Quando
o meu filho tinha ainda dois meses uma amiga sugeriu que desse uma vista de
olhos num blog que ensinava os bebés a adormecerem sozinhos. O facto de ele
adormecer no colo não era algo que me preocupasse, até porque ainda era tão
pequenino, mas lá dei uma vista de olhos no tal blog que descrevia a forma de
aplicar o método de Ferber que consiste em deixar as crianças chorar, sozinhas
na sua cama, durante um certo período de tempo que vai aumentando
progressivamente até que a criança acabe por adormecer sozinha. Nesse blog a
mãe de uma bebé descrevia como a filha tinha chorado durante algumas noites
sozinha, por um longo período de tempo até que, ao fim de algum tempo (não me
lembro quanto) acabou por passar a adormecer sozinha sem chorar. O tempo que dura
até que o bebé deixe de chorar depende, por um lado da sua própria
personalidade - há bebé que desistem mais facilmente de tudo - por outro da
coerência com que os pais o aplicam - se estes não responderem mesmo, de forma
nenhuma ao choro do bebé, é natural que ele desista mais depressa.
Instintivamente
senti que nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas ao meu filho mas, o que é
certo, é que os pais que o fazem estão convencidos de que é o melhor para seus
filhos. Por isso não vale a pena criticar ou julgar, mas acredito que vale a
pena apresentar argumentos válidos para mostrar porque é que este método
prejudica muito mais do que ajuda e porque é que pode ser o suficiente para
minar o vínculo tão especial que deve existir entre pais e filhos. Porque muitas
pessoas ainda acham que esta é a melhor forma de por um bebé a dormir, aqui
ficam as reflexões que tenho feito ao longo dos meus dois anos como mãe sobre
este assunto, baseadas nas leituras que vou fazendo como psicóloga.
Alto grau de dependência - Em primeiro lugar, é importante
percebermos que os seres humanos nascem com um alto grau de dependência. Quando
comparamos um bebé humano com um animal que pode correr apenas algumas horas
depois de nascer percebemos que as crias humanas nascem com um alto grau de
imaturidade. Para que a nossa capacidade ao nascer fosse comparável à dos
outros mamíferos precisaríamos de nascer com um cérebro equivalente ao de uma
criança de três anos o que tornaria a passagem da sua cabeça pela pélvis da mãe
impossível. Este grau de imaturidade significa que o bebé depende dos pais para
tudo: durante os primeiros anos de vida estes são fundamentais para a sua
sobrevivência. Assim, o afastamento dos pais é assustador para um bebé pequeno
e o choro é um comportamento de alarme que serve para comunicar que algo não
está bem. Se ignorarmos esse comportamento, eventualmente, ele acaba por se
desligar, visto que não está a cumprir a sua função mas isto não quer dizer que
o bebé não permaneça num estado de alarme e tensão. Existem estudos que mostram
que, mesmo quando os bebés param de chorar e adormecem sozinhos, os níveis de
cortisol na sua corrente sanguínea continuam anormalmente elevados, o que quer
dizer que o bebé continua num estado de stress.
Somos mamíferos – o ser humano faz parte do grupo dos mamíferos, em que as
Somos mamíferos – o ser humano faz parte do grupo dos mamíferos, em que as
crias precisam de mamar durante um
período de tempo o leite das suas mães. Isto quer dizer que precisam de estar
perto delas. Por outro lado, todos os mamíferos têm um sistema límbico
relativamente desenvolvido, este é o que possibilita o estabelecimento de laços
e de relações sociais que também cumprem uma função de protecção, sobretudo
para as crias. O homem, enquanto ser da cidade tem muito pouco tempo de
existência quando comparado com o ser da floresta, ou da natureza. Então, tal
como os outros animais, as crias humanas vêm programadas para estar junto dos
seus pais, já que o afastamento destes dificultaria muito a sua sobrevivência.
