terça-feira, 30 de julho de 2013

Ausências - quando é que uma mãe pode deixar o filho?


Ultimamente, talvez por estarmos em período de férias, tenho-me confrontado muito com a questão das ausências: quando é que é a idade certa, se é que existe alguma, para que uma mãe se possa ausentar alguns dias sem os filhos?
Na verdade, não existe uma resposta simples a esta questão. É muito importante sabermos que os primeiros três anos de vida de uma criança são fundamentais para o estabelecimento de um vínculo forte, saudável e seguro com os pais. E, o estabelecimento desse vínculo requer uma presença quase constante destes na vida da criança. Sobretudo durante os primeiros dois anos de vida, a criança está quase exclusivamente focada no seu relacionamento com os pais e, principalmente, com a mãe. Durante os primeiros dois anos a mãe é a fonte mais imediata e segura de conforto e de segurança para a criança. Se o pai estiver, desde o início muito presente na vida da criança, é provável que este passe a estabelecer com ele também uma relação forte de apego mas, para isso, é preciso que essa presença se dê de forma constante e que haja um verdadeiro envolvimento do pai na vida da criança desde o seu primeiro dia de vida.

No primeiro ano de vida a criança ainda está a tentar perceber como é que funciona o
mundo e o que pode esperar dos adultos que a rodeiam. Nesta altura a sua capacidade de estabelecer vínculos é limitada e não é possível que este se estabeleçam com muitos adultos em simultâneo. No seu primeiro ano de vida a criança começa a reconhecer as pessoas que são significativas para si mas ainda não tem capacidade para armazenar memórias relativas a um número muito grande de pessoas. Assim, as pessoas com estará mais naturalmente vocacionada para estabelecer vínculos nesta altura serão a mãe e o pai ou outras pessoas que estejam mais presentes na vida da criança. Se esta for deixada várias horas com um adulto responsável e atento às suas necessidades é muito natural que se estabeleça também um vínculo forte com essa pessoa e é desejável que os pais permitam que isso aconteça. Para que se estabeleça um vinculo seguro entre uma criança e um adulto há algo fundamental: uma presença constante e uma disponibilidade grande para a criança. No primeiro ano de vida a criança não tem ainda uma memória que lhe permita assimilar muita informação acerca dos adultos que a rodeiam e não tem capacidade de se lembrar destes na sua ausência. E, porque uma criança desta idade não tem ainda uma noção do tempo, nem da sua continuidade, todas as ausências de pessoas significativas para si são, de certo modo, sentidas como perdas permanentes. Antes dos três anos de vida a criança não tem uma memória que lhe permita internalizar a figura da mãe e saber que, quando esta não está presente, ela não desapareceu e continua a existir na sua vida.  São precisas muitas repetições em que a mãe sai e volta a aparecer para que a criança comece a perceber que mãe acaba sempre por voltar mas, para que esta associação positiva se estabeleça é necessário que estas ausências não sejam tão grandes que a criança se sinta em perigo, despoletando o seu sistema de alarme que, aí activará um modo de protecção que dificultará muito o estabelecimento de vínculos. 
Entre os 12 meses e os dois anos a criança começa já a ser capaz de armazenar na sua memória alguma informação relativa a um maior número de adultos que tenham uma presença significativa na sua vida. Durante o segundo ano de vida a criança começa a ser capaz de estabelecer relações com os avós, tios ou primos que veja com regularidade e se mostrem disponíveis para ela. No entanto, durante o seu segundo ano de vida apesar da criança começar já a dar os primeiros passos para a sua socialização a mãe ainda é uma figura fundamental para a sua segurança e conforto. Isto é visível quando, por exemplo, a criança se magoa e a única pessoa que consegue confortá-la e fazer com que pare de chorar é a mãe por muito que haja outros adultos bem intencionados à sua volta a tentar. Isto, é claro, se a criança tiver estabelecido um apego seguro com a mãe. Porque uma criança desta idade ainda não consegue internalizar a imagem das suas figuras de apego e ainda não tem uma memória temporal que lhe permita perceber o conceito de tempo e saber que a mãe voltará dentro de algumas horas ou dias, as ausências mais prolongadas (mais do que 24 horas) ainda podem ser sentidas como um abandono permanente com consequências traumáticas para uma criança desta idade.
Até aos dois anos de vida o cérebro das crianças está em constante mutação e são criadas e eliminadas milhares de ligações neuronais. Isto quer dizer que esta é uma fase de grande receptividade e que todas as experiências desta fase têm um impacto muito grande e que deixará marcas que podem ser definitivas na vida dessa criança. Uma criança desta idade ainda está a tentar perceber o que esperar do mundo e o seu cérebro organiza-se em função do que vai encontrando. Se aquilo que encontra é a ausência dessa figura principal em quem confia para se sentir protegida e apoiada o cérebro irá preparar-se para lidar com essa perda que a criança não sabe que é temporária. E para o fazer começa por activar o seu sistema de resposta ao stress que pode passar a funcionar de forma permanentemente alterada se entrentanto não se fizer nada para o compensar. (ver artigo: A resposta de Stress nos bebés)
Entre os dois e os três anos o cérebro da criança está ainda em fase de grande crescimento mas, nesta altura, a criança começa já, por um lado a ser mais facilmente capaz de estabelecer relações significativas com outras pessoas e, por outro, a ter alguma noção da temporalidade que lhe permite perceber que a mãe se ausenta de vez em quando mas que acaba sempre por voltar. Isto não quer dizer que a criança nesta altura esteja já preparada para lidar com uma ausência de muitos dias até porque, como já dissemos, ainda não é capaz de internalizar a figura da mãe. Uma criança de 7 ou 8 anos que se magoa, por exemplo, é capaz de se lembrar da sua mãe, perceber que ela não pode estar presente naquele preciso momento mas que, quando se voltarem a encontrar, ela lhe poderá dar uma dose extra de carinho e, com esta idade a criança já pode sentir-se confortada com este pensamento e ser capaz de esperar até que volte a ver a mãe. Uma criança de dois ou três anos que se magoa ainda não consegue perceber porque é que mãe não está presente, não sabe muito bem quando voltará a estar –se alguém lhe disser que a mãe volta daqui a dois dias ou duas horas, para criança é igual porque não faz ideia do que isso significa – e não tem capacidade de imaginar os carinhos que a mãe lhe poderia fazer se estivesse presente. A única coisa que uma criança desta idade consegue sentir é que lhe falta alguém que a possa confortar e voltar a fazer sentir-se segura.
Alguns autores defendem que até aos 6 anos a criança está totalmente voltada para o estabelecimento dos vínculos e das relações significativas para si, que idealmente, acontecerão com os pais e irmãos. A partir dos três anos, apesar da criança precisar ainda muito da mãe, as diferenças são que esta passa a ter alguma noção de tempo, já percebe que  mãe não se vai embora para sempre, já é capaz de estabelecer mais facilmente relações de confiança e conforto com outros adultos com quem passe muito tempo e já começa a ser capaz de internalizar a imagem da mãe, usando-a para se confortar mesmo quando esta não está fisicamente presente. Não quer dizer que uma criança desta idade seja ainda capaz de tolerar, sem danos para si e para a relação, ausências muito prolongadas mas, pelo menos estas já não terão um efeito tão traumático ou marcante.

E quando não podemos escolher e somos mesmo obrigados a deixar os nossos filhos?


Por vezes, por questõs profissionais, as mães são mesmo obrigadas a deixar por alguns dias os filhos. Quando isto acontece é muito importante, em primeiro lugar, deixá-los com pessoas com quem exista uma boa relação de apego. Se o pai tiver sido sempre muito presente na vida da criança, este será a pessoa ideal. Se a criança passa o dia com alguma ama ou avó dedicada, esta poderá ser a figura substituta que mais se adequa. Depois, essa pessoa, terá de perceber que, para a criança, aquela poderá ser mesmo uma fase traumática e terá que estar preparada para algumas alterações de comportamento, como maiores períodos de choro que será mais difícil de acalmar, maior necessidade de contacto físico, maior necessidade de atenção. Se a criança não tiver uma relação de confiança com a pessoa com quem fica estas manifestações podem não se verificar porque a criança não as irá encarar como uma fonte de conforto. Por outro lado também é comum que estas alterações aconteçam mais quando a mãe volta a estar presente. Isto não quer dizer que a criança não sofreu com a ausência da mãe como tantas vezes se costuma pensar. Quer dizer apenas que a criança, quando não encontrou uma fonte adequada de protecção e conforto, deixou de a procurar e tentou continuar a sua vida como se não precisasse dela. Acontece algo parecido com os bebés que são deixados a chorar sozinhos e acabam por deixar de chorar mas os seus níveis de cortisol – uma hormona que se segrega em maior quantidade em situações de stress – continuam mais altos que o normal: um comportamento quase de apatia e conformismo não significa que a criança não esteja a passar um um perído traumático, antes pelo contrário até.

