A entrada na escola é um período de grandes mudanças na vida de uma criança e, por vezes, também dos pais.
Acredito que, antes dos três anos
as crianças deveriam passar o seu dia com os pais ou com um adulto que tome
conta delas e com quem possam estabelecer uma relação prioritária, o que não é
possível numa creche em que existem várias crianças. A grande tarefa dos
primeiros anos de vida de uma criança é estabelecer relações. Estabelecer
relações com os adultos que cuidam de si. Durante os primeiros dois anos de vida o cérebro das
crianças está em grande expansão e transformação e são criadas e perdidas milhares de ligações neuronais. E forma como tudo
isto acontece depende das experiências que a criança tenha. Uma criança precisa
de desenvolver relações seguras, em que se sinta protegida, ouvida, amada e são
estas ligações que irão influenciar toda a forma como se irá desenvolver e estruturar
o seu cérebro. As experiências dos primeiros anos de vida, quando são vivenciadas repetidamente, criam determinados padrões de funcionamento
cerebral que irão definir e moldar toda forma da criança viver e estar no mundo
e de se relacionar com a sua experiência e com as pessoas ao longo de todo a
sua vida. Isto pode parecer um pouco assustador mas, de facto, precisamos de
ter noção de como são importantes os primeiros anos de vida de uma criança. E
uma tarefa fundamental desses primeiros anos é estabelecer relações e, essas
relações, precisam de ser estabelecidas principalmente com outros adultos, não com crianças.
Porque nesta fase a criança precisa de se sentir protegida, amada, precisa de
de sentir acolhida e de ter um espelho e é impossível sentir isto da parte de outra criança pequena. Por isso, nesta fase, as crianças ainda não precisam tanto de estar com
outras crianças mas sim com adultos durante a maior parte do seu tempo. E, de
preferência com adultos que possam estar disponíveis e atentos durante a maior
parte do tempo, o que é muito difícil de conseguir com três ou quatro crianças
a cargo, todas da mesma idade e com as mesmas necessidades.
Além disso só a partir dos dois
anos de idade é que a criança começa a desenvolver alguma noção de aqui)
tempo e, só a partir dessa idade, é que começa também a desenvolver alguma capacidade de perceber que a sua mãe volta mesmo quando não está presente. Isto quer dizer que só a partir dessa idade é que a entrada na escola pode não ser uma ameaça tão grande uma vez que a criança pode começar a perceber que não irá ficar para sempre sem a mãe ou o pai. (este tema foi mais desenvolvido
tempo e, só a partir dessa idade, é que começa também a desenvolver alguma capacidade de perceber que a sua mãe volta mesmo quando não está presente. Isto quer dizer que só a partir dessa idade é que a entrada na escola pode não ser uma ameaça tão grande uma vez que a criança pode começar a perceber que não irá ficar para sempre sem a mãe ou o pai. (este tema foi mais desenvolvido
Mas, na verdade acredito que
antes dos três anos a criança não irá recolher nenhuns benefícios da escola.
Porque só a partir dessa idade é que o mundo da criança se começa
verdadeiramente a expandir e começa a surgir alguma capacidade e interesse em
estabelecer relações com outras crianças, embora nesta idade as crianças ainda
não formem verdadeiras amizades e não brinquem verdadeiramente em equipa – isto
começa a acontecer mais por volta dos quatro anos. É partir desta idade
também que a criança começa a ser capaz de interiorizar a imagem da mãe, do pai
e/ou de outros adultos significativos da sua vida, o que quer dizer que é capaz
de sentir que a mãe gosta de si mesmo quando esta não está presente. Isto é
muito importante porque lhe permite que não se sinta abandonada e pode dar-lhe algum conforto nos momentos difíceis.
Por outro lado, nesta idade, se a criança teve uma relação relação com os pais
e um bom modelo de relacionamentos seguros também já tem a confiança necessária
para estabelecer relações com outros adultos e crianças. Também é nesta idade que a criança começa a ser
capaz de brincar mais sozinha e de estar no seu mundo sem tanta necessidade de
ter a atenção constante de um adulto. E, nesta idade também a criança começa a
ter mais curiosidade pelo mundo e ser capaz de experimentar coisas diferentes
que a escola pode proporcionar.
