas com que os pais não sabem lidar como discussões constantes e várias explosões e problemas de comportamento que mostram uma grande dificuldade de gerir toda a ansiedade que se acumula quando uma criança passa demasiado tempo entregue a si mesma.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como lidar com isto </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A primeira coisa que precisamos de fazer é perguntar-nos se somos capazes de convidar a dependência.</b> Os nossos filhos têm ser capazes de depender de nós porque só assim se sentirão seguros. Mas para isso nós não podemos ter medo do que essa dependência representa. E precisamos de ter a certeza de que estamos preparados para assumir o nosso papel de guias e orientadores dos nossos filhos.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mesmo nós, enquanto adultos, não existimos como ilhas isoladas, precisamos de ter uma ligação segura com alguém para nos sentirmos felizes. O<b>s seres humanos não existem no isolamento, precisamos de saber que alguém cuidará de nós, que alguém virá quando chamarmos, que alguém está disponível para nos acolher e ouvir. A verdadeira autonomia acontece quando não temos medo de depender dos outros, quando sabemos confiar, quando somos capazes de sarar as nossas feridas e deixamos de ter medo de nos entregar a alguém.</b> Esse é o verdadeiro crescimento: saber que já não precisamos de nos proteger e de agir em função da nossa criança ferida porque existe, pelo menos uma pessoa no mundo em quem podemos confiar, com quem podemos relacionar-nos sem medo de sermos feridos, abandonados ou rejeitados. E, para os nossos filhos, essa pessoa somos nós, precisamos de ser nós se queremos realmente construir uma ligação segura com eles. Se queremos que cresçam felizes, tranquilos e capazes de construir uma vida verdadeiramente rica e preenchida.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Vivemos numa sociedade obcecada com a autonomia mas em que tão poucos são realmente autónomos.</b> Não é por acaso que temos tantas pessoas que fogem de si mesmas através de dependências menos aceites como as drogas ou ao álcool mas também daquelas mais toleradas como as compras, a televisão ou até o trabalho. <b>Não é por acaso que temos tantas pessoas que precisam de psicofármacos para serem capazes de funcionar minimamente, não é por acaso que temos números tão elevados de ansiedade e depressão. Porque não somos realmente autónomos, por isso precisamos dessas muletas.</b> Porque algures no nosso passado não encontrámos todas as condições de que precisávamos e por isso ficámos com muito medo de crescer. <b>E como sentimos esse medo de crescer, de algum modo, temos medo que os nossos filhos também não cresçam e por isso tentamos compensar estimulando a autonomia por vezes de uma forma excessiva e desajustada. </b><br />
<b><br /></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpTljxB1jFv86aljeGWDJYWDmr4J-MsBC_zZ2IzmQXWBiSgk0EZ6_nnLEZSbvmt_RjS8uEzI5syK4TK_DoQiLw_2YX1qpjLpKXsAKsZ95-2woiusOeBFPby-JEkWR3RTwRMKqbOnJ8-1sf/s1600/IMG_20190817_133750.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpTljxB1jFv86aljeGWDJYWDmr4J-MsBC_zZ2IzmQXWBiSgk0EZ6_nnLEZSbvmt_RjS8uEzI5syK4TK_DoQiLw_2YX1qpjLpKXsAKsZ95-2woiusOeBFPby-JEkWR3RTwRMKqbOnJ8-1sf/s320/IMG_20190817_133750.jpg" width="240" /></a></b></div>
<br />
E, paradoxalmente, ao mesmo tempo que tentamos estimular essa autonomia de formas inadequadas também temos algum medo dela porque nunca se viram tantos pais a impedir os filhos de correr e brincar livremente, de subir às árvores e de andarem sozinhos na rua como nos nossos dias. Porque algures dentro de nós essa criança ferida também ainda não sabe se será capaz de acolher o choro das nossas crianças quando elas se magoarem. <b>Essa criança ferida quer a todo o custo mantê-las seguras e protegidas só que ainda não conseguiu perceber que a única protecção que lhes podemos dar é deixá-las crescer livremente mas seguras da nossa presença. Deixá-las partir para o mundo sabendo que podem sempre voltar para nós e que seremos sempre capazes de as confortar apenas porque existe essa ligação inquebrável entre nós que não as pode proteger das feridas que o mundo faz mas pode dar-lhes coragem e resiliência para as sarar no conforto do nosso amor e dos nosso colo. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-89383603296387133882019-11-05T09:09:00.001-08:002019-11-05T09:09:40.662-08:00Curso de Comunicação neuro-consciente<div style="text-align: justify;">
"<b>É impossível não comunicar</b>" é um dos axiomas da teoria da comunicação humana, que me lembro de aprender na faculdade e de que nunca me esqueci. De facto comunicamos todos os dias, de várias maneiras diferentes, não apenas quando falamos. <b>Comunicamos com o nosso corpo, com os gestos que fazemos, com o tom de voz que usamos, com as expressões faciais e com tantas outras coisas mais ou menos subtis de que nem sempre nos apercebemos. </b>Uma boa parte da comunicação acontece de forma inconsciente. Também estamos constantemente a processar sinais da comunicação das outras pessoas e, durante a maior parte do tempo, também o fazemos de forma inconsciente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguAXD_AB2utlbLgYlUFyYH9tOgoklNch4_MYUva1xciRcjFHUbi6MhASqFXjidhOUDEqYUkZitPhpAYZQjAkCsQy41sfGwTWXc2OzJaAfpon7TVdRSIdh-84A5jqhLA5hAbtE7_pnY6JJ_/s1600/20191104_150254_0000.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1132" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguAXD_AB2utlbLgYlUFyYH9tOgoklNch4_MYUva1xciRcjFHUbi6MhASqFXjidhOUDEqYUkZitPhpAYZQjAkCsQy41sfGwTWXc2OzJaAfpon7TVdRSIdh-84A5jqhLA5hAbtE7_pnY6JJ_/s320/20191104_150254_0000.png" width="226" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A teoria polivaga explica que temos uma capacidade chamada neurocepção que nos permite fazer essa avaliação constante não só das pessoas que estão perto de nós mas também do ambiente em que nos inserimos. </b>Tudo o que faz parte do ambiente à nossa volta influencia a maneira como nos sentimos e as nossas reacções. A neurocepção faz-nos ler e interpretar constantemente os sinais do nosso corpo em reacção ao ambiente externo, às outras pessoas ou em reacção a algo que venha de dentro de nós mesmos. E também é esta capacidade que, por vezes, nos faz entrar em estados de alarme, mais ou menos intensos que, por sua vez, vão também condicionar a nossa forma de comunicar e de nos relacionarmos com as pessoas à nossa volta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Existem algumas fórmulas muito válidas de praticarmos uma comunicação mais consciente. </b>Gosto muito do Marshal Rosemberg e do seu modelo de Comunicação não violenta que nos ensina a comunicar as nossas necessidades respeitando as outras pessoas e de forma a que elas não fiquem numa posição defensiva, o que aumenta muito a probabilidade de sermos realmente ouvidos e de termos essas necessidades preenchidas. <b>Este é um modelo muito válido e interessante, o problema é que não é nada fácil aplicá-lo quando alguma coisa já fez disparar os nossos botões de pânico e estamos em pleno estado de alarme. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /><b>E estes estados de alarme acontecem com alguma frequência, sobretudo nas relações mais íntimas, como entre pais e filhos ou em relações de casal, porque são também aquelas que despertam em nós sensações e emoções mais intensas.</b> É este estado de alarme que tantas vezes nos faz gritar, ralhar ou dizer coisas de que mais tarde acabamos por nos arrepender. </div>
<div style="text-align: justify;">
E acontece também muitas vezes não termos total consciência de que estamos nesse estado de alarme, sobretudo quando ele é um pouco mais ligeiro. Isso quer dizer que também não teremos consciência de que a nossa comunicação está a ser afectada por esse estado de alarme. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Então a primeira coisa a fazer, para melhorarmos a nossa comunicação com os outros, é tomarmos consciência desses estados.</b> Isso faz-se entrando em contacto com o corpo e treinando-nos para estarmos mais atentos aos seus sinais. Para isso o Mindfulness pode ser uma ajuda preciosa, porque nos ensina a escutar e a acolher as sensações do nosso corpo sem precisarmos imediatamente de as analisar ou corrigir, como muitas vezes temos tendência para fazer no nosso dia-a-dia. <b>É através desta tomada de consciência do corpo e dos seus sinais que podemos mais facilmente começar a perceber o que é que desperta o nosso alarme, quais são os nossos gatilhos.</b> E o simples facto de nos tornarmos mais conscientes dos nossos botões de pânico e daquilo que acontece quando estes disparam, também nos ajuda a lidar melhor com essas situações que sentimos como ameaçadoras e a reduzir muito o seu impacto na nossa vida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI5wIVCghAoqi-0XWOnZl-EVDgIDL5fGfHrRyp3nADrcX_ARvIQ9K4JNC_LCjPb8P20p34BjEe6obQxMB6jJYyLhWsS8a2TOXpqPGQQL-zI7V86WmqML8TwHCVQpE_J4sce0JcKpo1bbSB/s1600/IMG_20191102_185840_651.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="903" data-original-width="1080" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI5wIVCghAoqi-0XWOnZl-EVDgIDL5fGfHrRyp3nADrcX_ARvIQ9K4JNC_LCjPb8P20p34BjEe6obQxMB6jJYyLhWsS8a2TOXpqPGQQL-zI7V86WmqML8TwHCVQpE_J4sce0JcKpo1bbSB/s320/IMG_20191102_185840_651.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Para descobrirmos isto ajuda também termos alguma consciência da nossa história pessoal. <b>Porque as experiências que vivemos sobretudo as mais intensas e aquelas que aconteceram nos primeiros anos das nossas vidas vão deixando algumas marcas que definem aquilo que sentimos como ameaçador. Na verdade não existe nada mais ameaçador para qualquer ser humano do que sentir que está a ser ameaçada a ligação com as pessoas mais importantes da nossa vida. Mas aquilo que nos faz sentir isso varia de pessoa para pessoa e depende muito das nossas experiências.</b> Então, entrar em contacto com a nossa própria história e perceber aquilo a que se chama o nosso padrão de apego também é importante para conhecermos os nossos gatilhos. E é muito útil para melhorarmos os nossos relacionamentos, sobretudo com os nossos filhos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b><u>Neste curso de comunicação vamos explorar todos estes pontos importantes:</u></b> vamos aprender algumas formas de comunicação mais consciente, mas vamos também, sobretudo perceber que precisamos de entrar em contacto connosco, de conhecer a nossa história, de identificar os nossos gatilhos e os nossos sinais de pânico para sermos capazes de aplicar mais facilmente essas fórmulas. Vamos aprender também a identificar melhor os nossos estados de alarme para podermos lidar melhor com eles. E perceber o impacto que a nossa história de vida tem naquilo que desperta o nosso alarme e também no tipo de resposta que é despoletada por ele. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="199" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzTitSWyTYe4LFvXMK8hVHWb3JcjPRGtIsGAxWDdkgOM9BMtooaJWfGhybn-73QLmF1FS6PlVOTW4PflmEynn_PhAqawCEemNQD-ggulGHteBQGC5W_kkqiU9SeUJuVDjgaMiH4xKlWZvK/s200/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Vamos fazer isto através da exposição teórica destes temas e de alguns conceitos importantes mas também através de exercícios e da partilha de experiências que irá acontecendo ao longo das quatro sessões. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>É um curso que pode ser útil para melhorar o relacionamento entre pais e filhos, mas também entre casais ou para qualquer pessoa que sinta que gostaria de melhorar a sua comunicação e a sua compreensão do impacto que esta pode ter na sua vida e nos seus relacionamentos. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-84169455613451479772019-09-27T02:48:00.002-07:002019-09-27T02:48:38.605-07:00Adolescências compridas e rituais imaturos <div style="text-align: justify;">
<br />
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 324.0pt;">
Estamos
outra vez naquela altura do ano em que se vêem perto das universidades uma
série de jovens com uma espécie de farda - que só por si já demonstra bem a
insensatez de tudo aquilo a que está associada uma vez que é exactamente a
mesma quer faça chuva quer faça sol, quer estejam 10 ou 40 graus centígrados - envolvidos
em actividades que envolvem gritos e humilhações várias a um outro grupo de
jovens que ainda não tem o direito de vestir a tal farda e que se vai deixando
mandar, humilhar e dirigir.</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 324.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
Este é
um fenómeno a que é difícil ficar indiferente e que, apesar de não ter números
oficiais, me parece ter crescido bastante sobretudo na última década.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por isso é importante compreendermos o que
estará na origem deste crescimento e porque ele pode ser encarado como um dos
sinais que algo não está a funcionar como deveria na nossa sociedade. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCZEoq7iwFggKtyuhETQcdq6N6gxuOfBTQssKxxytk9mhaEp7sQ_2_PRDEjVHHshqLnEhwhMUolxDQ_iVsha5XQC5vFc4Hbs-DPzniNyuFZbqfyCswxn8lrtPaGvnhBZP_2Mf3fukDVHZk/s1600/people-4050698_640+%25281%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCZEoq7iwFggKtyuhETQcdq6N6gxuOfBTQssKxxytk9mhaEp7sQ_2_PRDEjVHHshqLnEhwhMUolxDQ_iVsha5XQC5vFc4Hbs-DPzniNyuFZbqfyCswxn8lrtPaGvnhBZP_2Mf3fukDVHZk/s320/people-4050698_640+%25281%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
<b>Adolescência mais longa </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
<b>Primeiro é
importante termos consciência de que, neste momento, nas sociedades ocidentais,
temos a mais longa adolescência da história da humanidade</b>. Os nossos jovens
entram cada vez mais cedo na adolescência e saem dela cada vez mais tarde: há
cem anos atrás a idade média para o aparecimento da menarca andava por volta
dos quinze anos hoje, em média, acontece aos doze. E, se nessa altura era perfeitamente
natural que rapazes e raparigas de dezassete ou dezoito anos já estivessem
casados e a trabalhar, integrados na sociedade como adultos, hoje ainda
precisam de mais algum tempo até os considerarmos realmente aptos a desempenhar
esse papel. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 63.75pt 282.75pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Com o
prolongar desta fase que estaria de certo modo programada para ser apenas uma
transição relativamente rápida do estado de criança para o estado de adulto é
natural que surjam algumas complicações para as quais ainda não temos resposta.