            Quando a mãe volta podem acontecer duas coisas: a criança pode parecer ter regredido um pouco no seu desenvolvimento, sobretudo em crianças um pouco mais velhas e, durante os primeiros dias, não consegue largar a mãe e fica muito aflita de esta se afasta um pouco. Isto quer dizer que a criança não percebeu porque a mãe desapareceu e está com medo que desapareça de novo. A boa notícia é que este comportamento revela que, apesar de a criança ter ficado mais insegura da presença da mãe, a relação de apego não foi muito afectada e esta continua a procurá-la com a sua fonte principal de conforto. Se, pelo contrário a criança parece desligada e até afastada da mãe quando esta volta, é sinal de que a relação foi afectada. Quando a criança deixou de poder contar com a presença da mãe como fonte de conforto, para mimimizar o sofrimento ligado a essa descoberta, acabou por desligar a parte de si que acreditava nessa relação e deixou de encarar a mãe como uma figura importante e como a sua fonte principal de conforto e segurança.
            Em ambos os casos o que é importante percebermos é que houve uma vivência traumática para a criança e o que é fundamental é que procuremos formas de minimizar esse trauma, de compensar a criança pelo sofrimento que viveu, dando-lhe possibilidade de voltar a confiar na presença da mãe e no seu relacionamento com ela. Isto pode ser feito através de uma presença mais constante nos dias seguintes à ausência, através de um maior contacto físico, com a ajuda do babywearing, da amamentação e da cama partilhada, por exemplo e sobretudo através de um maior disponibilidade para estar simplesmente com a criança. Mesmo nos casos em que esta pareça ter-se afastado é fundamental que a mãe volte a tentar uma aproximação. Como adultos, quando sentimos que alguém nos abandonou, também precisamos que essa pessoa nos volte a dar provas do seu amor para que possamos voltar a confiar nela.
           O mais importante é compreendermos que, depois de uma ausência prolongada, é fundamental que a relação seja reparada para que tudo possa continuar o mais harmoniosamente possível. 


Ler também: Ausências: efeitos da privação da figura materna
            

sexta-feira, 28 de junho de 2013

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Babywearing II - Questões práticas

Quando pensamos nas coisas que precisamos de comprar para um bebé que vai nascer uma das primeiras coisas de que nos lembramos é o carrinho e, por vezes, parece-nos que seria impensável não ter um objecto que parece tão útil e essencial como este. Mas, a verdade é que, este objecto não é de todo imprescindível e, na verdade, pode fazer mais mal do que bem se o usarmos demasiado (ver artigo http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/search/label/Babywearing%20-%20use%20o%20seu%20beb%C3%A9). Existem formas bem mais agradáveis e saudáveis (tanto para os pais como para os filhos) de transportar o seu bebé. Antes do meu filho nascer nem me questionava acerca da inevitabilidade de arranjar um carrinho qualquer para o transportar já que é algo que, na nossa sociedade, está sempre tão associado aos bebés. Felizmente acabámos por nunca o fazer e, hoje com quase dois anos de babywearing, estamos felizes por termos poupado o dinheiro e o espaço que este iria ocupar mas, acima de tudo, estamos felizes pela descoberta do babywearing que facilitou tanto a nossa vida em todos os níveis.
No nosso caso experimentámos vários tipos de porta-bebés à medida que o nosso filho foi crescendo e que nós os fomos descobrindo, por isso resolvi deixar aqui a nossa opinião acerca de todos aqueles que já experimentámos. 

Sling de argolas – este foi o primeiro porta-bebé que usámos.

Vantagens: È muito prático de por e tirar e, porque tem argolas, adapta-se bem a qualquer pessoa - mesmo que as estaturas sejam muito diferentes - ao contrário do que acontece com os slings que não têm argolas que precisam de ser comprados em função do tamanho da pessoa que o irá usar. Tem uma espécie de aba, em tecido que também pode ser muito útil para proteger bebés pequenos do sol, ou do vento e, também pode ser usada para dar de mamar de uma forma mais discreta. É muito fácil de transportar quando não está a ser usado, quer se mantenha pendurado no ombro ou dentro de uma mala. Pode ser também muito útil quando o bebé começa a querer andar porque é muito fácil deixá-lo andar no chão um pouco e voltar a colocá-lo no sling novamente.
Em relação aos slings sem argolas julgo que também se torna mais confortável, não só por ser ajustável, mas também porque é possível espalhar o tecido no ombro em que o sling se apoia, de forma a distribuir bem o peso.
Desvantagens: com bebés mais pesados ou pessoas com a coluna mais frágil, pode não ser muito confortável para usos prolongados porque o peso fica mais concentrado num dos lados do tronco. 

Pano porta-bebé – Quando o meu filho começou a ficar um pouco mais pesado, preferimos começar a usar mais o pano porque permite uma melhor distribuição do peso.

Vantagens: Permite distribuir bem o peso pelo corpo de quem usa, o que significa que não prejudica a coluna vertebral e se torna mais confortável de usar por longos períodos do que o sling. Na verdade, se for bem colocado, até há quem diga que acaba por fortalecer os músculos das costas. No meu caso – que tenho uma hérnia discal e não me dou muito bem com pesos – nunca senti que me prejudicasse  a coluna ou que me fizesse dores de costas e sempre andei muito tempo a pé, diariamente, com o meu filho no pano. No inverno pode ser muito útil para proteger o bebé do vento e do frio, já que é possível tapar a cabeçinha com o pano mas manter o rosto destapado, de forma a que o bebé possa ver a rua. É fácil de transportar quando não está a ser usado, apesar de ser um pouco volumoso.
Desvantagens: pode demorar um pouco a por e a tirar, sobretudo quando ainda não se tem muita prática. Como o pano dá algumas voltas, no Verão, com o calor, pode tornar-se um pouco quente. 

Podeagi – é uma espécie de compromisso entre o pano e o sling no sentido em que é quase tão prático de por e tirar como o sling mas distribui tão bem o peso como o pano.
Vantagens: é mais prático de colocar do que o pano. Permite uma boa distribuição do peso, por isso torna-se confortável mesmo com uso prolongado e bebés pesados. Quando começam a andar mas ainda se cansam facilmente é mais prático de usar do que o pano, porque se põe e tira mais facilmente. Também é menos volumoso que o pano, para se transportar quando não está a ser usado. Como dá menos voltas que o pano também se torna mais fresco, sobretudo na zona das costas. 
Desvantagens: não se consegue apoiar tão bem a cabeça do bebé quando adormece como com o pano o que pode não ser tão confortável quando a criança adormece ou no caso de um bebé muito pequeno. No entanto, fizemos muitas caminhadas com o meu filho a dormir confortavelmente instalado no podeagi. 

Ergo-Baby – quando o meu filho ficou mais crescido e pesado, resolvemos experimentar um ergo-baby, que é o que usamos actualmente. Esta é uma marca de porta-bebés fisiológicos, o que significa que respeita a anatomia do bebé ( ao contrário daqueles porta-bebés rígidos em que o bebé fica pendurado pelas virilhas e com uma posição incorrecta para a coluna vertebral).
Vantagens: é mais prático de por do que o pano ou o podeagui e permite também uma boa distribuição do peso. Tem alças almofadadas que podem tornar um pouco mais confortável a pressão que faz o peso da criança nos ombros. É mais fácil de colocar às costas do que o pano ou podeagui. È muito prático com crianças que já andam porque podem subir e descer do porta-bebés à vontade com muita facilidade. Quando não está a ser usado também se torna muito prático deixá-lo preso à cintura, deixando-nos as mãos livres. Tem uma parte de tecido que se prende com molas e que permite apoiar a cabeça do bebé quando este adormece, tal como no pano. 
Desvantagens: o peso fica mais localizado nos ombros. Com o pano é possível espalhar o tecido pelos ombros e costas para que o peso fique mais distribuído, neste caso, como as alças são mais estreitas, não é possível fazê-lo. No entanto, como as alças são almofadadas e como o peso também se distribui pela cintura, não acho que se torne mais desconfortável. Não é tão fácil de por dentro de uma mala ou saco

como o pano ou podeagui. Nunca o experimentámos com um bebé pequenino mas parece-me, que neste caso, não seria tão confortável para o bebé como um pano, podeagui ou sling, porque – apesar de não ser rígido – não se molda tão bem ao seu corpo como os outros porta-bebés que são apenas uma faixa de tecido.

