Duas crianças,
com cerca de dois anos e meio, brincam no parque infantil com alguns brinquedos
espalhados no chão. Brincam lado a lado porque, nestas idades, as crianças
ainda não têm a capacidade de interagir e cooperar de forma a que se possa
dizer que estão verdadeiramente a brincar em conjunto. Estas
crianças estão entretidas no seu mundo, brincando e comunicando ao
seu modo até que uma delas decide bater com um carrinho de madeira na cabeça da
outra que desata a correr para o pé da sua mãe a chorar.
Pode ter sido apenas para ver como reagiria o outro, para ver se o carrinho faria algum som a bater na cabeça do rapaz, para saber se se partiria ou porque estava realmente chateado com alguma coisa que se tivesse passado entretanto. O que é certo, é que as crianças, por vezes, fazem estas coisas e não o fazem por maldade, porque, nesta idade ainda nem têm bem a capacidade de perceber o que isso é ou a capacidade de perceber bem o sofrimento do outro. Mas, neste caso, o pai do rapaz que bateu que apenas viu o outro menino sair a correr para o colo da mãe que lhe explicou que o seu filho lhe tinha batido com o carro na cabeça, pega no filho pelo braço e leva-o para o pé do outro que chorava dizendo com voz grave e autoritária: “pede desculpa ao Pedro, vá pede desculpa!” A criança não tinha vontade nenhuma de pedir desculpa, até porque nem percebia muito bem o porquê daquele alarido todo, mas o pai insiste: “Não vês o Pedro a chorar? Diz desculpa ao Pedro, vá! Estou à espera que peças desculpa!” Perante esta insistência, o coitado lá repete, esta palavra que o pai tanto quer que ele diga, em voz baixa, com um ar entre o assustado pela reacção do pai e pela confusão toda que se gerou de repente e o envergonhado pela atitude do pai e das restantes pessoas que olham para si como se, de repente, tivesse passado de coisa mais fofa ao diabo em figura de gente. Mas o pai ainda não ficou satisfeito com estas desculpas repetidas em voz baixa e pouco segura e continua ainda a insistir: “Isso assim não é nada, ninguém ouviu! Pede desculpa outra vez ao Pedro como deve ser, em voz alta!” A criança agressora lá repete a tal palavra ao agredido – agora num tom mais alto mas com um ar ainda mais humilhado - que não parece muito interessado em ouvi-lo, até porque já não lhe dói a cabeça e já está confortável no colo da sua mãe e, entretanto ficou também meio baralhado com aquela confusão toda. O pai, continuando a pegar na criança pelo braço e um pouco mais aliviado com o pedido de desculpas do filho, pede também desculpa à mãe do Pedro e leva-o para longe dali aproveitando o caminho para lhe dizer que não volte a fazer isso e que se bate em mais algum menino não volta a trazê-lo ao parque tão cedo.