Aos três anos, geralmente, a criança também já tem um bom domínio da linguagem e isto é importante porque, por um lado, permite-lhe expressar mais facilmente as suas necessidades mesmo com pessoas que não conhece e, por outro, permite-lhe também compreender melhor o que os pais lhe dizem sobre a escola e também contar aos pais o que lá se passou, ajudando a fazer uma ponte entre a sua vida na família e na escola.
Aos três anos, geralmente, a criança também já tem um bom domínio da linguagem e isto é importante porque, por um lado, permite-lhe expressar mais facilmente as suas necessidades mesmo com pessoas que não conhece e, por outro, permite-lhe também compreender melhor o que os pais lhe dizem sobre a escola e também contar aos pais o que lá se passou, ajudando a fazer uma ponte entre a sua vida na família e na escola.
Ainda assim, não quer dizer que
todas as crianças estejam preparadas para ir para a escola aos três anos ou que
tenham de o fazer. Na verdade, pode haver crianças que, aos três anos, ainda
precisem mais de estar com um adulto que possa estar mais presente e
disponível. Por outro lado, se os pais tiverem disponibilidade para
proporcionar à criança a variedade de experiências e de relacionamentos
que se encontram geralmente na escola, esta também pode não ser necessária.
Formas de tornar mais suave a entrada a criança na escola
Formas de tornar mais suave a entrada a criança na escola
Se tomou a decisão de levar o seu filho para a escola pela primeira vez, existem algumas questões que considero importantes e
que podem facilitar essa transição levando a uma melhor integração e diminuindo o stress e a ansiedade que tantas vezes surgem nesta altura.
1. Em primeiro lugar é importante decidir porque é que quer por o seu filho na escola. Pensar se ele realmente estará preparado para essa mudança e se será realmente o melhor para ele. Quando as crianças chegam aos três anos há muita pressão social para que entrem na escola mas, embora esta seja uma idade em que a entrada na escola se torna, geralmente, mais fácil não quer dizer que isto seja realmente o melhor para todas as crianças.
2. Depois, mais do que qualquer modelo educativo ou pedagógico, é fundamental conhecer as pessoas com quem vai deixar o seu filho. E é importante escolher uma escola aberta, onde lhe seja permitido ter este conhecimento. São elas que vão estar com o seu filho uma boa parte do dia. Se tudo correr bem essas pessoas irão também ter um papel importante nas experiências do seu filho e irão ajudar a moldar também a forma como ele se relaciona consigo e com os outros. Um bom educador torna-se um modelo a seguir, por isso pergunte-se se quer aquela pessoa como modelo para o seu filho. Mas, mais importante, pergunte-se se aquela pessoa será capaz de dar afecto e amor ao seu filho, porque é disso que as crianças precisam mais do qualquer coisa e isso é fundamental para estabelecerem uma boa relação com a escola e para que tudo corra bem.
Para mim, quando escolhi a escola do meu filho, o mais importante foi sentir que todas as pessoas que lá estavam – desde professores, directores, a auxiliares – eram pessoas que gostavam verdadeiramente de crianças. Visitei outras escolas onde isso não era tão visível e, para mim, isso é fundamental. Porque quero que o meu filho cresça com pessoas que sabe que gostam dele. Porque essas pessoas serão também o seu espelho.
3. Depois é importante que dê algum tempo à criança para conhecer a escola. As crianças desta idade, geralmente, não gostam de grandes alterações á rotina. Ainda agora começaram a ser capazes de perceber como é que as coisas se organizam e a ter alguma noção de como irá decorrer o seu dia e, de repente, tudo é alterado e estão numa situação completamente nova. Por isso há que tentar minimizar esse impacto. O ideal será que faça algumas visitas à escola e conheçam algumas pessoas antes de lá ficarem um dia inteiro. Depois dessas visitas também ajuda que vá falando com o seu filho sobre a escola, sobre quem ficará com ele e como será.