Tula Baby Carrier -

Recentemente, com o meu filho a crescer, cheguei à conclusão que o ergobaby já começava a tornar-se desconfortável para ambos. Por indicação de uma pessoa conhecida, descobri esta marca que faz porta-bebés específicos para crianças maiores e fiquei fã. Estes porta-bebés permitem um melhor apoio para as pernas de uma criança a partir dos 18 meses - porque têm uma largura maior de tecido além de um enchimento próprio na zona onde as pernas da criança se apoiam - o que o torna mais confortável para a criança e também permite aos pais uma melhor distribuição do peso, tornando-o muito mais confortável de usar.


Para saber mais sobre o Tula, pode ver o site: http://www.babytula.com/
Pode encontrar mais informações sobre o ergobaby também no site da marca: http://store.ergobaby.com/
Uma outra marca de porta-bebés que também são ergonómicos é a Manduka que, na verdade, tem uma largura até um pouco maior do que a do ergobaby o que pode permitir um transporte mais confortável, de uma criança maior. 

Para saber as várias formas de colocar o pano, sling ou podeagui, encontra informação bastante detalhada no site: http://www.psicolor.net

Uma pesquisa no YouTube com o tópico Babywearing também pode mostrar-lhe vários vídeos que ensinam como usar os vários tipos de pano.

            Bons passeios!




quarta-feira, 12 de junho de 2013

Metta - Meditação da Bondade Amorosa com os nossos filhos


Na tradição Budista há uma prática de meditação que se chama Metta Bhavana a que, em português, podemos chamar Meditação da Bondade Amorosa.
Bhavana, em pali – a língua em que foram registados os textos clássicos da tradição budista -  significa cultivar, desenvolver ou produzir. Metta costuma ser traduzido como bondade amorosa (lonving-kindness em inglês), benevolência, boa vontade ou amizade, é por vezes explicado como sendo uma forma de amor sem que exista apego. Podemos dizer que Metta é um sentimento de amor incondicional, ou seja, que não depende das circunstâncias para existir, muito semelhante ao amor dos pais pelos seus filhos. Esta prática consiste então em canalizar os sentimentos de Metta começando por dirigi-los para nós mesmos, depois para algumas pessoas com quem seja mais fácil fazê-lo e vamos prosseguindo para pessoas com quem já não será tão fácil despertar esses sentimentos até às pessoas com quem seria mais difícil sentirmos alguma boa vontade ou até áquelas por quem nunca nos passaria pela cabeça sentir nem sequer nada parecido.
Uma das vantagens desta prática é que nos faz entrar em contacto com sentimentos positivos que podem ter muitos benefícios para a nossa vida e até para a nossa saúde. Toda a gente sabe como é bom estarmos apaixonados e, quando tomamos consciência de que estamos apaixonados por alguém todo o mundo fica mais colorido, a vida mais agradável, tudo nos parece mais fácil, mais belo, mais divertido e  interessante. Isto acontece porque o estado de paixão desperta em nós sentimentos de metta, de boa-vontade. Quando estamos neste estado tornamos-nos mais felizes, mais tolerantes e passamos a apreciar muito mais a vida e tudo o que a preenche. Porque o corpo não está separado da mente, os bons sentimentos produzidos podem mesmo produzir efeitos sobre a nossa saúde como comprovou um estudo de Carson et e all, em 2005, com 43 pacientes que sofriam de dores lombares crónicas. Este estudo mostrou que um programa de oito semanas de treino da meditação da bondade-amorosa podia ser muito eficaz a reduzir a dor e os sentimentos de zanga nestas pessoas. O estudo concluiu que as pessoas que dedicavam mais tempo a esta prática tinham um nível de dor mais baixo no próprio dia e menos sentimentos de zanga no dia seguinte. Esta prática levou também a melhor ajustamento psicológico destes doentes de dor crónica. Robert Emmons, no seu livro Obrigado (2009), diz que as emoções positivas podem servir para corrigir os efeitos das emoções negativas porque têm a capacidade de restaurar o equilíbrio fisiológico e emocional que emoções como o stress e a ansiedade nos fazem perder. Este autor diz também que os estados emocionais positivos, como um estado de metta, podem de facto diminuir a experiência da dor, tal como este estudo mostra. Os estados desagradáveis, como o stress e ansiedade têm o efeito oposto e tornam-na mesmo mais intensa. Já há vários estudos que demonstram também que  o riso tem um efeito analgésico porque provoca a libertação de endorfinas, hormonas naturais que o nosso corpo produz em situações de prazer e que são da família dos opiáceos usados muitas vezes para diminuir ou controlar a dor.
Quem tem filhos e tenta fazer esta prática quase sempre percebe que estes são as pessoas com quem é mais fácil despertar estes tais sentimentos de metta. Principalmente quando os nossos filhos são pequenos é muito fácil tomarmos consciência destes sentimentos cada vez que olhamos para eles ou que eles, simplesmente, sorriem para nós. Mas, acontece que, por vezes, deixamos que a tarefa de educar se torne tão pesada que acabamos por nos esquecer que estes sentimentos estão presentes. E, quando isto acontece, cuidar dos nossos filhos pode facilmente tornar-se um peso, algo que nos cansa e desgasta. Muitas vezes vemos pais que acreditam que precisam de se afastar dos filhos para descansar. É claro que, enquanto pais, precisamos de encontrar um equílibrio entre cuidar de nós e fazer coisas que nos dão prazer e estar presentes para os nossos filhos. Acontece é que cada vez temos menos tempo para estas duas coisas no nosso dia-a-dia porque o trabalho ocupa a maior parte deste. Então, geram-se desequílibrios e, muitas vezes, para os corrigir, acreditamos que precisamos de nos afastar dos nossos filhos, precisamos de estar longe deles para descansar verdadeiramente. Mas, se é verdade que precisamos de encontrar algum tempo para estar só connosco nos nossos dias, também é verdade que o tempo que passamos com os nossos filhos pode ser um tempo de descanso, de relaxamento e até de crescimento pessoal e de muita satisfação. Se estivermos ligados a estes sentimentos de metta, brincar com os nossos filhos ou estarmos simplesmente presentes a partilhar alguns instantes com eles, sem outras distracções, pode ser um momento de profundo bem-estar. Se nos deixarmos entrar em contacto com esses sentimentos tão profundos podemos obter toda a satisfação que estes promovem, podemos deixar que eles nos transformem e podemos deixar que se tornem os nossos momentos de recarregar baterias, de saborear a vida, o presente, de encontrar tranquilidade, bem-estar e uma felicidade profunda que estes sentimentos de metta, ou de amor incondicional podem trazer consigo.
Quando estamos apaixonados nunca nos passa pela cabeça que, para descansar, precisamos de estar longe da pessoa por quem nos apaixonámos, antes pelo contrário: quando nos apaixonamos queremos partilhar tudo, fazer tudo com aquela pessoa especial. Então porque é que vemos tantos pais que acreditam que precisam de estar longe dos filhos para descansar ou para encontrarem alguma fonte de prazer nas suas vidas?
Muitas vezes na nossa sociedade cultiva-se esta ideia de que os pais precisam de estar longe dos filhos e de fazer coisas sem eles para se sentirem bem. É verdade que é muito importante que os pais se sintam bem para que possam cuidar verdadeiramente dos filhos e, também é verdade, que os pais não podem viver exclusivamente em função dos filhos. Mas acredito que existe também alguma confusão quando pensamos que precisamos de passar muito tempo longe dos filhos para o fazermos. Para encontrarmos  espaço para cuidar de nós enquanto adultos e seres humanos que têm um projecto de vida independentemente dos filhos não precisamos de passar assim tanto tempo longe deles. Precisamos sim de encontrar um espaço na nossa vida para cuidar de nós todos os dias, para nos nutrimos mas, precisamos também urgentemente de encontrar tempo e espaço para estar com os nossos filhos. Estar de verdade e estar em quantidade, não apenas com qualidade. Na verdade, quanto mais tempo passarmos longe dos nossos filhos, mais distante se torna o relacionamento e maiores serão as probabilidades de que este nos traga problemas e dissabores. Então se cultivarmos uma relação de proximidade com os nossos filhos é muito mais fácil que esta relação se torne uma fonte de prazer e de verdadeiro bem-estar.
Se aprendermos a focar-nos nos nossos sentimentos de metta quanto estamos com os nossos filhos podemos tornar estes momentos quase numa espécie de meditação e percebemos rapidamente que não precisamos de nos afastar deles para descansar. E uma das grandes vantagens de percebermos isto é que os nossos filhos também ganham muito com essa nova consciência: ganham a nossa presença verdadeira, ganham a consciência que é possível estar presente, saborear a vida e o momento, aprendem que não precisam de estar sempre a correr e, mais importante do que tudo o resto, aprendem que são importantes, que são especiais para nós, aprendem que podem também ser uma fonte de felicidade e bem-estar para os pais e esta será com certeza uma das aprendizagens mais valiosas que poderão fazer na vida.
E esta aprendizagem contribui também para que educar se torne uma tarefa muito mais fácil, muito menos cansativa. Com a presença genuína dos pais a criança torna-se muito mais receptiva, muito mais fácil de educar, de ensinar e isto também faz com que a tarefa dos pais, de impor limites e dar exemplos deixe de ser apenas uma luta de vontades para se tornar em algo mais harmonioso em que existe uma sintonia e uma verdadeira escuta daquilo que precisa de ser feito ou ensinado na relação.
            E, tal como nos adultos é possível demonstrar que a prática de Metta Bhavana pode ter muitos benefícios para a saúde, também as crianças podem colher vários benefícios do facto dos pais passarem a olhar para elas quase como pequenos guias espirituais.
Gabor Mate, um médico canadiano, explica que quando as crianças se sentem mais seguras e amadas pelos pais produzem naturalmente mais endorfinas que estão associadas aos sentimentos de bem-estar, de tranquilidade e de segurança. Isto significa que, entre outras coisas, estas crianças terão, por exemplo, uma maior resistência à dor. Este médico dá o exemplo daquelas crianças que choram muito sempre que se magoam um pouco, ou que se assustam facilmente, explicando que isto acontece porque, provavelmente, estas crianças terão uma quantidade menor de endorfinas na sua corrente sanguínea o que as torna menos tolerantes à dor ou ao desconforto. Isto quer dizer que, uma criança segura e confiante do amor dos pais também será, provavelmente, uma criança que chora menos o que, por sua vez, também contribui para que se torne mais fácil cuidar dessa criança, principalmente quando pensamos em bebés ou em crianças pequenas.
A prática de Metta Bhavana também faz com que nós próprios passemos a ser mais capazes de produzir endorfinas que nos podem trazer uma sensação de conforto, de tranquilidade e de bem-estar, melhorando a nossa saúde e a nossa satisfação com a vida.
Para fazermos esta prática de uma forma ortodoxa precisamos de estar sozinhos e concentrados nos sentimentos que vão surgindo com a repetição de algumas frases que traduzem essa boa vontade. Mas, para a fazermos de uma forma informal, basta que olhemos para os nossos filhos e tomemos consciência dos sentimentos que despertam em nós. Pode ser mais fácil fazer isto com filhos bebés, ou crianças pequenas mas, seja qual for a idade dos nossos filhos, esses sentimentos estarão com certeza presentes. E, seja qual for a idade dos nossos filhos eles merecem que sejamos capazes de entrar em contacto com esses sentimentos e de ficarmos simplesmente presentes perante essa dádiva de vida e de amor que cada filho representa para nós.

