Uma
vez ouvi um senhor dizer que, desde que os filhos nasciam, passávamos a viver para eles e não pude deixar de ficar a pensar nessa frase e no desconforto que
me provocou. É o mesmo desconforto que sinto muitas vezes quando oiço algumas
mães dizerem que põem os filhos em primeiro lugar e só depois pensam nelas. São
frases que não gosto de ouvir porque me lembram como já ouvi tantas pessoas
adultas queixarem-se de que as mães lhes dizem constantemente que fizeram tudo
por elas deixando implícita a mensagem – sempre pesada e desconfortável – de que
os filhos devem, de alguma forma, pagar a dedicação que tiveram para com eles
durante todos os anos em que foram pequenos.
Por
muito bem intencionada que seja uma mãe que diz que põe sempre os filhos em
primeiro lugar isto significa que há alguma parte de si que não está a ser
cuidada. Eu não ponho o meu filho em primeiro lugar pela simples razão de que,
tudo o que faço por ele, estou a fazer por mim também. Sempre que cuido dele,
sempre que faço alguma coisa por ele que precisa de ser feita tenho plena
consciência de que, esse cuidar me traz muito mais a mim do que a ele. Vejo na
maternidade um complemento daquilo que sou e não uma tarefa que tenho de
cumprir por isso não me faz sentido dizer que o ponho em primeiro lugar porque,
para o pôr em primeiro ou em segundo lugar teria de haver uma hierarquia que
não existe: não sinto que faça sentido por as necessidades dele à frente das
minhas porque são ambas igualmente importantes, nem mais nem menos. Claro que há
coisas que são mais urgentes, porque ele é mais pequeno e dependente, há
algumas necessidades que não podem esperar, algumas coisas que não podem ser
adiadas mas isso não significa que as ponha em primeiro lugar, significa apenas
que percebo que são mais urgentes.
Também sei que
tenho a responsabilidade como mãe de cuidar das minhas necessidades e essas
necessidades nem sempre estão relacionadas com ele. Sei que, sempre que deixar
uma necessidade minha por preencher irei estar um pouco menos disponível, menos
receptiva para as necessidades dele.
Mas, a verdade
é que, muitas das necessidades dele também são minhas. Por exemplo, ele tem
necessidade de estar comigo, de me sentir presente, mas eu também tenho
necessidade de estar com ele. Ele -como
qualquer criança - tem necessidade de sentir que é uma prioridade na minha
vida, que é valorizado por mim, que é amado – mas eu também tenho necessidade
de arranjar formas de lhe demonstrar isso. Portanto nada disso é visto como uma
tarefa, um objectivo que precisa de ser cumprido e que me irá roubar tempo ou
espaço porque todo o tempo que tenho com ele também é um tempo que tenho
comigo: também é um tempo que posso aprender a estar presente, a aceitar, a
comunicar, a não julgar, a crescer tanto como ele cresce comigo.
Depois há as
outras necessidades mais básicas como a de comer, a de dormir, de ter uma casa
minimamente limpa e arrumada, etc, e são
essas que, por vezes, se podem tornar um peso mas, mesmo com essas posso
aprender que não estou só a cuidar dele mas também de mim, porque também eu
preciso dessas coisas todas e a verdade é que, desde que fui mãe, passei, por exemplo, a ter uma alimentação muito mais saudável.
Uma das coisas que ouvimos como mães é que precisamos de cuidar da relação do casal e, quase sempre se pensa que só o podemos fazer se nos afastarmos dos filhos. Mas, se os dois membros do casal conseguirem olhar para a parentalidade como uma oportunidade de crescimento, de auto-preenchimento e de auto-conhecimento não há necessidade de o fazer. Ser pai ou mãe também nos pode tornar melhor marido ou mulher porque, se deixarmos, nos pode tornar pessoas mais felizes, mais preenchidas e mais capazes de aceitar e apreciar verdadeiramente o outro. Os filhos ajudam-nos a crescer, a olhar para dentro de nós e isso só pode favorecer uma relação que já tenha bases sólidas de aceitação e respeito mútuo.
Uma das coisas que ouvimos como mães é que precisamos de cuidar da relação do casal e, quase sempre se pensa que só o podemos fazer se nos afastarmos dos filhos. Mas, se os dois membros do casal conseguirem olhar para a parentalidade como uma oportunidade de crescimento, de auto-preenchimento e de auto-conhecimento não há necessidade de o fazer. Ser pai ou mãe também nos pode tornar melhor marido ou mulher porque, se deixarmos, nos pode tornar pessoas mais felizes, mais preenchidas e mais capazes de aceitar e apreciar verdadeiramente o outro. Os filhos ajudam-nos a crescer, a olhar para dentro de nós e isso só pode favorecer uma relação que já tenha bases sólidas de aceitação e respeito mútuo.
Lembro-me da
primeira vez que fui de férias com o meu filho e, uma parte de mim, pensava que
não ia poder descansar de verdade porque estaria sempre a cuidar dele e
lembro-me que vim muito feliz dessas férias porque me senti totalmente
descansada, repousada e incomparavelmente mais feliz do que se tivesse ido sem
ele! Nessa altura percebi que não é cuidar dos filhos que cansa, o que cansa é
a rotina do dia-a-dia. Cuidar dos filhos não cansa absolutamente nada se
tivermos consciência de que cuidar deles é também cuidar de nós. Porque cada
momento com os nossos filhos é uma oportunidade para nos renovarmos, para
crescermos, para nos conhecermos e para aprendermos a ser melhores como mães e
como seres humanos.
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