terça-feira, 31 de agosto de 2021

Deixem os miúdos em paz

Os adolescentes têm vindo a ser sacrificados desde que esta crise começou. Uma boa
parte dos seus direitos tem vindo a ser retirada e comportamentos naturais e essenciais
para esta idade têm vindo a ser criticados e até criminalizados. Têm sido proibidos de ir
à escola, de sair à noite, de estar com os amigos, de se aproximar uns dos outros, de
comunicar livremente sem precisarem de ter uma boa parte da cara tapada.
Agora, depois de um ano e meio de sacrifícios, de lhes termos retirado os seus direitos e
de os impedirmos de fazer coisas importantes para o seu bom desenvolvimento, chega a
última chantagem: a de que têm que levar uma vacina, de que não precisam e cujos
riscos são muito superiores aos eventuais benefícios, para que possam ser-lhes
devolvidos os direitos que lhes foram retirados. Muitos adolescentes dizem que querem
levar a vacina para poderem voltar à sua vida normal. Muitos dizem que só querem ser
vacinados para poderem continuar a viver. Como se a vacina lhes trouxesse a
possibilidade de regresso à vida que conheciam antes de terem sido fechados em casa e
acusados de estarem a contribuir para matar os seus avós. É muito natural que, perante
essa possibilidade de voltarem a ter tudo o que perderam, os adolescentes sintam
vontade de ceder a esta chantagem que pede aos mais novos que se sacrifiquem pelos
mais velhos.


Uma das características da adolescência é a subvalorização dos riscos. Faz parte do seu
desenvolvimento que tenham alguma tendência para desvalorizar os riscos, porque a
adolescência é uma altura de descobrir o mundo, de desbravar caminho, de deixar o
conforto e a segurança da casa e da família e isso implica sempre correr alguns riscos.
Por isso vemos tantos adolescentes a fazer coisas que a nós nunca nos passariam pela
cabeça. Mas, também por isso mesmo, é natural que desvalorizem os riscos da vacina,
que os dados indicam claramente que, para todos os que estão abaixo dos 30 anos, são
muito superiores aos da doença.

Mas não tenhamos ilusões: a vida nunca mais vai voltar ao normal se continuarmos a
aceitar estas decisões do estado totalitário que está a ser criado. Muitas pessoas dizem
que é egoísta falar em liberdade e em escolhas individuais nesta altura. Porque temos de
pensar no bem comum. Mas essas pessoas esquecem que a liberdade é o maior bem
comum que precisamos de proteger. A liberdade protege-nos a todos. Sem liberdade que
garantia temos de que não seremos presos um dia apenas por fazermos algo que,
entretanto, foi definido como sendo contra o bem comum? Todas as ditaduras começam
para alegadamente salvaguardar o bem comum. Estamos perante um totalitarismo
sanitário que, para algumas pessoas parece até aceitável, mas quem é que nos garante
que daqui por uns tempos não surjam outras razões para que este totalitarismo se
mantenha?

Têm ecoado por estes dias na minha memória as palavras de uma pessoa que levou a
vacina contrariada, por pressão dos empregadores. Essa pessoa dizia-me que nunca mais
se sentiu a mesma, que se sente diferente para pior, que tem tido mais dores de cabeça e
um humor mais depressivo. E questionava-se se seriam efeitos secundários da vacina.
Eu não tenho como saber se podem ser efeitos secundários dos produtos que compõem
a vacina ou não, mas posso afirmar que são com certeza efeitos de alguém que se sentiu
forçado e coagido a abdicar dos direitos sobre o seu próprio corpo. E não a vida não
volta ao normal depois disso porque quando deixamos de nos sentir livres de tomar decisões acerca do nosso próprio corpo podemos dizer que estamos a ser vítimas de uma forma de abuso e esse abuso deixa marcas, claro. Jantar fora e ir à discoteca não são o mais
importante para uma vida normal: o que um adolescente precisa para se sentir “normal”
é de saber que as suas decisões são respeitadas, acolhidas e que os adultos não querem
que assumam responsabilidades que ainda não são suas.