       

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Babywearing - use o seu bebé


Hoje em dia fico triste sempre que vejo um bebé pequenino a passear com os pais dentro de um carrinho. Fico triste pelo bebé e por todos os bebés que passam nos nossos dias cada vez mais tempo dentro de contentores de plástico em vez de estarem em contacto com o corpo do pai ou da mãe que lhes pode trazer conforto e tranquilidade. Mas fico triste também pelos pais que perdem essa altura tão especial da vida dos filhos em que é tão fácil e tão agradável trazê-los junto de nós, sentir o seu corpinho quase fundido no nosso, poder observar as suas reacções ao que veêm passar na rua ou simplesmente senti-los dormir, calmos, seguros, tranquilos no calor do nosso corpo.
O parto traz consigo uma sensação de separação. Aquele ser que esteve fundido connosco durante tanto tempo, de certo modo, parece que deixa de fazer parte de nós, deixa de estar connosco vinte e quatro horas por dia e deixa de fazer parte do nosso corpo. Apesar da felicidade de ver o seu bebé cá fora, muitas vezes, isto é vivido como uma sensação de perda. Muitas mães sentem essa perda de forma intensa e parece-lhes que aquele bebé já não é tão seu, já não depende tanto de si. Isto, juntamente com todas as mudanças hormonais que ocorrem, pode contribuir para uma sensação de tristeza. Se, para além disto a mãe tiver algum tipo de insegurança e o bebé for uma criança um pouco mais sensível, que chore muito ou que tenha algum outro tipo de problema, pode surgir muito facilmente uma sensação de angústia ou insegurança, de não se ser capaz de cuidar daquele bebé. Quando o bebé estava na barriga era tudo muito fácil, podíamos levá-lo connosco para todo o lado e a mãe sentia o bebé dentro de si, sentia essa fusão emocional e física que torna a gravidez um momento mágico e de muito preenchimento para a maior parte das mulheres. Mas, com essa separação dos corpos, por vezes, dá-se também uma separação emocional e aí tudo fica mais difícil.
Mas, acontece que essa separação dos corpos que inevitavelmente acontece não significa que tenha que dar lugar a uma separação emocional. O bebé continua a precisar muito da mãe, de a sentir junto a si, de ouvir a sua voz, escutar o seu coração, de sentir o seu cheiro e a mãe, mais do que nunca, também precisa de sentir o seu bebé. Já que não pode senti-lo dentro de si, precisa de continuar a sentir que, mesmo cá fora, separados fisicamente, se mantém uma ligação, uma quase fusão emocional. Nos primeiros tempos a seguir ao parto a mãe não tem espaço dentro de si para muito mais do que tudo aquilo que se relaciona com o seu bebé. É natural que assim seja porque a presença da mãe é essencial para que o bebé sobreviva e se desenvolva. Mas, se a mãe não tiver consciência de que esta necessidade de sentir o bebé junto de si é tão grande como a necessidade que o bebé tem de estar junto da mãe, pode deixar de seguir os seus instintos e acreditar que não deve pegar-lhe ao colo sempre que tem vontade ou sempre que o bebé chora. E aqui começam a aparecer os ingredientes para que surjam problemas na relação: o bebé não vê as suas necessidades reconhecidas por isso sente-se inseguro, ansioso e mostra-o da única maneira que sabe - chorando. A mãe não percebe que tudo o que o seu filho quer é estar junto de si e, ao não ser capaz de impedir o filho de chorar e de se sentir ansioso, começa a sentir-se incompetente enquanto mãe. Isto cria um ciclo vicioso em que se entra numa espécie de luta – em que a mãe tenta educar o bebé e habituá-lo a perceber que não pode estar sempre no colo e o bebé protesta cada vez mais – de que ninguém sai a ganhar.
Acredito que o babywearing – que em português não soa tão bem mas será qualquer coisa como usar ou vestir o bebé – é justamente a melhor solução para quebrar esse ciclo de forma a que saiam a ganhar tanto a mãe como o bebé. Usar o bebé num pano, ou qualquer outro porta-bebé fisiológico, é tão bom para o bebé como para a mãe e é o mais parecido que pode haver com a gravidez para ambas as partes. Mesmo para os pais – que naturalmente nunca poderão ficar grávidos – esta é a melhor forma de estabelecerem um vínculo profundo e de se aproximarem um pouco dessa sensação de fusão com outro ser que a gravidez pode trazer. Quando o babywearing passa a fazer parte da rotina do bebé e da mãe tudo se torna mais fácil, porque deixamos de ter um bebé aos gritos quando queremos fazer qualquer coisa que não pode esperar. É muito fácil colocar o bebé num pano e cuidar de tudo o que precisa de ser cuidado ou transportá-lo connosco para todo o lado.
Para o bebé isto é muito mais satisfatório do que estar deitado num qualquer contentor de plástico. Quando os bebés vão na rua, deitados ou sentados num carrinho, sentem-se sozinhos desprotegidos. Um bebé que anda num pano, ou sling ou um porta-bebé fisiológico, é um bebé que se sente confortável onde quer que esteja, porque sente o corpo da mãe, o seu cheiro, ouve o seu coração e sente-se seguro e protegido por esse corpo tão familiar. Um bebé transportado desta forma é um bebé que chora muito pouco e que se pode levar para todo o lado. Até o meu filho ter uns 8 ou 9 meses íamos para todo o lado com ele enfiado no pano: restaurantes, transportes públicos, casas de amigos, passeios, etc. Quantas vezes não assistimos já a um pai ou mãe que tentam comer num restaurante com o filho pequeno a chorar numa cadeirinha ou carrinho ao seu lado?! Com o meu fillho no pano podíamos passear, trabalhar, ir às compras, conversar com amigos ou comer descansados e sabíamos que ele faria as sestas dele quando sentisse vontade, tranquilamente, no pano, sem precisarmos de deixar de fazer o que quer que nos apetecesse. O máximo que poderia acontecer por vezes era que precisássemos de andar um pouco para que ele se deixasse embalar o suficiente para adormecer mas o pano permitia-nos a nós e a ele saber que estaríamos confortáveis e tranquilos para onde quer que fossemos. Porque um bebé que é transportado num pano é um bebé que está sempre em casa e que pode ver o mundo como um lugar seguro a ser explorado e investigado a partir do conforto dessa casa.
distância que vai do carrinho até ao corpo da mãe para um bebé é demasiado grande para que este tenha consciência de que está verdadeiramente ali alguém. Quanto mais pequeno for o bebé mais assustador pode ser o ambiente que o rodeia se se sentir sozinho: o barulho dos carros, das pessoas, as cores, as imagens sempre a mudar, tudo isto são estímulos novos e que podem causar stress a um bebé muito pequeno. Mas a solução não é mantê-los em casa como muitas pessoas fazem, os bebés precisam de apanhar luz e sol mas, mais importante, as mães precisam de sair um pouco também para se sentirem felizes, então a melhor forma de o fazer é através do uso de um pano ou de outro porta-bebé fisiológico. É importante frisar isto porque muitas vezes se veêm os chamados marsupiais, que são os porta-bebés rígidos, em que os bebés ficam pendurados pela região pélvica e que se tornam muito desconfortáveis (além de não proporcionarem um correcto desenvolvimento da região da anca e da coluna vertebral).
Um bebé que é transportado num pano, na rua, pode ver o mundo e interagir com ele a partir do conforto e da segurança do contacto com o corpo da mãe. Os bebés no pano, sobretudo os mais pequenos, devem ser sempre transportados de frente para o corpo da mãe ou pai, não só por questões anatómicas, mas também porque isto lhes dá a segurança de saber que podem escolher interagir com o mundo e com as pessoas ou refugiarem-se no corpo da mãe voltando a cabeça para esta. Um bebé que é transportado de frente para o mundo não tem essa opção: está permanentemente exposto a toda uma série de estímulos que não tem como evitar e, apesar de poder sentir o corpo do pai ou da mãe perto de si, pode ser muito stressante não ter como evitar o contacto com as pessoas ou com os estímulos que vão surgindo. Se observarmos com atenção os bebés que são transportados desta forma acabam por ter sempre um ar nervoso e quase assustado com a intensidade de tudo aquilo a que estão a ser expostos. Se observarmos um bebé que está voltado para a mãe podemos ver que ele usa muitas vezes este refúgio de esconder a cabeça no seu peito quando não quer interagir com alguém ou quando algo o assusta ou intimida. Isto dá-lhe a confiança de saber que tem sempre esse refúgio a que pode recorrer e, por isso, também lhe dá um maior à vontade para interagir quando opta por fazê-lo.
Ao mesmo tempo os bebés que são transportados desta forma acabam por interagir muito mais do que aqueles que estão dentro dos carrinhos ou ovinhos de plástico. Porque têm a segurança do corpo da mãe ou do pai sempre presente, para além de também estarem mais à altura dos adultos – que lhes dá uma visão muito mais completa do mundo do que a que é possível terem dentro de um carro ou ovo – também têm muito mais confiança e facilidade para interagir com quem ou com aquilo que lhes desperta atenção.
Do ponto de vista fisiológico o contacto com o corpo da mãe ou do pai ajuda o bebé a produzir endorfinas, hormonas associadas a uma sensação de prazer e relaxamento. E o contacto da mãe com o corpo do bebé ajuda-a também a produzir as mesmas endorfinas – que podem contribuir para diminuir as probabilidades de uma depressão pós-parto - e oxitocina que tem um papel importante no estabelecimento do vínculo e também está relacionada com sentimentos de prazer e bem-estar (esta é uma hormona que é libertada também em grandes quantidades durante o orgasmo). A oxitocina está relacionada também com a amamentação o que quer dizer que, o babywearing também pode facilitar a amamentação com todos os benefícios que esta pode trazer para a saúde do bebé e para o sentimento de confiança e segurança para a mãe.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