O homem será com certeza o único mamífero que afasta as crias de si, principalmente
enquanto dormem que é o período de vulnerabilidade máxima.
Não é natural –
não só não é natural afastarmos os nossos bebés de nós como ainda é mais
anti-natural ignorarmos o seu choro. O choro de um bebé é dos estímulos a que é
mais difícil resistir, porque estamos programados para não o fazer. Mesmo que o
bebé não seja nosso, o primeiro instinto é o de fazer qualquer coisa, nunca o
de ignorá-lo. As mães que seguem este método muitas vezes contam que é a coisa
mais difícil que já tiveram que fazer e que é muitíssimo angustiante não fazer
nada enquanto os filhos choram. Está certo que assim seja, porque não devemos
fazê-lo. Um estudo mostrou que, quando os pais ouviam uma gravação dos filhos a
chorar, achavam sempre que o tempo do choro tinha sido em média o dobro do
tempo real, isto mostra como este é um estímulo difícil de aguentar. Mas não
tem que ser assim tão difícil criar um filho: se há muita tensão em todo o
processo é porque algo não está a correr bem. Cuidar de um bebé deve ser natural
e agradável e, se seguirmos os nossos instintos, mais facilmente o será.
Plasticidade neuronal na infância - Nascemos com um cérebro altamente
imaturo mas em grande desenvolvimento o que significa que nos primeiros três
anos de vida o nosso cérebro ainda está em organização e, nesta altura são
estabelecidas milhares de ligações neuronais importantes ao mesmo tempo que
outras são irremediavelmente perdidas. Nestes primeiros anos de vida existe uma
enorme plasticidade ao nível neuronal, o que faz com que as crianças, nesta
fase, se tornem também extremamente receptivas a todo o meio ambiente, como se
fossem umas pequenas esponjas que vão absorvendo tudo o que as rodeia. Durante
os primeiros três anos de vida as crianças passam por aquilo a que, em inglês,
se chama prunning, que significa que algumas ligações neuronais que não venham
a ser usadas serão definitivamente perdidas. Um exemplo disto é a forma como se
desenvolve a linguagem: os bebés nascem com capacidade para imitar todos os
sons humanos. Quando nasce o bebé é, potencialmente capaz, de produzir todo o
tipo de sons mas, à medida que os meses passam e ele ouve apenas os sons da sua
língua materna vai perdendo a capacidade de fazer os sons que não ouve nessa
língua. É por isso que, uma criança que aprenda a falar duas línguas desde que
nasce poderá falar as duas com uma pronúncia igualmente perfeita mas, alguém
que aprenda uma segunda língua mais tarde, por muito bem que a domine, terá
sempre alguma incapacidade de produzir os sons que forem totalmente estranhos
para a sua língua materna
Então esta é uma
altura em que o cérebro do bebé está numa aprendizagem intensa e constante
acerca do seu ambiente e das pessoas com quem vive. Todo o seu organismo está
como que a ser programado para viver num determinado ambiente. Uma criança a
quem os pais respondem prontamente está-se a preparar para viver num mundo onde
os outros são de confiança e uma fonte de conforto. Uma criança que chora
sozinha repetidamente fica programada para deixar de esperar dos outros qualquer
tipo de conforto ou de consideração pelos seus sentimentos.
A experiência da cara neutra – esta mostra como os
bebés, mesmo com um ano de vida, são bons a ler a comunicação não verbal dos
seus pais e como precisam desesperadamente de estabelecer uma relação com
estes. Se os pais não respondem ao filho, como se vê no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=apzXGEbZht0,
estes ficam aflitos e entram rapidamente num estado de agitação e aflição. O nosso
cérebro possui dois hemisférios: o esquerdo que está mais relacionado com a
lógica, com o racional com a análise intelectual do mundo, para prestar atenção
aos pormenores e para a interpretação da linguagem e o direito que está muito
mais vocacionado para se ligar às emoções, para observar o todo e para prestar
atenção aos comportamentos não verbais. Nos bebés o hemisfério direito está
muito mais desenvolvido, na verdade este hemisfério predomina pelo menos nos
dois primeiros anos de vida é por isso que as crianças são muito mais ligadas
às emoções e reagem ao mundo sempre de uma forma emotiva pelo menos enquanto
ainda não dominam a linguagem, altura em que o hemisfério esquerdo como começar
a tornar-se um pouco mais proeminente. Isto significa que, tal como as pessoas
com afasia (um distúrbio na produção e na compreensão da linguagem) os bebés e
crianças pequenas são muito perspicazes na captação das mensagens não verbais
que os adultos lhes transmitem.