Um adolescente saudável sente-se imortal, tem uma tendência natural para pensar que
os perigos não existem ou que nunca lhe tocarão a si. As pessoas que têm tentado
influenciar o nosso comportamento durante esta crise sanitária sabem isso muito bem.
Um adolescente saudável não tem medo de morrer e muito menos de ficar doente. Por
isso eles têm sido levados a acreditar que podem pôr em perigo os outros. Sei de alguns
professores que chamavam criminosos aos alunos que se juntavam à porta das escolas,
fazendo apenas aquilo que o seu instinto lhes pede: conviver e fazer amigos. Os nossos
adolescentes e as nossas crianças têm sido vergonhosamente coagidos a sentirem-se
responsáveis pela vida dos mais velhos da sua família e não só. Apesar de tudo,
temos alguma tendência para proteger mais as crianças e exigir dos adolescentes que se
portem quase como adultos. Só que os adolescentes ainda não são adultos. A
adolescência é um período sensível para o desenvolvimento de muitas aptidões. Isto
quer dizer que os adolescentes estão programados para fazer algumas aprendizagens
que, quando não acontecem nesta altura, será muito mais difícil fazer com que
aconteçam mais tarde.

A adolescência e os primeiros anos de vida são as fases em que o cérebro está em maior
desenvolvimento. Nestas fases são criadas e perdidas milhares de ligações neuronais em
função de todas as experiências vividas: as mais frequentes deixam estruturas neuronais
que podem ficar para o resto da vida e aquelas que nunca são vividas fazem com que
determinadas estruturas se percam. Esta é uma altura em que o cérebro está a ser
moldado e tudo o que é vivido tem um grande impacto para a estrutura que está a ser
criada. A adolescência é um período sensível para o desenvolvimento de muitas
capacidades: é uma janela de oportunidade importante que não deve ser desperdiçada
porque será muito mais difícil desenvolvê-las mais tarde. Além disso, o caminho para a
complexificação que está a acontecer nesta fase, implica sempre uma certa fragilidade o
que significa que, nesta altura, há mais potencial para que aconteçam danos.

A adolescência é uma ponte entre a infância e a idade adulta. É por isso que por vezes
não sabemos lidar com os adolescentes: porque num determinado momento se portam
como autênticas crianças e no minuto a seguir podem parecer adultos. Apesar dos
adolescentes terem já algumas capacidades que as crianças não têm, isto não quer dizer
que estejam completamente prontos para assumir determinadas responsabilidades, como
todos bem sabemos. Por isso os adolescentes ainda precisam de ter os adultos como
referências.


Ouço com espanto algumas pessoas defenderem que precisamos de vacinar os
adolescentes como forma de preservar a sua saúde mental. A saúde mental dos
adolescentes nunca foi muito valorizada durante este ano e meio por isso é caso para
dizer que mais vale tarde que nunca. A prova disto é que aumentaram brutalmente os
casos de automutilação, as crises de ansiedade, as depressões, as dependências de ecrãs
e as tentativas de suicídio sobre as quais muitos pediatras que afirmam que nunca viram
chegar tantos casos aos hospitais.

Acontece que a saúde mental não se defende fazendo-nos crer que precisamos de
abdicar dos direitos sobre o nosso corpo e conformar-nos a regras sem sentido apenas
para podermos fazer aquilo que os outros fazem. Muito menos na adolescência. A saúde
mental defende-se ensinando os jovens a confiar em si mesmos, a não terem que fazer
aquilo que os outros fazem só porque os outros fazem, a não terem medo de pensar pela
sua própria cabeça e a saberem respeitar opiniões diferentes. E a saberem que os adultos
os aceitam, respeitam e protegem nessa sua diferença. A saúde mental não se defende
ensinando os jovens a serem conformistas. A saúde mental não se defende ensinando
que podemos abdicar de escolhas fundamentais sobre o nosso corpo apenas para poder
sair à noite ou jantar fora. Se estamos realmente preocupados com a saúde mental de
crianças e jovens vamos acabar com as regras absurdas que vigoraram este ano nas
escolas e com a criminalização daquilo que são comportamentos naturais e importantes
para os jovens. Vamos acabar com a culpabilização e estigmatização de quem pensa
diferente. E vamos dar-lhes o direito de escolher aquilo que querem injetar nos seus
próprios corpos sem fazer com que se sintam responsáveis por proteger as vidas dos
mais velhos. Até porque com os dados que temos sobre o contágio entre pessoas
vacinadas tudo indica que estas injeções nem sequer servem para isso.
Quando a esmagadora maioria dos pediatras vem a público afirmar que a vacinação dos
jovens tem mais riscos que benefícios e as entidades oficiais decidem que, mesmo
assim, ela irá acontecer não podemos ter dúvidas de que estas medidas já não têm nada
que ver com saúde. E muito menos com o bem comum.

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