Porque é que temos tanto medo que os nossos filhos precisem de nós?


Há uns anos fui visitar um bebé que tinha nascido há pouco mais de quinze dias, quando cheguei a casa dos pais, o bebé estava deitado numa daquelas cadeiras reclináveis próprias para bebés, colocada no chão da sala e nós, adultos, ficámos sentados no sofá a olhar para ele durante algum tempo sem que ninguém lhe pegasse. Passado algum tempo chegou a avó do bebé e, com o seu instinto de avó, assim que o viu deitado na cadeirinha pegou-lhe logo ao colo. Ao ver isto a mãe refilou com ela dizendo que o estava a habituar mal e que não tinha tempo para estar com ele ao colo sempre que começasse a pedir. Isto passou-se há uns bons anos, na altura eu ainda não tinha filhos, mas nunca mais me esqueci das palavras daquela mãe, dedicada e orgulhosa do seu filho, como todas as mães recentes mas cheia de medo de lhe criar maus hábitos se lhe pegasse ao colo sempre que ele queria.
Anos mais tarde, quando tive o meu filho, muitas pessoas me diziam que não podia andar sempre com ele ao colo e que se lhe pegasse sempre que ele chorasse ficava habituado a isso e poderia manipular-me facilmente. Nunca segui estes conselhos e sempre peguei no meu filho aos primeiros sinais de protesto mas, o que é certo, é que, durante os meus primeiros tempos como mãe, quando via que o meu filho não passava mais do que uns dez ou quinze minutos na cadeirinha de plástico colorido que, com tanto cuidado, tínhamos escolhido para ele e que nem a vibração que a cadeira fazia se carregássemos num botão, nem os bonecos coloridos pendurados ao alcance dos seus braços, serviam para o demover de protestar e gritar se ninguém lhe pegasse ao colo, comecei a pensar que estaria a fazer algo de errado e as tais vozes de que estaria a deixá-lo mal habituado começaram a fazer algum eco na minha mente. Felizmente que não dei muitos ouvidos a esses ecos e, à medida que o tempo foi passando e fui lendo mais sobre estas questões e ganhando mais confiança no meu papel de mãe fui percebendo que, essas ideias de que não devemos pegar muito nos bebés ao colo, ou que não devemos dormir com eles, ou dar de mamar até muito tarde, ou que devemos deixá-los chorar um pouco, estão a ficar cada vez mais ultrapassadas pelos novos conhecimentos que se vão fazendo na área da psicologia do desenvolvimento. Começa a haver uma sólida base de estudos e investigações que mostram que os bebés cujas necessidades são respeitadas – e a necessidade de contacto físico num bebé é quase tão forte como a necessidade de comer ou dormir – se tornam crianças muito mais felizes, seguras, confiantes, capazes de estabelecer relacionamentos significativos saudáveis, mais fáceis de educar, com menos problemas de comportamento e melhores resultados escolares.

Muitas observações mostram que os bebés que passam mais tempo no colo choram menos e têm muito menos episódios das chamadas cólicas. E também já existem estudos que demonstram que os bebés que têm mais contacto físico com os pais crescem tornando-se crianças mais seguras, confiantes e melhor adaptadas e capazes de estabelecer bons relacionamentos.