Então,
nos seus primeiros tempos de vida o ser humano parece vir programado para
procurar nos outros, principalmente através da sua linguagem não verbal, o
afecto e a capacidade de estabelecer as ligações de que precisa para se
desenvolver.
Prejudica o vínculo – as crianças precisam de
estabelecer com os pais um vínculo seguro. O facto de não saberem se podem
contar sempre com estes pode prejudicar muito este desenvolvimento. Ver
artigo: http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/2013/05/apego-base-que-define-nossa-relacao-com.htm
Desesperança aprendida – a desesperança aprendida é um nome de Martin Seligman criou para descrever um estado muito parecido com o de uma depressão. Este estado é provocado pela sensação de que não temos absolutamente nenhum controlo sobre o nosso meio ambiente. Se um bebé chora e alguém resolve aquilo que o estava a incomodar este sente que as suas acções importam, sente que tem algum poder sobre o que lhe acontece. E esta é mesmo a melhor forma de nos protegermos contra a ansiedade e a depressão. Vários estudos na área da psicologia positiva mostram que um dos factores mais importantes para a felicidade e bem-estar é sentir que podemos controlar aquilo que nos acontece. As investigações sobre o stress também mostram que a falta de uma sensação de controlo está associada a altos níveis de stress e a uma maior probabilidade de complicações de saúde. Para saber mais sobre este tema pode ler o artigo: http://psiyoga.blogspot.pt/search/label/Psicologia%20Positiva%20-%20a%20Ci%C3%AAncia%20da%20Felicidade
Desesperança aprendida – a desesperança aprendida é um nome de Martin Seligman criou para descrever um estado muito parecido com o de uma depressão. Este estado é provocado pela sensação de que não temos absolutamente nenhum controlo sobre o nosso meio ambiente. Se um bebé chora e alguém resolve aquilo que o estava a incomodar este sente que as suas acções importam, sente que tem algum poder sobre o que lhe acontece. E esta é mesmo a melhor forma de nos protegermos contra a ansiedade e a depressão. Vários estudos na área da psicologia positiva mostram que um dos factores mais importantes para a felicidade e bem-estar é sentir que podemos controlar aquilo que nos acontece. As investigações sobre o stress também mostram que a falta de uma sensação de controlo está associada a altos níveis de stress e a uma maior probabilidade de complicações de saúde. Para saber mais sobre este tema pode ler o artigo: http://psiyoga.blogspot.pt/search/label/Psicologia%20Positiva%20-%20a%20Ci%C3%AAncia%20da%20Felicidade
Empatia –
a empatia é um aspecto fundamental dos relacionamentos. É através dela que
percebemos como os outros se sentem e que podemos estabelecer relações
significativas e gratificantes. Um bebé a quem os pais respondem quando chora
está a ser tratado com empatia. Aprende que os seus sentimentos são importantes
e, esta é a única forma de, no futuro ele aprender a considerar os dos outros.