4. Nos primeiros dias também pode ser importante que os pais estejam presentes, mesmo na sala com a criança, pelo menos durante algum tempo. Muitas vezes os educadores não o permitem porque acham que irá dificultar a habituação da criança. Mas é importante estabelecer uma ponte entre a família e a escola para que a criança não se sinta tão ameaçada e esta poderá ser uma forma de o fazer. Para que isto aconteça o ideal é que o pai ou a mãe tentem brincar na sala com o filho um pouco, que conversem com o educador, com os auxiliares ou outros adultos presentes: se a criança vir que os pais estão à vontade e que gostam desses adultos, mais facilmente se sentirá à vontade para estabelecer uma relação com eles. Num mundo mais natural, viveríamos em comunidades mais pequenas em que as crianças já conheceriam os adultos e crianças com quem passariam o dia. Por isso é importante tentarmos recriar, dentro do que nos for possível, esse ambiente mais comunitário, de aldeia, para que as crianças se sintam seguras e confortáveis e para que a entrada na escola não seja a entrada num mundo novo, distante e completamente separado de tudo o que conheciam até essa altura. Neste sentido é importante questionar-se, antes de decidir a escola, se a política desta tem essa abertura com os pais e se lhe será possível fazê-lo. Certifique-se que a escola que escolheu não vê os pais como intrusos indesejáveis mas sim como parte da escola. Um dos sinais disso é o facto de, muitas escolas, nem deixarem os pais entrar nas instalações, como se não tivessem o direito de lá estar. Na escola do meu filho, podemos entrar em qualquer altura do dia e ir à sala dele e nunca me sentiria confortável se fosse de outro modo.
5. É importante também que tome consciência dos seus sentimentos em relação a esta nova fase da vida do seu filho. Porque esta entrada na escola trará consigo algumas mudanças. Para quem esteve com os filhos até esta altura esta é uma fase de separação que pode não ser fácil. Porque temos medo que os nossos filhos precisem de nós ou, por vezes, temos medo de precisar deles. Também porque vamos deixar entrar pessoas novas na vida dos nossos filhos e estas serão pessoas que, se tudo correr bem, se tornarão importantes para eles e terão também um papel significativo nas suas vidas. Isso pode também despertar alguns medos ou inseguranças da nossa parte.
Por outro lado, esta mudança na nossa rotina também implica alguma adaptação da nossa parte e nem todos lidam bem com isso.
E esta entrada na escola pode também despertar medos e feridas antigas da nossa parte. Se a nossa própria entrada na escola ou vida escolar não correu bem, se a escola era uma fonte de desconforto para nós ou de sofrimento, ou se nos sentimos abandonados e mal cuidados quando fomos para a escola é muito natural que essas feridas venham à superfície mesmo que não o façam de uma forma consciente. Por vezes estamos seguros da nossa escolha, sabemos que é o melhor para os nossos filhos, mas há uma sensação de desconforto e de mau estar que nem sabemos bem de onde vem e que pode estar relacionada com estas feridas mal resolvidas. Nestes casos ajuda tomarmos contacto com elas e percebermos que, por essa ter sido a nossa experiência, não quer dizer que seja a dos nossos filhos. e que, o facto de estarmos conscientes desse nosso sofrimento nos pode até tornar mais sensíveis e atentos às experiências do nosso filho, ajudando a torná-las mais positivas.
6. Sobretudo nos primeiros tempos, tente que a criança não fique demasiadas horas na escola. Hoje em dia as crianças passam tempo demais na escola, por isso tente ir buscá-las um pouco mais cedo, sobretudo na fase de adaptação, durante os primeiros meses. Algumas investigações concluiram que as crianças que passavam mais de trinta horas por semana na escola antes dos 4 anos de idade apresentavam comportamentos mais agressivos e níveis mais altos de ansiedade. Existem também estudos que mostram que, no jardim de infância, os níveis de ansiedade – medidos através de hormonas como o cortisol, na corrente sanguínea – vão subindo à medida que se aproxima o final do dia. As crianças, sobretudo as mais pequenas, não devem estar nove ou dez horas por dia na escola, como tantas vezes acontece.