Mas, muitos pais dos nossos dias, continuam com medo que os seus filhos nunca se tornem independentes se lhes derem todo esse contacto físico de que necessitam. Então vemos cada vez mais bebés e crianças pequenas que passam o dia em contentores de plástico em vez de estarem em contacto com o corpo do pai ou da mãe, ouvindo o seu coração, sentindo o seu cheiro, sentindo-se seguros e contidos nos seus braços. Na verdade o ser humano, como já dissemos noutros artigos, nasce com um elevado grau de dependência e um bebé pequeno vem de um mundo onde nunca sentiu fome, calor, frio onde os ruídos são sempre constantes, onde vivia no abraço constante do liquido amniótico num estado de semi-fusão com a sua mãe. Quando o bebé nasce, essa fusão que existia com a mãe não desaparece imediatamente. Durante os primeiros meses de vida é perfeitamente observável que os bebés reagem aos estados emocionais das suas mães: se a mãe está tranquila e feliz o bebé também estará, se, pelo contrário, a mãe fica nervosa e agitada o bebé irá demonstrar isto rapidamente. Na verdade os bebés, sobretudo durante o primeiro ano de vida, podem ser um óptimo espelho das emoções da sua mãe. Então, se esta ligação tão forte existe, é muito natural que o bebé, que ainda não se sente um ser completamente separado nem autónomo, precise desesperadamente do contacto com o corpo da mãe que ajuda a regular o seu próprio corpo. O pai, se estiver muito presente, também pode servir como um bom substituto mas, nas alturas de maior aflição, nos primeiros tempos de vida, não há nenhuma outra ligação que possa substituir aquela que o bebé tem com a mãe a quem esteve ligado durante os seus primeiros nove meses de existência. É possível observar que, quando os bebés estão ao colo das mães, o seu ritmo cardíaco fica mais regular, a respiração mais tranquila e todo o seu metabolismo parece adoptar um ritmo mais equilibrado. E, se a mãe estiver calma, o bebé começa também a segregar hormonas associadas a sensações de prazer e bem-estar. Hormonas que a mãe, em contacto com o bebé, também segrega como a oxitocina e as endorfinas que podem até ser um importante factor para prevenir a depressão pós-parto e para fazer com que a mãe se sinta segura, tranquila e confiante no seu papel de mãe. 
Então porque é que temos tanto medo deste contacto físico que é essencial para o bom desenvolvimento do bebé e da criança?

Muitos pais têm medo de andar com as crianças ao colo, medo de dar de mamar até tarde, medo de dormir com os filhos, medo que as mães fiquem em casa muito tempo com as crianças em vez de irem para a escola. E todos pela mesma razão: às vezes parece-me que vivemos uma espécie de pânico colectivo, na nossa sociedade, de que os filhos nunca mais larguem as saias da mãe.

E, na verdade, essa tão almejada independência nunca chega a existir de verdade. Porque todos precisamos de alguém. E as pessoas mais felizes são justamente as que o sabem e são capazes de lidar com isso da melhor forma. A Psicologia Positiva, com base em muitos estudos, mostra que as pessoas mais felizes são justamente aquelas que têm melhores relacionamentos, porque o ser humano é um animal social. Desde que nascemos que precisamos de criar laços e precisamos de sentir que os outros nos ouvem, nos compreendem e nos apoiam.

Então porque é que temos tanto medo de ouvir e apoiar os nossos bebés e crianças?

Quando somos pequenos precisamos desesperadamente de estabelecer esse vínculo especial com os nossos pais. Nascemos programados para estabelecer essa ligação com a nossa mãe e, nascemos sem defesas nenhumas. As crianças nascem com uma grande necessidade de estabelecer relações amorosas e completamente prontas e disponíveis para o fazerem. Nascemos totalmente vulneráveis e de coração aberto e, quando encontramos um adulto cujo coração já não está assim tão aberto, quando começamos a perceber que os nossos pais não estão assim tão disponíveis para lidar com as nossas necessidades, quando começamos a achar que o amor que têm por nós vem com algumas limitações, começamos a sentir que dói muito estarmos totalmente dependentes, receptivos e apaixonados por alguém que nem sempre parece disposto a corresponder-nos. Essas dores que se vão repetindo sempre que choramos e ninguém aparece, ou sempre que alguém nos trata mal por algo que fizemos sem más intenções, começam a acumular-se e fazem com que queiramos não precisar de ninguém. Afinal seria muito mais fácil não precisarmos tanto de pessoas que nem sempre estão disponíveis para nós. E fazem também com que nos esqueçamos que um dia precisámos tanto de alguém, precisámos tanto de ser vistos, reconhecidos, de ser acarinhados, protegidos, precisámos tanto de sentir que éramos muito bem vindos a este mundo. E assim, inconscientemente, acabamos por achar que o melhor será também que os nossos filhos não precisem muito de nós. Porque estamos feridos e já não acreditamos assim tanto na nossa capacidade de lhes dar incondicionalmente todo o amor de que precisam. E racionalizamos dizendo que é melhor assim, que serão mais independentes e felizes. Quando é justamente o contrário: é a falta de confiança no amor dos pais que faz com que os filhos não larguem as saias da mãe. Porque é esse amor que os faz sentirem-se capazes de enfrentar o mundo. É a confiança desse amor que lhes dá a liberdade de sentir que pertencem onde quer que estejam e a capacidade de explorar e investigar o mundo. Sem a certeza desse amor as crianças tornam-se ainda mais dependentes, e precisam de estar constantemente a pedir aos pais para, de várias maneiras, demonstrar que gostam delas, que lhes podem dar atenção. Uma criança que teve todo o colo de que precisou não precisa de o estar sempre a pedir. Uma criança que cresceu segura do amor dos pais pode ter a verdadeira liberdade de saber que precisa dos outros para ser feliz.

Aceitar e respeitar as necessidades dos nossos filhos torna mais fácil a vida deles mas também a nossa, porque nos permite ouvir o instinto e viver de acordo com o nosso coração deixando de lado os medos e as teorias mal fundamentadas que vêm de pessoas que se baseiam apenas no comportamento directamente observável que nem sempre é a melhor forma de avaliar as consequências dos nossos actos a longo prazo. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Razões para não deixar um bebé a chorar sozinho

Quando o meu filho tinha ainda dois meses uma amiga sugeriu que desse uma vista de olhos num blog que ensinava os bebés a adormecerem sozinhos. O facto de ele adormecer no colo não era algo que me preocupasse, até porque ainda era tão pequenino, mas lá dei uma vista de olhos no tal blog que descrevia a forma de aplicar o método de Ferber que consiste em deixar as crianças chorar, sozinhas na sua cama, durante um certo período de tempo que vai aumentando progressivamente até que a criança acabe por adormecer sozinha. Nesse blog a mãe de uma bebé descrevia como a filha tinha chorado durante algumas noites sozinha, por um longo período de tempo até que, ao fim de algum tempo (não me lembro quanto) acabou por passar a adormecer sozinha sem chorar. O tempo que dura até que o bebé deixe de chorar depende, por um lado da sua própria personalidade - há bebé que desistem mais facilmente de tudo - por outro da coerência com que os pais o aplicam - se estes não responderem mesmo, de forma nenhuma ao choro do bebé, é natural que ele desista mais depressa.
Instintivamente senti que nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas ao meu filho mas, o que é certo, é que os pais que o fazem estão convencidos de que é o melhor para seus filhos. Por isso não vale a pena criticar ou julgar, mas acredito que vale a pena apresentar argumentos válidos para mostrar porque é que este método prejudica muito mais do que ajuda e porque é que pode ser o suficiente para minar o vínculo tão especial que deve existir entre pais e filhos. Porque muitas pessoas ainda acham que esta é a melhor forma de por um bebé a dormir, aqui ficam as reflexões que tenho feito ao longo dos meus dois anos como mãe sobre este assunto, baseadas nas leituras que vou fazendo como psicóloga.

Alto grau de dependência - Em primeiro lugar, é importante percebermos que os seres humanos nascem com um alto grau de dependência. Quando comparamos um bebé humano com um animal que pode correr apenas algumas horas depois de nascer percebemos que as crias humanas nascem com um alto grau de imaturidade. Para que a nossa capacidade ao nascer fosse comparável à dos outros mamíferos precisaríamos de nascer com um cérebro equivalente ao de uma criança de três anos o que tornaria a passagem da sua cabeça pela pélvis da mãe impossível. Este grau de imaturidade significa que o bebé depende dos pais para tudo: durante os primeiros anos de vida estes são fundamentais para a sua sobrevivência. Assim, o afastamento dos pais é assustador para um bebé pequeno e o choro é um comportamento de alarme que serve para comunicar que algo não está bem. Se ignorarmos esse comportamento, eventualmente, ele acaba por se desligar, visto que não está a cumprir a sua função mas isto não quer dizer que o bebé não permaneça num estado de alarme e tensão. Existem estudos que mostram que, mesmo quando os bebés param de chorar e adormecem sozinhos, os níveis de cortisol na sua corrente sanguínea continuam anormalmente elevados, o que quer dizer que o bebé continua num estado de stress.

Somos mamíferos – o ser humano faz parte do grupo dos mamíferos, em que as
crias precisam de mamar durante um período de tempo o leite das suas mães. Isto quer dizer que precisam de estar perto delas. Por outro lado, todos os mamíferos têm um sistema límbico relativamente desenvolvido, este é o que possibilita o estabelecimento de laços e de relações sociais que também cumprem uma função de protecção, sobretudo para as crias. O homem, enquanto ser da cidade tem muito pouco tempo de existência quando comparado com o ser da floresta, ou da natureza. Então, tal como os outros animais, as crias humanas vêm programadas para estar junto dos seus pais, já que o afastamento destes dificultaria muito a sua sobrevivência. O homem será com certeza o único mamífero que afasta as crias de si, principalmente enquanto dormem que é o período de vulnerabilidade máxima.


