Ultimamente,
talvez por estarmos em período de férias, tenho-me confrontado muito com a
questão das ausências: quando é que é a idade certa, se é que existe alguma,
para que uma mãe se possa ausentar alguns dias sem os filhos?
Na verdade, não existe uma resposta simples a esta questão. É muito importante sabermos
que os primeiros três anos de vida de uma criança são fundamentais para o
estabelecimento de um vínculo forte, saudável e seguro com os pais. E, o
estabelecimento desse vínculo requer uma presença quase constante destes na
vida da criança. Sobretudo durante os primeiros dois anos de vida, a criança
está quase exclusivamente focada no seu relacionamento com os pais e,
principalmente, com a mãe. Durante os primeiros dois anos a mãe é a fonte
mais imediata e segura de conforto e de segurança para a criança. Se o pai
estiver, desde o início muito presente na vida da criança, é provável que este
passe a estabelecer com ele também uma relação forte de apego mas, para isso,
é preciso que essa presença se dê de forma constante e que haja um verdadeiro
envolvimento do pai na vida da criança desde o seu primeiro dia de vida.
No primeiro
ano de vida a criança ainda está a tentar perceber como é que funciona o
mundo e o que pode esperar dos adultos que a rodeiam. Nesta altura a sua capacidade de estabelecer vínculos é limitada e não é possível que este se estabeleçam com muitos adultos em simultâneo. No seu primeiro ano de vida a criança começa a reconhecer as pessoas que são significativas para si mas ainda não tem capacidade para armazenar memórias relativas a um número muito grande de pessoas. Assim, as pessoas com estará mais naturalmente vocacionada para estabelecer vínculos nesta altura serão a mãe e o pai ou outras pessoas que estejam mais presentes na vida da criança. Se esta for deixada várias horas com um adulto responsável e atento às suas necessidades é muito natural que se estabeleça também um vínculo forte com essa pessoa e é desejável que os pais permitam que isso aconteça. Para que se estabeleça um vinculo seguro entre uma criança e um adulto há algo fundamental: uma presença constante e uma disponibilidade grande para a criança. No primeiro ano de vida a criança não tem ainda uma memória que lhe permita assimilar muita informação acerca dos adultos que a rodeiam e não tem capacidade de se lembrar destes na sua ausência. E, porque uma criança desta idade não tem ainda uma noção do tempo, nem da sua continuidade, todas as ausências de pessoas significativas para si são, de certo modo, sentidas como perdas permanentes. Antes dos três anos de vida a criança não tem uma memória que lhe permita internalizar a figura da mãe e saber que, quando esta não está presente, ela não desapareceu e continua a existir na sua vida. São precisas muitas repetições em que a mãe sai e volta a aparecer para que a criança comece a perceber que mãe acaba sempre por voltar mas, para que esta associação positiva se estabeleça é necessário que estas ausências não sejam tão grandes que a criança se sinta em perigo, despoletando o seu sistema de alarme que, aí activará um modo de protecção que dificultará muito o estabelecimento de vínculos.
mundo e o que pode esperar dos adultos que a rodeiam. Nesta altura a sua capacidade de estabelecer vínculos é limitada e não é possível que este se estabeleçam com muitos adultos em simultâneo. No seu primeiro ano de vida a criança começa a reconhecer as pessoas que são significativas para si mas ainda não tem capacidade para armazenar memórias relativas a um número muito grande de pessoas. Assim, as pessoas com estará mais naturalmente vocacionada para estabelecer vínculos nesta altura serão a mãe e o pai ou outras pessoas que estejam mais presentes na vida da criança. Se esta for deixada várias horas com um adulto responsável e atento às suas necessidades é muito natural que se estabeleça também um vínculo forte com essa pessoa e é desejável que os pais permitam que isso aconteça. Para que se estabeleça um vinculo seguro entre uma criança e um adulto há algo fundamental: uma presença constante e uma disponibilidade grande para a criança. No primeiro ano de vida a criança não tem ainda uma memória que lhe permita assimilar muita informação acerca dos adultos que a rodeiam e não tem capacidade de se lembrar destes na sua ausência. E, porque uma criança desta idade não tem ainda uma noção do tempo, nem da sua continuidade, todas as ausências de pessoas significativas para si são, de certo modo, sentidas como perdas permanentes. Antes dos três anos de vida a criança não tem uma memória que lhe permita internalizar a figura da mãe e saber que, quando esta não está presente, ela não desapareceu e continua a existir na sua vida. São precisas muitas repetições em que a mãe sai e volta a aparecer para que a criança comece a perceber que mãe acaba sempre por voltar mas, para que esta associação positiva se estabeleça é necessário que estas ausências não sejam tão grandes que a criança se sinta em perigo, despoletando o seu sistema de alarme que, aí activará um modo de protecção que dificultará muito o estabelecimento de vínculos.