Para o estabelecimento da empatia é importante que mãe aprenda a escutar o
bebé. Os bebés gostam de interagir e procuram muitas vezes o contacto humano
mas, um bebé pequeno cansa-se facilmente e no meio dessas interacções o bebé,
muitas vezes dá sinais de que está cansado. Por exemplo, um bebé pequeno pode
balbuciar e sorrir para a mãe quando esta imita os seus sons, algo que é
agradável e engraçado para um bebé mas, a certa altura é natural que este se
canse e que o mostre voltando a cara para o lado ou baixando os olhos deixando
de interagir com a mãe. Se esta perceber que o bebé está cansado da brincadeira
e lhe der espaço para ficar um pouco “sozinho” está a mostrar-lhe que as suas
sensações são válidas e
importantes e
que é capaz de se sintonizar com estas. Quando estas interacções acontecem
repetidamente o bebé fica como que programado para valorizar os seus
sentimentos e, é só através da tomada de consciência dos nossos sentimentos,
que podemos passar a estar despertos para os dos outros.
Não é necessário responder sempre ao bebé – este argumento é muitas
vezes usado pelos defensores do deixar chorar. De facto há estudos que indicam
que a não é
necessário, nem desejável que mãe responda à criança 100% das
vezes: o mais saudável para o desenvolvimento futuro da criança é que mãe
responda adequadamente a maior parte mas não todas as vezes. Esta questão é
importante na medida em que o bebé precisa de aprender a lidar com frustração
e, por isso é desejável que a sinta de vez em quando. Mas é muito diferente
deixar um bebé lidar com a frustração de tentar apanhar um brinquedo que não
consegue, por exemplo, ou deixá-lo chorar sozinho propositadamente. Há sempre
pequenas frustrações que surgem naturalmente e que cumprem essa função. Muitas
vezes mesmo que a mãe tente consolar o bebé nem sempre percebe imediatamente
como fazê-lo ou não o pode mesmo fazer, como quando o bebé está doente ou tem
dores, por exemplo, mas faz toda a diferença que o bebé perceba que esta, pelo
menos está presente e está a tentar dar-lhe algum conforto e carinho. Deixar um
bebé chorar sozinho e de propósito mais do que criar uma pequena frustração com
a qual este pode aprender a lidar activa a sua resposta de alarme e
sobrecarrega todo o seu sistema de lidar com o stress.
Exposição repetida ao stress – deixar um bebé chorar sozinho,
repetidamente, é sobrecarregar o seu sistema de resposta ao stress. Isto, como
demonstra bem o livro da psicoterapeuta Sue Gerhardt - Why Love Matters http://www.whylovematters.com/ - fará
com que esse bebé tenha fortes probabilidades de se tornar um adulto com uma
grande tendência para activar o seu sistema de alarme, ou seja, um adulto
ansioso e com dificuldade em lidar com os desafios, porque foi um bebé que
ficou programado para viver num mundo hostil e desagradável. Para saber mais
sobre como isto acontece pode ler o artigo, A resposta de Stress nos bebés:
http://www.espaco-vida.com/Zen%20-%20Stress%20nos%20bebes.pdf
Desenvolvimento cerebral – hoje em dia sabe-se que uma exposição
repetida ao stress, para além dos atrasos cognitivos e emocionais, pode mesmo
provocar um atraso no desenvolvimento cerebral. É possível ver imagens de
crianças maltratadas em que várias partes do cérebro, como por exemplo o
hipocampo, têm um tamanho menor do que outras crianças com a mesma idade que
não passaram por essas experiências.
Documentário sobre uma criança de dois
anos no hospital – John Bowlby e James Robertson fizeram um
filme famoso que documentou a estadia de uma criança de 2 anos e 5 meses num
hospital numa altura em que não era permitida a presença dos pais durante a
maior parte do tempo em que as crianças estavam internadas. Nesta altura em
1952, Laura, uma criança de 2 anos e 5 meses foi internada durante 8 dias
para fazer uma operação. No filme é possível observar aquilo que Bowlby e
Robertson classificaram como os estágios clássicos de uma criança que é privada
do contacto com a sua mãe durante um período longo de tempo: no ínicio, Laura
começa por chorar e gritar que quer a sua mãe durante uma boa parte do tempo.