</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Falta de rituais de passagem </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Nas sociedades
tradicionais havia sempre ritos de passagem importantes para marcar a transição
de um estado para o outro e a entrada na vida adulta. Nessas sociedades a
adolescência era vista muito mais como uma ponte entre dois estados do que como
um estado em si mesmo. <b>Aliás a palavra adolescência tem origem no latim e
significa crescer para, o que nos mostra que é suposto que seja apenas uma fase
transitória entre dois estados. Esta definição é importante porque influencia a
forma como nos relacionamos com os adolescentes: se nos lembrarmos que eles não
são crianças nem adultos, mas que estão algures entre os dois, fica mais fácil
percebermos aquilo de que precisam e saber de que forma devemos relacionar-nos
com eles. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Nas nossas
sociedades perdemos esses rituais que os jovens tentam, de algum modo, recriar
com as praxes académicas.</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
O problema
deste tipo de ritual é que eles não são criados e suportados pelos adultos que
deveriam ainda ser a referência e o modelo desses jovens mas vão sendo improvisados
pelos próprios.</div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Um ritual de
passagem tradicional cumpre uma função específica de ajudar o jovem a
despedir-se do seu estado anterior e a sentir que está pronto para entrar na
vida adulta. Os rituais de passagem tradicional são feitos com o apoio dos
adultos envolventes e servem para ajudar à integração na sociedade adulta, ao
mesmo tempo que ajudam os jovens a tomar consciência das suas novas
responsabilidades mas também das suas capacidades procurando transmitir-lhes
uma sensação de poder e competência, através do simbolismo das tarefas que eles
precisam de realizar e que poderão desempenhar um papel importante na
construção de uma nova auto-imagem. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Porque esta é
realmente a tarefa principal da adolescência: a capacidade de criar uma nova
imagem de si mesmo, agora separada da família e a capacidade de se afirmar e
integrar na sociedade com essa nova consciência de si e do seu papel na vida e
na comunidade. Ora nada disto é conseguido com as praxes: antes pelo contrário
até. </b>Porque aquilo que vemos nas praxes são jovens imaturos e incapazes de se
encontrarem e de criarem uma verdadeira autonomia. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Condições necessárias para uma transição segura, para que o amadurecimento se torne possível:</b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI8kdDmrQGHKaU610NQHSPaGKlOqFBq7PGcE-UnezBRrh6kKsy5jhPQJf-NA473DReJquWAcRnrj-Z5t2HilrAkFC00oG6RyILr-6nT0MajMNLXCuyozaz4sYUhCnVRUTsg8H6zyJL-FvZ/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="958" data-original-width="960" height="319" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI8kdDmrQGHKaU610NQHSPaGKlOqFBq7PGcE-UnezBRrh6kKsy5jhPQJf-NA473DReJquWAcRnrj-Z5t2HilrAkFC00oG6RyILr-6nT0MajMNLXCuyozaz4sYUhCnVRUTsg8H6zyJL-FvZ/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta+conhecimento.jpg" width="320" /></a>Para que um
adolescente encontre a sua identidade, para que seja capaz de se descobrir de
se conhecer e de se afirmar e integrar sem precisar de se perder de si mesmo
são precisas algumas coisas fundamentais: primeiro é preciso que lhe tenha sido
permitido encontrar a segurança de ter ligações fortes e estáveis com as
pessoas mais importantes da sua vida, idealmente os pais, e que estas lhe
tenham demonstrado que é seguro estar no mundo, explorá-lo e explorar-se a si
mesmo; depois é preciso que essas pessoas continuem a ser uma referência e um
modelo a seguir. Para isso é preciso que elas se mantenham por perto, presentes
e disponíveis mas que, ao mesmo tempo, saibam dar o espaço necessário aos
jovens para que estes se possam descobrir e olhar para dentro sem medo. <b>E isso
é algo que falta muito aos adolescentes dos nossos dias: esse tempo para olhar
para dentro e a segurança de não terem medo daquilo que irão encontrar por
saberem que terão sempre alguém, mais maduro e consciente, que estará presente
para os ajudar a lidar com isso. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b><br /></b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Na verdade as
praxes são também o sintoma de um fenómeno bastante comum no nosso tempo e que
está na origem de muitos problemas: o fenómeno da orientação para os pares -
nome dado pelo psicólogo canadiano Gordon Neufeld a este fenómeno que faz com
que os adultos deixem de ser modelos e referências para os jovens que passam
assim a querer agradar apenas aos outros jovens e que nos coloca numa posição
muito mais secundária do que aquela que seria desejável. É este fenómeno que
podemos observar tantas vezes quando comentamos que hoje os jovens não
respeitam os professores, por exemplo. Isto acontece sempre que os adultos
deixam de ser uma referência. É fácil observar que, pela primeira vez na
história também, os ídolos dos nossos adolescentes são, em grande parte, também
eles adolescentes. E um adolescente, visto que está também ele em transição, não será com certeza o melhor modelo a seguir para outro adolescente. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
É um lugar
comum dizermos que os adolescentes precisam de encontrar o seu grupo e que é
natural que procurem esse sentimento de pertença. É verdade que nesta fase a
necessidade de pertencer a um grupo se torna mais forte porque os adolescentes,
por estarem em transição, têm alguma tendência para se sentirem sozinhos
(porque a auto-descoberta tem sempre uma componente grande de solidão inevitável)
mas também porque nesta altura há um instinto grande de querer encontrar o seu
lugar no mundo, na sociedade, fora da família. <b>Para as crianças tudo o que é
mais importante é pertencer à família, para um adolescente é preciso sair dela
e é muito fácil ceder à tentação de a substituir por um grupo. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Mas é
importante compreender que a procura desse sentimento de pertença não pode e
não deve levar à perda da individualidade e é exactamente isso que acontece
quando temos grupos de jovens que se vestem da mesma maneira, falam da mesma
maneira e se portam da mesma maneira. Isto significa que houve um processo de
maturação que não chegou a acontecer como deveria. </b>Se pensarmos nas crianças,
por volta dos dois ou três anos de idade, é muito comum começarem a querer
imitar tudo o que os pais ou irmãos mais velhos fazem ou dizem. E faz sentido
que assim seja porque, nessa fase com a imaturidade característica e própria deste estágio, é só assim que conseguem ter o sentimento de pertença que
lhes dá a segurança necessária para crescer. Mas, se tudo correr bem com o seu
desenvolvimento, vão começando a encontrar outras formas de se sentirem seguras
e ligadas às pessoas importantes. Estes adolescentes, na verdade, ainda não
desenvolveram esses mecanismos mais complexos que lhes permitem sentir-se ligados
às pessoas importantes e continuam a portar-se como crianças de dois anos que
precisam de ser iguais a elas para se sentirem ligadas a essas pessoas. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Porque é que
isto é um problema? </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>Primeiro
porque mostra que algo correu mal no seu desenvolvimento, depois porque não
permite que esse desenvolvimento continue a acontecer</b>. Cria um bloqueio. <b>Não
podemos construir uma relação verdadeira com os outros se nos perdemos de nós
sempre que estamos com eles.</b> Se não conseguimos agarrar-nos com força suficiente
à nossa identidade quando estamos com os outros - que inclui os nossos gostos,
as nossas motivações e os nossos valores - então também não conseguimos criar ligações
verdadeiras com eles. Ficamos presos a uma identidade e a um comportamento
tribal em que qualquer coisa que seja diferente nos faz sentir ameaçados,
porque acreditamos que vamos perder essa ligação com os outros se formos
diferentes deles. <b>Estas ligações que dependem dessa identificação mais
superficial são muito fracas e facilmente ameaçadas.</b> Por isso é que as crianças
precisam tanto que os pais mostrem constantemente que estão seguras, que gostam
delas e que se esforcem para manter a ligação e também é por isso que é tão
fácil assustarem-se quando nos zangamos com elas. Porque a capacidade de
guardarem dentro de si esse amor e de se sentirem seguras com ele ainda é muito
limitada. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<b>É preciso
haver maturidade para sermos capazes de nos agarrar ao amor dos outros e pelos
outros mesmo e ainda mais quando existem diferenças grandes entre nós. E para
isso temos que nos sentir seguros também com quem somos, com a nossa
identidade. Então, não é demais dizer que este comportamento tribal que as praxes
representam, mesmo que de uma forma simplista, está na base de tudo o que
também acaba por levar às guerras, à intolerância e a comportamentos como o racismo e a xenofobia. Porque todos eles têm na sua origem este medo de nos
sentirmos ameaçados por aquilo que é diferente. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKv6FmonjTQTCZ40eJueuPQPUZ94GjIzVAM8-5-0Q_xZ5-iyJMWIZHiMpyVfn3qloLC-0aBfPsrNdYkyJ5NkONzm6W382FI9BV4gqG6yMiLX98T01L5JmgpJY_z50mj62uCiu4i9buVP9G/s1600/capa+mindfulness+para+pais.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="392" data-original-width="291" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKv6FmonjTQTCZ40eJueuPQPUZ94GjIzVAM8-5-0Q_xZ5-iyJMWIZHiMpyVfn3qloLC-0aBfPsrNdYkyJ5NkONzm6W382FI9BV4gqG6yMiLX98T01L5JmgpJY_z50mj62uCiu4i9buVP9G/s200/capa+mindfulness+para+pais.jpg" width="148" /></a>Uma pessoa
madura, adulta e segura de si não tem tanta necessidade de entrar em tribalismos
porque também não se sente tão ameaçada pela diferença. <b>Isto não quer dizer que
não tenha necessidade de pertencer a um grupo, já que somos seres sociais e
sabe-se que essa pertença a um grupo pode estar também na base da nossa
satisfação com a vida mas é preciso distinguir entre os grupos que anulam a
nossa identidade e autonomia, como as seitas e as praxes que funcionam de
formas muito semelhantes, e aqueles onde nos é permitido estar realmente com as
pessoas, em relações autênticas, em que não precisamos de nos perder de nós
próprios. </b></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
Então
precisamos de olhar para este fenómeno das praxes e compreender que é apenas um
sintoma de uma falta grande no desenvolvimento destes jovens e tentar
compreender de que forma é que poderemos preenchê-la no futuro. E isso começa
com a capacidade de criarmos ligações seguras e de não termos medo de estar
presentes, disponíveis e de coração verdadeiramente aberto para os nossos
filhos ao longo de toda a sua vida. E de não termos medo de assumir e reclamar esse papel de guias e de orientadores também com os adolescentes que tiverem um papel importante nas nossas vidas. </div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="tab-stops: 119.25pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-25865234913528441632019-06-24T08:23:00.002-07:002019-07-22T08:36:36.389-07:00Entrevistas - Amar não Basta <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Deixo aqui algumas entrevistas que dei a propósito do meu último livro Amar não Basta. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://sicmulher.pt/programas/faz-sentido/videos/2019-07-11-Amar-nao-basta?fbclid=IwAR2wUd0mNgjrG7x7VBtw7L0Wva0i3EWSYhF4Za3yFNztpvm-NETvETQYoi4">Entrevista no programa Faz Sentido </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://www.cm-tv.pt/programas/entretenimento/manha-cm/detalhe/saiba-como-criar-um-vinculo-forte-com-os-seus-filhos">Entrevista na CMtv</a> no programa Manhãs CM </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="text-align: center;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="text-align: center;">Entrevista em vídeo com a Catarina Beato, do </span><a href="https://diasdeumaprincesa.pt/2019/05/amar-nao-basta-livro.html" style="text-align: center;">Dias de uma Princesa</a>.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/QVPtImvOeXI/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/QVPtImvOeXI?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/4jUeWgYgWSA/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/4jUeWgYgWSA?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />
Entrevista na revista <a href="https://life.dn.pt/entrevista-a-laura-sanches-os-bebes-sofrem-de-stress-como-nos/">Dn Life - os bebés sofrem de stress como nós</a><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtQermUyXB_bNs3imTRlL0ec-9GEgRW3CocKziQCFc8gmwOCjuoYs4l-kM6TQ8Aa5ggAza-jExQlqgQndoOmTBKzuGoNd6krhbNa0sodBv80ObKEJtWenvcbiiPCXaB0DooT4HFURS7nx3/s1600/Screenshot_20190617-191145.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgtQermUyXB_bNs3imTRlL0ec-9GEgRW3CocKziQCFc8gmwOCjuoYs4l-kM6TQ8Aa5ggAza-jExQlqgQndoOmTBKzuGoNd6krhbNa0sodBv80ObKEJtWenvcbiiPCXaB0DooT4HFURS7nx3/s320/Screenshot_20190617-191145.jpg" width="160" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Entrevista na Tsf para o programa Pais e Filhos </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://www.tsf.pt/programa/tsf-pais-e-filhos/interior/os-pais-podem-ter-duvidas-mas-nao-as-devem-expor-demasiado-10970432.html">Os pais podem ter dúvidas mas não as devem expor demasiado</a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://www.tsf.pt/programa/tsf-pais-e-filhos/interior/criancas-seguras-educam-se-melhor-11063294.html">Crianças seguras educam-se melhor</a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="https://www.tsf.pt/programa/tsf-pais-e-filhos/interior/castigos-nao-11094593.html">Castigos....Não </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-82763366560666268432019-05-24T03:26:00.003-07:002019-05-24T03:29:26.483-07:00Bullying, competividade e emoções <div style="text-align: justify;">