Entre os 12
meses e os dois anos a criança começa já a ser capaz de armazenar na sua
memória alguma informação relativa a um maior número de adultos que tenham uma
presença significativa na sua vida. Durante o segundo ano de vida a criança
começa a ser capaz de estabelecer relações com os avós, tios ou primos que veja
com regularidade e se mostrem disponíveis para ela. No entanto, durante o seu
segundo ano de vida apesar da criança começar já a dar os primeiros passos para
a sua socialização a mãe ainda é uma figura fundamental para a sua segurança e
conforto. Isto é visível quando, por exemplo, a criança se magoa e a única
pessoa que consegue confortá-la e fazer com que pare de chorar é a mãe por muito
que haja outros adultos bem intencionados à sua volta a tentar. Isto, é claro,
se a criança tiver estabelecido um apego seguro com a mãe. Porque uma criança
desta idade ainda não consegue internalizar a imagem das suas figuras de apego e
ainda não tem uma memória temporal que lhe permita perceber o conceito de tempo
e saber que a mãe voltará dentro de algumas horas ou dias, as ausências mais
prolongadas (mais do que 24 horas) ainda podem ser sentidas como um abandono
permanente com consequências traumáticas para uma criança desta idade.
Até aos dois
anos de vida o cérebro das crianças está em constante mutação e são criadas e
eliminadas milhares de ligações neuronais. Isto quer dizer que esta é uma fase
de grande receptividade e que todas as experiências desta fase têm um impacto
muito grande e que deixará marcas que podem ser definitivas na vida dessa
criança. Uma criança desta idade ainda está a tentar perceber o que esperar do
mundo e o seu cérebro organiza-se em função do que vai encontrando. Se aquilo
que encontra é a ausência dessa figura principal em quem confia para se sentir
protegida e apoiada o cérebro irá preparar-se para lidar com essa perda que a
criança não sabe que é temporária. E para o fazer começa por activar o seu
sistema de resposta ao stress que pode passar a funcionar de forma
permanentemente alterada se entrentanto não se fizer nada para o compensar. (ver artigo: A resposta de Stress nos bebés)
Entre os dois
e os três anos o cérebro da criança está ainda em fase de grande crescimento
mas, nesta altura, a criança começa já, por um lado a ser mais facilmente capaz
de estabelecer relações significativas com outras pessoas e, por outro, a ter
alguma noção da temporalidade que lhe permite perceber que a mãe se ausenta de
vez em quando mas que acaba sempre por voltar. Isto não quer dizer que a
criança nesta altura esteja já preparada para lidar com uma ausência de muitos
dias até porque, como já dissemos, ainda não é capaz de internalizar a figura
da mãe. Uma criança de 7 ou 8 anos que se magoa, por exemplo, é capaz de se
lembrar da sua mãe, perceber que ela não pode estar presente naquele preciso
momento mas que, quando se voltarem a encontrar, ela lhe poderá dar uma dose
extra de carinho e, com esta idade a criança já pode sentir-se confortada com
este pensamento e ser capaz de esperar até que volte a ver a mãe. Uma criança
de dois ou três anos que se magoa ainda não consegue perceber porque é que mãe
não está presente, não sabe muito bem quando voltará a estar –se alguém lhe
disser que a mãe volta daqui a dois dias ou duas horas, para criança é igual
porque não faz ideia do que isso significa – e não tem capacidade de imaginar
os carinhos que a mãe lhe poderia fazer se estivesse presente. A única coisa
que uma criança desta idade consegue sentir é que lhe falta alguém que a possa
confortar e voltar a fazer sentir-se segura.