Quando a mãe a visita nos dias seguintes, Laura fica muito ansiosa e quer que
esta lhe pegue ao colo o que a mãe não faz por acreditar que é contra as
políticas do hospital. Nos primeiros dias, Laura mostra-se muito ansiosa e
chora várias vezes gritando que quer a mãe, principalmente depois das visitas,
durante os procedimentos médicos ou quando uma enfermeira se mostra mais
amigável e atenciosa. Mas, a partir de certa altura, a criança deixa de chorar
pela mãe e passa a exibir um comportamento mais controlado e passivo que os
médicos e enfermeiras classificavam como um bom comportamento. Nas últimas
visitas Laura já não procura a proximidade da mãe, embora se mostre ainda muito
ansiosa quando esta se vai embora. E, no último dia, quando finalmente a levam
para casa o que se pode ver é que Laura já não procura a proximidade física da
mãe e caminha até um pouco atrás desta, mostrando-se mais reservada e até com
uma certa apatia emocional. Com este filme, que contribuiu decisivamente para
mudar a política dos hospitais no que toca á permanência dos pais durante o
internamento, Bowlby e Robertson mostraram que uma criança que se sente
abandonada pelos pais passa primeiro por uma fase inicial de revolta e
ansiedade em que a criança exprime abertamente a sua angústia para depois
entrar num estágio de letargia emocional que pode ter consequências
devastadoras que podem nunca mais ser ultrapassadas, modificando para sempre a
confiança que esta depositava na mãe ou no pai e alterando o seu
relacionamento. Nas primeiras visitas da mãe ao hospital o que se verificava
era que Laura estava numa agitação constante que vinha do medo de voltar a ser
abandonada, quando este se receio se voltou a confirmar vários dias seguidos a
criança simplesmente deixou de procurar activamente a mãe, o que não significa
que tivesse ficado tranquila ao fazê-lo.
Um bebé que é deixado a chorar também se
sente abandonado, e tal como no filme, acaba por desistir de procurar conforto
na pessoa que o abandonou.
Memória implícita - Durante os primeiros dois anos de vida
as crianças não têm uma memória
autobiográfica, porque ainda não conseguem
organizar os seus pensamentos de acordo com os conceitos de espaço e tempo. Por
isso não temos memórias concretas desses primeiros anos, no entanto, as
experiências importantes dessa fase ficam registadas naquilo a que se chama
memória implícita. A memória implícita é aquela que, muitas vezes, condiciona o
nosso comportamento e as nossas escolhas sem nos darmos conta disso. Memória
explícita é a parte da memória de que fazemos uso quando nos lembramos activamente
de algo, se queremos lembrar-nos por exemplo, da festa que fizemos no nosso 15
aniversário, usaremos a nossa memória explícita para tentarmos ir buscar
imagens ou sensações que estejam associadas à ocasião e que nos permitam ir
buscar o fio condutor para reconstruirmos a história daquilo que se terá
passado nesse dia. A memória implícita é aquilo que usamos, por exemplo, quando
estamos a conduzir: não precisamos de nos lembrar detalhadamente de cada
movimento que temos de fazer porque estes já acontecem de forma implicita, já
aprendemos a fazer tudo o que é necessário noutra ocasião, por isso usamos esse
conhecimento sem termos de recorrer a ele detalhadamente. Então, tudo o que
acontece nos nossos primeiros anos de vida fica registado nessa memória implicita
e, esta dá-nos um padrão, um molde de como será o mundo, daquilo que devemos
esperar da vida e dos nossos relacionamentos. Se os nossos pais nos deixavam a
chorar sozinhos muitas vezes, é muito provável que fique na memória implícita
esse sentimento de desesperança aprendida que pode vir a manifestar-se mais
tarde, em qualquer altura da vida.