Hoje acordei a pensar em Bullying, algo que infelizmente parece cada vez mais presente no mundo real mas que se encontra ainda mais facilmente nas redes sociais. É importante falar deste fenómeno e compreender como é que ele acontece e também porque é que as redes sociais o tornam tão fácil, tão comum e tão presente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b>Fazer bullying é tratar mal alguém com o objectivo de nos sentirmos por cima, de nos sentirmos melhor, de nos sentirmos mais espertos mais capazes, mais competentes,</b> etc. Quando alguém faz bullying isso significa que, naquele momento, o seu único foco é conseguir esse sentimento de que é melhor do que o outro, seja em que domínio for. Então isto quer dizer que essa pessoa, pelo menos naquele momento, não está focada em sentimentos nem emoções, mas apenas em ter esse sentimento de conquista, de prazer momentâneo de que foi capaz de vencer o outro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Alguém que tem uma necessidade constante de fazer isto é alguém que, provavelmente, ao longo da sua história precisou de se defender muito, precisou de se fechar às emoções, aos sentimentos e precisou muito de se sentir importante e especial.</b> Todas as crianças precisam de sentir-se especiais, sobretudo nos primeiros anos de vida, todas as crianças precisam de se sentir únicas, apreciadas, capazes, competentes e especiais aos olhos das pessoas importantes para si. Quando isso não acontece é muito natural que a criança procure outras formas de se sentir especial e a competitividade excessiva pode ser um reflexo disso mesmo. Quando uma criança precisa repetidamente de ganhar nos jogos, nas corridas ou até mesmo nas notas isso pode querer dizer que aquela criança está à procura desse sentimento de que é boa, capaz, competente, única e especial que, deve vir, em primeiro lugar dos pais e não pode estar dependente das suas conquistas ou da apreciação dos outros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Muitas vezes temos medo de fazer os nossos filhos sentirem-se especiais, como se isso estivesse associado a uma incapacidade de lidarem com o mundo e com as frustrações. </b>Por isso é importante explicar que fazer uma criança sentir-se especial não é o mesmo que satisfazer todos os seus desejos ou aceitar passivamente todos os seus comportamentos. Não é o mesmo que fechar os olhos aos seus erros ou fracassos mas é simplesmente mostrar-lhe que a amamos apesar destes. Mostrar que esse amor não depende de nada daquilo que eles fazem mas que está simplesmente presente e não é posto em causa por nada que eles possam fazer. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Todas as crianças precisam de ver o brilho no olhar dos pais apenas porque estão presentes, apenas porque existem, apenas porque acabaram de entrar na sala. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando esse brilho nunca existiu ou esteve demasiado escondido por todas as outras preocupações que os pais tantas vezes têm então a criança cresce sempre com a sensação de que precisa de preencher esse sentimento de que é especial para alguém e irá procurar formas de o fazer. A menos que essa falta tenha sido tão grande que ela desista simplesmente de si e do mundo e de acreditar ou de esperar alguma coisa dos outros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Então alguém que tem um comportamento de bully está simplesmente a tentar preencher essa falha da única forma que conhece: humilhando os outros.</b> Isto acontece sobretudo entre pares, já que, quando todos estamos em igualdade de circunstâncias se torna mais fácil fazer sobressair essa necessidade de competir. Quando crescemos com essa sensação constante de que falta alguma coisa, se estamos rodeados de pessoas iguais a nós, como numa turma em que todos têm a mesma idade, por exemplo, é mais fácil sentirmos que essas pessoas estão a competir connosco por esses mesmos recursos que, inconscientemente, nos habituámos a sentir que são escassos. Então, precisamos desesperadamente de sentir que lhes passamos à frente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se ainda não desligámos completamente as nossas emoções podemos fazê-lo simplesmente tentando ter melhores notas que os outros, ou ser melhores no desporto ou em alguma outra coisa em que nos sintamos capazes de ficar por cima. Mas, se já fomos tão feridos na nossa capacidade de confiar e gostar dos outros que precisámos de fechar o coração para sobreviver então torna-se muito fácil entrar nesse jogo constante de humilhar e de tentar rebaixar os outros, sem sequer nos preocuparmos com aquilo que estarão a sentir. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>E depois temos as outras pessoas da turma, ou do grupo que, podem facilmente ir atrás desse comportamento apenas porque querem também sentir-se especiais e entrar num grupo dá-nos esse sentimento de pertença e de união de que todos precisamos.</b> E, mais uma vez, se as nossas feridas forem demasiado grandes podemos ficar mais focados nesse prazer temporário de nos sentirmos parte de um grupo, mesmo que para isso tenhamos que seguir um líder que maltrata alguém, do que nos sentimentos da pessoa que está a ser mal tratada. Até porque o sentimento de que somos nós contra alguém é sempre algo que serve para unir as pessoas e criar essa sensação de grupo que dá alguma gratificação temporária e ajuda a preencher essas falhas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Sobretudo na adolescência em que uma das tarefas é justamente a de pertencer a um grupo, porque é esse sentimento de pertença a um grupo que também nos ajuda a separar na família, algo que faz parte dos instintos naturais de um adolescente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<b>O que fazer quando os nossos filhos são vítimas de bullying </b></h3>
<div>
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Não serve de nada tentar falar com um bully e muito menos dizer-lhe que nos magoou. Porque isso só irá alimentar o seu sentimento de vitória, de conquista, de quem conseguiu ficar por cima.</b> </div>
<div style="text-align: justify;">
Então quando sabemos que alguma criança ou jovem, ou mesmo adulto, foi ou está a ser vítima de bullying o mais importante é focarmos a nossa atenção na vítima, primeiro, e não no bully. </div>
<div style="text-align: justify;">
Se for possível, a primeira coisa a fazer é retirarmos a criança da situação, afastando-a dessa pessoa ou grupo, falando com os adultos responsáveis sempre que isto acontece numa escola, para tentarem intervir e proteger a criança do ataque, afastando-a das situações em que ele acontece. Claro que isto tem que ser feito sem que a criança sinta que está a ser penalizada ou que é ela o problema. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRvTFldmZOHIzOHVcOf0j4qmGbaW8Mz1Pluw8o4zMKNuSLMgUHWiaquglo1xeX5fducbmiPT9LgZsqlpSB4rtiTaKQ30WeGjWbCxaTh8ZITwlehxug8LACUmedry7AmadoGGTVvXknCf4/s1600/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhRvTFldmZOHIzOHVcOf0j4qmGbaW8Mz1Pluw8o4zMKNuSLMgUHWiaquglo1xeX5fducbmiPT9LgZsqlpSB4rtiTaKQ30WeGjWbCxaTh8ZITwlehxug8LACUmedry7AmadoGGTVvXknCf4/s320/amar+n%25C3%25A3o+basta.jpg" width="320" /></a><b>Depois é fundamental que essa criança tenha uma ligação segura com alguém com quem possa falar sobre isso.</b> Não podemos evitar que os nossos filhos sejam magoados mas podemos dar-lhes um colo para falarem sobre isso e para vivenciarem as suas emoções mais dolorosas sem precisarem de as esconder em alguma parte de si.<b> E isso é a coisa mais importante que podemos fazer por alguém que sofre: dar-lhe um espaço para lidar com essas emoções, dar-lhe um ombro para chorar e um colo onde possa sentir-se seguro e acolhido. </b>Se a criança ou jovem tiver a segurança de saber que existe na sua vida, pelo menos uma pessoa, com quem tenha essa ligação segura, uma pessoa que a aceita, que a acolhe e que a ajuda a lidar com a dor e com os seus sentimentos ela estará preparada para enfrentar essas dificuldades e maus tratos do mundo sem que eles causem estragos demasiado grandes. </div>
<div style="text-align: justify;">
A coisa mais importante que podemos fazer pelos nossos filhos ou jovens com quem trabalhamos é mesmo esta: garantir que essa ligação segura existe com, pelo menos, um adulto. É esta ligação que protege de verdade e que lhes dá espaço para poderem entrar em contacto com os seus sentimentos e serem capazes de aprender a lidar com as emoções. Esta ligação não os impede de serem magoados ou maltratados mas garante que a dor desses maus-tratos não se torne demasiado grande para que possa realmente provocar estragos nas suas vidas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Depois precisamos de olhar para o bully como alguém que também foi ferido mas que se fechou de forma a não ter consciência dessa ferida.</b> Então aquilo que precisamos de fazer com esse bully, se nos for possível e quando não fomos nós a vítima, claro, é também sermos capazes de criar com ele uma relação de segurança Uma relação em que ele possa confiar que é seguro voltar a sentir, voltar a entrar em contacto com as suas emoções. Sem este trabalho que só pode ser feito por um adulto seguro, confiante e verdadeiramente disponível, nunca será possível lidar de forma verdadeiramente eficaz com este problema e mudar o comportamento do agressor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>E sem criarmos condições para que essas ligações existam nas vidas dos nossos filhos nunca iremos acabar com este fenómeno tão presente nos nossos dias. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<h3 style="text-align: justify;">
<b>Porque é que as redes sociais potenciam os fenómenos de bullying </b></h3>
<div>
<b><br /></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque é muito fácil chamar nomes a alguém que não estamos a ver. Quando falamos através de um ecrã não vemos o rosto das pessoas, não ouvimos o seu tom de voz, não temos qualquer tipo de pista das que normalmente usamos para perceber como é que as pessoas se estão a sentir. P<b>or isso é que as redes sociais também dão azo a muitos mal entendidos: porque nas redes sociais, através de um ecrã, ficamos todos completamente analfabetos no terreno emocional</b>. Isto porque é a comunicação não verbal que nos mostra como é que os outros se sentem e que influencia a nossa forma de comunicar com eles. Quando falamos com alguém ou quando alguém fala connosco estamos constantemente a avaliar, de forma inconsciente, a sua comunicação não verbal: o tom de voz, a prosódia, as expressões faciais, os gestos, etc. E nas redes sociais isto não acontece, por isso não temos nenhuma pista de como o outro se está a sentir e isso torna-nos praticamente analfabetos do ponto de vista emocional. Os emojis com expressões foram uma forma de colmatar isso mas são muito insuficientes quando comparados com os circuitos mais complexos que temos vindo a desenvolver ao longo de milhares de anos da nossa história. Por isso é muito fácil surgirem mal entendidos, mesmo quando comunicamos com boas intenções. </div>
<div style="text-align: justify;">
E também se torna muito fácil mal tratar alguém que não estamos a ver como reage. E, mais uma vez, aqui também procuramos sentir-nos parte de um grupo apoiando quem mal trata ou sentir-nos líderes desse grupo rebaixando e criticando outras pessoas. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não estamos programados para lidar com ecrãs, mas sim com pessoas. Ainda temos muito a aprender com as novas tecnologias e com a forma como lidamos com elas. E infelizmente, parece que também ainda temos muito que aprender sobre as nossas emoções e sobre como lidar com elas de maneira mais construtiva. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso e para que isto não aconteça a melhor coisa que podemos fazer pelos nossos filhos é não ter medo de estarmos verdadeiramente presentes nas suas vidas e de os ajudar a lidar com as suas próprias emoções, dores e frustrações sempre que elas acontecem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirfGEyBYdJy6BX9SltT8BIQBifeETUf6lnwmXEu_zsxyxGSvaBDVOpVCtm_pYNAis3omCKWNqD3Hqsd4mshMtXKYuOzV7IlW4_ckydiXSeLUbI6eo5ZEShcq15jsKjwEroG1JSWM9nxi2Q/s1600/n%25C3%25A3o+%25C3%25A9+o+mimo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="789" data-original-width="940" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirfGEyBYdJy6BX9SltT8BIQBifeETUf6lnwmXEu_zsxyxGSvaBDVOpVCtm_pYNAis3omCKWNqD3Hqsd4mshMtXKYuOzV7IlW4_ckydiXSeLUbI6eo5ZEShcq15jsKjwEroG1JSWM9nxi2Q/s320/n%25C3%25A3o+%25C3%25A9+o+mimo.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-10488570281587264772019-04-05T03:02:00.001-07:002019-04-05T03:02:27.508-07:00Entrevista - Páginas Soltas Para quem quiser ouvir deixo aqui o link para uma entrevista da rádio Torres Novas, no programa Páginas Soltas, com a Sandra Barbosa.<br />
<br />
<a href="https://www.mixcloud.com/torresnovasfm/p%C3%A1ginas-soltas-com-laura-sanches/?fbclid=IwAR2LvXDyn3-jNStGvBNokcF1lXJ5_oLumFTDyp5rSbbd-n1U3ZEHrTSRFkY">Entrevista </a>Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-65087944215050602962018-09-13T09:54:00.003-07:002018-09-13T10:01:04.111-07:00Apego, separações, trauma e crimes violentos <div style="text-align: justify;">