Pode ter sido apenas para ver como reagiria o outro, para ver se o carrinho faria algum som a bater na cabeça do rapaz, para saber se se partiria ou porque estava realmente chateado com alguma coisa que se tivesse passado entretanto. O que é certo, é que as crianças, por vezes, fazem estas coisas e não o fazem por maldade, porque, nesta idade ainda nem têm bem a capacidade de perceber o que isso é ou a capacidade de perceber bem o sofrimento do outro. Mas, neste caso, o pai do rapaz que bateu que apenas viu o outro menino sair a correr para o colo da mãe que lhe explicou que o seu filho lhe tinha batido com o carro na cabeça, pega no filho pelo braço e leva-o para o pé do outro que chorava dizendo com voz grave e autoritária: “pede desculpa ao Pedro, vá pede desculpa!” A criança não tinha vontade nenhuma de pedir desculpa, até porque nem percebia muito bem o porquê daquele alarido todo, mas o pai insiste: “Não vês o Pedro a chorar? Diz desculpa ao Pedro, vá! Estou à espera que peças desculpa!” Perante esta insistência, o coitado lá repete, esta palavra que o pai tanto quer que ele diga, em voz baixa, com um ar entre o assustado pela reacção do pai e pela confusão toda que se gerou de repente e o envergonhado pela atitude do pai e das restantes pessoas que olham para si como se, de repente, tivesse passado de coisa mais fofa ao diabo em figura de gente. Mas o pai ainda não ficou satisfeito com estas desculpas repetidas em voz baixa e pouco segura e continua ainda a insistir: “Isso assim não é nada, ninguém ouviu! Pede desculpa outra vez ao Pedro como deve ser, em voz alta!” A criança agressora lá repete a tal palavra ao agredido – agora num tom mais alto mas com um ar ainda mais humilhado - que não parece muito interessado em ouvi-lo, até porque já não lhe dói a cabeça e já está confortável no colo da sua mãe e, entretanto ficou também meio baralhado com aquela confusão toda. O pai, continuando a pegar na criança pelo braço e um pouco mais aliviado com o pedido de desculpas do filho, pede também desculpa à mãe do Pedro e leva-o para longe dali aproveitando o caminho para lhe dizer que não volte a fazer isso e que se bate em mais algum menino não volta a trazê-lo ao parque tão cedo.
Não assisti a esta cena mas já vi outras parecidas várias vezes. E fico sempre a
pensar: o que é a criança aprende com este pedido de desculpas? Nada.
Rigorosamente nada de útil ou positivo. O pai desta cena a única coisa que fez foi fazer com que a
criança se sentisse envergonhada e humilhada sem sequer chegar a perceber bem
porquê. Esta criança sentiu-se humilhada pela atitude do pai que lhe mostrou
que fez algo de muito grave, de muito errado e que a colocou no centro
de todas as atenções, ao mesmo tempo que a forçava a repetir uma palavra que
ela nem percebia muito bem para que servia ou o que queria dizer. Porque
desculpa é apenas uma palavra, não serve de nada para que a criança perceba as
consequências dos seus actos. Depois desta espécie de humilhação pública em que
todo o parque olhava para a criança à espera do tal pedido de desculpas a única
coisa que o pai lhe disse é que não se podia bater e que, se o fizesse,
deixaria de o trazer ao parque, transmitindo-lhe mais uma vez essa ideia ou
sensação de que fizera algo de muito grave, de tão feio que o pai nem queria
voltar a ser visto com ele em público novamente se esse comportamento fosse
repetido. Esta atitude só traz à criança uma sensação de vergonha que é dos
sentimentos mais nocivos que podem existir. Uma criança envergonhada,
humilhada, é uma criança que sente que deixou de ser digna do amor dos pais e
este é um sentimento muito corrosivo para uma criança pequena que precisa deste
amor e que usa os seus pais como um espelho. As crianças aprendem quem são
através daquilo que veêm reflecido nos pais. Uma criança que vê constantemente
reflectido no olhar dos seus pais este sentimento de desaprovação de
incompreensão é uma criança que se passa a ver de uma forma muito negativa. Se
os pais veêm os seus comportamentos como um mal que precisa de ser controlado a
criança passa a acreditar também que existe essa mal dentro de si e isso poderá
ser muito prejudicial para o seu desenvolvimento, para a sua auto-estima e para
a sua confiança em si mesma.
Então, nestes
casos, qual seria a melhor forma de lidar com uma situação destas? Seria muito
mais adequado se o pai tentasse mostrar à criança as consequências das suas
acções sem a fazer sentir-se humilhada, sem a fazer sentir-se desajustada, sem
a fazer sentir que existe algo de errado consigo. Porque na realidade, uma
criança pequena que bate não o faz por maldade mas sim por incompreensão,
incompreensão das consequências desse acto e do sofrimento que pode provocar
nos outros. Então o pai poderia ter falado com ele, mostrado como o outro
menino ficou triste e magoado, aproveitando para ajudar a criança a compreender as consequências dos seus actos. Poderia também explicar que não gosta de o ver bater nas outras crianças, mas fazendo isto a partir de um lugar,
dentro de si, que sabe que a criança não o fez por mal, a partir desse lugar que
ama o seu filho acima de tudo e que é capaz de o ver como um ser integralmente bom mas que, por vezes, faz coisas erradas.