Independência – muitos pais usam este argumento
acreditando que os filhos têm de ser independentes, por isso precisam de
aprender a dormir sozinhos. Em primeiro lugar é preciso dizer que ninguém é
verdadeiramente independente. Todos precisamos dos outros e, a ciência mostra,
que as pessoas mais felizes são justamente aquelas que estabelecem melhores
relacionamentos interpessoais. Uma criança cujas necessidades não são
respeitadas terá muito mais probabilidades de se tornar um adulto dependente:
porque haverá sempre um vazio por preencher. Tal como mostra o trabalho de
Gabor Mate, uma boa parte das dependências – de drogas, de comportamentos ou
ate de comida ou pessoas- tem por base uma sensação de vazio e de abandono que
a pessoa não consegue eliminar de outro modo. Em segundo lugar é preciso dizer
que não se pode ensinar ninguém a dormir, tal como não se ensina a fazer xixi
ou cocó, podemos apenas dar as melhores condições à criança para que o sono,
que é uma necessidade biológica aconteça. E a condição mais importante é a
segurança: para adormecer bem a criança precisa, antes de mais de sentir-se
segura.
Em relação à independência existem formas
de a estimular que não implicam um abandono e falta de consideração pelos
sentimentos da criança: deixá-los brincar e explorar à vontade (coisa que as
crianças seguras, com pais que respondem às suas necessidades fazem melhor),
deixá-los terminar as suas tarefas sem precisarmos de interferir ou de dar uma
ajudinha quando vemos que não estão a conseguir, deixá-los levantarem-se
sozinhos quando caem, não os tornarmos dependentes dos nossos elogios ou dos
nossos julgamentos, ajudá-los a tomar consciência do que sentem, do que querem
e de quem são, etc
Síndroma da Morte Súbita - Os trabalhos
de investigação do Dr. James McKenna, que criou o laboratório de estudos do
comportamento da mãe e do bebé em relação ao sono, mostram que, para um bebé com menos de um ano pode ser prejudicial dormir a noite toda. De acordo com este autor, os bebés antes de um ano de idade têm um aparelho respiratório ainda não totalmente desenvolvido e, por isso, podem surgir apneias enquanto dormem. Por esta razão, os bebés têm um sono muito ligeiro e com acordares frequentes. Se os treinarmos para terem um sono mais profundo, quando ainda não estão prontos para tal, isto pode fazer com que não consigam despertar destas apneias levando a casos de morte súbita. Para este investigador a melhor forma de o prevenir é deixando que os bebés durmam com os pais porque, os bebés que dormem com os pais, ao que parece têm um sono mais ligeiro e acordares mais
frequentes – embora com menos choro e com menos tempo total em que ficam acordados
durante a noite. Nas culturas onde é tradição os bebés
dormirem com os pais, como acontece na maior parte dos países asiáticos,
praticamente não se conhecem casos de morte súbita. Para ler mais sobre isto pode consultar o site: http://cosleeping.nd.edu/
Conclusão: um bebé que é repetida e propositadamente deixado a chorar sozinho deixa de acreditar no pais como fonte de conforto, ou na sua própria capacidade de os trazer de volta e, assim desiste simplesmente de chorar. E um bebé que desistiu de um comportamento que é essencial para a sua sobrevivência é, de certo modo, um bebé que desistiu de si mesmo e da vida.
Conclusão: um bebé que é repetida e propositadamente deixado a chorar sozinho deixa de acreditar no pais como fonte de conforto, ou na sua própria capacidade de os trazer de volta e, assim desiste simplesmente de chorar. E um bebé que desistiu de um comportamento que é essencial para a sua sobrevivência é, de certo modo, um bebé que desistiu de si mesmo e da vida.
Parabéns, pelo artigo!
ResponderEliminarExcelente trabalho...
ResponderEliminarExcelente trabalho...
ResponderEliminarMuito obrigado Laura,por descrever de um modo tao coerente e convincente,algo tao importante.Continue a publicar estas pérolas
ResponderEliminarTão bom ver que o amor e instintos maternais estam sempre certos. Excelente artigo.
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