Estamos numa altura do ano em que milhares de crianças voltam à escola e em que outras tantas estão a começar pela primeira vez este percurso. E isto traz muitas vezes lágrimas e protestos aos filhos e muitas angústias aos pais. Muitas vezes essas lágrimas são encaradas com naturalidade e fazem-nos crer até que elas são parte essencial do processo de adaptação.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outras vezes também há quem diga que para evitar essas lágrimas é importante que a criança vá o mais cedo possível para a escola, porque quanto mais cedo se fizer essa adaptação mais facilmente ela acontece.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Também há quem defenda que os pais não podem ficar na sala e que têm que se despedir rapidamente para não prolongarem o sofrimento das crianças.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas nenhuma destas afirmações é verdade e todas elas têm por base um grande desconhecimento daquilo que é o funcionamento de um instinto básico e fundamental para o desenvolvimento da criança: o instinto de apego. </b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade temos todos, enquanto sociedade, um grande desconhecimento da forma como este mecanismo funciona e das suas implicações para o desenvolvimento das crianças e da forma como podermos educá-las. No meu livro Mindfulness para Pais, explico de uma forma mais aprofundada a importância deste conceito e a forma como toda a nossa personalidade se molda à volta deste instinto e em função dele. E a forma como é importante compreendermos e reconhecermos a nossa própria história para sermos capazes de respeitar, proteger e nutrir este instinto também nos nossos filhos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s1600/capa+mindfulness+para+pais.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="392" data-original-width="291" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s320/capa+mindfulness+para+pais.jpg" width="237" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já foi há mais de 60 anos que Bowlby chamou a atenção para o facto das crianças terem este instinto básico que as leva a estabelecer uma relação única e intensa com a pessoa que cuida delas e foi também ele que observou, pela primeira vez, a forma como a ausência dessa pessoa influenciava o comportamento das crianças. Foi através do trabalho de Bowlby que a presença dos pais passou a ser permitida nos hospitais, por exemplo, quando as crianças precisavam de ser internadas. Antes disso pensava-se que esta presença só servia para atrapalhar os médicos e enfermeiros e até prejudicar o tratamento.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O trabalho dele também foi muito importante para começar a mudar a política das instituições de acolhimento que passaram a reconhecer que era essencial para as crianças ter a possibilidade de estabelecer uma relação preferencial com um adulto cuidador. Porque, como explico no meu livro, as crianças a quem isto não era permitido não tinham um desenvolvimento normal e até apresentavam uma taxa de mortalidade muito superior ao que seria esperado.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, mesmo que tenha havido uma grande evolução na forma como entendemos as crianças, ainda assim continua a haver um desconhecimento geral do impacto que tem este instinto em que tudo o que fazemos com as nossas crianças incluindo a entrada na escola. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há pouco tempo vi um um novo vídeo de uma criança que esteve separada dos pais pelas políticas do Donald Trump em relação aos imigrantes, de que já falei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/2018/06/criancas-separadas-dos-pais-e-politica.html">aqui</a>. Este vídeo demonstra bem como este desconhecimento pode ser prejudicial e como é importante educar os pais e a sociedade em geral para a importância deste instinto de apego e para a forma como ele se manifesta e para as consequências que existem quando ele não é respeitado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em primeiro lugar é óbvio que, se este instinto fosse compreendido e respeitado este tipo de políticas nunca existiria. Mas depois é preciso perceber o que acontece quando se separa uma criança pequena dos pais. Uma criança pequena está programada para se manter perto dos seus pais e em sítios familiares. <b>Todas as crianças saudáveis, quando são pequenas, mostram alguma relutância em falar com estranhos, em estar ao colo deles ou em ser tocadas ou abraçadas por pessoas estranhas. Podem demonstrar isto de forma mais ou menos intensa, mas é natural e saudável que o demonstrem, ao contrário daquilo que tantas vezes nos dizem. </b>Porque uma criança pequena não sobreviveria sem os seus pais a natureza certificou-se que isto estava bem incutido nos seus genes e na sua programação inata. <b>Por isso instinto é mesmo a palavra certa: porque não é aprendido, nem pensado, nem adquirido. Todos os bebés nascem com um instinto básico de estabelecer relações com as pessoas que cuidam se de si.</b> E há vários indícios que o demonstram: como a preferência que todos os bebés têm por caras humanas, como a capacidade de o recém nascido reconhecer o cheiro do leite da sua mãe, como o sorriso que surge entre as 6 e as 8 semanas e começa por ser dirigido a qualquer pessoa mas que, com o tempo, passa a aparecer apenas com as pessoas a quem o bebé se sente ligado, ou a necessidade de colo que todos os bebés demonstram com maior ou menor intensidade, isto para dar apenas alguns exemplos.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então, este instinto faz com o que o bebé e a criança procurem aprofundar a relação com os seus pais, ou com as pessoas que cuidam de si ao mesmo tempo que também lhe diz que é mais seguro manter-se em sítios que sejam familiares e conhecidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s1600/foto+tome.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="638" data-original-width="478" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEvajHK4N1bRpmhd29lKP2gyJfD44IqKr9mSvHOEpiTHFTyXf_4IYFGhgqouCl_hW1KIFyiYqNuZVQ2RyCBADB8IjJ45mLLrHwqANCMZM067Ij1Gpa9njMe1nd_1dxiu-BNFLMITZclDbD/s320/foto+tome.jpg" width="239" /></a></div>
<b>Por isso sempre que a criança está num sítio desconhecido é activado o seu sistema de alerta e a única forma de desligar esse sistema de alerta é através da presença dos pais, ou de outra pessoa com quem haja uma relação de apego, que faz com que a criança se sinta segura novamente. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Então isto quer dizer que, na ausência de uma figura de apego para a criança, esse estado de alerta que acontece num sítio novo ou desconhecido, não irá desaparecer. Mas ninguém aguenta ficar em estado de alerta durante muito tempo, porque isto tem um custo demasiado elevado para o organismo. Este estado provoca uma série de alterações fisiológicas que podem provocar danos quando são mantidas por demasiado tempo, como acontecia no caso desses bebés em instituições, que morriam mesmo por não terem com quem estabelecer relações.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Então, uma forma de lidar com isto é desligar esse alarme, como mecanismo de defesa. Mas a única forma de desligar o alarme é desligar também o instinto de apego, que é a origem do alarme neste caso. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Esse vídeo (que pode ser visto <a href="https://www.huffingtonpost.com/entry/child-development-experts-explain-that-disturbing-family-reunification-video_us_5b85d182e4b0162f471d5109">aqui</a> ) mostra um rapaz de 3 anos que esteve separado da mãe durante alguns meses bem como a sua irmã bebé. A irmã bebé está ao colo do pai e não parece mostrar grande interesse em estar ao colo dele, como se não o reconhecesse. Mas com o rapaz de quatro anos o que se passa é ainda mais impressionante: a mãe chora e quer agarrá-lo para o beijar, mas o rapaz recusa-se a deixá-la agarrá-lo e afasta-se fugindo dela. Isto deixa a mãe desesperada e sem compreender bem o que se passa com ele.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há um filme de 1952 que se tornou histórico e mostra uma criança de 2 anos que foi internada num hospital, durante oito dias sem a presença dos pais que só podiam visitá-la, durante uma ou duas horas por dia. A pequena Laura nesse vídeo mostrou justamente o que acontece nestes casos: primeiro há o desespero da criança que sente esse estado de alarme e não pode fazer nada para o neutralizar porque não tem a presença dos pais, depois a criança entra numa espécie de conformismo que começa com uma atitude de tristeza e de apatia em que a criança está como que a desligar-se dessa parte de si própria e depois disso pode até portar-se como se não se tivesse passado nada e voltar a parecer alegre e até com um certo grau de tranquilidade. Se a ausência não for demasiado grande, a criança pode voltar a mostrar interesse em estar com os pais e volta a ficar desesperada quando eles partem, era o que acontecia com a pequena Laura. Mas, ao final de uma semana no hospital, quando os pais finalmente vêm buscá-la para voltar para casa o que se vê é a pequena Laura a andar atrás dos pais, sem procurar o contacto físico com eles e sem sequer se mostrar muito interessada em voltar para casa ou em estar com eles. Isto quer dizer que ela já tinha desligado completamente esse instinto e por isso já não mostrava nenhum interesse em estar com pais. E foi justamente isso que aconteceu também com este outro menino do vídeo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Porque é que é importante que os pais saibam isto ? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Primeiro porque isso ajuda a que percebam que a criança não está simplesmente zangada e pode nem sequer estar consciente de que desligou essa parte de si. Isto pode ajudar também os pais a que não se sintam tão frustrados ou impacientes ou inseguros, quando a separação não foi da sua responsabilidade ou quando não tiveram como evitá-la.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depois porque compreendendo isto também nos permite dar tempo à criança para ser capaz de reactivar esse instinto, nos casos em que lhe é possível aprender a deixar de ter medo de voltar a confiar nos adultos. Ou, nos casos em que as coisas tenham sido mais graves e mais intensas, compreender que isto é um verdadeiro trauma e que pode ser precisa ajuda profissional para lidar com ele.<br />
<br />
Quando um pai ou mãe não compreendem aquilo que se passa com os filhos, a sua própria frustração pode fazer com que se tornem mais impacientes com eles ou que pensem que eles precisam de uma atitude mais dura ou firme e, na realidade, isto pode ajudar ainda mais a acentuar esse trauma e a piorar a situação.<br />
<br />
Bowlby falava também de algumas experiências feitas com macacos, de que já falei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Aus%C3%AAncias%20-%20efeitos%20da%20priva%C3%A7%C3%A3o%20da%20figura%20materna">aqui</a> em que os macaquinhos eram separados das suas mães e apresentavam algumas alterações no seu sistema de resposta ao stress, tornando-se mais receosos, desconfiados e contidos nas suas explorações mesmo depois de terem sido novamente reunidos com as mães. E, nestes casos, aquilo que se verificou foi que o fazia a diferença na forma como os macacos pareciam ter ficado afectados por esta ausência era o comportamento da mãe quando voltavam a estar juntos: quando as mães eram capazes de aceitar e de acolher as suas manifestações de insegurança e as suas modificações de comportamento, estes apresentavam menos alterações do que quando as mães pareciam esperar que eles se portassem como se não se tivesse passado nada. Podemos extrapolar isto para os seres humanos. <b>Neste caso, é claro que não é essencial termos um conhecimento da forma como o instinto de apego foi afectado pela separação, mas este conhecimento pode ser importante para nos ajudar a sentir mais confiança para saber o que precisamos de fazer para ajudar a criança a ultrapassar o trauma. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade há outra caso da actualidade que também toca neste tema e que também demonstra como é importante o reconhecimento deste mecanismo e da forma como ele influencia todo o comportamento futuro da criança. O caso que tem sido tão falado da filha adoptiva que matou a mãe que a adoptou. Este caso tem chocado a opinião pública e há uma certa incompreensão geral de como é que uma criança que foi acolhida com tanto amor pode ter depois ter feito uma coisa destas à mulher que a acolheu. E nestes casos há uma certa tendência para pensar que existe algum tipo de maldade inerente que terá vindo com os genes ou coisa parecida naquela pessoa e que nada do que se tivesse passado com ela faria diferença.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnK9-C8OTVrI5lmgy-WHvLbKqBhz8smD9diD6qlebQP8BxM3DLHKJsH4yDXAMWySO51sKhuNQgkEiL1fcm7zWAGL9MiUqlH0JQ_EWEi7LNw4k4FtpiFUYNAx6zVFPLvPxEUGrNc8shAlP4/s1600/foto1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnK9-C8OTVrI5lmgy-WHvLbKqBhz8smD9diD6qlebQP8BxM3DLHKJsH4yDXAMWySO51sKhuNQgkEiL1fcm7zWAGL9MiUqlH0JQ_EWEi7LNw4k4FtpiFUYNAx6zVFPLvPxEUGrNc8shAlP4/s320/foto1.jpg" width="240" /></a></div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não acredito nisto. Acredito que a mãe que a adoptou o tenha feito com a melhor das intenções e que tenha sido uma excelente mãe. Na verdade não sei quase nada sobre a história de ambas, apenas aquilo que foi possível ler na comunicação social e que não diz quase nada sobre o lado mais íntimo ou pessoal das suas histórias, como é natural. Mas, mesmo partindo do princípio que a mãe dela tenha sido excelente, amorosa e boa cuidadora há um aspecto essencial nesta história que é facto daquela mulher ter sido adoptada aos cinco ou aos nove anos (já li as duas versões) e de ter vivido por isso os seus primeiros anos numa instituição. Isto quer dizer que há toda uma história por trás, que não faço ideia de qual tenha sido, mas que não pode ser ignorada. E tenho a certeza que essa história terá muita negligência ou maus tratos pelo meio. E essa negligência não tem necessariamente de estar ligada a maus tratos ou a fome nem a nenhum tipo de miséria material. Basta que em bebé, nos seus primeiros tempos de vida, não tenha havido um adulto de referência que a fizesse sentir-se segura e que a ensinasse a amar.<b> Porque o apego é um instinto é verdade, é a partir dele que aprendemos a amar, mas para isso é preciso que esse instinto não precise de ser desligado, é preciso que sejamos capazes de continuar a dar-lhe ouvidos, é preciso que ele não seja uma fonte de sofrimento e de alerta e que não seja constantemente posto em causa. Só assim, é que através desse instinto podemos aprender a amar. E só se aprendemos a amar se tivermos sido amados.</b> E se isso não for aprendido nos primeiros anos da infância é possível que nunca venha a sê-lo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso é que é importante que tenhamos um conhecimento informado sobre o apego e os seus mecanismos e é importante que saibamos reconhecer quando é importante pedir ajuda se alguma coisa acontece que possa perturbar este mecanismo de forma demasiado intensa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque sem este conhecimento o amor pode não ser suficiente para ajudarmos os nossos filhos a crescer com toda a confiança e segurança de que eles precisam. Com este conhecimento talvez esta mãe adoptiva pudesse ter ajudado a filha a lidar com o trauma que certamente viveu nos seus primeiros tempos de vida. Sem este conhecimento a mãe emigrante do rapazinho de quatro anos pode pensar que o seu filho ficou simplesmente zangado ou até mal educado com o tempo de separação que viveu e pode acreditar que precisa de ser apenas mais dura com ele para que volte a ser um rapazinho mais afável e simpático, o que provavelmente só fará com que ele se afaste ainda mais. S<b>em este conhecimento podemos também pensar que para por os nossos filhos na escola é preciso deixá-los chorar ou que quanto mais cedo forem melhor será. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Porque sem este conhecimento não percebemos que é natural que eles fiquem em alerta num sítio estranho com pessoas desconhecidas e que somos nós as únicas pessoas que podem ajudá-los a sair deste estado de alerta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>É a primeira vez na história que entregamos os nossos filhos aos cuidados de estranhos, em sítios desconhecidos diariamente</b>.<b> E fazemos isto sem a mínima consciência do impacto que poderá ter e da forma como é anti-natural o que lhes estamos a pedir.</b> Então a única forma de tornarmos isto menos prejudicial é pensar que eles estão programados para ficar com pessoas com quem se sentem seguros e isto só acontece se elas forem conhecidas e em sítios familiares. <b>Por isso temos de ficar com eles e ser os agentes de transferência desse instinto: fazer com que os adultos que vão ficar com eles deixem de ser estranhos, mostrando que podem confiar neles.</b> A forma de fazer isto naturalmente é deixando que nos vejam a interagir e conversar com eles, mostrando que gostamos e confiamos neles. porque os nossos filhos, quando tudo está certo, também estão programados para nos imitar e seguir o que fazemos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Compreender este mecanismo também nos ajuda a perceber que quando uma criança pequena desata a chorar quando os pais a vão buscar à creche por exemplo, significa que está a descarregar todo aquele stress e estado de alerta que sentiu durante o dia com as pessoas com quem se sente segura e que isto mostra, por um lado, que a creche ainda não é um local seguro e por outro que apesar de tudo também ainda não é tão ameaçador que a tenha obrigado a desligar esse instinto de vez. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Compreender o instinto de apego também é importante para uma mãe ou um pai que precisam de se ausentar por alguns dias quando têm uma criança pequena. Porque nos permite ver com outras luz todas as alterações de comportamento que irão com certeza surgir com a nossa volta. E permite-nos também ter a capacidade de o ajudar a lidar o melhor possível com tudo que possa ter surgido nessa ausência.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É à luz deste mecanismo que também precisamos de olhar para os castigos e as palmadas para conseguirmos compreender as suas verdadeiras consequências, como já expliquei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Castigos%20e%20consequ%C3%AAncias%20-%20educar%20com%20o%20cora%C3%A7%C3%A3o%20macio">aqui</a>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porque é através deste instinto de