Alguns autores
defendem que até aos 6 anos a criança está totalmente voltada para o
estabelecimento dos vínculos e das relações significativas para si, que
idealmente, acontecerão com os pais e irmãos. A partir dos três anos, apesar da criança precisar ainda muito da mãe, as diferenças são que esta passa a ter alguma noção de tempo, já percebe que mãe não se vai embora para sempre, já é capaz
de estabelecer mais facilmente relações de confiança e conforto com outros
adultos com quem passe muito tempo e já começa a ser capaz de internalizar a
imagem da mãe, usando-a para se confortar mesmo quando esta não está
fisicamente presente. Não quer dizer que uma criança desta idade seja ainda
capaz de tolerar, sem danos para si e para a relação, ausências muito prolongadas
mas, pelo menos estas já não terão um efeito tão traumático ou marcante.
E quando não
podemos escolher e somos mesmo obrigados a deixar os nossos filhos?
Por vezes, por questõs profissionais, as mães são mesmo obrigadas a deixar por alguns dias os filhos. Quando isto acontece é muito importante, em primeiro lugar, deixá-los com pessoas com quem exista uma boa relação de apego. Se o pai tiver sido sempre muito presente na vida da criança, este será a pessoa ideal. Se a criança passa o dia com alguma ama ou avó dedicada, esta poderá ser a figura substituta que mais se adequa. Depois, essa pessoa, terá de perceber que, para a criança, aquela poderá ser mesmo uma fase traumática e terá que estar preparada para algumas alterações de comportamento, como maiores períodos de choro que será mais difícil de acalmar, maior necessidade de contacto físico, maior necessidade de atenção. Se a criança não tiver uma relação de confiança com a pessoa com quem fica estas manifestações podem não se verificar porque a criança não as irá encarar como uma fonte de conforto. Por outro lado também é comum que estas alterações aconteçam mais quando a mãe volta a estar presente. Isto não quer dizer que a criança não sofreu com a ausência da mãe como tantas vezes se costuma pensar. Quer dizer apenas que a criança, quando não encontrou uma fonte adequada de protecção e conforto, deixou de a procurar e tentou continuar a sua vida como se não precisasse dela. Acontece algo parecido com os bebés que são deixados a chorar sozinhos e acabam por deixar de chorar mas os seus níveis de cortisol – uma hormona que se segrega em maior quantidade em situações de stress – continuam mais altos que o normal: um comportamento quase de apatia e conformismo não significa que a criança não esteja a passar um um perído traumático, antes pelo contrário até.
Quando
a mãe volta podem acontecer duas coisas: a criança pode parecer ter regredido
um pouco no seu desenvolvimento, sobretudo em crianças um pouco mais velhas e,
durante os primeiros dias, não consegue largar a mãe e fica muito aflita de
esta se afasta um pouco. Isto quer dizer que a criança não percebeu porque a
mãe desapareceu e está com medo que desapareça de novo. A boa notícia é que
este comportamento revela que, apesar de a criança ter ficado mais insegura da
presença da mãe, a relação de apego não foi muito afectada e esta continua a
procurá-la com a sua fonte principal de conforto. Se, pelo contrário a criança
parece desligada e até afastada da mãe quando esta volta, é sinal de que a
relação foi afectada. Quando a criança deixou de poder contar com a presença da
mãe como fonte de conforto, para mimimizar o sofrimento ligado a essa
descoberta, acabou por desligar a parte de si que acreditava nessa relação e
deixou de encarar a mãe como uma figura importante e como a sua fonte principal
de conforto e segurança.

O mais importante é compreendermos que, depois de uma ausência prolongada, é fundamental que a relação seja reparada para que tudo possa continuar o mais harmoniosamente possível.
Ler também: Ausências: efeitos da privação da figura materna