Porque os nossos filhos aprendem a ver-se a si mesmos através do nosso olhar. A imagem que temos deles é exactamente a imagem que eles irão formar de si mesmos. Então é muito importante sermos capazes de lhes transmitir uma imagem positiva mesmo nas situações que gostaríamos de corrigir. É fundamental sermos capazes de transmitir aos nossos filhos este amor incondicional porque é através dele que eles aprenderão a amar-se a si próprios. Isto não quer dizer que precisamos de ter uma atitude passiva perante todos os comportamentos deles mas quer dizer que é muito importante sermos capazes de corrigir os comportamentos sem sentir que precisamos de castigar a criança. É muito importante olharmos para a criança como alguém que, por vezes, pode precisar de ser direccionado, pode precisar de alguém que lhe mostre alguns limites ou outros caminhos a seguir mas não podemos olhar para ela como alguém que tem uma natureza má e que precisa de ser controlada. Porque se for esta a imagem que temos deles será esta a imagem que eles construirão de si próprios. Então podemos aprender a corrigir ou a direccionar sem castigar, sem julgar. Precisamos de aprender a corrigir mantendo presente o amor que temos por eles. Porque os momentos em que erramos são justamente aqueles em que mais precisamos de nos sentir amados e aceites. Só assim estaremos verdadeiramente disponíveis para reflectir sobre esse erro e aceitar que errámos.
Porque os nossos filhos aprendem a ver-se a si mesmos através do nosso olhar. A imagem que temos deles é exactamente a imagem que eles irão formar de si mesmos. Então é muito importante sermos capazes de lhes transmitir uma imagem positiva mesmo nas situações que gostaríamos de corrigir. É fundamental sermos capazes de transmitir aos nossos filhos este amor incondicional porque é através dele que eles aprenderão a amar-se a si próprios. Isto não quer dizer que precisamos de ter uma atitude passiva perante todos os comportamentos deles mas quer dizer que é muito importante sermos capazes de corrigir os comportamentos sem sentir que precisamos de castigar a criança. É muito importante olharmos para a criança como alguém que, por vezes, pode precisar de ser direccionado, pode precisar de alguém que lhe mostre alguns limites ou outros caminhos a seguir mas não podemos olhar para ela como alguém que tem uma natureza má e que precisa de ser controlada. Porque se for esta a imagem que temos deles será esta a imagem que eles construirão de si próprios. Então podemos aprender a corrigir ou a direccionar sem castigar, sem julgar. Precisamos de aprender a corrigir mantendo presente o amor que temos por eles. Porque os momentos em que erramos são justamente aqueles em que mais precisamos de nos sentir amados e aceites. Só assim estaremos verdadeiramente disponíveis para reflectir sobre esse erro e aceitar que errámos.
Na verdade
este pai, ao forçar o filho a pedir desculpas desta forma, provavelmente fê-lo
porque se sentiu ele próprio envergonhado com o comportamento do filho,
preocupado com o julgamento dos outros, com medo que os outros pais ou mães
presentes pensassem que o seu filho era má pessoa ou que ele não o sabia
educar. Então é preciso também estarmos sempre conscientes das escolhas que
fazemos quando escolhemos educar os nossos filhos neste tipo de situações e é
muito importante perguntarmo-nos sempre se agiriamos exactamente da mesma forma
caso estivéssemos sozinhos e sem mais ninguém a ver.
Porque os
nossos filhos precisam mesmo de saber que os amamos seja em que circustâncias
for. E precisam de ver reflectido nos nossos olhos, através de nós e da forma
como interagimos com eles que são seres humanos bons, capazes, competentes e
dignos de ser amados mesmo quando cometem erros.
Obrigado... Vou repensar meus atos com meu filho...
ResponderEliminar