apego e da sua compreensão que parte a nossa capacidade de criar filhos
verdadeiramente resilientes e capazes de enfrentar os desafios. <b>Porque este
instinto é a verdadeira base da nossa força interior e o ponto até que somos
capazes de o preservar e manter intacto é também o que faz toda a diferença na
nossa capacidade de lidar com as adversidades e até de tirar partido delas ou
de nos tornarmos simplesmente vítimas das circunstâncias. É a capacidade de amar que nos torna humanos, é o amor que dá sentido à vida e é só a partir dele que podemos construir vidas verdadeiramente felizes e realizadas. Mas sem este instinto de apego não podemos aprender a amar. Sem este instinto não somos capazes de nos tornar verdadeiramente humanos. </b><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não acredito em pessoas más que tiveram infâncias boas. É verdade que existem algumas perturbações neurológicas que não têm nada a ver com infância da pessoa. O autismo, por exemplo, durante muito tempo pensou-se que tinha a ver com a frieza dos pais e hoje sabe-se que é uma desordem neurológica e uma perturbação na forma como o cérebro se desenvolve embora não se saiba ainda porque é que acontece. Mas a verdade é que estas perturbações na grande maioria das vezes não estão associadas a crimes violentos nem áquilo que chamamos de maldade.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT5yUJ2YVeZIW61DHxp938ZlA3AJc-XVslzGEokLhiTKN4rUpWXYyjqWvmo_SYt6bkn18GqWuhKAK7r2JLcBtTwb-jtUplhVbwUg8tFSCJ6-Wk7zst8MqIX1d9qhMBueyorjJUzHWgRRkW/s1600/capa+matrix.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="269" data-original-width="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT5yUJ2YVeZIW61DHxp938ZlA3AJc-XVslzGEokLhiTKN4rUpWXYyjqWvmo_SYt6bkn18GqWuhKAK7r2JLcBtTwb-jtUplhVbwUg8tFSCJ6-Wk7zst8MqIX1d9qhMBueyorjJUzHWgRRkW/s1600/capa+matrix.jpg" /></a>Essa maldade e as pessoas a quem chamamos de psicopatas basicamente são pessoas sem a capacidade de amar e isto só pode acontecer numa pessoa que nunca se sentiu amada. E é preciso percebermos que, para uma criança, ser amada ou sentir-se amada são duas coisas diferentes. Todos os pais amam os filhos mas nem sempre sabemos demonstrá-lo da melhor maneira.<br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Este meu livro serve também
para nos ajudar a perceber a melhor forma de comunicar esse amor aos nossos
filhos e a melhor forma de sermos capazes de proteger e honrar esse instinto de
apego tão importante que podemos mesmo dizer que forma a pedra basilar da nossa humanidade, porque, como também explico no livro, é à sua volta que toda a nossa personalidade se forma e é a forma como ele nos estrutura que também defina a nossa maneira de estar no mundo e de nos relacionarmos com os outros e até connosco próprios. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-65248574963741727612018-06-25T07:28:00.002-07:002018-06-25T07:33:41.947-07:00Crianças separadas dos pais e política de coração fechado<div style="text-align: justify;">
Nas notícias ultimamente o mundo tem assistido em choque ao que os E.U.A têm vindo a fazer com a sua política de imigração que separa pais e crianças, pequenas ou grandes. Muitos psicólogos, pediatras e investigadores nas áreas do apego e do stress têm-se manifestado contra a gravidade desta política e aproveitado para tentar explicar a gravidade e o impacto que podem ter este tipo de situações, como se pode ler <a href="https://www.psychologytoday.com/us/blog/thriving/201806/separation-is-never-ending-attachment-is-human-right">neste artigo</a>, da conhecida Psychology Today, assinado por quarenta investigadores desta área.<br />
<br />
<a href="https://www.folhape.com.br/obj/202/280298,475,80,0,0,475,365,0,0,0,0.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="365" data-original-width="475" height="245" src="https://www.folhape.com.br/obj/202/280298,475,80,0,0,475,365,0,0,0,0.jpg" width="320" /></a><br />
<b>É muito importante percebermos as consequências deste tipo de políticas porque se é chocante para todos ver uma criança a chorar porque está num sítio estranho, ameaçador sem os seus pais é muito importante que percebamos que, infelizmente, as consequências de um trauma deste tipo não irão acabar quando a criança voltar a estar com os pais e podem mesmo prolongar-se por toda a sua vida.</b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Já há algum tempo que vários investigadores e teóricos do desenvolvimento defendem que, para uma criança, é mais importante a necessidade de se sentir ligada a um adulto que cuide de si do que a própria necessidade de alimento que, até aos anos 50 se acreditava ser a mais importante. Isto faz todo o sentido se pensarmos que, para um bebé humano se alimentar ele precisa de ter uma ligação com um adulto que se preocupe e se importe consigo o suficiente para lhe dar esse alimento com a frequência necessária e também precisa de manter essa ligação para ter alguém que cuide das suas necessidades físicas mais básicas, como manter-se limpo, quente e num ambiente protegido.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso todo o instinto dos bebés e crianças lhes diz que precisam de estabelecer essa ligação que acontece com as pessoas que cuidam de si durante a maior parte do tempo. E esse mesmo instinto também lhes diz que, sobretudo em situações de perigo, é a essas pessoas que precisa de recorrer e que são essas pessoas as responsáveis por manterem a sua integridade física e por lhe darem o sentimento de conforto e de protecção de que necessita. Se, por algum motivo, a criança ou o bebé sente essa ligação ameaçada ou se sente que alguma coisa do exterior o pode estar a colocar em perigo todo o seu organismo entra num estado de alerta que, se se prolongar por muito tempo, se torna naquilo a que chamamos o stress tóxico, que causa vários prejuízos à sua saúde e que prejudica e limita muito todo o seu desenvolvimento neurológico e cerebral.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b>É também este instinto de apego que diz às crianças que quando estão em sítios estranhos devem procurar a protecção dos seus pais, para se sentirem seguras. E é isso que qualquer criança saudável demonstra claramente no seu primeiro dia de escola ou em tantas outras situações estranhas: que quer ficar junto daqueles com que se sente segura e a quem está mais ligada.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b><span style="color: blue;">O que é que acontece às crianças em situações tão traumáticas como esta?</span></b><br />
<br />
Aquilo que pode ser observado nestes casos é que uma criança saudável e segura começa por protestar com todas as suas forças, activando o seu instinto de apego, na tentativa de fazer com que os seus pais a oiçam e respondam aos seus protestos fazendo-a sentir-se novamente protegida. O choro é um mecanismo que tem como finalidade fazer com que os pais reajam e respondam à situação, preenchendo assim as necessidades da criança.<br />
<br />
<b>Mas, se não há uma resposta a esse choro, então ele não está a cumprir a sua finalidade. Por isso, com o tempo esses protestos vão diminuindo de intensidade e, se esta situação se prolongar, acabam mesmo por desaparecer.</b> O que não quer dizer que desapareça o estado de alerta. De um ponto de vista fisiológico a criança pode continuar num estado de alerta e de activação mas o choro passa a ser um desperdício de energia, se não se obtém resposta, e o organismo, sobretudo em alturas de tensão, precisa de conservar ao máximo essa energia para garantir a sua sobrevivência.<br />
<br />
<b>E isto é o que muitas vezes faz com que os adultos pensem que a criança está a aprender a lidar com a situação: o facto do choro, a manifestação mais visível de sofrimento, começar a desaparecer ao final de algum tempo. E, na realidade, a criança até parece tornar-se mais autónoma, independente e pode até dar um falso ar de segurança que pode enganar um olhar menos atento.</b> Isto porque a criança tenta a todo o custo adaptar-se à situação para conseguir sobreviver. Mas esta adaptação tem um custo: ela precisa de se desligar dos seus sinais de alarme. Porque enquanto estes estiverem ligados, com toda a sua intensidade, ela não vai ser capaz de fazer mais nada e isso pode por em perigo a sua sobrevivência. Acontece que a única forma eficaz de desligar esse alarme seria a presença dos pais, que podem trazer de volta o sentimento de segurança. Mas, sem essa presença, já que não há forma de desligar eficazmente esse alarme então, tudo o que resta, é tentar ignorar os seus sinais. Mas para isso a criança também tem de desligar a parte de si que se sente ameaçada e que sabe que precisa de manter essa ligação com os pais. Porque se continuar a estar sempre consciente dessa falta, desse instinto de apego que não está a ser satisfeito mantém-se a frustração que se torna demasiado intensa para lhe permitir lidar com o que quer que seja para além disso. Então, a única forma de uma criança lidar com uma separação demasiado prolongada é desligar a sua consciência dessa parte de si que sabe que precisa de manter a ligação com os pais ou com as suas figuras de apego.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Por isso o que acontece nestes casos, quando a ausência destas figuras foi demasiado dura ou demasiado longa para a criança, é que - quando ela volta a reunir-se com as suas figuras de apego - já há um distanciamento ou um desinteresse da sua parte nesta reunião.</b> Quando a ausência foi difícil mas não tanto que ela precisa de se desligar desses sentimentos o que pode acontecer é que a criança, ao ver o pai ou a mãe, desata num choro intenso como se fosse uma espécie de descarga. Isto acontece muitas vezes quando os pais vão buscar os filhos à creche e é apenas sinal de que aquela ausência foi dura para a criança e de que ela não tinha um ambiente seguro onde pudesse aprender a lidar com essa tensão, mas ainda é relativamente fácil reparar essa situação, porque a criança ainda não se desligou do que está a sentir e ainda o demonstra procurando o colo dos pais para chorar.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, quando a dor dessa ausência foi tão grande que ela precisou de desligar essa parte de si que estava a sofrer com essa ausência, isto quer dizer que não será fácil para a criança reactivar essa parte de si, voltar a abrir o seu coração e voltar a confiar nos pais. </b>Vi um vídeo de um menino da Guatemala, que deveria ter uns quatro ou cinco anos e esteve separado da mãe durante algumas semanas nos E.U.A, por causa desta política. Quando finalmente se reencontraram a mãe chorou e abraçou-o repetindo várias vezes que o amava e que não iriam voltar a separar-se. O menino pareceu deixar sair algumas lágrimas (apenas porque se vê a mãe a limpar-lhe o rosto) mas não abraçou a mãe, não chorou intensamente como ela e não disse nada enquanto era abraçado. Um pouco mais tarde vê-se na filmagem a criança a ser levada pela mão de outra pessoa, com um ar triste mas, ao mesmo tempo, quase apático, enquanto a mãe seguia atrás dele, ainda com um ar emocionado e os olhos cheios de lágrimas. Os jornalistas que filmaram esta cena, comentavam o comportamento da criança dizendo que estava tão bem comportado e tão calmo.<br />
<br />
Este pequeno vídeo demonstra bem como a criança foi afectada por esta separação: ela foi tão dura que ele já nem conseguia abrir o seu coração para chorar por tudo o que tinha passado. Já não conseguia sentir-se suficientemente seguro para chorar, nem sequer com a própria mãe. Já não conseguia sequer lembrar-se de que esse seu instinto de apego existia e por isso já quase lhe era indiferente estar com a mãe ou com um estranho. Se assim não fosse ele não se deixaria levar calmamente pela mão por outra pessoa enquanto a mãe caminhava atrás de si, por exemplo. É possível que com o tempo, se mãe for capaz de acolher a ferida enorme daquela criança, ela consiga reparar um pouco a situação. Mas não há dúvidas de que aquele menino foi seriamente abalado na sua capacidade de confiar nos outros, no mundo e em si próprio. E a verdade é que, se não tivermos consciência do enorme impacto que este tipo de separação pode ter numa criança, pode ser muito difícil também para os pais lidar com todas as alterações de comportamento que irão com certeza surgir. O que, por sua vez, só irá servir para acentuar ainda mais todos os efeitos do trauma.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" /></a></div>