Não é natural – não só não é natural afastarmos os nossos bebés de nós como ainda é mais anti-natural ignorarmos o seu choro. O choro de um bebé é dos estímulos a que é mais difícil resistir, porque estamos programados para não o fazer. Mesmo que o bebé não seja nosso, o primeiro instinto é o de fazer qualquer coisa, nunca o de ignorá-lo. As mães que seguem este método muitas vezes contam que é a coisa mais difícil que já tiveram que fazer e que é muitíssimo angustiante não fazer nada enquanto os filhos choram. Está certo que assim seja, porque não devemos fazê-lo. Um estudo mostrou que, quando os pais ouviam uma gravação dos filhos a chorar, achavam sempre que o tempo do choro tinha sido em média o dobro do tempo real, isto mostra como este é um estímulo difícil de aguentar. Mas não tem que ser assim tão difícil criar um filho: se há muita tensão em todo o processo é porque algo não está a correr bem. Cuidar de um bebé deve ser natural e agradável e, se seguirmos os nossos instintos, mais facilmente o será.

Plasticidade neuronal na infância - Nascemos com um cérebro altamente imaturo mas em grande desenvolvimento o que significa que nos primeiros três anos de vida o nosso cérebro ainda está em organização e, nesta altura são estabelecidas milhares de ligações neuronais importantes ao mesmo tempo que outras são irremediavelmente perdidas. Nestes primeiros anos de vida existe uma enorme plasticidade ao nível neuronal, o que faz com que as crianças, nesta fase, se tornem também extremamente receptivas a todo o meio ambiente, como se fossem umas pequenas esponjas que vão absorvendo tudo o que as rodeia. Durante os primeiros três anos de vida as crianças passam por aquilo a que, em inglês, se chama prunning, que significa que algumas ligações neuronais que não venham a ser usadas serão definitivamente perdidas. Um exemplo disto é a forma como se desenvolve a linguagem: os bebés nascem com capacidade para imitar todos os sons humanos. Quando nasce o bebé é, potencialmente capaz, de produzir todo o tipo de sons mas, à medida que os meses passam e ele ouve apenas os sons da sua língua materna vai perdendo a capacidade de fazer os sons que não ouve nessa língua. É por isso que, uma criança que aprenda a falar duas línguas desde que nasce poderá falar as duas com uma pronúncia igualmente perfeita mas, alguém que aprenda uma segunda língua mais tarde, por muito bem que a domine, terá sempre alguma incapacidade de produzir os sons que forem totalmente estranhos para a sua língua materna
Então esta é uma altura em que o cérebro do bebé está numa aprendizagem intensa e constante acerca do seu ambiente e das pessoas com quem vive. Todo o seu organismo está como que a ser programado para viver num determinado ambiente. Uma criança a quem os pais respondem prontamente está-se a preparar para viver num mundo onde os outros são de confiança e uma fonte de conforto. Uma criança que chora sozinha repetidamente fica programada para deixar de esperar dos outros qualquer tipo de conforto ou de consideração pelos seus sentimentos.

A experiência da cara neutra – esta mostra como os bebés, mesmo com um ano de vida, são bons a ler a comunicação não verbal dos seus pais e como precisam desesperadamente de estabelecer uma relação com estes. Se os pais não respondem ao filho, como se vê no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=apzXGEbZht0, estes ficam aflitos e entram rapidamente num estado de agitação e aflição. O nosso cérebro possui dois hemisférios: o esquerdo que está mais relacionado com a lógica, com o racional com a análise intelectual do mundo, para prestar atenção aos pormenores e para a interpretação da linguagem e o direito que está muito mais vocacionado para se ligar às emoções, para observar o todo e para prestar atenção aos comportamentos não verbais. Nos bebés o hemisfério direito está muito mais desenvolvido, na verdade este hemisfério predomina pelo menos nos dois primeiros anos de vida é por isso que as crianças são muito mais ligadas às emoções e reagem ao mundo sempre de uma forma emotiva pelo menos enquanto ainda não dominam a linguagem, altura em que o hemisfério esquerdo como começar a tornar-se um pouco mais proeminente. Isto significa que, tal como as pessoas com afasia (um distúrbio na produção e na compreensão da linguagem) os bebés e crianças pequenas são muito perspicazes na captação das mensagens não verbais que os adultos lhes transmitem.
Então, nos seus primeiros tempos de vida o ser humano parece vir programado para procurar nos outros, principalmente através da sua linguagem não verbal, o afecto e a capacidade de estabelecer as ligações de que precisa para se desenvolver.

Prejudica  o vínculo – as crianças precisam de estabelecer com os pais um vínculo seguro. O facto de não saberem se podem contar sempre com estes pode prejudicar muito este desenvolvimento. Ver artigo: http://parentalidadecomapego.blogspot.pt/2013/05/apego-base-que-define-nossa-relacao-com.htm

Desesperança aprendida – a desesperança aprendida é um nome de Martin Seligman criou para descrever um estado muito parecido com o de uma depressão. Este estado é provocado pela sensação de que não temos absolutamente nenhum controlo sobre o nosso meio ambiente. Se um bebé chora e alguém resolve aquilo que o estava a incomodar este sente que as suas acções importam, sente que tem algum poder sobre o que lhe acontece. E esta é mesmo a melhor forma de nos protegermos contra a ansiedade e a depressão. Vários estudos na área da psicologia positiva mostram que um dos factores mais importantes para a felicidade e bem-estar é sentir que podemos controlar aquilo que nos acontece. As investigações sobre o stress também mostram que a falta de uma sensação de controlo está associada a altos níveis de stress e a uma maior probabilidade de complicações de saúde. Para saber mais sobre este tema pode ler o artigo: http://psiyoga.blogspot.pt/search/label/Psicologia%20Positiva%20-%20a%20Ci%C3%AAncia%20da%20Felicidade

Empatia – a empatia é um aspecto fundamental dos relacionamentos. É através dela que percebemos como os outros se sentem e que podemos estabelecer relações significativas e gratificantes. Um bebé a quem os pais respondem quando chora está a ser tratado com empatia. Aprende que os seus sentimentos são importantes e, esta é a única forma de, no futuro ele aprender a considerar os dos outros. Para o estabelecimento da empatia é importante que mãe aprenda a escutar o bebé. Os bebés gostam de interagir e procuram muitas vezes o contacto humano mas, um bebé pequeno cansa-se facilmente e no meio dessas interacções o bebé, muitas vezes dá sinais de que está cansado. Por exemplo, um bebé pequeno pode balbuciar e sorrir para a mãe quando esta imita os seus sons, algo que é agradável e engraçado para um bebé mas, a certa altura é natural que este se canse e que o mostre voltando a cara para o lado ou baixando os olhos deixando de interagir com a mãe. Se esta perceber que o bebé está cansado da brincadeira e lhe der espaço para ficar um pouco “sozinho” está a mostrar-lhe que as suas sensações são válidas e
importantes e que é capaz de se sintonizar com estas. Quando estas interacções acontecem repetidamente o bebé fica como que programado para valorizar os seus sentimentos e, é só através da tomada de consciência dos nossos sentimentos, que podemos passar a estar despertos para os dos outros.

Não é necessário responder sempre ao bebé – este argumento é muitas vezes usado pelos defensores do deixar chorar. De facto há estudos que indicam que a não é
necessário, nem desejável que mãe responda à criança 100% das vezes: o mais saudável para o desenvolvimento futuro da criança é que mãe responda adequadamente a maior parte mas não todas as vezes. Esta questão é importante na medida em que o bebé precisa de aprender a lidar com frustração e, por isso é desejável que a sinta de vez em quando. Mas é muito diferente deixar um bebé lidar com a frustração de tentar apanhar um brinquedo que não consegue, por exemplo, ou deixá-lo chorar sozinho propositadamente. Há sempre pequenas frustrações que surgem naturalmente e que cumprem essa função. Muitas vezes mesmo que a mãe tente consolar o bebé nem sempre percebe imediatamente como fazê-lo ou não o pode mesmo fazer, como quando o bebé está doente ou tem dores, por exemplo, mas faz toda a diferença que o bebé perceba que esta, pelo menos está presente e está a tentar dar-lhe algum conforto e carinho. Deixar um bebé chorar sozinho e de propósito mais do que criar uma pequena frustração com a qual este pode aprender a lidar activa a sua resposta de alarme e sobrecarrega todo o seu sistema de lidar com o stress.