7. Quando o for buscar à escola procure ter um tempo para estar verdadeiramente com o seu filho, a brincar ou conversar, a restabelecer a ligação da forma que for mais adequada. Se não o foi buscar à escola, e só vê ao chegar a casa procure estar com ele antes de fazer o que quer que seja. Sente-se ao pé dele, ou brinque com ele um pouco. Mostre-lhe que ele é verdadeiramente uma prioridade na sua vida.
8. Antes de irem para a escola, procure acordar com tempo para poderem estar um pouco juntos. É muito imporante restabelecer a ligação com a criança quando ela acorda e facilita muito toda a rotina. Tire alguns momentos para se deitar ao lado do seu filho na cama, ou para se sentar com ele no sofá, para estarem simplesmente juntos. Se fizer isto verá que tudo o resto corre com muito mais tranquilidade e harmonia. Não é que a ligação com os nossos filhos se perca quando estamos separados mas, mesmo assim, é importante reforçá-la sempre depois uma separação como dormir, ou passar um dia na escola
9. Esteja atento aos sinais do seu filho ao final do dia, veja se ele está contente, bem-disposto mesmo que esteja cansado. Oiça com muita atenção tudo o que ele lhe conta e lhe diz sobre a escola, mas observe também a sua linguagem corporal quando ele o faz. Esta é melhor forma de saber se tomou a decisão certa.
10. Se o seu filho chora quando o deixa na escola tente perceber porquê. É natural que a criança não queira sair da sua zona de conforto, daquilo a que está habituada, daquilo que conhece. È natural que haja uma certa resistência a separar-se dos pais para ficar com pessoas que mal conhece. Nem todas as crianças lidam com a mudança da mesma forma e nem todas expressam os sentimentos da mesma maneira.
Tente perceber se o choro pára logo ou se continua ao longo do dia e pergunte aos adultos como é que ele esteve.
Tente também perceber o que sente dentro de si quando o seu filho chora. Se os pais vão muito ansiosos deixar o filho na escola ele sente isso. As crianças são muito sensíveis e absorvem os nossos medos e ansiedades. Por isso, em primeiro lugar, certifique-se que não está, inconscientemente, a transmitir ao seu filho que a escola pode ser um lugar mau com a sua ansiedade ou o seu medo ao deixá-lo lá ficar.
É sempre difícil ver um filho chorar mas é preciso sabermos distinguir o choro de uma criança que está apenas a sair da sua zona de conforto e um choro de verdadeira angústia ou sofrimento.
Os pais são os maiores especialistas nos filhos, por isso o pai ou a mãe, melhor que ninguém saberão o que precisam de fazer para lidar com esse choro. Não deixe que os professores o desvalorizem ou o intimidem dizendo que só tem de se ir embora e de o deixar chorar um bocado. Porque se sair da escola ansioso ou inseguro é isso que irá transmitir ao seu filho no dia seguinte. Por isso fique o tempo que sentir que precisa de ficar para se sentir confortável. Às vezes não são só as crianças que precisam de lidar com os seus medos, os pais também, por isso tente encontrar formas de se sentir mais tranquilo nessa separação.
Também é muito importante saber como é que lidam com o choro do seu filho. Eu gostei muito de ouvir o educador do meu filho dizer que, na sala dele, estão proibidas frases do tipo: "os outros meninos não estão a chorar, não vês que só tu é que choras'" ou "não és nenhum bebé para estar a chorar". Os sentimentos da criança não podem ser desvalorizados dessa forma e é muito importante que os adultos que vão passar o dia com ela os saibam acolher e respeitar.
Por último, não tenha medo de falar com o seu filho sobre o que ele está a sentir e de lhe mostrar que gosta dele e que quer o melhor para ele. Mostre-lhe que o compreende e que aceita o sofrimento dele e que fará tudo o que for possível para que as coisas se tornem mais fáceis. E, se chegar à conclusão que esse choro não é só de desconforto mas sim de verdadeiro sofrimento então não hesite em pensar noutra alternativa e esperar mais um pouco se vir que o seu filho ainda não está preparado para a escola.