<b>Estudos com macacos bebés, de que já falei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Aus%C3%AAncias%20-%20efeitos%20da%20priva%C3%A7%C3%A3o%20da%20figura%20materna">aqui</a>, mostram como a ausência da mãe, mesmo quando tudo o resto se mantém, cria uma fragilidade que pode fazer com que as crias passem a ter maior dificuldade em lidar com os desafios e com o stress ao longo da vida.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Investigações feitas na Finlândia também demonstraram isto: durante a segunda guerra mundial houve varias crianças que foram separadas dos pais. Investigações posteriores mostraram que as crianças que foram levadas para longe da família, sofreram mais danos na sua saúde mental, do que aquelas que ficaram e tiveram de enfrentar todos os horrores e dificuldades da guerra. A grande diferença nestes casos é que as que ficaram, até podem ter passado mais dificuldades materiais e ter sido expostas a situações mais violentas mas tinham o mais importante para conseguir lidar com isso: a relação com os pais. <b>É essa relação o amortecedor mais importante em todas as situações de stress e é dela que precisamos de cuidar antes de tudo o resto. </b><br />
<br />
A triste ironia desta situação é que o próprio Trump foi com certeza vítima de uma infância em que as suas necessidades de acolhimento, protecção e segurança não foram tidas em conta. Não conheço a história dele mas conheço o suficiente sobre o desenvolvimento humano para perceber que o coração dele também se fechou algures no tempo, não sei se por causa de um trauma muito intenso ou por causa de várias situações traumáticas que se terão repetido com frequência na sua vida. Na verdade é isto o mais comum nestes casos: pode não haver nenhuma situação muito marcante na vida das crianças mas vão existindo várias situações diárias em que a criança se sente negligenciada, não reconhecida, em que vê a sua ligação com as suas figuras de referência ameaçada.<b> Esta ameaça pode ser real, como no caso destas crianças separadas, ou pode ser apenas uma sensação que a criança tem de que os pais não são capazes de a aceitar como é, ou que não são capazes de a proteger, de a manter segura. E são estas situações que vão deixando marcas tão fundas ao ponto de ser possível observar as diferenças no desenvolvimento cerebral, nos estados de activação fisiológica - sobretudo em situações de desafio - mas, mais importante, na forma de lidar com os outros e na capacidade de estabelecer boas relações.</b><br />
<br />
É claro que para os pais também é traumático ficar sem os filhos. A grande diferença é que, primeiro, os pais não precisam dos filhos para se sentirem protegidos e, segundo, o seu organismo já não está em desenvolvimento. As crianças ainda estão em formação, por isso, tudo o que acontece, sobretudo nos primeiros anos de vida, tem um impacto muito maior do que nos adultos e determina a forma como o seu organismo se desenvolve e a sua personalidade se molda.<br />
<br />
Uma criança que cresceu sem ter oportunidade de confiar nos outros é também uma criança que cresce sem perceber que é essa a nossa maior riqueza: a relação que temos e construímos com as outras pessoas. Por isso é muito fácil que essa criança se torne num adulto narcisista e materialista em que as pessoas são vistas apenas como meios para atingir um fim. Porque algures na sua história essa criança foi forçada a fechar o seu coração aos sentimentos e a desvalorizar todo o tipo de relacionamentos.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<b>Por isso é mesmo tristemente irónico que este tipo de políticas, acabem por dar origem a pessoas como Donald Trump, ou a pessoas que o apoiam, numa espécie de ciclo vicioso que pode continuar para sempre se não tivermos consciência dos seus efeitos.</b> Porque a única forma de construirmos um mundo justo é percebermos que precisamos de respeitar as crianças de hoje. Porque uma criança que é obrigada a fechar o seu coração será um adulto com muita dificuldade de o abrir. E um adulto que não abre o coração é um adulto que não sente empatia e sem ela fica muito difícil deixar-se tocar pelo sofrimento dos outros, principalmente quando este colide com os seus próprios interesses egoístas. </div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-56640835448553795102018-06-07T10:06:00.000-07:002018-06-07T10:06:57.329-07:00Bullies, emoções e stress <div style="text-align: justify;">
Na escola do meu filho, esta semana, falámos de bullying. Este é um fenómeno cada vez mais presente nas escolas e na vida dos nossos filhos, infelizmente, por isso é importante compreendê-lo. Uma das coisas em que acredito cada vez mais é que o mais importante não é tanto ficarmos focados em como é que as crianças devem lidar com isto mas em como é que nós, adultos, podemos fazer com que isto deixe de acontecer. Somos nós, adultos que precisamos de compreender e de encontrar estratégias para lidar com estas coisas quando elas acontecem e não propriamente as crianças.<b> Na verdade, acredito que, se nós, enquanto adultos, soubermos cumprir o nosso papel e tivermos a consciência e a segurança necessária para o fazer, estas situações não acontecerão com tanta facilidade e passo a explicar porquê. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<b><span style="color: blue;">A educação emocional e o stress tóxico</span></b><br />
<br />
A questão da educação emocional surge muitas vezes quando se fala neste tema, como se fosse uma forma de o resolvermos.<br />
Hoje fala-se cada vez mais em inteligência emocional e há uma certa tendência para acharmos que, assim como as outras inteligências são treinadas na escola, também esta poderia ser se houvesse abertura por parte dos professores e outros responsáveis para construir programas mais vocacionados para as emoções. Na verdade, a Psicologia Positiva veio demonstrar que a inteligência emocional é bem mais importante para o sucesso do que aquele tipo de inteligência mais racional ou intelectual que é medida pelo Q.I.<br />
<br />
E uma boa parte da inteligência emocional passa por sermos capazes de identificar o que sentimos, na altura em que o sentimos e por sermos capazes de dar nomes aos nossos sentimentos. Há estudos que demonstram que o simples facto de aprendemos a nomear o que sentimos nos ajuda a lidar melhor com as emoções e a ser mais capazes de enfrentar os desafios e de lidar com as emoções mais intensas e difíceis.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuhhqglcqQbxOc82UvQRakTgEtsIaaC75HqKzDxV9LkCfMTl_ax4jM-czgWmXcW9_PnmvEd0dNiZoRyYjfBThOEBYZ325vIYDRCaKfOP8AsytYAZsUG1Un5c7ZApy-_EY5gl46EB9X6sZH/s1600/lidarzanga.png" /></a></div>
<b>Então, seguindo esta lógica, é natural que pensemos que será útil ensinar as crianças a reconhecer e a nomear aquilo que sentem. Só que há um problema nesta lógica: para entrarmos em contacto, de verdade, com as nossas emoções precisamos - todos, adultos e crianças - de nos sentir em segurança. Se uma criança se sente insegura ou ameaçada</b><b> de algum modo, ela entra num modo defensivo que bloqueia o acesso às suas emoções e sentimentos. </b><br />
<br />
Quando nos sentimos inseguros ou ameaçados entra em funcionamento o nosso sistema nervoso simpático que liga a resposta de luta ou fuga que, por sua vez, desliga a nossa capacidade de entrar em contacto com os sentimentos ou emoções mais profundas porque esta é uma resposta de emergência que nos coloca num estado de alerta em que ficamos muito mais focados em encontrar soluções imediatas para as potenciais ameaças que possam surgir. E, neste estado de alerta não é possível entrar em contacto com emoções mais intensas ou profundas porque elas podem funcionar como uma espécie de bloqueio: quando sentimos muita tristeza, frustração ou medo ficamos sem vontade de lidar com mais nada e com muito menos capacidade de lidar com os desafios. <b>Por isso a natureza certificou-se de que o nosso sistema de resposta ao stress desliga a capacidade de sentir estas emoções, porque, em situações de emergência, não podemos dar-nos ao luxo de ficar paralisados pela tristeza ou frustração já que precisamos de reagir e de responder às ameaças que possam surgir. </b><br />
<br />
Acontece que as crianças, por natureza, são seres dependentes. As crianças nascem com um instinto de apego, que lhes diz que precisam de manter uma boa ligação com, pelo menos um adulto capaz de as acolher e respeitar, para poderem sentir-se seguras. Então sempre que uma criança sente que essa ligação não existe ou que ela está em perigo isto dá origem a sentimentos muito intensos de angústia, de frustração e de medo que são difíceis de enfrentar. <b>Se estes sentimentos surgem repetidamente, como acontece quando a criança se sente frequentemente rejeitada, magoada ou negligenciada pelas pessoas que cuidam dela, então ela passa a estar constantemente exposta ao que podemos chamar stress tóxico que, por sua vez, a faz ficar de forma quase constante num estado de alerta.</b> Este estado de alerta faz com que ela se desligue desses sentimentos de tristeza ou medo mas também faz com que ela se desligue do seu instinto de apego, porque este está a ser uma fonte constante de sofrimento. Assim, a criança passa a viver num modo defensivo permanente que pode ser observado em vários comportamentos associados à ansiedade. Embora, nos casos mais graves, essa ansiedade já nem se veja porque já foi também ela desligada porque era tão grande que a criança precisou de activar o estado seguinte que está associado a uma resposta de congelamento que, algumas vezes, pode ser confundido até com uma falsa independência ou autonomia. (Explico de forma mais aprofundada estas questões no meu livro, Mindfulness para Pais, sobretudo no capítulo <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s1600/capa+mindfulness+para+pais.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="392" data-original-width="291" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYWJIaskjkkB4e-gzXJfz-mJivHdFx5S5yovOLeYiw9Kw_HVMGMoe78Q88fD-Ck4prHJjb-ZwgY5wAGB6LAC2Kolb75lUeLFJUW9D7LH0Crns9wL1g-hy1ENXaji5MdrhovHep-hCxad_h/s320/capa+mindfulness+para+pais.jpg" width="237" /></a></div>
dedicado à teoria Polivaga).<br />
<br />
Infelizmente vivemos numa sociedade em que as crianças são expostas a uma separação das suas figuras de apego muito maior do que aquela com que estão preparadas para lidar, porque passam muitas horas na escola e porque, muitas vezes, os métodos de disciplinar e de educar também acabam por estimular esse sentimento de separação, como já expliquei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Educar%20sem%20bater">neste artigo</a> e também <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Castigos%20e%20consequ%C3%AAncias%20-%20educar%20com%20o%20cora%C3%A7%C3%A3o%20macio">neste</a>.<br />
<br />
Isto quer dizer que, nas escolas, o mais frequente é que as crianças, sobretudo as mais novas, estejam nesse estado de alarme e de defesa que já não lhes permite entrar em contacto com o que estão a sentir, porque passam o dia longe dos pais e, na maior parte dos casos, não há um outro adulto que possa ser uma figura de apego ou que possa estabelecer com elas uma relação segura.<br />
<br />
<b>Então, na verdade, as escolas, tal como funcionam nos nossos dias, não são o melhor sítio para falar de educação emocional porque não adianta falar de emoções a uma criança que não se sente segura o suficiente para as vivenciar. </b>É importante falar sobre emoções com as crianças, sim, mas só faz sentido fazê-lo no contexto de uma relação segura, em que a criança não tenha receio de abrir o coração e de olhar de verdade para dentro de si e para o que possa sentir. E isto, infelizmente, é difícil de acontecer na maioria das nossas escolas, por várias razões mas também porque o número de alunos é quase sempre demasiado elevado para que os adultos possam ter verdadeira disponibilidade para construir essas relações com eles.<br />
<br />
<span style="color: blue;"><b>O desenvolvimento do cérebro e as emoções</b></span><br />
<br />
Outra coisa que é essencial para uma verdadeira educação emocional é que a criança se torne capaz de reflectir sobre aquilo que sente. Na verdade é isto que nos distingue dos animais: eles também têm emoções mas não são capazes (tanto quanto sabemos) de pensar sobre elas. As crianças também têm, desde que nascem a capacidade de sentir as suas emoções mas, só com o tempo é que vão aprendendo a reflectir sobre elas.<br />
<br />
Mas, para que isto seja possível, é preciso que se desenvolva uma parte específica do nosso cérebro: o cortex-pré-frontal, que é característico dos seres humanos e que é também a última parte do cérebro a desenvolver-se. <b>Esta zona do cérebro só começa o seu desenvolvimento a partir dos seis anos de idade e acredita-se que continua até cerca dos vinte e quatro ou vinte cinco anos de idade. Na verdade, há muitos adultos que ainda não desenvolveram bem essa zona. </b>Porque para que esta se desenvolva da melhor forma a criança não pode ser demasiado exposta aos tais níveis de stress tóxico que já se sabe que prejudicam o desenvolvimento de algumas áreas do cérebro, nomeadamente desta. Na verdade, a natureza é sábia e o desenvolvimento desta zona não é crucial para a nossa sobrevivência. Por isso, quando a criança é exposta a demasiado stress é como se o seu organismo precisasse de conservar toda a sua energia para enfrentar as ameaças e não sobrasse a energia necessária para o desenvolvimento de tudo o que não seja essencial à vida.<br />
<br />
A única forma desta zona desenvolver todo o seu potencial é através desse sentimento de segurança que se gera quando a criança se sente segura e acolhida pelas suas figuras de apego. É só através desse relacionamento que ela poderá realmente aprender a lidar com as emoções e a pensar sobre elas e é isso que irá permitir um bom desenvolvimento desta zona que, por sua vez, também irá facilitar esta tarefa.<br />
<br />
Sabe-se até, como já expliquei <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/Crian%C3%A7as%20Hiperactivas%20e%20Pais%20Ausentes">aqui</a> e <a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.com/search/label/D%C3%A9fice%20de%20aten%C3%A7%C3%A3o%20-%20crescer%20sem%20seguran%C3%A7a">aqui</a> que um fraco desenvolvimento desta zona pode estar na origem de uma condição cada vez mais comum: o défice de atenção.<br />
<b><br /></b>
<b>Se queremos ajudar a criança a pensar sobre as suas emoções sem nos preocuparmos com as condições físicas para que ela o possa fazer - que dependem da segurança das suas ligações com as figuras de apego - é o mesmo que começar a fazer uma casa pelo telhado: não há nenhuma base para sustentar o que queremos transmitir-lhes. </b><br />
<br />
<b><span style="color: blue;">A personalidade do Bully </span></b><br />
<br />