Exposição repetida ao stress deixar um bebé chorar sozinho, repetidamente, é sobrecarregar o seu sistema de resposta ao stress. Isto, como demonstra bem o livro da psicoterapeuta Sue Gerhardt - Why Love Matters http://www.whylovematters.com/ - fará com que esse bebé tenha fortes probabilidades de se tornar um adulto com uma grande tendência para activar o seu sistema de alarme, ou seja, um adulto ansioso e com dificuldade em lidar com os desafios, porque foi um bebé que ficou programado para viver num mundo hostil e desagradável. Para saber mais sobre como isto acontece pode ler o artigo, A resposta de Stress nos bebés:  http://www.espaco-vida.com/Zen%20-%20Stress%20nos%20bebes.pdf

Desenvolvimento cerebral hoje em dia sabe-se que uma exposição repetida ao stress, para além dos atrasos cognitivos e emocionais, pode mesmo provocar um atraso no desenvolvimento cerebral. É possível ver imagens de crianças maltratadas em que várias partes do cérebro, como por exemplo o hipocampo, têm um tamanho menor do que outras crianças com a mesma idade que não passaram por essas experiências. 

Documentário sobre uma criança de dois anos no hospital John Bowlby e James Robertson fizeram um filme famoso que documentou a estadia de uma criança de 2 anos e 5 meses num hospital numa altura em que não era permitida a presença dos pais durante a maior parte do tempo em que as crianças estavam internadas. Nesta altura em 1952, Laura, uma criança de 2 anos e 5 meses  foi internada durante 8 dias para fazer uma operação. No filme é possível observar aquilo que Bowlby e Robertson classificaram como os estágios clássicos de uma criança que é privada do contacto com a sua mãe durante um período longo de tempo: no ínicio, Laura começa por chorar e gritar que quer a sua mãe durante uma boa parte do tempo. Quando a mãe a visita nos dias seguintes, Laura fica muito ansiosa e quer que esta lhe pegue ao colo o que a mãe não faz por acreditar que é contra as políticas do hospital. Nos primeiros dias, Laura mostra-se muito ansiosa e chora várias vezes gritando que quer a mãe, principalmente depois das visitas, durante os procedimentos médicos ou quando uma enfermeira se mostra mais amigável e atenciosa. Mas, a partir de certa altura, a criança deixa de chorar pela mãe e passa a exibir um comportamento mais controlado e passivo que os médicos e enfermeiras classificavam como um bom comportamento. Nas últimas visitas Laura já não procura a proximidade da mãe, embora se mostre ainda muito ansiosa quando esta se vai embora. E, no último dia, quando finalmente a levam para casa o que se pode ver é que Laura já não procura a proximidade física da mãe e caminha até um pouco atrás desta, mostrando-se mais reservada e até com uma certa apatia emocional. Com este filme, que contribuiu decisivamente para mudar a política dos hospitais no que toca á permanência dos pais durante o internamento, Bowlby e Robertson mostraram que uma criança que se sente abandonada pelos pais passa primeiro por uma fase inicial de revolta e ansiedade em que a criança exprime abertamente a sua angústia para depois entrar num estágio de letargia emocional que pode ter consequências devastadoras que podem nunca mais ser ultrapassadas, modificando para sempre a confiança que esta depositava na mãe ou no pai e alterando o seu relacionamento. Nas primeiras visitas da mãe ao hospital o que se verificava era que Laura estava numa agitação constante que vinha do medo de voltar a ser abandonada, quando este se receio se voltou a confirmar vários dias seguidos a criança simplesmente deixou de procurar activamente a mãe, o que não significa que tivesse ficado tranquila ao fazê-lo.
Um bebé que é deixado a chorar também se sente abandonado, e tal como no filme, acaba por desistir de procurar conforto na pessoa que o abandonou.

Memória implícita - Durante os primeiros dois anos de vida as crianças não têm uma memória
autobiográfica, porque ainda não conseguem organizar os seus pensamentos de acordo com os conceitos de espaço e tempo. Por isso não temos memórias concretas desses primeiros anos, no entanto, as experiências importantes dessa fase ficam registadas naquilo a que se chama memória implícita. A memória implícita é aquela que, muitas vezes, condiciona o nosso comportamento e as nossas escolhas sem nos darmos conta disso. Memória explícita é a parte da memória de que fazemos uso quando nos lembramos activamente de algo, se queremos lembrar-nos por exemplo, da festa que fizemos no nosso 15 aniversário, usaremos a nossa memória explícita para tentarmos ir buscar imagens ou sensações que estejam associadas à ocasião e que nos permitam ir buscar o fio condutor para reconstruirmos a história daquilo que se terá passado nesse dia. A memória implícita é aquilo que usamos, por exemplo, quando estamos a conduzir: não precisamos de nos lembrar detalhadamente de cada movimento que temos de fazer porque estes já acontecem de forma implicita, já aprendemos a fazer tudo o que é necessário noutra ocasião, por isso usamos esse conhecimento sem termos de recorrer a ele detalhadamente. Então, tudo o que acontece nos nossos primeiros anos de vida fica registado nessa memória implicita e, esta dá-nos um padrão, um molde de como será o mundo, daquilo que devemos esperar da vida e dos nossos relacionamentos. Se os nossos pais nos deixavam a chorar sozinhos muitas vezes, é muito provável que fique na memória implícita esse sentimento de desesperança aprendida que pode vir a manifestar-se mais tarde, em qualquer altura da vida.

Independência muitos pais usam este argumento acreditando que os filhos têm de ser independentes, por isso precisam de aprender a dormir sozinhos. Em primeiro lugar é preciso dizer que ninguém é verdadeiramente independente. Todos precisamos dos outros e, a ciência mostra, que as pessoas mais felizes são justamente aquelas que estabelecem melhores relacionamentos interpessoais. Uma criança cujas necessidades não são respeitadas terá muito mais probabilidades de se tornar um adulto dependente: porque haverá sempre um vazio por preencher. Tal como mostra o trabalho de Gabor Mate, uma boa parte das dependências – de drogas, de comportamentos ou ate de comida ou pessoas- tem por base uma sensação de vazio e de abandono que a pessoa não consegue eliminar de outro modo. Em segundo lugar é preciso dizer que não se pode ensinar ninguém a dormir, tal como não se ensina a fazer xixi ou cocó, podemos apenas dar as melhores condições à criança para que o sono, que é uma necessidade biológica aconteça. E a condição mais importante é a segurança: para adormecer bem a criança precisa, antes de mais de sentir-se segura.
Em relação à independência existem formas de a estimular que não implicam um abandono e falta de consideração pelos sentimentos da criança: deixá-los brincar e explorar à vontade (coisa que as crianças seguras, com pais que respondem às suas necessidades fazem melhor), deixá-los terminar as suas tarefas sem precisarmos de interferir ou de dar uma ajudinha quando vemos que não estão a conseguir, deixá-los levantarem-se sozinhos quando caem, não os tornarmos dependentes dos nossos elogios ou dos nossos julgamentos, ajudá-los a tomar consciência do que sentem, do que querem e de quem são, etc

Síndroma da Morte Súbita - Os trabalhos de investigação do Dr. James McKenna, que criou o laboratório de estudos do comportamento da mãe e do bebé em relação ao sono, mostram que, para um bebé com menos de um ano pode ser prejudicial dormir a noite toda. De acordo com este autor, os bebés antes de um ano de idade têm um aparelho respiratório ainda não totalmente desenvolvido e, por isso, podem surgir apneias enquanto dormem. Por esta razão, os bebés têm um sono muito ligeiro e com acordares frequentes. Se os treinarmos para terem um sono mais profundo, quando ainda não estão prontos para tal, isto pode fazer com que não consigam despertar destas apneias levando a casos de morte súbita. Para este investigador a melhor forma de o prevenir é deixando que os bebés durmam com os pais porque, os bebés que dormem com os pais, ao que parece têm um sono mais ligeiro e acordares mais frequentes – embora com menos choro e com menos tempo total em que ficam acordados durante a noite. Nas culturas onde é tradição os bebés dormirem com os pais, como acontece na maior parte dos países asiáticos, praticamente não se conhecem casos de morte súbita. Para ler mais sobre isto pode consultar o site: http://cosleeping.nd.edu/

Conclusão: um bebé que é repetida e propositadamente deixado a chorar sozinho deixa de acreditar no pais como fonte de conforto, ou na sua própria capacidade de os trazer de volta e, assim desiste simplesmente de chorar. E um bebé que desistiu de um comportamento que é essencial para a sua sobrevivência é, de certo modo, um bebé que desistiu de si mesmo e da vida.