Gordon Neufeld de quem falo muito aqui porque a teoria que ele construiu é realmente o modelo de desenvolvimento mais completo que conheço, fala também do bullying e do tipo de crianças que o faz. Ele explica que o que está na base deste tipo de comportamento é aquilo a que ele chama o instinto alfa. Este instinto alfa existe em todos nós, mas pode ser um pouco mais forte em algumas pessoas do que noutras. Este instinto está ligado a uma noção de hierarquia que nos faz estar atentos às fragilidades dos outros e adoptar uma postura de dominância quando as identificamos. Neufeld fala numa hierarquia natural, numa dança que acontece naturalmente: no nosso dia-a-dia de adultos, vamos alternando entre uma posição de dependência e de dominância, consoante as situações. Isto quando tudo está bem, quando existem problemas pode acontecer que se gere uma rigidez em que, por vezes, acabamos por ficar presos num ou noutro papel. Este é o caso dos bullies que vivem nesta rigidez e acabam por ficar presos na posição de dominância.<br />
<br />
Numa relação de educação, entre pais e filhos ou alunos e professores é muito importante que os pais permaneçam na posição alfa, e os filhos fiquem na posição de dependência, pelo menos durante a maior parte do tempo, porque só assim é que será possível orientá-los e só assim é que eles podem descansar de verdade. <b>Porque estar sempre na posição alfa é muito cansativo, então, se queremos que as crianças descansem e relaxem de verdade é essencial que elas sejam capazes de assumir o seu papel de dependentes connosco e que estejamos preparados para assumir o nosso papel de guias. </b>Hoje em dia há muito quem diga que devemos encarar as crianças como nossos iguais, mas isto não é verdade. As crianças precisam de se sentir cuidadas e protegidas e não podem senti-lo se nos colocarmos ao mesmo nível que elas. <br />
<br />
Elas precisam de sentir que nós, enquanto pais, somos capazes de assumir o controlo e só assim é que elas podem descansar de verdade. <b>Neufeld tem uma expressão muito bonita que diz que precisamos de fazer com que as crianças descansem no nosso amor. E uma criança só descansa quando se sente protegida. Se não se sentir segura e protegida ela está sempre em modo de alerta, com toda a activação do sistema simpático que impede um verdadeiro descanso e que está relacionada com tantos problemas de ansiedade que vemos nas crianças de hoje em dia.</b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0PlU28-o6tz_vSKkQ94JXhFAFueyiGaqZF8k0ZyYNhDkei-hQTRa-vnZFAzKb0-_xyTJylr4Pbgr3-Y8y0qo5dIh1lW-BkxExSkRJ1MPoy2MXFk6zL4z6J2jW0tI9CNGZm1DC6zKdrNSS/s1600/gordon.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="736" data-original-width="736" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0PlU28-o6tz_vSKkQ94JXhFAFueyiGaqZF8k0ZyYNhDkei-hQTRa-vnZFAzKb0-_xyTJylr4Pbgr3-Y8y0qo5dIh1lW-BkxExSkRJ1MPoy2MXFk6zL4z6J2jW0tI9CNGZm1DC6zKdrNSS/s320/gordon.jpg" width="320" /></a></b></div>
<br />
<br />
Então, quando uma criança não se sente protegida, uma das defesas que ela tem é justamente activar esse instinto alfa e é aqui que surgem aquelas crianças que geralmente chamamos mandonas ou pequenos tiranos. Aqui a criança está a tentar assumir o controlo, porque sente que ninguém está a ser capaz de cuidar de si como deveria. Acontece que, quando este instinto alfa está activo mas existe um desenvolvimento saudável, ele surge associado à vontade de cuidar dos mais fracos. Este instinto traz consigo uma maior facilidade em identificar as fragilidades e as necessidades dos outros, justamente para que sejamos mais capazes de as preencher. É isto que deve acontecer entre irmãos, por exemplo, quando existe essa tal hierarquia natural e é também uma das razões pelas quais é mais fácil e mais tranquilo muitas vezes para as crianças relacionarem-se com crianças de outras idades do que com crianças da mesma idade: porque quando este instinto se activa naturalmente, um passa a dominante e o outro a dependente e tudo funciona com harmonia e quando isto não acontece há mais tensão e competitividade. É graças a este instinto que as crianças mais velhas têm naturalmente vontade de cuidar e proteger as mais novas e também é este instinto que nos faz a nós, adultos, querer cuidar das crianças e de todos os que identificamos como mais frágeis do que nós. Acontece que estar sempre na posição de cuidador é muito cansativo por isso é importante que também saibamos deixar-nos cuidar e isso só se aprende se, na infância, isto tiver sido fácil para nós. Se na nossa infância era muito difícil confiarmos nos nossos pais ou nos adultos que cuidavam de nós então podemos ficar sempre com dificuldade de adoptar esse papel de dependência, que está associado a uma grande dificuldade de relaxar de verdade e pode estar na origem de vários problemas de ansiedade.<br />
<br />
Mas, o que acontece no caso dos bullies é que, apesar de terem este instinto alfa muito activo, eles já estão desligados dos seus sentimentos e por isso não conseguem juntar a este instinto essa motivação para cuidar e proteger os outros quando identificam as suas fragilidades. Por isso eles ficam atentos aos seus pontos fracos mas não para cuidar ou proteger e sim para dominar e explorar essas fraquezas a seu favor. <b>Por isto Neufeld explica que a pior coisa que podemos fazer com um Bully é dizer-lhe que nos magoou, porque isso só lhe chama ainda mais a atenção para as nossas fragilidades e só o faz sentir-se ainda mais no controlo, dando-lhe cada vez mais vontade de nos manipular. </b><br />
<br />
É verdade que os bullies também precisam de ser ajudados mas para os ajudar a prioridade é mesmo criar uma ponte com alguém, com um adulto que se importe de verdade com a criança e que seja capaz de lhe transmitir isso mesmo e que lhe dê um espaço em que ela possa aprender a voltar a confiar. E isto não é fácil nem rápido mas é a única forma de fazer com que voltem a entrar em contacto com os seus sentimentos e também com que lhes seja possível sair deste estado de dominância.<br />
<br />
<b>Para as vítimas o mais importante é exactamente o mesmo: é garantir que existe alguém com quem se sentem seguras, em quem podem confiar e que as possa ajudar a lidar com que sentem.</b> A protecção mais importante é mesmo esta: garantir que existe pelo menos um adulto que se importa e com quem a criança se sente segura. E para que essa segurança exista é fundamental também que não tenhamos medo de acolher os sentimentos deles: de frustração, de tristeza, de medo e todos os que possam surgir. É muito importante que eles saibam que esses são sentimentos normais, que também fazem parte da vida e é fundamental que cresçam com essa segurança de que é possível viver esses sentimentos sem lutar com eles e que é possível passar por toda a tristeza, por todo o medo e toda a frustração e ainda ser feliz e ter uma vida boa. Porque só assim é que poderão crescer sem ter medo de si próprios ou daquilo que sentem.<br />
<br />
<b>Então volto ao que escrevi no início deste texto: a melhor protecção para o bullying, aquilo que é mais importante, é que os adultos saibam exactamente o seu lugar na vida das crianças e que não tenham medo de o assumir. Porque se os adultos souberem o seu lugar e como este é importante, estas situações não acontecem ou, pelo menos, tornam-se muito mais fáceis de resolver.</b><br />
<br />
Aquilo que as nossas crianças precisam é, em primeiro lugar, é de pais com mais tempo, mais disponibilidade e mais segurança no seu papel de pais. E depois, nas escolas, precisamos também de adultos que saibam assumir um papel de liderança e que saibam como são importantes. Numa escola primária, por exemplo, o mais frequente é que os professores não estejam nos recreios e que as auxiliares estejam por lá apenas a vigiar. E é nos recreios que estas coisas acontecem. <b>E os recreios são um lugar de enorme sofrimento para muitas crianças. Mas muitas vezes achamos que o melhor é deixá-los entregues a si mesmos e acreditamos que estamos a fomentar autonomia quando os deixamos resolver sozinhos os seus conflitos e problemas. Mas isto não é verdade.</b> A verdadeira autonomia vem de não termos medo do que sentimos e de não termos medo de lidar com as emoções e isto só acontece se nos sentirmos seguros e para essa segurança existir as crianças precisam de adultos presentes, atentos e disponíveis. E, para isso, os adultos no recreio não podem servir só para resolver problemas e muito menos para castigar, precisam de encontrar uma maneira de fazer com que as crianças os encarem como referências e isso só é possível se forem capazes de gostar verdadeiramente delas e de mostrar que estão presentes e que querem fazer parte das suas vidas.<br />
<br />
<b>Se os adultos estiverem presentes e disponíveis de verdade não são precisos castigos, porque as crianças se importam com os que eles dizem e os encaram como modelos. Se não houver esta ligação os castigos não servem de nada e até pioram toda a situação. </b><br />
<br />
Quando uma criança se dirige a um adulto, numa escola, para falar de algo que sente ou que lhe fizeram não podemos desvalorizar isso dizendo que não se fazem queixinhas. Temos de estar presentes ser capazes de ouvir e de intervir se necessário. Porque só assim garantimos o nosso lugar no coração delas e só assim elas se sentirão seguras o suficiente para serem capazes de nos tomar como modelos e de entrarem em contacto com os seus próprios sentimentos, o suficiente, para não magoar os outros e para não se magoarem a si próprias. Não podemos menosprezar o nosso papel nas suas vidas e não podemos esquecer-nos que a verdadeira autonomia se constrói com base na dependência que também tem o seu papel no desenvolvimento e precisa de ser reconhecida. E se queremos de verdade ajudar os nossos filhos e alunos não podemos esquecer-nos de manter sempre aberto o caminho do nosso coração para o deles.<br />
<br />
<b><span style="color: blue;">Quando os nossos filhos são a vítima </span></b><br />
<br />
Quando os nossos filhos são vítimas de bullying, quando sabemos que foram magoados e sofreram com isso é muito fácil ficarmos revoltados aflitos mas também nós temos de aprender a lidar com isto e saber que, desde que eles encontrem sempre o seu caminho para o nosso coração, não existe nenhuma emoção com que não possam aprender a lidar, desde que nós também estejamos dispostos a lidar com as nossas. <b>Mais do que ficarmos preocupados em ensiná-los a defender-se ou pensarmos no que eles devem dizer, fazer e nas estratégias que podem usar para lidar com quem lhes faz isto o mais importante é pensarmos que enquanto eles tiverem em nós uma base de segurança, o mundo será sempre muito menos assustador</b>. E para que essa base exista é preciso termos tempo para os escutar e é fundamental que sejamos capazes de ser empáticos com o que sentem.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s1600/mindfulness+para+pais+largar.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="850" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s320/mindfulness+para+pais+largar.png" width="320" /></a></div>
Enquanto formos capazes de manter uma ponte entre o nosso coração e o deles será sempre muito mais fácil que eles encontrem a sua coragem para lidar com este tipo de situações e que se mantenham sempre fieis a si mesmos e às suas emoções, sem medo de as sentir. <b>E isto é tudo o que podemos fazer pelos nossos filhos na verdade: não podemos poupá-los ao sofrimento nem às angústias de ter que lidar com os outros mas podemos dar-lhes uma base sólida e segura onde podem sempre voltar e descansar. Descansar de verdade, no nosso amor, no nosso coração e nos nossos braços.</b> E é nesse descanso que eles irão encontrar a sua capacidade de lidar com os desafios e de enfrentar o medo, a tristeza e a frustração que tantas vezes fazem parte da vida. <b>Aprender a não ter medo do que sentimos é provavelmente o aspecto mais importante de qualquer educação emocional.</b> E só podemos aprender a não ter medo dos nossos sentimentos mais intensos se houver alguém que já tenha feito esse mesmo percurso, que já tenha lidado com esses mesmos sentimentos e que nos ajude a passar por eles, de mãos dadas sempre que for necessário, percebendo que nada de mal acontece no final. </div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518352527579078772.post-70350314037762139952018-03-12T09:37:00.005-07:002018-10-10T02:02:28.087-07:00Ecrãs, dopamina, prazer e relações humanas<div style="text-align: justify;">
Há dias precisei de ir a uma urgência hospitalar com um dos meus filhos e não pude deixar de reparar com tristeza na quantidade de crianças que esperavam nessa urgência com os olhos pegados a um ecrã de telemóvel ou um tablet, isto para além da televisão na sala de espera ligada num desses canais em que é possível ver desenhos animados 24 horas por dia. A maior parte dessas crianças tinha menos de três anos e muitas não tinham sequer um. </div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhktM7QeC3tuCBXg2mYvSqOstJ6s-9ctYgS3bgtvOqMUNN9TSCdwIpQZ4PL_HiwKyQjZeU_hJSTYXktemnB0qQ9IlEakrJKry4w-z5-12uGJjGH5aFhH1xKkp088ixNhVgD02JC0DEx-8ex/s1600/foto1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhktM7QeC3tuCBXg2mYvSqOstJ6s-9ctYgS3bgtvOqMUNN9TSCdwIpQZ4PL_HiwKyQjZeU_hJSTYXktemnB0qQ9IlEakrJKry4w-z5-12uGJjGH5aFhH1xKkp088ixNhVgD02JC0DEx-8ex/s320/foto1.jpg" width="240" /></a>Há poucos dias li também um artigo que falava da forma como os conteúdos digitais são cada vez mais pensados para fomentar o seu uso o mais possível e até para criarem alguma dependência. E a realidade é que temos cada vez mais adolescentes e até crianças verdadeiramente viciadas em ecrãs. </div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A esmagadora maioria dos pediatras hoje em dia afirma que as crianças com menos de dois anos não devem ter nenhum contacto com ecrãs. </b><br />
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Então é preciso termos noção das consequências que traz este uso, sobretudo durante os primeiros anos de vida em que o cérebro está em formação.<br />
<b><br /></b>
<b><br /></b>
<b>A culpa é da dopamina...</b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aqui é importante distinguir a internet e os jogos da televisão, porque, apesar de tudo existem diferenças e o potencial de criar dependência é um pouco maior nos primeiros. <b>Isto porque quando navegamos pela net, quando usamos uma rede social ou quando jogamos um jogo é muito mais fácil provocar no nosso cérebro aquilo que podemos chamar uma injecção de dopamina</b>. A dopamina é um neurotransmissor que está associado às sensações de prazer e que tem um papel muito importante em todos os comportamentos de dependência. Sempre que recebemos um gosto em alguma fotografia do facebook, sempre que alguém nos começa a seguir no instagram por exemplo, recebemos um pequeno incremento de dopamina, o que está ligado a uma sensação de prazer. Isto acontece também sempre que estamos a jogar um jogo, de cada vez que conseguimos atingir um determinado objectivo.<b> Tudo nas redes sociais é pensado para potenciar ao máximo essas injecções de dopamina e nos jogos todos os barulhinhos e cores que aparecem cada vez que conseguimos atingir um dos objectivos do jogo serve também para alimentar essa rede de dopamina no cérebro que faz com que queiramos receber cada vez mais esta estimulação. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quantidades ainda maiores de dopamina são libertadas por drogas como a cocaína, por exemplo e estão relacionadas com a dificuldade em deixar o seu consumo. Porque a dopamina é uma substância que está ligada ao prazer, a sua falta está ligada a sentimentos de depressão, que podem surgir se não conseguirmos produzir dopamina suficiente. E, no caso das dependências, a falta daquele objecto que provocava o aumento de dopamina no cérebro está ligada às várias sensações de sofrimento intenso que podem surgir.<br />
<br />
<b>....Mas não só </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Acontece que, sempre que produzimos dopamina desta forma, podemos dizer que estamos a dar origem a um sentimento de gratificação vazio.</b> Da mesma forma que o açúcar são calorias vazias de nutrientes, a dopamina que produzimos através da realidade virtual também é uma gratificação vazia. <b>Vazia porque não está ligada a nenhum sentimento de crescimento nem de realização pessoal, não nos ajuda a crescer, nem a estarmos mais ligados aos outros e por isso torna-se uma gratificação vazia</b>. E tal como o açúcar nos dá um pico de energia que não é sustentável e que acaba por fazer com o que o organismo depois tenha uma quebra ainda maior nos seus níveis de energia, a dopamina produzida desta forma tem um efeito semelhante: pode levar a picos que não se mantêm por muito tempo e que depois levam a uma quebra ainda maior desses níveis. Criando assim um ciclo em que depois, o organismo tem necessidade de receber novamente uma grande quantidade de dopamina para poder voltar a sentir esse pico.<br />
E esta é uma das razões pelas quais pode ser tão perigosa. Já existem investigações que demonstram que o tempo passado nas redes sociais pode estar ligado a sentimentos de depressão e de tristeza e uma das razões pelas quais isto pode acontecer pode justamente ter a haver com o facto de que <b>quando ficamos dependentes desta dopamina produzida virtualmente podemos deixar de saber produzi-la com a vida real.</b> E, quando isto acontece torna-se muito difícil atingirmos algum tipo de satisfação pessoal.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5XflRi7Z2UDjmlfdIvdMP2Zx9PQDQgycDntWZytDO3RtFRzZ_Z-J30eesdKuTCVF4erkyPLp_g1MZB6clreokdxTqSev8tk_wniwG7lxnvjkBnbw0varr2J0uggvYolYd7dOY4BCrJ_zR/s1600/20140401-003_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5XflRi7Z2UDjmlfdIvdMP2Zx9PQDQgycDntWZytDO3RtFRzZ_Z-J30eesdKuTCVF4erkyPLp_g1MZB6clreokdxTqSev8tk_wniwG7lxnvjkBnbw0varr2J0uggvYolYd7dOY4BCrJ_zR/s320/20140401-003_.jpg" width="240" /></a><b>A dopamina também está muito ligada aquilo a que Panksepp chama o sistema de busca que, por sua vez, está ligado a um sentimento de prazer e de realização pessoal e está na base de um sentimento de entusiasmo pela vida</b>. Este circuito activa-se sempre que estamos à procura de informação, sempre que aprendemos algo, ou simplesmente quando estamos a ter um comportamento que nos motiva a seguir em alguma direcção. Então este sistema tem um papel fundamental na nossa capacidade de nos sentirmos satisfeitos e realizados com a vida e tem também um papel fundamental em qualquer aprendizagem e por isso é muito importante mantê-lo estimulado e activo se queremos que as crianças tenham gosto e prazer em aprender. Acontece que quando navegamos na Internet, ou numa rede social, também acabamos por activar este sistema de busca e por isso libertamos a tal dopamina mas, se isto não for usado de forma construtiva, acabamos por estar a activar este sistema de uma forma fútil e por isso torna-se muito menos satisfatória e o prazer que provoca tem uma duração muito mais curta, o que quer dizer que acabamos por precisar de reforçar muitas vezes essas doses e isto pode levar ao tal comportamento de dependência. <b>Isto é verdade também para os adultos mas é especialmente grave para as crianças que ainda têm o cérebro em formação e que, por isso, acabam muito mais facilmente por desenvolver esses comportamentos de dependência e, de certo modo, podem mais facilmente esquecer-se que existem outras formas mais saudáveis e duradouras de produzir dopamina. </b><br />
<br />
Nos primeiros anos de vida, aprendemos a produzir dopamina sobretudo através da nossa relação com as pessoas mais importantes, quando tudo corre bem com estas ligações. <b>Se as pessoas mais importantes da nossa vida não estiverem verdadeiramente presentes e disponíveis nos primeiros tempos de vida, pode ser mais difícil o bebé ou a criança pequena terem toda a segurança necessária para serem capazes de sentir verdadeiramente prazer nas relações e assim a produção de dopamina pode ficar comprometida</b>. E, se o nosso organismo não aprender a produzi-la nos primeiros anos, torna-se muito mais difícil fazê-lo mais tarde. Esta é uma das substâncias que o bebé produz sempre que sorri para a mãe e a mãe lhe sorri de volta, por exemplo. À medida que vamos crescendo podemos aprender a produzi-la com todas as pequenas conquistas e aprendizagens que vamos fazendo sobre nós como aprender a saltar, a correr e a subir para o escorrega no parque infantil mas também sobre o mundo. Mas também aqui, é preciso que haja adultos que nos fazem sentir seguros pois só assim teremos a coragem de partir para essas conquistas e aprendizagens e de experimentar esse prazer que elas podem dar-nos. A segurança é essencial para manter intactos o instinto e a vontade de aprender nas crianças, porque aprender é ao mesmo tempo partir para o mundo e deixá-lo entrar em nós e isto pode ser bastante arriscado. Por isso é essencial que saibamos que existe uma base de segurança para quando tudo corre mal.<br />
<br />
<b>Quando não há essa segurança nos primeiros anos de vida, o organismo da criança vive inundado de hormonas ligadas à resposta de stress e tem muito mais dificuldade em produzir substâncias ligadas ao prazer, como a dopamina.</b> Isto quer dizer que, mais tarde, a pessoa terá muito mais necessidade de procurar prazer em substâncias externas ou em comportamentos de dependência porque precisa dessas doses de dopamina e nunca aprendeu a produzi-las de uma forma saudável e sustentável. Sabe-se hoje que este é um dos mecanismos que estará na base de todas as dependências, e foi mesmo esse o tema do primeiro artigo deste blog:<a href="http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/search/label/In%20the%20Realm%20Of%20Hungry%20Ghosts%20-%20Algumas%20reflex%C3%B5es%20sobre%20o%20livro%20de%20Gabor%20Mat%C3%A9">aqui</a><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A televisão e a falta de dopamina </b><br />
<br />
Aqui também encontramos uma diferença importante entre a televisão e a internet: <b>é que a televisão não activa da mesma forma o sistema de busca porque nos coloca numa posição um pouco mais passiva e, por isso, acaba por não estimular tanto a produção de dopamina o que faz com que o mecanismo que provoca dependência neste caso não seja tão intenso. </b><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Mas, a televisão tem outros perigos importantes, sobretudo para as crianças mais pequenas</b>. Durante os primeiros dois anos de vida o cérebro das crianças está na sua fase mais intensa de crescimento, são anos em que se perdem e constroem milhares de ligações neuronais, quando o cérebro passa por aquilo a que, em inglês se chama <i>prunning</i>, que podemos traduzir como aparar. <b>E as ligações que são perdidas ou construídas dependem quase exclusivamente das experiências que a criança vive durante esse tempo e, sobretudo, da qualidade das ligações que ela vai formando. </b>Porque as crianças dependem dessa ligação para se manter vivas, já que um bebé humano é um ser totalmente indefeso e dependente e os seres humanos são animais muito sociais, são provavelmente o animal em que as relações humanas são mais importantes. <b>Por isso os primeiros anos das crianças são totalmente destinados a estabelecer relações de segurança a perceber como é que estas funcionam. E esta é uma das razões pelas quais a televisão pode ser nociva nesses primeiros anos: porque as desvia dessa tarefa fundamental</b>, porque ver televisão é uma tarefa solitária, mesmo que alguém esteja ao nosso lado a ver connosco, pode levá-las a subverter de algum modo esse instinto que lhe diz que precisam de procurar relações com os adultos e que é através dessas relações que devem procurar entender o mundo.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Existem já vários estudos que demonstram que as crianças que passam mais tempo expostas a programas de televisão durante os primeiros anos de vida podem mesmo apresentar alguns atrasos ao nível da linguagem, mesmo quando são expostas a programas com conteúdos educativos.</b> Um estudo em particular demonstrou muito bem isto quando pôs dois grupos de crianças pequenas em contacto com um programa educativo com uma diferença entre os dois grupos: o primeiro recebia esse conteúdo através da televisão e o segundo via exactamente a mesma coisa, com a mesma pessoa, mas ao vivo. O segundo grupo aprendeu muito mais desses conteúdos, além de que registou uma experiência muito mais positiva da situação. Isto demonstra bem como as crianças estão programadas para aprender em relação e através dessa relação. <b>Então um dos grandes prejuízos que a televisão pode provocar nos primeiros anos de vida, é que pode bloquear esse instinto inato de aprendizagem que as crianças trazem com elas e que mantém activo quando tudo corre bem.</b> E é este instinto que as leva também a activar o tal sistema de busca que, por sua vez, também as faz produzir dopamina, mais uma vez. Então sempre que uma criança mexe num objecto ou anda pelo mundo, nos primeiros tempos da sua vida, ela está a aprender algo, porque é assim que as crianças aprendem: a experimentar, a mexer, a manipular, em movimento e, essa aprendizagem, quando tudo o resto está bem no mundo da criança, pode levar a esse sentimento de prazer que é tão importante para a manter activa, feliz e com um sentimento de realização pessoal. <b> A televisão, ao colocar a criança num estado completamente passivo, bloqueia esse circuito de aprendizagem e esse modo de busca e, quanto menos a criança o activa, mais difícil será voltar a activá-lo.</b> Por isso é muito natural que o excesso de televisão esteja ligado a várias dificuldades de aprendizagem. Além de que um excesso de televisão está também ligado a problemas comportamentais e dificuldades várias, justamente porque contribui para fazer com as crianças se tornem mais incapazes de ter prazer nas suas vidas e, consequentemente, de se sentirem felizes.<br />
<br />
<br />
<b>Usar ecrãs como intermediários nas nossas relações </b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<b>Outro aspecto particularmente grave do uso das tecnologias é o que acontece quando as usamos como uma espécie de intermediários entre nós e as crianças, sobretudo para não termos de lidar com aquilo que as crianças estão a sentir ou a manifestar em determinado momento</b>. Acho que foi isto que mais me incomodou na sala de espera dessa urgência: perceber que a sala estava cheia de crianças doentes e que tudo o que uma criança doente precisa é de colo e uma dose extra de carinho, atenção e paciência por parte dos pais mas a maior parte daqueles pais parecia já não saber dar esse colo sem um ecrã à mistura. </div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhotuDfv8tGNvPzRUDoi8x1Ybgilesw-WDmiz9gmUHesdQtqmU4O0VLySLyjl-XOjMTwhv_iXTE-3y50YqGjQbgGYL_OOBkSBsRM786LeFg8EWKUT3WwuaTRrlhEEENbRqepCT-VSTC1cJO/s1600/foto2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhotuDfv8tGNvPzRUDoi8x1Ybgilesw-WDmiz9gmUHesdQtqmU4O0VLySLyjl-XOjMTwhv_iXTE-3y50YqGjQbgGYL_OOBkSBsRM786LeFg8EWKUT3WwuaTRrlhEEENbRqepCT-VSTC1cJO/s320/foto2.jpg" width="240" /></a></div>
Não sei onde já ouvi a expressão <i>chupeta digital</i> mas aplica-se muito bem aqui, porque muitas vezes usamos as chupetas justamente para não termos de lidar com o choro ou com os protestos das crianças e, hoje em dia, muitos pais fazem isso com as tecnologias e usam-nas para fazer com as crianças parem de chorar ou de protestar nas mais variadas situações. Isto é particularmente grave porque é essencial que deixemos as crianças sentir o que sentem e que sejamos capazes de acolher as manifestações dos seus sentimentos para que elas possam aprender a lidar com eles e também a não ter medo das suas próprias emoções, já que este medo é uma das maiores fontes de sofrimento para muitos adultos.<br />
<br />
<b>Então sempre que pomos um ecrã entre nós e as emoções dos nossos filhos estamos a dizer-lhes que não somos capazes de lidar com aquela emoção que ele está a expressar, que não somos capazes de o acolher e aceitar naquele estado. </b>E isto transmite-lhes uma mensagem muito nociva: que não pode confiar em nós para o ajudar a lidar com aquilo que sente e, aos poucos, isso vai fazendo com eles deixem de confiar em nós, com que deixem de se sentir seguros connosco e isso só fará com a ligação entre nós fique cada vez mais corroída e danificada o que, por sua vez, irá também danificar a própria relação deles com o mundo e também consigo próprios. Porque sem os pais como bússola, como lugar seguro e como fonte de confiança, segurança e estabilidade, todas as crianças ficam perdidas, desorientadas e muito mais difíceis de educar. <b>Então aquilo que parece facilitar-nos tanto a vida durante alguns momentos porque faz com que a criança pare de chorar ou fique entretida enquanto temos algum tempo para nós, a longo prazo, afinal, pode mesmo dificultar-nos muito a nossa vida e a dos nossos filhos também. </b><br />
<b><br /></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s1600/mindfulness+para+pais+largar.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="630" data-original-width="850" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdtLE4CA9t7aGcodeugB5CVV5yaaPVDMcNbajS3xBTqYe22YYfJ-KF9JOGdrFZt2gIppsVYMr08KreW5f0M3plc5CDlDdloDV7A6csFFfZPwusfZSxc20rESBAYB8qZZY83cq2d3cRr52H/s320/mindfulness+para+pais+largar.png" width="320" /></a></div>
<b><br /></b></div>
Parentalidade com Apegohttp://www.blogger.com/profile/08648024280880207366noreply@blogger.com0